\ A VOZ PORTALEGRENSE: janeiro 2011

segunda-feira, janeiro 31, 2011

António Martinó de Azevedo Coutinho

...E continuamos, com a abordagem de um tema quase interminável.
Mais alguns exemplos interessantes são-nos fornecidos pela publicação, nas páginas do já desaparecido vespertino A Capital, da biografia em BD do grande e malogrado ciclista Joaquim Agostinho, patrocinada por uma bebida fortificante.
Num suplemento da revista Cavaleiro Andante, podemos certificar-nos de que uma grande companhia petrolífera (no cabeçalho) apoia a divulgação das proezas de Michel Vaillant, ás do volante...
Depois, em páginas de diversas publicações, como Tintin, verifica-se a inserção de uma prancha d’As Aventuras Extraordinárias de Adele Blanc-Sec, de Tardi, onde o conteúdo dos balões foi adaptado à sua auto-promoção, numa curiosa espécie de meta-linguagem susceptível de curiosas análises. Basicamente, trata-se de uma banda desenhada que se auto-publicita, portanto a si própria!

Regressando à mais famosa dupla de heróis francófonos dos quadradinhos, Astérix e Tintin, eis mais alguns exemplos.
Do primeiro temos uma colecção de 300 cromos gigantes, onde se reproduz uma das suas super-aventuras, assim como uma vasta série de figuras de plástico, que constituiam brindes, tanto de uma conhecida marca de detergentes em pó, como de uma não menos conhecida marca de gelados, daqueles de pauzinho...
Quanto a Tintin, facilmente reconheceremos que a sua aplicação foi bastante mais criativa, prestando-se as caricas de um popular refrigerante a funcionar como peças de um clássico jogo de loto, cujas folhas-base foram distribuídas pela revista com o seu nome.
Estas caricas, aliás, também serviam para praticar o popular jogo alusivo pelos passeios públicos fora, nos tempos felizes em que não precisávamos de playstation para nos divertirmos...
O caso a seguir escolhido é também curioso. Como folhas intercalares volantes, em revistas infanto-juvenis, surgiu a promoção de uma “banda desenhada radiofónica” (sic!) emitida pelo saudoso Rádio Clube Português, sob o prometedor título A Ilha Misteriosa, de Júlio Verne. Talvez este imortal romance de aventuras tenha sido dos mais adaptados sob a forma de BD, portanto impressa, mas -que se saiba!- nunca ele terá importado esta designação de forma tão criativa e oportuna.
Porque é tempo de dar por finda esta análise -parcelar e descontraída- duma época muito rica em exemplos de interessantes “alianças” entre a banda desenhada e a publicidade, aqui fica, para conclusão, um trio muito diverso.
A abrir, eis um dos folhetos de promoção de um afamado detergente, organizado sob a forma de uma curta historieta desenhada, simples, directa, funcional.
A seguir, recorda-se uma célebre marca de pastilhas elásticas que, entre as mais diversas manifestações publicitárias usadas para a sua própria divulgação, se atreveu a editar uma revista de BD, intitulada O Pirata, mais tarde apenas Pirata. Vale a pena dedicar alguma atenção a esta quase ignorada publicação, surgida em meados de 1968 e conseguindo manter-se até 1982. Embora a qualidade gráfica fosse deficiente, o seu conteúdo atingiu níveis interessantes, incluindo criadores e séries com real significado.
Na conclusão deste capítulo, inclui-se uma curta sequência de uma conhecida aventura de Tintin, no original e na “tradução” portuguesa (no Diabrete), quando o capitão Haddock, distraído com a absorvente leitura do jornal, esbarra num placard publicitário, onde se lê, precisamente, que aquelas informações batem..
Infelizmente, a “tradução” atraiçoa um pouco o sentido e o próprio grafismo...
Publicidade e banda desenhada - eis a “parábola” profeticamente aqui contida.
E passemos aos tempos modernos, pós-Revolução de Abril.
António Martinó de Azevedo Coutinho

António Sérgio Curvelo Garcia

_ Dada a minha relativamente rica experiência de vida, designadamente no âmbito profissional, foi-me sugerido por alguns colegas e amigos que a transmitisse, por intermédio de um blogue.
Assim, aqui lhes irei transmitindo experiências de vida, de cariz profissional mas não só. Experiências desde a minha adolescência. Experiências com amigos e com causas. No fundo expeiências de um português que nasceu no pós-guerra, que viveu a Ditadura e a Democracia, e que teve a sorte de ter uma vida compartilhada com tantos amigos...
Agradeço o vosso contacto para: curvelogarcia@netcabo.pt
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domingo, janeiro 30, 2011

As Pupílas do Senhor Reitor

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Foi por informação/alvitre, aqui no facebook, de João Marchante que tive oportunidade de rever um filme português, que é sempre bem-vindo quando reposto.
Hoje na RTP Memória, 15:00 às 16:30, passou a fita de José Leitão de Barros «As Pupilas do Senhor Reitor», numa adaptação à tela do romance homónimo de Júlio Dinis.
Existe uma adaptação anterior, realizada por Maurice Mariaud (1924).
Datada de 1935, mostra uma época daquele Minho tão bem retratado por Júlio Dinis, o mesmo Minho que foi magistralmente tratado por Camilo Castelo Branco, e do qual de quando em vez Cristina Ribeiro, também aqui no Facebook, nos dá fortes pinceladas da sua actualidade.
O drama é por demais conhecido, os amores de duas irmãs, Margarida e Clara, e dois irmãos, Daniel e Pedro, e a presença de um padre, o senhor reitor que as tutela. O comerciante da aldeia, o barbeiro/cirurgião, o médico João Semana, as vizinhas, a casamenteira, o pai dos rapazes, José das Dornas, são personagens caracterizadas por Leitão de Barros na perfeição. As paisagens, a começar pela vista de Coimbra de Santa Clara, a Universidade, os Gerais, a Porta de Minerva, enfim, a Coimbra imortal vista de há décadas atrás, também os campos do Minho, os rebanhos, a colheita do milho, as vindimas, tudo uma memória do passado. Também a intriga, a beatice, os usos e costumes da época, o viver do povo está presente, sendo hoje cenas como a da desfolhada e a da procissão etnografia pura.
Bem-Haja João, pelo ‘convite’. Um deleite ver «As Pupilas do Senhor Reitor».
Bem-Haja Cristina, por mostrar o viver do Minho dos nossos dias.
Mário Casa Nova Martins
facebook.com/Mario.Casa.Nova.Martins

D'alegria

Bem-vindo.
No esforço de encontrar em cada dia “numa pincelada de luz” a alegria da vida, cumpro uma vez mais o dever de partilhar convosco o prazer que a pintura me tem proporcionado.
Sou Maria D’Alegria N. C. M. Da Fonseca, nasci em Elvas, mas foi em Portalegre que desenvolvi a minha actividade e consolidei a minha criação artística, na condição de mulher, de professora e de amante da pintura.
Daqui resultam várias exposições individuais e inúmeras participações em exposições colectivas.
Encontro-me com orgulho, ao nível da pintura a óleo representada em vários países, sendo de realçar a Inglaterra, os Estados Unidos da América, a Espanha, a França e como é óbvio, Portugal.
D’alegria
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http://www.dalegria.com.pt/

sábado, janeiro 29, 2011

Mário Silva Freire

PARA UM DESENVOLVIMENTO SOLIDÁRIO

O Tuiavii e o Papalagui (1)

Papalagui é o nome dado ao homem branco, nos discursos que Tuiavii, chefe de uma tribo das ilhas Samoa, na Polinésia, destinou aos seus compatriotas. Estes discursos vêm na sequência de uma viagem que ele efectuou à Europa, no século passado, os quais foram, depois, recolhidos e publicados pelo alemão Erich Scheurmann.
Tuiavii relata, de uma maneira simples mas incisiva, alguns aspectos que observou, relativamente ao viver do homem branco e que na Semana da Pastoral Social foram, num breve apontamento, referidos.
Ele observa, nos prédios das grandes cidades, famílias que nada sabem das outras que lhes estão ao lado “como se houvesse entre elas, não apenas uma parede de pedra mas ilhas e inúmeros mares (…) e, quando se encontram, cumprimentam-se de má vontade ou zunem, quais insectos hostis, como se estivessem zangadas…”
Referindo-se ao Deus do homem branco, diz que “…o missionário proclama que Deus é amor e que um bom cristão deve ter sempre presente a imagem do amor no seu espírito. (…) Mas a verdadeira divindade do homem branco é o metal redondo e o papel forte a que ele chama dinheiro. Quando se fala a um europeu do Deus do amor, ele faz uma careta e sorri (…). O dinheiro é o objecto do seu amor, o dinheiro é a sua divindade”.
Diz Tuiavii que, segundo o Papalagui “necessitamos de muita ajuda e piedade, em virtude de não possuirmos coisas (…) Quem, realmente, será mais rico e possuirá mais coisas do Grande Espírito do que nós? Passeai os olhos à vossa volta, até ao longínquo horizonte, onde a grande abóbada azul se apoia na borda da terra: está tudo cheio de grandes coisas (…); para quê criar ainda mais, para além das coisas sublimes que o Grande Espírito nos dá?”
E quanto à vida frenética que os ocidentais levam? Não têm tempo para nada! O Papalagui “corre sempre de braços estendidos, não concede ao tempo o repouso necessário, não o deixa apanhar um pouco de sol…Mas o tempo é calma, é paz e sossego, gosta de nos ver descansar, estendidos na nossa esteira…”
Não podemos, nos dias de hoje, ocidentais, conceber que se possa retornar ao modo de viver dos habitantes da Samoa. Não deixam, no entanto, de nos interpelar as observações que Tuiavii faz à carência de qualidade das relações interpessoais, à perda de humanidade que elas implicam, à ambição desmesurada pelo ter e à progressiva deterioração dos valores do bem, do belo e do respeito pela Natureza. Afinal, onde se encontra a felicidade? Será que, com a crise que estamos a viver, Tuiavii não estará a prenunciar uma nova era para a humanidade?
Mário Freire
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(1) in, FONTE NOVA, n.º 1808, terça-feira 25 de Janeiro de 2011

sexta-feira, janeiro 28, 2011

Avelino Bento



Palavras em homenagem a António Martinó e Mário Freire
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26 Janeiro 2011
Após uma pausa considerável por vários motivos, incluindo as eleições presidenciais, que perdi, volto de novo ao contacto com os meus amigos e leitores.
O objecto do meu post de hoje pretende ser uma singela homenagem a dois “velhos” colegas e amigos: o António Martinó e o Mário Freire.
Quem me dera que no meu tempo de reforma, que se avizinha, consiga manter a vitalidade intelectual destes dois amigos.
O blogue de um amigo comum, A VOZ PORTALEGRENSE de Mário Casa Nova Martins, tem sido o espaço onde estes amigos têm vindo a postar textos de pesquisa e reflexão.
O Martinó com uma produção considerável sobre BD, do qual é amante e especialista, mas também com um conjunto de textos, direi, pequenos ensaios, resultantes de uma intensa pesquisa sobre Régio e outros interesses seus sobre a cidade de Portalegre.
O Mário Freire, na sequência de uma intensa vida de pedagogo, vai-nos dando a conhecer reflexões interessantes sobre a Educação e os Valores.
Obrigado, meus amigos António Martinó e Mário Freire.
Estendo este agradecimento, também, ao Mário Casa Nova Martins, pela oportunidade que nos dá, de contactar, através do seu blogue, http://avozportalegrense.blogspot.com/, com opiniões tão diversificadas quanto enriquecedoras de uma plêiade de colaboradores que só aumentam e legitimam a qualidade do seu blogue.

António Martinó de Azevedo Coutinho

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RÉGIO HOJE

IV - JOSÉ RÉGIO, “FADISTA”(parte dois)

Chapéus há muitos, como se proclamava num filme do clássico cinema português, e fados, provavelmente, também serão aos pontapés.
Por outra palavras, não é fado o que quer sê-lo, mas o que o é de corpo inteiro.
José Régio deixou-nos um claro testemunho a tal respeito. Nos seus textos escritos e nas suas palavras ditas, ele soube definir com justeza o que procurou transmitir-nos no seu Fado.
Será muito significativo conhecer o seu depoimento, recolhido de uma entrevista concedida à RTP em 1968, poucos meses antes da morte. Aí, a propósito dessa obra, disse:
- “A força do Fado é muito diferente -admitindo que há aí força- da força das Encruzilhadas de Deus. No Fado quis fazer uma espécie de aproveitamento literário do fado português. Até por vezes há uma espécie de caricatura, ou de paródia, da própria letra de fados que vulgarmente se cantam, dos folhetos de feira em que há letras para fados. (...) Procurei formas tradicionais portuguesas e usei muitas vezes a redondilha, vulgar nas quadras portuguesas. É um livro muito diferente. A força é diferente...”
Este testemunho pode ser plenamente compreendido, e complementado, no longo Prefácio que Régio escrevera para a 2.ª edição dos Poemas de Deus e do Diabo (1943) e de onde retiramos três curtos excertos:
Pelo que toca à parte propriamente literária do Fado, bem me apraz declarar que mal ouvi ou li versos com algum entendimento, me senti seduzido pelos velhos rimances, toadas, estribilhos, cantigas ou quaisquer outras formas de poesia popular.” (...) “E aqui está, leitor, aonde cheguei, começando por tanger no fado do artista. Ora se a palavra fado te não agrada, também a mim nem sempre; não obstante o meu uso e abuso dela! Digamos, então, que por fado do artista viemos a entender certas leis que parece presidirem à condição do artista e criação da obra de arte.” (...) “Mas não mendigo leitores, nem, Deus louvado, lisonjeio público algum. Não me permitireis que dignamente cumpra o meu fado?”
Quando, em 1958, Régio registou a voz para o disco onde deixou a interpretação pessoal dos seus poemas, do Fado seleccionou dois, num total de nove: Fado dos Pobres e Fado do Grande e Hòrrível Crime... Significativo!
José Régio, lembremo-lo, publicou Fado em 1941, quando já vivia há doze anos em Portalegre, onde terá escrito a maior parte da obra. Essa histórica edição dispõe de 15 poemas e é dotada de outras tantas ilustrações criadas pelo seu irmão Júlio. Na edição seguinte, em 1957, as ilustrações seriam da autoria de outro grande desenhador nacional, Stuart de Carvalhais.
Estas são as motivações e algumas particularidades da obra. Porém, para além da aceitação puramente literária e do inerente êxito editorial, acresce uma outra dimensão, precisamente a que procurámos suscitar no início deste texto: aqueles poemas, criações literárias com uma clara dimensão estética, são fados?
A resposta deu-a, em primeiro lugar, Amália Rodrigues, “doutorada” nestas andanças, quando, a partir de 1970, adoptou o regiano Fado Português como parte integrante do seu reportório, com música de Alain Oulman.
Podemos assim afirmar que, se o fado já era tradicionalmente considerado -com ou sem razão- como a canção nacional portuguesa, Régio lhe veio trazer uma considerável achega literária e culta, fornecendo-lhe uma espécie de “alibi” histórico.
Depois, alguns cultores do fado seguiram o exemplo de Amália, como Manuel de Azevedo Coutinho, Jorge Ganhão, Humberto Sotto Mayor e outros, até chegarmos a Dulce Pontes, nos nossos dias. Todos estes e alguns mais, que a memória agora não abarca, interpretaram ou interpretam poemas do Fado. E esta é a verdadeira consagração popular -a mais autêntica- dum livro que, ao tempo, alguns “iluminados” consideraram com obra menor...
Que pode daqui ficar como sugestões concretas quanto a mais esta efeméride? As quase óbvias, a partir do atrás enunciado:

- Associação dos municípios de Coimbra (Balada), Portalegre (Toada) e Vila do Conde (Romance) à efeméride, assumindo em conjunto a plenitude do estatuto colectivo de As três Cidades de Régio;
- Inserção da obra de José Régio no original, oportuno e pioneiro projecto de dignificação cultural do Fado, dinamizado pelo município de Lisboa;
- Sensibilização da Imprensa Nacional/Casa da Moeda para concretizar uma edição especial, devidamente anotada, comemorativa do 70.º aniversário da primeira edição de Fado;
- Edição de um disco antológico com todas as interpretações conhecidas (ditas e cantadas) de poemas do Fado, por José Régio, João Villaret, Amália Rodrigues, Dulce Pontes, Humberto Sotto Mayor, etc.

De contactos informais com responsáveis do Instituto Politécnico de Portalegre e da ERT – Entidade Regional de Turismo do Alentejo, resultou a manifestação do seu interesse e da sua disponibilidade para se associarem a este projecto em torno do Fado de Régio.
Quatro efemérides, quatro distintos e complementares desafios ou provocações colocados às nossas sensibilidade e capacidade, desde que acreditemos na modernidade de Régio e no seu activo papel na dinamização e valorização das nossas gentes e das nossas comunidades.
Estamos em 2011...
António Martinó de Azevedo Coutinho

A vingança serve-se a frio


Mário Alberto Lopes Nobre Soares é um político de amores e ódios. E se hoje Manuel Alegre é o seu maior ‘ódio de estimação’, também em certa altura do passado Aníbal Cavaco Silva não deixou de ser o mesmo ‘ódio de estimação’.
Há cinco anos, Mário Soares sentiu-se atraiçoado pelo bardo, e desde então congeminou milhentas ‘petites revanches’… O artigo que escreveu no Diário de Notícias do passado dia 25 de Janeiro de 2011, é o ‘golpe de misericórdia’ no poeta de Águeda!
«Quando o PS resolveu apoiar o candidato que já tinha sido escolhido pelo Bloco de Esquerda, disse - e escrevi - que considerava isso um erro de Sócrates, grave, sobretudo, para o futuro do PS, visto que ia dividi-lo, como aconteceu.» – Assim Soares ‘arruma de vez’ com Manuel Alegre, politicamente falando.
Também não deixa de fazer referência ao facto de Cavaco Silva não ter cumprimentado os adversários políticos, quando escreve: – «Estranho e lamento que o candidato Cavaco Silva não o tenha feito, no passado domingo, em relação aos seus adversários. Como aliás lamento os dois discursos que proferiu no momento da vitória. Em lugar de ser generoso e magnânimo para com os vencidos, foi rancoroso. O que, além de lhe ficar mal, quanto a mim, representa um erro político grave que divide Portugal precisamente quando mais o devia unir.»
Mas há muito que se sabe que quanto a tolerância e educação, Cavaco Silva ‘diz nada’.
Mário Casa Nova Martins
facebook.com/Mario.Casa.Nova.Martins

quinta-feira, janeiro 27, 2011

Mário Silva Freire

CRÓNICAS DE EDUCAÇÃO – XXXIII

A formação emocional dos alunos

Na última crónica tratou-se da formação emocional dos professores. Mas são os alunos os sujeitos fundamentais da escola e é para eles que os professores trabalham e fazem a sua formação profissional. E esta, como então foi referido, incluiria uma componente de formação emocional.
Que preparação deveriam ter, então, os alunos para que pudessem enfrentar melhor as múltiplas frustrações que a vida lhes traz e conseguirem ser elementos mais felizes e úteis para a sociedade?
Um dos aspectos a ter em atenção deveria ser o da valorização das suas próprias experiências de emoções positivas. Valorizar o que proporciona a felicidade a alguém é, também, partilhar dessa mesma felicidade e isso implica um sentimento de solidariedade.
No Colégio de S. Francisco Xavier, em Ponta Delgada, está a ser levado a cabo um Projecto de educação afectivo-sexual desde o ano lectivo 2008-2009 até ao final do corrente ano lectivo. Dele retiro um conjunto de requisitos, em contexto de sala de aula, que se consideram indispensáveis para que a alfabetização emocional possa ter lugar. Assim, ela passaria por:
- criar um clima afectuoso, onde a criança sente que é aceite, sem ser criticada;
- não utilizar as emoções para ridicularizar ou humilhar a criança;
- respeitar o facto de a criança não querer falar sobre o que pensa e o que sente;
- proteger a criança da ridicularização por parte da turma quando ela está com algum problema e abordá-lo em privado;
- perceber que diferentes pessoas têm diferentes emoções e diferentes ritmos;
- eliminar a tendência de corrigir as emoções da criança;
- perceber que a consciencialização, diferenciação, expressão e gestão emocionais não são um resultado mas sim um processo.
O professor tem, pois, um papel fundamental nas vivências da criança. Ele pode incentivar o aluno, quer a envolver-se nas actividades de forma a sentir emoções positivas, quer a ajudá-lo a lidar com as emoções negativas que determinadas experiências lhe provocaram. Neste último caso, há que ajudar a criança a definir o que sente, sem tentar adivinhar ou dizer-lhe o que deveria sentir. Além disso, há que relativizar-lhe a situação, estabelecendo limites, definir objectivos e estratégias, em conjunto com a criança e, eventualmente com a família, para a resolução da situação.
As emoções são parte integrante da nossa personalidade. Já é altura da escola, a par da preocupação que tem com a inteligência e o conhecimento dos alunos, de lhes reservar uma parte do seu tempo. Para bem do aluno e da sociedade!
Mário Freire

quarta-feira, janeiro 26, 2011

David Almeida

David Almeida “Groupe”
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Sexta-feira dia 28 de Janeiro de 2011, às 23:00
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Sábado, dia 29 de Janeiro de 2011, às 1:00
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Centro de artes do espectáculos de Portalegre - caep
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Concerto de 30 anos nos palcos.
Apresentação do projecto de originais de David Almeida.
David Almeida, guitarrista nascido em Portalegre, cedo teve a sua primeira experiencia no mundo da música, inicialmente como baixista. Mais tarde, mudou de instrumento para a guitarra solo, a sua “ferramenta” de eleição. A partir desta mudança teve inúmeras experiencias musicais, em vários estilos e com variados músicos.
No início dos anos 90, mudou-se para a cidade do Porto, aí desenvolvendo vários projectos com conceituados músicos do panorama nacional.
Actualmente, o David Almeida “Groupe”, que fará no CAEP o seu concerto de estreia, é um projecto de vivências, sentimentos e ambientes musicais, onde navegam mais três músicos, José Ourives, nos teclados, Pedro Manjerona, no baixo, e João Reis, na bateria, acompanhando David Almeida

terça-feira, janeiro 25, 2011

Jaime Crespo

Eleições

habemus presidentus...

Cavaco foi reeleito e por isso deve ser felicitado como vencedor. Apesar disso, em número de votos tem menos quinhentos mil votos que há cinco anos, percentualmente andará por lá próximo, 52,9% agora contra os 50,59% de há cinco anos. Quinhentos mil votos menos. Significativo!
De qualquer modo venceu.
Representando ele a direita, alguma direita, ganha a direita à esquerda, sem margens para quaisquer dúvidas.
Seria assim num país normal.
Em Portugal, não!
Fernando Nobre com 14,1% anuncia uma enorme vitória.
O PCP, ou melhor, o seu candidato Francisco Lopes, com 7,1% também discursa vitória, como sempre.
O candidato Coelho, da palhaçada e da denúncia com 4,5%, mas uns fantásticos 39% na Madeira, suficientes para provocarem uma enxaqueca a Alberto João, vitória chia também. Manuel Alegre, com estes resultados vira definitivamente triste e é, com Defensor de Moura, o único derrotado assumido, com 1,5%.
Os partidos que o apoiaram, PS e BE, terão muito a refletir sobre esta campanha. De registar a tontice do CDS ao misturar o que foi uma eleição presidencial, personalizada, e tentar relevar esses resultados para o plano nacional como se o povo português tivesse rejeitado hoje uma aliança política entre o PS e o BE, por muito improvável que essa aliança seja, não foi isso que hoje se votou.
Paulo Portas teve ainda a insanidade de se referir a campanhas negras, com certeza reminiscências dos seus tempos de "Independente" e de anti-cavaquista. Ou pensará o Dr. Portas ilusões quanto ao contributo do CDS à reeleição de Cavaco? Mesmo o papel do PSD foi irrelevante. Cavaco Silva ganhou por ele mesmo e alinhando o discurso contra o governo, coisa que Manuel Alegre com o apoio de Sócrates não pode fazer.
Vitória, pois, de Cavaco Silva.
Mas grande arraso da abstenção que ao chegar aos 53,3% dará durante toda a semana algumas dores de barriga a muita gente.
Dos vencidos não costuma rezar a História, mas neste caso os iluminados do BE que resolveram apoiar Alegre muito terão a explicar aos seus militantes.
Em conclusão, quando o desemprego nunca foi tão grande, a emigração atinge os números dos anos sessenta, os trabalhadores confrontam-se com cortes salariais, aumento generalizado de impostos e de preços dos bens de primeira necessidade, a maioria dos portugueses resolveu apoiar o principal responsável por este estado de coisas, dado que como primeiro-ministro e agora como presidente, foi responsável direto em quinze dos últimos vinte anos. Roubados pelos senhores da banca e dos capitais financeiros, votaram no seu candidato.
Parabéns povo português pela tua lucidez!

Mas na verdade não tinha grande escolha.
Tenho fome, por favor, também quero uma fatia de bolo-rei.
Jaime Crespo

Club Desportivo Portalegrense Feminino

Época 2010/2011
1.º plano: Sandra Mouro, Joana Gaspar, Carla Almeida,
Inês da Silva, Irina Braga, Joana Martins
2.º plano: Cátia Carrilho, Marisa Baptista, Cátia C. Calado,
Sara Anacleto, Carina Mendes,Carina Valério
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Futebol Feminino em Portalegre

Portalegre tem hoje uma equipa de futebol feminino a representá-la. Mas, segundo a comunicação social, o primeiro jogo de futebol feminino realizado em Portalegre remonta a domingo dia 26 de Junho de 1966, há quase quarenta e cinco anos, no mítico Estádio da Fontedeira.
Naquela tarde defrontaram-se duas equipas, que pela análise do que foi então escrito nos dois semanários de Portalegre, seriam todas de um mesmo grupo que se ‘dividiu’ entre um ‘Desportivo’ e um ‘Estrela’. E eram apenas vinte e duas atletas, uma vez que tendo-se lesionado uma, não houve substituição.
A localização geográfica das equipas não coincide em O Distrito de Portalegre, mas cremos que aquela que está no relato do jogo seja a correcta.
Também fica registada, nos textos da época, a maneira como o jogo foi antecipado, segundo o redactor de O Distrito de Portalegre “é de prever boa presença de público, pela curiosidade que está despertando, como é natural.”. Assim como foi visto esse jogo pioneiro, segundo Aníbal Gonçalves em A Rabeca, “perante razoável assistência, num dia de calor intenso e com presença de notável elemento feminino”.
Presentemente, o Club Desportivo Portalegrense Feminino participa no Campeonato Distrital de Portalegre com uma equipa, treinada por Cátia Carrilho.
A prova iniciou-se no passado dia 9 de Janeiro de 2011, tendo jogado nesse dia a equipa constituída por Cátia Carrilho, Marisa Baptista, Cátia C. Calado, Sara Anacleto, Carina Mendes, Carina Valério, Sandra Mouro, Joana Gaspar, Carla Almeida, Inês da Silva, Irina Braga e Joana Martins.
Mais importante que os resultados obtidos, jornada a jornada, será a alegria e o fair-play com que em todos os jogos o Clube Desportivo Portalegrense Feminino participa.
Mário Casa Nova Martins
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O Distrito de Portalegre – Ano 83 – N.º 4976 – Sábado 25 de Junho de 1966 – pg.2
Director José Dias Heitor Patrão
DESPORTOS
Futebol Feminino em Portalegre
Realiza-se amanhã, nesta cidade, pelas 17 horas um jogo de futebol feminino entre a equipa das 11 Estrelas da Charneca (Lisboa) e o Clube Desportivo da Charneca (Amoreira).
Por ser a primeira vez que nesta cidade se realiza um jogo desta natureza, é de prever boa presença de público, pela curiosidade que está despertando, como é natural.

O Distrito de Portalegre – Ano 83 – N.º 4977 – Sábado 2 de Julho de 1966 – pg.5
DESPORTOS
Futebol Feminino
Nesta cidade realizou-se no passado domingo um jogo de futebol, entre as equipas femininas do Clube Desportivo da Charneca (Lisboa) e 11 Estrelas da Charneca (Amoreiras), o que terminou com um empate a duas bolas.
Arbitrou Arlindo Duarte (componente da caravana) e as equipas alinharam da seguinte forma:
C. D. Charneca – Lourdes, Deolinda, Dorinda e Luísa; Leonor e Lina; Cidália, Rosa, Mariasinha, Ermesinda e Natividade.
11 Estrelas – Teresa, Ana Paula, Ilda e Luísa; Fernanda e Emília; Anita, Helena, Rita, Odete e Ana Maria.
Marcaram Mariasinha e Ermesinda, pelo C. D. Charneca e Emília, pelos 11 Estrelas.
O facto de ter sidoo primeiro jogo feminino que se realizou nesta cidade atraiu a curiosidade e por isso a assistência foi regular a presenciá-lo.

A Rabeca – Ano 51.ª – 23 de Junho de 1966 – NÚMERO 2.390
Director, Editor e ProprietárioJoão Diogo Casaca
Na secção Desportos – Coisas do nosso futebol – por Aníbal Gonçalves, na página 2, não faz referência ao jogo a disputar a 26 de Junho seguinte.

A Rabeca – Ano 51.ª –30 de Junho de 1966 – NÚMERO 2.391 – pg.2
Desportos – Coisas do nosso futebol – por Aníbal Gonçalves
Futebol Feminino
No passado domingo realizou-se, na Fontedeira, o anunciado desafio de futebol feminino entre as equipas do Clube Desportivo a Charneca e as 11 Estrelas da Charneca. Perante razoável assistência, num dia de calor intenso e com presença de notável elemento feminino, as equipas empataram 2-2, com 1-1 ao intervalo.
Logo no minuto inicial a avançado centro do Desportivo da Charneca, que equipou de vermelho, fez funcionar o marcador. O tento que deu o empate de 1-1, foi obtido de grande penalidade, pela médio esquerdo das 11 Estrelas.
Após o descanso foram estas a equipa que mais dominou, tendo saído lesionada a extremo direito do Desportivo da Charneca, a melhor elemento em campo durante toda a partida. Foi ainda a mesma n.º 6 das 11 Estrelas que pôs a sua equipa a ganhar por 2-1, empatando o Desportivo por intermédio da sua extremo esquerdo.
Salientaram-se no Desportivo da Charneca a extremo direito e a defesa central.
As 11 Estrelas tiveram na sua médio esquerdo a sua melhor jogadora.

segunda-feira, janeiro 24, 2011

António Martinó de Azevedo Coutinho

A Mocidade Portuguesa, ao longo da sua existência, editou diversas revistas infanto-juvenis, em certos tempos com especificação dos sexos.
Deve dizer-se que, no referente a alguns dos títulos criados, foi de apreciável qualidade o conteúdo seleccionado, quer na componente nacional quer nas histórias ou séries importadas, sobretudo de origem francófona.
Naturalmente, como lhe competia, sobretudo em determinadas fases, a doutrinação política foi óbvia, no culto do nacionalismo, dos heróis, da História Pátria e de alguns valores subjacentes aos princípios do Estado Novo. Jornal da M.P. (2 séries), Camarada (2 séries), Pisca-Pisca, Lusitas e Fagulha foram alguns dos títulos que, entre 1937 e 1974, a organização dirigiu não apenas aos seus filiados como a toda a juventude em geral.
As páginas destas revistas, para além das histórias desenhadas ou em texto, incluiram também publicidade, serviços cívicos e propaganda, ainda que em certos casos seja difícil determinar com rigor a classificação das matérias em apreço.
Mostram-se a seguir casos curiosos, como o de uma curta banda desenhada que tem como explícito objectivo a indicação precisa de lojas especializadas onde poderia ser adquirido certo tipo de fardamento... ou, então, a capa de um opúsculo ilustrado de divulgação da Assistência aos Tuberculosos do Norte de Portugal, no combate a um dos flagelos nacionais desses tempos... ou ainda um postal, sob a forma de cartoon, onde um estudante de capa e batina castiga com a sua guitarra (Manifesto) outro jovem, um oposicionista do MUD...
O Camarada, talvez o mais conseguido título do conjunto, foi apoiado por campanhas publicitárias bem organizadas, de que se apresenta um postal, de entre os diversos outros meios utilizados. Aí se proclamavam os méritos do seu conteúdo formal: contos, histórias em quadrinhos (à brasileira!), jogos, peças de teatro, biografias, concursos e construções de armar, em suma, um jornal que até parece magia!

Finalmente, para completar estas referências, o exemplo de uma página promocional e propagandística: a biografia ilustrada de Salazar, enquanto jovem, um rapaz com uma ideia séria!
Voltando a’O Mundo de Aventuras, pode anotar-se o facto de por vezes se procurar aí uma deliberada “promiscuidade” entre as histórias desenhadas e o cinema, tendo como elemento de ligação personagens comuns a ambas as artes. Naturalmente, o objectivo fundamental é de natureza promocional, buscando-se na “mitologia” inerente o aumento de popularidade dos heróis, garantindo assim a sua melhor e mais rendosa venda...
Nos casos à esquerda, são as personagens de Tarzan e Roy Rogers as integradas neste tipo de campanha, nas figuras de Johnny Weissmuller e de Leonard Slye.
A capa e a contracapa reproduzidas à direita constituem outro caso interessante, agora aliando a BD às clássicas colecções de cromos. A aventura O Terror do Texas foi uma criação do desenhador português Vítor Péon, originalmente publicada na revista O Pluto e depois adaptada aos 120 cromos soltos, aptos a colar numa caderneta própria, promovendo A Oriental, antiga casa editora sita na Rua do Terreirinho, 38, 2.º, telefone 24448, em Lisboa.
Continuaremos na época...
António Martinó de Azevedo Coutinho

domingo, janeiro 23, 2011

‘Às Armas’, Cidadãos!

‘Às Armas’, Cidadãos!

Começou hoje, precisamente à hora do fecho das urnas da campanha eleitoral presidencial, a campanha eleitoral para as eleições legislativas antecipadas.
A vitória de Aníbal Cavaco Silva, e consequente reeleição, traz grande instabilidade política. Passados os prazos constitucionais, eis que chegará a demissão do primeiro-ministro José Sócrates e consequente dissolução da Assembleia da República e marcação de eleições legislativas antecipadas.
Até lá, ver-se-á uma campanha agressiva do PSD na caça ao voto útil da Direita, sem compreender que as maiorias absolutas conquistam-se com os votos do Centro e não com a tentativa de asfixiamento dos partidos à Direita do PSD.
E o despudor será tanto, que dizendo ao eleitorado que o PSD fará coligação com o CDS, mesmo que alcance a maioria absoluta, pede todos os votos da Direita, porque é o partido que está melhor posicionado para derrotar a Esquerda. Conversa esta, idêntica àquela que todos os anteriores líderes do PSD utilizaram.
Sabendo-se de antemão que assim será, CDS, PND e PNR jamais poderão dizer que desconheciam este estratagema, que mesmo de tão infantil e tantas vezes repetido, o certo é que sempre vem dando frutos. Para quem o usa, é claro!
Neste momento, há que começar a trabalhar, preparando desde já a próxima campanha eleitoral das legislativas antecipadas. Nenhum partido á Direita fará coligações. Logo, o trabalho será muito e o tempo urge.
No caso do CDS, que os seus militantes e simpatizantes não acreditem em ‘cantos de sereia’ dos PSD’s! Se o PSD tiver maioria absoluta ‘dispensa’ o CDS. E só um CDS ‘forte’, acima dos 10% fará com que o PSD não tenha a maioria absoluta e assim evitar-se-á um novo Cavaquistão.
Cavaco Silva vai fazer tudo para que o PSD alcance nas legislativas antecipadas, que vai provocar, uma maioria absoluta, à custa de perdas e danos do CDS, e também do PND e PNR.
Quanto aos partidos à Direita do CDS, PND e PNR, têm que finalmente se afirmar, tentando crescer através da diminuição da abstenção, captando o descontentamento popular que a Esquerda, concretamente mais o BE que o PCP, tão bem tem sabido capitalizar.
Mário Casa Nova Martins

Eleições Presidenciais

Para que não reste a menor dúvida.
Mário Casa Nova Martins

António Manuel Couto Viana

DO TEMPO DA OUTRA SENHORA

Estremoz, Alentejo, Portugal

sábado, janeiro 22, 2011

Mário Silva Freire

PARA UM DESENVOLVIMENTO SOLIDÁRIO

Um certo tipo de necessidades

Há produtos que, graças ao avanço da ciência e da tecnologia, foram substituídos por outros mais eficazes. Eles moldaram-nos a maneira de estar, de sentir e de pensar. É a marcha da humanidade que, fazendo uso da inteligência e da criatividade, procura o maior bem-estar. Ninguém hoje parece discutir a existência do telefone, a utilização do avião, o uso dos computadores, ou os benefícios da tomografia computorizada. Não sabemos, no entanto, se todas essas inovações trouxeram maior felicidade e se contribuíram para uma maior igualdade entre os homens. De qualquer modo, elas fazem parte de nós próprios e dispensá-las seria como nadarmos sozinhos no meio do oceano. Estaríamos perdidos!
O caminho natural na tecnologia é um produto mais avançado funcionalmente tomar o lugar do antigo e este ir-se tornando inútil, mesmo em perfeito estado de funcionamento. Diz-se que há, então, obsolescência. O problema é quando ocorre a introdução deliberada no mercado da obsolescência com o objectivo de gerar um grande volume de vendas, com a redução do tempo entre compras sucessivas. Fomenta-se, então, uma inutilidade do antigo produto, a partir da publicidade que é dada ao novo, devido às mil umas vantagens que agora lhe são atribuídas. O velho não tem as novas funcionalidades, segundo a nomenclatura consumista, que permitem fazer as tais coisas de que agora não podemos prescindir mas que, ainda há uma ano atrás, não sabíamos que elas existiriam.
Um computador com mais de 3 anos já é considerado da era medieval e não possuir-se o telemóvel com as tais ditas funcionalidades é não considerar-se uma pessoa do seu tempo! Significa isto que a inovação é a mãe do consumismo exacerbado e irracional? Não! A inovação refere-se a uma ideia, método ou objecto que é criado, que pouco se parece com padrões anteriores, e que vem dar resposta a necessidades reais. Ora, o que acontece, é que o consumismo vai fabricando necessidades fictícias que irão sendo satisfeitas com novos objectos que pouco acrescentam aos anteriores mas que, mercê de um marketing agressivo, os tornam quase indispensáveis.
Segundo este conceito de obsolescência planeada, que tão focado foi na Semana da Pastoral Social, os objectos são comprados e, pouco tempo depois, deitados fora para outros serem comprados. A compra e a posse são prazeres de curta duração.
Há, pois, que quebrar este ciclo infernal que leva ao desperdício, à acumulação de lixos, à depredação de recursos naturais que poderiam ser aproveitados na satisfação de necessidades reais dos povos. Talvez esta crise que está a viver-se tenha, pelo menos, a virtude de reorientar o consumo para sectores mais fulcrais do desenvolvimento humano!
Mário Freire
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(1) in, FONTE NOVA, n.º 1807, terça-feira 18 de Janeiro de 2011

Rainhas Medievais de Portugal


Saiu em Novembro de 2010 este livro «Rainhas Medievais de Portugal» de Ana Rodrigues Oliveira.
Começamos por afirmar tratar-se de um livro de História e não de um romance histórico. Fazemos esta ressalva, porque o mercado do livro foi inundado de livros que são romances sobre personagens da História de Portugal.
Como diz a Autora, principalmente para as primeiras rainhas de Portugal não há muita documentação, mas mesmo assim é-nos dado pela sua leitura um retrato que será muito próximo da realidade, visto Ana Rodrigues Oliveira ter consultado toda a documentação existente sobre aqueles reinados. À medida que se avança no tempo, mais documentação existe, e assim os trabalhos estão mais desenvolvidos.
E a última rainha a ser biografada é Leonor de Lencastre, mulher de D. João II.
A Autora também inclui estudos sobre Teresa de Leão e Castela, mãe de D. Afonso I, e sobre Inês de Castro, que ‘depois de morta foi rainha’.
A importância deste livro reside, portanto, na farta informação que trás, e pelo facto de até hoje se conhecer pouco a vida das rainhas de Portugal.
Acrescente-se que a obra também reflecte a corrente da História que estuda a vida privada, uma vez que Maria Rodrigues Oliveira também trabalhou na «História da Vida Privada em Portugal – A Idade Média», coordenada por Bernardo Vasconcelos e Sousa.
De leitura obrigatória.
Mário Casa Nova Martins
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[Ana Maria Rodrigues Oliveira é professora de História, com especialização na área de História Cultural e das Mentalidades. Doutorou-se em 2004 na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Tem desenvolvido estudos nas áreas da mulher e da criança e participado em vários congressos e seminários. É co-autora de manuais escolares para o ensino da História e membro do Instituto de Estudos Medievais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa]
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sexta-feira, janeiro 21, 2011

António Martinó de Azevedo Coutinho

RÉGIO HOJE

IV - JOSÉ RÉGIO, “FADISTA”(parte um)

Não está no rol das minhas intenções ofender a memória de Régio, por quem tenho a maior das admirações. A adjectivação “fadista” deve ser contida no contexto da metáfora alusiva à criação de uma das suas obras poéticas mais conseguidas: Fado.
Aqui fica, portanto, a justa “explicação” do sub-título deste texto...
Acontece que a primeira aparição deste volume (Arménio Amado, Editor, Coimbra) data, precisamente, de 1941. Eis-nos, por isso, na presença de mais uma “redonda” efeméride regiana, com 70 precisos anos, precisos e oportunos anos -acrescente-se!
Na lógica do contexto que a seguir apresentarei, poderá ser esta a mais conseguida e ampla das próximas comemorações regianas, desde que seja rodeada do apoio colectivo que justifica.
É conhecido o projecto nacional, liderado pela Câmara Municipal de Lisboa, de candidatura do Fado a Património Cultural Imaterial da Humanidade, junto da Unesco. Desde 2005, uma empenhada e competente comissão tem vindo a organizar o complexo processo, ao qual as entidades políticas oficiais parecem conceder o indispensável patrocínio. Obviamente, para quem aqui conheceu o processo da candidatura de Marvão, todas as reservas devem ser postas em campo, na mistura das esperanças com as decepções.
Mas acreditemos nas sérias probabilidades de êxito desta candidatura, tanto pelo permanente empenho colectivo das personalidades envolvidas como pelos argumentos devidamente explorados e inteligentemente organizados. Porém, restará sempre o tal óbice político, nacional e sobretudo internacional, onde insólitos obstáculos negociais poderão entravar os mais legítimos sonhos.
Numa petição pública, patente na Internet, afirma-se: “O fado é uma festa. O fado é, há pelo menos mais de dois séculos, património imaterial nosso. Uma marca cultural constante e permanente que alimenta a alma de um povo. O Povo Português. Todo o Povo Português.”
No dia 30 de Junho do passado ano, numa reunião pública que decorreu no Museu do Fado, foi apresentada e debatida a candidatura. Então, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa declarou que “só com o que já se fez, independentemente dos resultados da candidatura, já houve uma grande conquista para o Fado.” E acrescentaria que, no caso de Lisboa “dois produtos culturais ganharam universalidade: Fernando Pessoa e o Fado.
Voltemos a Régio. O seu Fado constitui uma peça literária única, no panorama nacional, de todos os tempos. Se pesquisarmos exaustivamente a produção cultural desta temática no universo da literatura portuguesa de qualquer época, nada mais encontramos, subscrito por um autor consagrado. Um ou outro título, da autoria de Fialho de Almeida, António Botto, Teófilo Braga, Alberto Pimenta e poucos mais, podem deixar no leitor uma pálida ideia de que o fado foi por eles abordado numa perspectiva literária de primeiro plano. Em vão...
Voltamos sempre a Régio. Quando António Costa fala de “produtos culturais” lisboetas que ganharam universalidade -Fernando Pessoa e o Fado- poderemos, sem qualquer exagero contrapor-lhe José Régio e o Fado. E, assim, falamos de “produtos culturais” portugueses -e não apenas lisboetas- com pleno direito à universalidade. E falamos de “produtos culturais” unidos por uma forte e autêntica ligação patente na obra, como no autor, e assumida por este como tal, em vez duma mera aliança de circunstância, imagem conveniente mas frágil...
Depois, há outros factores que podem ajudar a campanha em marcha, desde que desligada do seu quase exclusivo patrono -a autarquia lisboeta- no contraponto de outras lógicas alianças.
O Fado de Régio inclui três poemas muito especiais, dedicados às “três cidades” do autor: o Romance de Vila do Conde, a Balada de Coimbra e a Toada de Portalegre.
Coimbra é também terra de fados, fados muito particulares é certo, mas fados...
Se unidas num projecto complementar, numa espécie de task force (que me seja desculpado o estrangeirismo, mas pareceu-me adequado!) que possa reforçar internamente e alargar as vivências do fado, creio que as comunidades vilacondense, coninbricense e portalegrense poderiam ajudar os lisboetas no seu meritório afã. E Régio seria, assim, um digno e justo embaixador, ele que, há setenta anos, concedeu à canção nacional o estatuto de maioridade cultural, numa pioneira e esclarecida antecipação aos conceitos hoje tão “actuais”.
Afinal, não estará também aqui a modernidade de Régio, que Eugénio Lisboa há bem pouco nos lembrou?
António Martinó de Azevedo Coutinho