Mário Silva Freire
PARA UM DESENVOLVIMENTO SOLIDÁRIO
Um certo tipo de necessidades
Há produtos que, graças ao avanço da ciência e da tecnologia, foram substituídos por outros mais eficazes. Eles moldaram-nos a maneira de estar, de sentir e de pensar. É a marcha da humanidade que, fazendo uso da inteligência e da criatividade, procura o maior bem-estar. Ninguém hoje parece discutir a existência do telefone, a utilização do avião, o uso dos computadores, ou os benefícios da tomografia computorizada. Não sabemos, no entanto, se todas essas inovações trouxeram maior felicidade e se contribuíram para uma maior igualdade entre os homens. De qualquer modo, elas fazem parte de nós próprios e dispensá-las seria como nadarmos sozinhos no meio do oceano. Estaríamos perdidos!
O caminho natural na tecnologia é um produto mais avançado funcionalmente tomar o lugar do antigo e este ir-se tornando inútil, mesmo em perfeito estado de funcionamento. Diz-se que há, então, obsolescência. O problema é quando ocorre a introdução deliberada no mercado da obsolescência com o objectivo de gerar um grande volume de vendas, com a redução do tempo entre compras sucessivas. Fomenta-se, então, uma inutilidade do antigo produto, a partir da publicidade que é dada ao novo, devido às mil umas vantagens que agora lhe são atribuídas. O velho não tem as novas funcionalidades, segundo a nomenclatura consumista, que permitem fazer as tais coisas de que agora não podemos prescindir mas que, ainda há uma ano atrás, não sabíamos que elas existiriam.
Um computador com mais de 3 anos já é considerado da era medieval e não possuir-se o telemóvel com as tais ditas funcionalidades é não considerar-se uma pessoa do seu tempo! Significa isto que a inovação é a mãe do consumismo exacerbado e irracional? Não! A inovação refere-se a uma ideia, método ou objecto que é criado, que pouco se parece com padrões anteriores, e que vem dar resposta a necessidades reais. Ora, o que acontece, é que o consumismo vai fabricando necessidades fictícias que irão sendo satisfeitas com novos objectos que pouco acrescentam aos anteriores mas que, mercê de um marketing agressivo, os tornam quase indispensáveis.
Segundo este conceito de obsolescência planeada, que tão focado foi na Semana da Pastoral Social, os objectos são comprados e, pouco tempo depois, deitados fora para outros serem comprados. A compra e a posse são prazeres de curta duração.
Há, pois, que quebrar este ciclo infernal que leva ao desperdício, à acumulação de lixos, à depredação de recursos naturais que poderiam ser aproveitados na satisfação de necessidades reais dos povos. Talvez esta crise que está a viver-se tenha, pelo menos, a virtude de reorientar o consumo para sectores mais fulcrais do desenvolvimento humano!
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