\ A VOZ PORTALEGRENSE: fevereiro 2021

quinta-feira, fevereiro 25, 2021

Jaime Nogueira Pinto - Os novos inquisidores

Como todos os da minha geração, tenho amigos, uns mais próximos, outros mais distantes, a morrer como se morre neste tempo e lugar: sem família, sem um padre, sem um amigo, numa higienizada solidão assistida estranhamente próxima da conspurcada solidão acompanhada dos muitos que, ao longo dos séculos e milénios, foram morrendo de peste. O progresso trouxe muita coisa, ou muitas coisas, mas não apagou o essencial da natureza humana e da sua fragilidade. Nos últimos dias, do círculo dos amigos, morreram a Clara, o Nuno, o Jimmy, o Luís e o Alberto.

E morreu também o Tenente-Coronel Marcelino da Mata. Encontrávamo-nos pelo menos uma vez por ano, no dia 10 de Junho, junto ao monumento do Forte do Bom Sucesso de Belém, onde estão inscritos os nomes de todos os que morreram na guerra do Ultramar. Marcelino da Mata não morreu na guerra, morreu desta Pandemia que, num ano, matou já o dobro dos portugueses caídos em 13 anos de guerra de África.

Mas a sua morte, a sua figura, a sua memória ou foram caladas ou levantaram polémica. E porquê? Porque para a esquerda de variante americana que anda agora por aí, homens como Marcelino da Mata não podem existir. Incomodam. Desassossegam. Baralham. Não cabem na narrativa simplista e maniqueísta adoptada. Não se encaixam no paradigma. Não cumprem o papel de “negros úteis”; um papel que outrora seria, paternalisticamente, a docilidade e a gratidão mas que agora parece ser, também paternalisticamente, a insurreição ou, mais precisamente, o “activismo anti-racista”. É este o guião – também ocidental e caucasiano – com que os actuais comissários políticos das minorias oprimidas querem perpetuar o racismo. Um negro que tem a ousadia de não se cingir àquilo a que a raça o obriga? Um negro que não se deixa “empoderar” e não quer cumprir o seu destino de minoria oprimida? Um negro da Guiné que combate no Exército Português, nas Forças Especiais, que se distingue em combate, que é condecorado? Um negro que depois do 25 de Abril, no período do PREC, é preso, insultado e torturado no RALIS por oficiais do MFA e maoístas à paisana? Nada disto pode existir e terá, por isso, de ser rapidamente eliminado ou branqueado: Marcelino foi um “traidor” e cometeu “crimes de guerra”; os oficiais do MFA e os ajudantes maoístas foram “corajosos e determinados”, ou mesmo “heroicos”.

Um determinismo marxista de estirpe americana

Chamar “esquerda radical” a esta estirpe americana é insultuoso para a esquerda radical, onde conheci e conheço gente decente, com convicções, com cultura, com coragem, com passado. E chamar-lhes “marxistas culturais” também me parece ofensivo e excessivo: primeiro para Marx, que era um homem inteligente e até com sentido de humor e que grande parte destes seus seguidores desconhece; e depois para a cultura, que maioria não tem ou não pratica, independentemente dos títulos académicos – que, se nunca foram uma garantia absoluta, agora muito menos o serão.

Mas o facto é que nesta Terceira República a dita estirpe americana parece estar a fazer caminho na academia, na comunicação, na opinião. E talvez num ponto seja marxista: no determinismo materialista. Também para eles as condições étnicas e sócio-económicas e as opções sexuais determinam, de modo absoluto, as ideias, o pensamento e os valores políticos e morais das pessoas. Já Marx e Engels desconfiavam do sufrágio universal, temendo que o Povo nem sempre votasse bem, ou seja, de acordo com os seus “verdadeiros interesses de classe”. Como a União Soviética acabou e como “os trabalhadores” e os operários que ainda restam na Europa e nos Estados Unidos deixaram de ser comunistas (Herbert Marcuse percebeu isso há 60 anos), estes marxistas procuraram outras clientelas oprimidas: minorias étnicas, minorias sexuais, minorias animais, vegetais ou minerais, tudo o que pudesse estar oprimido ou sentir-se ameaçado. E construíram sobre isso uma semântica (acabei de ver agora, num artigo de Rod Dreher, Orwell’s Cookbook, um exemplo censório de reescrita de receitas culinárias para não ferir susceptibilidades étnicas; vale a pena). Mas mais do que uma semântica, construíram uma narrativa histórica simplista e maniqueísta em que do lado deles tudo é perfeito, e o lado contrário, ou não existe ou é intrinsecamente perverso, inumano, repugnante. Tal como no Ruanda os hutus consideraram os tutsis “baratas” para os exterminarem mais facilmente, assim também eles consideram os inimigos criminosos de guerra, traidores de raça ou traidores de classe ou de minoria. Enfim, seres a ignorar, a exterminar ou a banir das “redes” e da História.

Ortodoxia sem desvios

Instalou-se uma narrativa oficiosa que não admite desvios. Mas além das naturais diferenças e divergências de ideias políticas, ou até de valores políticos, cresce a negação aos inimigos de qualquer qualidade ou dignidade humana.

Sempre considerei que entre os meus inimigos políticos (e chamo-lhes inimigos e não adversários) haveria com certeza pessoas decentes, humanamente decentes. E que tinham inteligência e convicções, e que, por essas convicções, assumiam riscos, sofriam consequências.

Eram assim alguns dos “associativos” da Faculdade, eram assim alguns militantes comunistas, eram assim alguns guerrilheiros do então Ultramar. Combatia-os, mas respeitava-os, porque o combate político, o combate por uma causa, não retira ao outro, ao inimigo, o carácter humano, a qualidade de filho de Deus ou, para os que não crêem em Deus, de ser humano. Não é preciso odiar para combater, e há boas causas servidas por más pessoas e causas más servidas por pessoas boas. E passada a razão da luta, ou o calor do combate, nada nos impede de falar com “o inimigo” sem despeito nem remorso e até com amizade e cumplicidade do que nos uniu e separou ou do que nos une e separa nas guerras que travámos ou travamos. Tenho tido ocasião de o fazer em Angola e Moçambique. Também nas guerras políticas pode haver regras, como sempre as houve nas guerras entre Estados, para tratar inimigos e prisioneiros, desde os códigos medievais de Cavalaria, até às Convenção de Genebra.

Os sub-humanos inimigos do povo

Mas é nas guerras ideológicas, herdeiras das guerras religiosas, que as coisas tendem a mudar. Quando os soldados a motivar para o combate passam a ser também “as populações”, “as massas populares”, os jornais, a academia, a “arraia miúda”, “o povo”, a retórica e as regras são outras; e à doutrinação segue-se muitas vezes a fanatização; e à fanatização, a barbárie. No século XX, na guerra civil europeia, com a teoria do “inimigo de classe” de bolcheviques e maoístas, e do “inimigo do povo alemão” do hitlerismo, impregnou-se nas massas a endoutrinar, num espírito maniqueísta, a ideia de que os nossos eram moralmente superiores, de que o Bem e o Mal eram categorias absolutas aplicáveis à política e que os do Bem tinham de destruir, aniquilar, exterminar de vez, os do Mal. E que os partidários do Mal absoluto, os outros, eram, como os judeus para os hitleristas, UnMensch, não-pessoas; não existiam como pessoas, por isso era indiferente se deixassem de existir; ou então não existiam mesmo, como os desempregados na sociedade soviética, onde não podia haver desemprego. E as razões dessa sub-gente também não existiam e as suas acções eram sempre pérfidas e as sua narrativa sempre falsa.

Agora, um negro que esteja do lado errado da vida ou da História, também deixa de ter individualidade e densidade para passar a ser total e absolutamente “um pai Tomás”. Tal como Juiz Clarence Thomas, um negro americano conservador, só poderá ser “preto de serviço”. Há dias, um independentista catalão tratou insultuosamente o líder do VOX na Catalunha, que é mestiço (categoria incómoda, tal como outrora as “classes médias”); e fê-lo num tom que se o branco ofensor não fosse de esquerda e se o negro ofendido não fosse de direita, lhe teria valido uma crucificação em directo nos media. Também, quando a rede social Hornet noticiou que 45% da comunidade homossexual e LGBT norte-americana votava Trump, contra 51%, que votava Biden, o escândalo e incredulidade invadiram elite mediática progressista.

Do lado errado da História

Marcelino da Mata, aparentemente, também terá saído da categoria que lhe estava destinada por estes novos inquisitores.

Quando morreu, como o mais condecorado militar desta geração, teve um funeral com as chefias militares e onde o Presidente da República quis estar presente. O que só lhe ficou bem. A Comunicação Social, que se ocupa e preocupa com todo o fait-divers, não esteve presente no funeral. E ontem, vá lá, no Parlamento, houve um voto de pesar com maioria absoluta.

Nos combates da História e na História, com ideias e ideologias à mistura, com lealdades nacionais diferentes, com hierarquias de valores às vezes também complexas, os juízos definitivos não são simples. Que um combatente guineense do PAIGC não tenha Marcelino da Mata em boa conta é admissível; e que, pelas mesmas razões, um combatente português da guerra de África não tenha em boa conta um “capitão de Abril” também. Os direitos são iguais. Mas é essa igualdade de direitos perante a História que a tal esquerda, no seu fanatismo cada vez mais maniqueu e mais empedernido, se recusa a reconhecer. E excedem-se no zelo, como aquele Grande Inquisidor da Lenda do Dostoievsky nos Irmãos Karamazov, que prendeu e mandou queimar o próprio Cristo, quando Cristo voltou à terra, em Sevilha, no século XVI..

Jaime Nogueira Pinto

quinta-feira, fevereiro 18, 2021

Avelino Bento e «A Geração que quis ser Feliz»

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A Guerra como experiência interior é o pano de fundo do livro de Avelino Bento «A Geração que quis ser Feliz».

Avelino Bento esteve na Guiné, onde participou na chamada Guerra Colonial, expressão utilizada para estigmatizar um acontecimento da História de Portugal entre 1961 e 1974.

A Guerra em África neste período temporal acabou com a capitulação dos políticos, contrária à realidade militar no terreno.

Os Militares combateram com Honra. Poucos foram os desertores, os cobardes, e ainda menos os traidores. Mas houve traidores, cobardes e desertores!

O Autor fala de forma frontal e directa da sua passassem pelo palco de guerra da Guiné. Em momento algum há desânimo. Discorre na primeira pessoa. E é nítido que a memória daquele tempo nunca se extinguiu, assumindo-a como uma experiência que sempre o irá acompanhar.

Para situar no espaço a sua memória da Guiné, recorre-se da personagem de Emílio Félix, feliz, na qualidade de professor reformado da Universidade de Évora. Sara Manuel, doutoranda em Artes, estudante do primeiro ano do Curso de Doutoramento em Artes na Universidade de Évora, é a personagem feminina que faz a ligação entre a memória passada e o presente.

Se a recordação da Guiné funciona como uma catarse do Autor, o enredo do romance gira à volta do amor, o amor impossível, que a consumar-se seria incestuoso.

Évora é o palco, a Universidade o local de eleição, e as artes, a Arte, são o fio condutor.

Avelino Bento nasceu em Sacavém e reside nos Fortios, freguesia do concelho de Portalegre. É professor jubilado do Ensino Superior, doutor em Sociologia da Cultura, especialização em Comunicação e Arte, e também é actor-encenador e animador sociocultural.

Tem editado «Teatro e Animação – outros percursos do desenvolvimentos sócio-cultural no Alto Alentejo», edições Colibri, 2003, «O meu blog deu-me o mundo – Antologia de textos sobre Cultura, Educação, Arte e Animação. Tributos», Instituto Politécnico de Portalegre, 2010, «No Rio… Quando Começa O Mar», Filigrana Editora, 2019, «A Geração que quis ser Feliz», com posfácio de Luís Miguel Cardoso, Edições Filigrana, 2020. E tem no prelo «Os Últimos Putos Neo-Realistas».

Depois da Cultura, «Teatro…», a Mundovisão, «O meu blog…», a Poesia, «No Rio…», a Memória da guerra, «A Geração…», e proximamente Histórias de infância e adolescência, «Os Putos…».

Avelino Bento é um Homem da Cultura e de Cultura. Este seu romance é de um português escorreito, de leitura agradável, construtiva.

O Autor é um Homem Feliz. Avelino Bento tem um percurso académico notável, e como escritor, transmite cultura, conhecimento, e acima de tudo a Felicidade de se sentir bem consigo próprio.

Mário Casa Nova Martins

Desabafos 2020/2021 - XII

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No passado dia 5 de Fevereiro, pelas 17 horas e 4 minutos, o departamento de informação da Rádio Portalegre editava uma notícia relativa à chuva que tem caído na região, e falava das barragens e dos seus níveis de armazenamento.

No presente, felizmente, esses níveis terão atingido os seus máximos em todas as barragens citadas, à excepção de uma, a Barragem do Caia, e esta dificilmente atingirá o seu máximo de armazenamento, por razões que se conhecem.

Contudo, há na notícia um parágrafo, que se transcreve, que merece atenção:

_ A albufeira de Póvoa e Meadas, em Castelo de Vide, que dispõem de uma capacidade de armazenamento de 22 milhões de metros cúbicos de água, mas que não está a ser aproveitada totalmente por questões de segurança relacionadas com o paredão, já começou a efectuar descargas.

A pergunta é:

_ Há quantos anos, décadas mesmo, se sabe que o paredão da Barragem de Póvoa e Meadas está com problemas estruturais?

Pois é. À memória vem o acidente da ponte de Entre-os-Rios, que aconteceu em 4 de Março de 2001.

E se um dia o paredão cede, o que irá acontecer?

Sabia-se do estado da ponte de Entre-os-Rios, como se sabe o estado do paredão da Barragem de Póvoa e Meadas.

Nada se fez na ponte de Entre-os-Rios, como nada se está a fazer no paredão da Barragem de Povoa e Meadas.

Se um dia o paredão colapsar, como diz o povo, ‘a culpa morrerá solteira’.

Já agora, por certo a esta altura a Barragem do Pisão, melhor, a fantasmagórica Barragem do Pisão já deve também ter atingido a sua quota máxima!

Mário Casa Nova Martins

15 de Fevereiro de 2021

Rádio Portalegre

segunda-feira, fevereiro 15, 2021

Marcelino da Mata e o RALIS

Declarações do Alferes Comando, MARCELINO DA MATA, sobre a sua prisão e tortura sofridas no RALIS.

_ No dia 17/5/75, quando me encontrava em Queluz Ocidental, ouvi pela rádio ser comunicado que me encontrava preso, no RALIS. Perante tal absurdo, dirigi-me ao Regimento de Comandos da Amadora, Unidade onde estava colocado, e falei com o oficial de serviço, capitão Ribeiro da Fonseca, ao qual contei o que acabara de ouvir e pedi que esclarecesse a situação.

O capitão Ribeiro da Fonseca, na minha presença, telefonou para o RALIS e falou com o tenente-coronel Leal de Almeida, tendo o mesmo respondido que me deviam levar imediatamente escoltado para esta Unidade. Telefonou ainda o capitão Fonseca para o COPCON falando directamente com o brigadeiro Otelo Saraiva de Carvalho, o qual confirmou que me devia entregar ao RALIS pois estavam concentradas todas as operações nesta Unidade.

Foi assim que, escoltado por tenente comando e duas praças, fui levado para o RALIS.

Uma vez chegado à Unidade referida e enquanto o tenente que me escoltava se dirigia ao oficial de serviço, aproximou-se de mim um furriel armado que me disse ter ordens para me levar para a casa da guarda e manter-me aí incomunicável.

Apareceu entretanto um aspirante que me levou para uma sala do edifício do Comando onde permaneci sozinho até às 24.00.

Apareceu depois das 24.00 um indivíduo alto, forte e de cabelo e barba compridos que, intitulando-se segundo comandante do RALIS, mas que depois vim a saber que se tratava de um militante do MRPP conhecido por “RIBEIRO”, me estendeu um papel para aí eu escrever tudo o que sabia sobre o ELP.

Mais tarde apareceu um aspirante e um furriel chamado DUARTE e o capitão [Manuel Augusto Seixas Quinhones de Magalhães] QUINHONES que tornaram a fazer a mesma pergunta.

Uma vez que jamais tinha ligação com o ELP, ou qualquer outra organização, respondi-lhe negativamente.

Entrou então o capitão QUINHONES MAGALHÃES. Disse-me que me ia fazer o mesmo que se fazia na Guiné aos “turras” quando não queriam falar e puxou do seu cinturão, no que foi secundado pelo furriel DUARTE.

Saiu o capitão QUINHONES e regressou acompanhado de outro indivíduo, baixo e forte, que também vim a saber ser do MRPP e conhecido por “JORGE”, e mais outro furriel, aos quais o capitão QUINHONES ordenou que me fossem batendo à bruta até que eu confessasse.

Apareceu então o tenente-coronel LEAL DE ALMEIDA que me disse que os pretos só falavam quando levavam porrada e eram torturados, e que não tinha outra solução senão ordenar que me fizessem isso.

Ordenou o capitão QUINHONES que me encostassem à parede e despisse a camisa, o que tive que fazer. Após isto fui agredido sete vezes com uma cadeira de ferro nas costas, o que me provocou vários ferimentos. Não resistindo, caí, mas o capitão QUINHONES disse que me pusesse de joelhos e um outro indivíduo que entrou, intitulando-se oficial da marinha, agrediu-me mais duas vezes com a cadeira. Após isto o capitão QUINHONES e o furriel DUARTE, um de cada lado, agrediram-me com o cinturão por todo o corpo, e eu, que já sentia dores na coluna, senti dores nas costelas e caí novamente no chão.

O capitão QUINHONES ria-se e dizia que o tenente-coronel LEAL DE ALMEIDA queria que eu falasse, nem que eu ficasse todo partido, e que ele ia mesmo fazer-me falar.

Passados uns momentos, quando me encontrava novamente sentado, e como fizesse tenção de reagir às agressões, algemaram-me e perguntaram-me se eu conhecia uns indivíduos, os quais haviam entrado mais ou menos quando me começaram a agredir com a cadeira de ferro.

Como eu dissesse que conhecia alguns deles e outros não, foram-me dizendo os nomes apontando para eles e enunciaram um COELHO DA SILVA, um doutor MAURÍCIO, que não conhecia, e o JOÃO VAZ, ALVARENGA AUGUSTO FERNANDES (BATICAN) e o ARTUR, todos africanos, os quais já conhecia da Guiné.

Então o capitão QUINHONES ordenou ao tal “JORGE” que pegasse num fio eléctrico e me torturasse, tendo-me este dado choques nos ouvidos, sexo e no nariz. Pela terceira vez que me fizeram isto, desmaiei, pois não aguentei.

Quando recuperei tornaram, o capitão QUINHINES e o furriel DUARTE, tornaram a agredir-me com os cinturões e a cadeira de ferro, sentindo eu nessa altura que devia estar com fractura da coluna e costelas, e tinha vários ferimentos grandes em todo o corpo. Mais uma vez não aguentei e desmaiei.

Ao recuperar os sentidos encontrava-me todo molhado e ensanguentado, não tinha movimentos nas pernas e quase não podia respirar, além de fortes dores em todo o corpo.

Por volta das 6 horas do dia 18 trouxeram para junto de mim e dos outros indivíduos que estavam ali presos e já mencionados, o FERNANDO FIGUEIREDO ROSA, também da Guiné, ao qual agrediram com a cadeira de ferro e arrastaram para fora da sala. Entretanto entrou também uma senhora que dizia sr mulher do COELHO DA SILVA, à qual o furriel apalpou as nádegas e seios e outras partes do corpo, frente ao marido.

Fui algemado logo a seguir à entrada da senhora, e conduzido à prisão, onde um furriel encheu com água a cela, até ao nível dos tornozelos.

Por volta das 23.00 fui retirado da prisão, e vi o tenente fuzileiro CORTE REAL e o ex-tenente fuzileiro FALCÃO LUCAS cá fora, os quais ao ver o meu estado me disseram que a eles também lhes tinham dado um “bom tratamento”, mas não tanto como o meu.

Fui metido, a seguir, numa Chaimite e levado para Caxias, onde cheguei já pelas 01.00 ou 02.00 do dia 19/5/75.

Chegado a Caxias, o capitão tenente [João Eduardo da Costa Xavier] XAVIER, e o qual conhecia da Guiné, tratou-me com termos ordinários e obscenos, e mandou-me levar para uma cela, apesar de ver o estado em que me encontrava e de me ter queixado e afirmado que necessitava ser assistido clinicamente.

Só no dia 21/5/75, e depois de muito insistir com pedidos ao oficial de serviço, aspirante da Marinha, FERNANDES, fui levado à enfermaria de Caxias onde me fizeram os primeiros tratamentos, mas quando era necessário ser radiografado faziam-no sempre às zonas do corpo que não eram aqueles de que me queixava.

Permaneci 150 dias em Caxias, e só quando fui libertado e colocado com residência fixa, consegui ser trado convenientemente, e soube ter tido fractura de duas costelas e da coluna.

Lisboa, 24 de Janeiro de 1976

MARCELINO DA MATA

ALF. COMANDO

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_ De Conakry ao M.D.L.P. ‘dossier secreto’, Alpoim Calvão, INTERVENÇÃO, 1976, pgs 233 a 236

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Marcelino da Mata (Ponte Nova, Guiné, 7/5/1940 – Amadora, 11/2/21)

Partiu o Herói!
Fica o Seu Exemplo de Português.
Na Cerimónia de despedida esteve presente o Presidente da República.
Na publicação acima transcreve-se o testemunho de Marcelino da Mata sobre o processo de tortura que sofreu no RALIS, e que está no livro de Alpoim Calvão, cuja capa também se reproduz.
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Para que a Memória não esqueça, é esta a face do principal torturador, Manuel Augusto Seixas Quinhones de Magalhães, junto com Jean Paul Sarte.

sábado, fevereiro 06, 2021

Alberto de Araújo Lima

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ALBERTO DE ARAÚJO LIMA é natural do Porto, cidade onde reside.
Muito conhecido nos meios do Nacionalismo Português, foi num passado um homem de acção e agora é um homem de pensamento, no sentido Bergsoniano.
No seu tempo de acção era o grande divulgador de notícias e de acontecimentos, tendo sempre a preocupação de bem informar.
Pode-se dizer que Alberto de Araújo Lima é um Gramsciano de Direita, primeiro o poder cultural. E é também um Maurrasiano, politique d’abord, a Política acima de tudo.
Hoje Alberto de Araújo Lima estuda os Mestres do conservadorismo nacional. E num curto espaço de tempo saíram do prelo duas antologias por ele elaboradas.
Escolheu em primeiro lugar António Sardinha, o Monárquico, um dos ideólogos do Integralismo Lusitano.
O pensamento de Sardinha tem sido objecto de trabalhos académicos, mas faltava uma antologia da sua obra, com o rigor e profundidade como esta apresenta.
António Sardinha foi uma figura marcante no seu tempo. De grande coerência, legou aos vindouros Princípios e Valores que a serem seguidos voltariam a colocar Portugal no conceito das Grandes Nações. Em tempos de chumbo, como são estes que se vivem, re-descobrir a sua Obra, o seu Pensamento é urgente, é fundamental
A segunda antologia, com prefácio de Barroso da Fonte, é sobre Alfredo Pimenta.
Pimenta tinha uma personalidade complexa, que se reflecte na obra que escreveu, dispersa por todas as formas de escrita. O seu pensamento nem sempre foi linear, tendo muitas vezes privilegiado a polémica em favor da análise fria dos factos.
A multiplicidade de Pimenta, através de uma produção desigual, torna o seu testemunho mais difícil de entender e compreender, pelo que esta antologia ajuda a situar e a colocar o pensamento e a doutrina Pimenta no devido lugar.
António Sardinha e Alfredo Pimenta são representantes de uma forma de pensar e agir que merecia antologias como estas que Alberto de Araújo Lima oferece a um público culto.
É assim que se formam as Elites. E hoje mais do que nunca, a Direita em Portugal tanto delas precisa!
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Alberto de Araújo Lima

https://www.facebook.com/albertononaslima

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_ Antologia: O Pensamento de António Sardinha

Alberto de Araújo Lima, ‘Contra-Corrente’, 2020, 250 pg.

https://editoracontracorrente.wordpress.com/.../antologi.../

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_ Uma Vida, Uma Voz: Alfredo Pimenta – Modo de usar

Alberto de Araújo Lima, ‘Contra-Corrente’, 2020, 444 pg.

https://editoracontracorrente.wordpress.com/.../uma-vida.../

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quinta-feira, fevereiro 04, 2021

Desabafos 2020/2021 - XI

Fechado o período da eleição presidencial, começa o tempo para as eleições autárquicas do próximo Outono.
Até lá, muita água ainda irá correr por debaixo das pontes, mas uma coisa é certa, a pré-campanha já começou.
A esta distância, e com os dados que se conhecem e outros que se inferem, não será difícil futurar que no concelho de Portalegre «vai ficar tudo como dantes»!
Pode parecer temerário, absurdo mesmo, fazer esta afirmação. Contudo, dadas as movimentações políticas, tendo em conta os nomes que já circulam nos ‘mentideros’ da política concelhia, não se afigura, não se augura que alguma coisa possa mudar.
Aliás, se algo mudar, e a ser serão apenas as figuras secundárias, tudo ficará na mesma.
Triste sina esta!
Mas uma coisa é certa, cada povo tem os governantes que merece. E transpondo esta verdade para o concelho de Portalegre, os Portalegrenses têm a autarquia que merecem.
Assim sendo, que falem, que se insurjam, que se tornem carpideiras, mas quando for a hora da verdade, a hora de votar, votam no mesmo, votam nos mesmos!
E a verdade é que a pré-campanha eleitoral autárquica no concelho de Portalegre já começou, basta ver-se que os velórios já têm a simpática presença presidencial!
Sim, esta é uma das características das eleições autárquicas no concelho de Portalegre, que das primeiras vezes fez furor, mas que agora já não é novidade.
O concelho de Portalegre é o que é, e quem disser o contrário, mente.
Viva a Inércia!
1 de Fevereiro de 2021

terça-feira, fevereiro 02, 2021

'Je suis Eugénia Vasques'

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Para que a Memória não esqueça!
Para que a Memória não se apague!
Para Memória Futura!
A forma de pensar de uma Comunista!
O Bloco de Esquerda, Trotskista, à qual esta indivídua pertence, é conivente com esta forma totalitária de pensar e agir!
Editado no facebook pela própria, a propósito das eleições presidenciais de 24 de Janeiro de 2021, referindo-se ao candidato de Direita André Ventura
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