António Martinó de Azevedo Coutinho
...E continuamos, com a abordagem de um tema quase interminável.
Mais alguns exemplos interessantes são-nos fornecidos pela publicação, nas páginas do já desaparecido vespertino A Capital, da biografia em BD do grande e malogrado ciclista Joaquim Agostinho, patrocinada por uma bebida fortificante.
Num suplemento da revista Cavaleiro Andante, podemos certificar-nos de que uma grande companhia petrolífera (no cabeçalho) apoia a divulgação das proezas de Michel Vaillant, ás do volante...
Depois, em páginas de diversas publicações, como Tintin, verifica-se a inserção de uma prancha d’As Aventuras Extraordinárias de Adele Blanc-Sec, de Tardi, onde o conteúdo dos balões foi adaptado à sua auto-promoção, numa curiosa espécie de meta-linguagem susceptível de curiosas análises. Basicamente, trata-se de uma banda desenhada que se auto-publicita, portanto a si própria!
Regressando à mais famosa dupla de heróis francófonos dos quadradinhos, Astérix e Tintin, eis mais alguns exemplos.
Do primeiro temos uma colecção de 300 cromos gigantes, onde se reproduz uma das suas super-aventuras, assim como uma vasta série de figuras de plástico, que constituiam brindes, tanto de uma conhecida marca de detergentes em pó, como de uma não menos conhecida marca de gelados, daqueles de pauzinho...
Quanto a Tintin, facilmente reconheceremos que a sua aplicação foi bastante mais criativa, prestando-se as caricas de um popular refrigerante a funcionar como peças de um clássico jogo de loto, cujas folhas-base foram distribuídas pela revista com o seu nome.
Estas caricas, aliás, também serviam para praticar o popular jogo alusivo pelos passeios públicos fora, nos tempos felizes em que não precisávamos de playstation para nos divertirmos...
O caso a seguir escolhido é também curioso. Como folhas intercalares volantes, em revistas infanto-juvenis, surgiu a promoção de uma “banda desenhada radiofónica” (sic!) emitida pelo saudoso Rádio Clube Português, sob o prometedor título A Ilha Misteriosa, de Júlio Verne. Talvez este imortal romance de aventuras tenha sido dos mais adaptados sob a forma de BD, portanto impressa, mas -que se saiba!- nunca ele terá importado esta designação de forma tão criativa e oportuna.
Porque é tempo de dar por finda esta análise -parcelar e descontraída- duma época muito rica em exemplos de interessantes “alianças” entre a banda desenhada e a publicidade, aqui fica, para conclusão, um trio muito diverso.
A abrir, eis um dos folhetos de promoção de um afamado detergente, organizado sob a forma de uma curta historieta desenhada, simples, directa, funcional.
A seguir, recorda-se uma célebre marca de pastilhas elásticas que, entre as mais diversas manifestações publicitárias usadas para a sua própria divulgação, se atreveu a editar uma revista de BD, intitulada O Pirata, mais tarde apenas Pirata. Vale a pena dedicar alguma atenção a esta quase ignorada publicação, surgida em meados de 1968 e conseguindo manter-se até 1982. Embora a qualidade gráfica fosse deficiente, o seu conteúdo atingiu níveis interessantes, incluindo criadores e séries com real significado.
Na conclusão deste capítulo, inclui-se uma curta sequência de uma conhecida aventura de Tintin, no original e na “tradução” portuguesa (no Diabrete), quando o capitão Haddock, distraído com a absorvente leitura do jornal, esbarra num placard publicitário, onde se lê, precisamente, que aquelas informações batem..
Infelizmente, a “tradução” atraiçoa um pouco o sentido e o próprio grafismo...
Publicidade e banda desenhada - eis a “parábola” profeticamente aqui contida.
E passemos aos tempos modernos, pós-Revolução de Abril.
António Martinó de Azevedo Coutinho
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