António Martinó de Azevedo Coutinho
A Mocidade Portuguesa, ao longo da sua existência, editou diversas revistas infanto-juvenis, em certos tempos com especificação dos sexos.
Deve dizer-se que, no referente a alguns dos títulos criados, foi de apreciável qualidade o conteúdo seleccionado, quer na componente nacional quer nas histórias ou séries importadas, sobretudo de origem francófona.
Naturalmente, como lhe competia, sobretudo em determinadas fases, a doutrinação política foi óbvia, no culto do nacionalismo, dos heróis, da História Pátria e de alguns valores subjacentes aos princípios do Estado Novo. Jornal da M.P. (2 séries), Camarada (2 séries), Pisca-Pisca, Lusitas e Fagulha foram alguns dos títulos que, entre 1937 e 1974, a organização dirigiu não apenas aos seus filiados como a toda a juventude em geral.
As páginas destas revistas, para além das histórias desenhadas ou em texto, incluiram também publicidade, serviços cívicos e propaganda, ainda que em certos casos seja difícil determinar com rigor a classificação das matérias em apreço.
Mostram-se a seguir casos curiosos, como o de uma curta banda desenhada que tem como explícito objectivo a indicação precisa de lojas especializadas onde poderia ser adquirido certo tipo de fardamento... ou, então, a capa de um opúsculo ilustrado de divulgação da Assistência aos Tuberculosos do Norte de Portugal, no combate a um dos flagelos nacionais desses tempos... ou ainda um postal, sob a forma de cartoon, onde um estudante de capa e batina castiga com a sua guitarra (Manifesto) outro jovem, um oposicionista do MUD...
O Camarada, talvez o mais conseguido título do conjunto, foi apoiado por campanhas publicitárias bem organizadas, de que se apresenta um postal, de entre os diversos outros meios utilizados. Aí se proclamavam os méritos do seu conteúdo formal: contos, histórias em quadrinhos (à brasileira!), jogos, peças de teatro, biografias, concursos e construções de armar, em suma, um jornal que até parece magia!
Finalmente, para completar estas referências, o exemplo de uma página promocional e propagandística: a biografia ilustrada de Salazar, enquanto jovem, um rapaz com uma ideia séria!
Voltando a’O Mundo de Aventuras, pode anotar-se o facto de por vezes se procurar aí uma deliberada “promiscuidade” entre as histórias desenhadas e o cinema, tendo como elemento de ligação personagens comuns a ambas as artes. Naturalmente, o objectivo fundamental é de natureza promocional, buscando-se na “mitologia” inerente o aumento de popularidade dos heróis, garantindo assim a sua melhor e mais rendosa venda...
Nos casos à esquerda, são as personagens de Tarzan e Roy Rogers as integradas neste tipo de campanha, nas figuras de Johnny Weissmuller e de Leonard Slye.
A capa e a contracapa reproduzidas à direita constituem outro caso interessante, agora aliando a BD às clássicas colecções de cromos. A aventura O Terror do Texas foi uma criação do desenhador português Vítor Péon, originalmente publicada na revista O Pluto e depois adaptada aos 120 cromos soltos, aptos a colar numa caderneta própria, promovendo A Oriental, antiga casa editora sita na Rua do Terreirinho, 38, 2.º, telefone 24448, em Lisboa.
Continuaremos na época... António Martinó de Azevedo Coutinho
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