FREEDOMTOCOPYNEM TODOS TEMOS DISPOSIÇÃO PARA SER ENGANADOS. QUANDO COMPRAMOS UM LIVRO, DEVEMOS EXIGIR QUE ELE SEJA AUTÊNTICO.
QUANDO NÃO É ESTAMOS PERANTE O QUÊ?
AQUI FICA O PROTESTO. POR UMA QUESTÃO DE HIGIENE!
Friday, October 20, 2006
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ESTRANHA FORMA DE ESCRITA
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"Luís Bernardo Valença, instalado confortavelmente num assento de uma carruagem de 1ª Classe, recosta-se e observa a paisagem alentejana ao mesmo tempo que vai rememorando as circunstâncias desta sua inesperada viagem. Estava em Lisboa e foi chamado a Vila Viçosa, ao palácio real, onde será convidado a assumir uma função absolutamente inesperada: a de Governador de S. Tomé."
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"Louis Francis Mountbatten, instalado confortavelmente no assento de um automóvel, recosta-se e observa a paisagem londrina ao mesmo tempo que vai rememorando as circunstâncias desta sua inesperada viagem. Estava em Zurique e foi chamado a Downing Street, residência do Primeiro-Ministro, onde será convidado a assumir uma função absolutamente inesperada: a de último Vice-Rei da Índia.
Ambos são jovens bem parecidos com ambições e consideram absurdas as propostas que lhes são apresentadas."
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Assim se iniciam os livros «Equador», de Miguel Sousa Tavares, e «Fredom at Midnight», de Dominique Lapierre e Larry Collins. Sousa Tavares, na bibliografia publicada nas últimas páginas notifica a consulta de Lapierre, Dominique e Collins, Larry – «Cette nuit la liberté», Éditions Robert Laffont, Paris 1975.
As parecenças poderiam ficar por aqui. Mas não ficam. Quem lê a forma como os livros se desenvolvem nota a olho nu variadíssimos pontos comuns. Não só de construção como até de linguagem.
Uma observação mais atenta dá-nos conta de que há parágrafos inteiros que foram pura e simplesmente traduzidos, quase ao pormenor. Outros tiveram uns pequeninos toques: ligeiras alterações de nomes ou de números.
Assim se constituem as fraudes. «Equador» foi um caso raro de marketing e de vendas. O que teriam a dizer sobre isso os pobres Lapierre e Collins.
Considerámos a hipótese de fazer aqui, para os menos entendidos na língua inglesa, a tradução dos parágrafos originais. Seria tempo perdido: a tradução de Sousa Tavares é suficientemente razoável.
Cada um de nós poderá verificar tranquilamente, pelos seus próprios olhos, as indiscutíveis semelhanças entre os dois livros. E ler, no original, o que o autor de «Equador» fez passar por seu, sem pudor.
Imperdoável.Nas páginas de onde saíram estes nacos de prosa, outros há que poderiam merecer aqui menção honrosa. Mas isso seria tirar o prazer de quem pode, a partir de agora, lançar-se na «corrida à cópia», descobrindo a seu bel-prazer mais algumas pérolas da exploração de trabalho alheio.
Na bibliografia adjacente à 1ª Edição de «Equador», Sousa Tavares apresenta 29 livros consultados.
Esfregamos as mãos de contentamento: se em apenas um livro conseguiu retirar tudo o que aqui se publica, imagine-se o que iremos encontrar nos restantes 28... A busca vai começar!
Orgulhosamente, Sousa Tavares disse um dia: «Eu pus o país a ler!» E pôs. Nunca tantos portugueses terão lido os pobres Lapierre e Collins.
BOM APETITE!
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« (...) Sir Buphinder Sing, O Magnífico, sétimo marajá de Patiala, não era o mais rico, mas era seguramente o mais imponente dos príncipes indianos, com o seu metro e noventa de altura e os seus cento e quarenta quilos de peso. Todos os dias, despachava vinte quilos de comida, incluindo três frangos com o chá das cinco, e três mulheres do seu harém, depois do jantar. Para satisfazer as suas duas principais paixões – o pólo e as mulheres – o seu palácio abrigava quinhentos puro-sangues ingleses e trezentas e cinquenta concubinas, servidas por um exército de perfumadores e esteticistas, destinado a mantê-las sempre apetecíveis para o apetite voraz de Sir Buphinder. Tinha também o seu corpo privado (sic) de especialistas em afrodisíacos, de modo a mantê-lo capaz de dar conta de tão ingente tarefa. Com o avançar dos anos, tudo foi sendo experimentado na dieta alimentar do marajá, para melhor estimular o seu apetite sexual: concentrados de ouro, prata e especiarias, miolos de macaco decapitado em vida e até rádio. Finalmente, Sua Exaltada Excelência haveria de morrer, prostrado à mais incurável das doenças: o tédio» (...).
Miguel Sousa Tavares, «Equador», págs. 245 e 246, 1ª Edição, 2003
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« (…) The acknowledged master of his generation in both fields was the Sikh Sir Bhupinder Singh, the Magnificent, the seventh Maharaja of Patiala (...). With his six-foot-four-inch frame, his 300 pounds (…). His appetite was such that he could consume twenty pounds of food in the course of a strenuous day or a couple of chickens as a tea-time snack. (…) To sustain those efforts, his stables harboured 500 of the world’s finest polo ponies. (…) As he came to maturity his devotion to his harem eventually surpassed even his passions for polo and hunting. (…) By the time the institution reached its fullest fruition, it contained 350 ladies. (…) Sir Buphinder opened his harem doors to a parade of perfumers, jewelers, hairdressers, beauticians and dressmakers. (…) Further to stimulate his princely ardours, he converted one wing of the harem into a laboratory whose test tubes and vials produced an exotic blend of scents, cosmetics, lotions and philters. (…) Recourse to aphrodisiacs was inevitable. His Indian doctors worked up a number of savoury concoctions based on gold, pearls, spices, silver, herbs and iron. For a while, their most efficacious potion was based on a mixture of shredded carrots and the crushed brains of a sparrow. When its benefits began to wane, Sir Bhupinder called in a group of French technicians whom he naturally assumed would enjoy special expertise in the matter. Alas, even the effects of their treatment based on radium proved ephemeral (…). His was a malady that plagued not a few of his surfeited fellow rulers. It was boredom. He died of it» (…).
Dominique Lapierre e Larry Collins, «Freedom at Midnight», págs. 175 e 176. 2ª Edição, 2002
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«Quanto ao marajá de Gwalior, esse, imaginou a mais curta e mais extraordinária das linhas férreas de toda a Índia: era um comboio miniatura, também com os carris em prata maciça, que tinha origem na copa do palácio e penetrava na sala de jantar, através da parede. Aí, sentado em frente a um comando cheio de botões, o próprio anfitrião fazia o comboio correr ao longo da extensa mesa, apitando e acendendo luzes e fazendo-o parar diante de cada convidado para que este se servisse do vagão-whisky, do vagão-Porto, do vagão-Madeira ou do vagão-tabaco».
Miguel Sousa Tavares, «Equador», pág. 247, 1ª Edição, 2003
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«The passion of the Maharaja of Gwalior (...) was electric trains. (…) It was laid out over 250 feet of solid silver rails set on a mammoth iron table at the centre of the palace banquet hall. (…) By manipulating his control panel, the prince could pass the vegetables, send the potatoes shuttling through the banquet hall, or order an express to the kitchens for a second helping for a hungry guest».
Dominique Lapierre e Larry Collins, «Freedom at Midnight», pág. 171. 2ª Edição, 2002
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« (...) Também o marajá de Mysore vivia obcecado com as suas capacidades erectivas: a lenda prescrevia que o segredo do seu poder e prestígio entre os súbditos era a qualidade da ercção do seu príncipe, e, assim, uma vez por ano, durante as festas do Principado, o marajá exibia-se ao seu povo, sobre o dorso de um elefante e em pleno estado de erecção. Para isso também ele recorria a todo o tipo de afrodisíacos que os especialistas de ocasião pudessem recomendar. A sua ruína aconteceu quando fez fé num charlatão que lhe garantiu que o melor remédio para uma erecção sempre pronta era pó de diamante: Sua Majestade Elevadíssima arruinou o tesouro real a engolir chás de diamante em benefício do seu ceptro erguido. (...)»
Miguel Sousa Tavares, «Equador», pág. 246, 1ª Edição, 2003
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« (...) Until the turn of the century it had been the custom of the Maharaja of Patiala to appear once a year before his subjects naked except for that diamond breastplate, his organ in full and glorious erection. (…) As at the Maharaja walked about, his subjects gleefully applauded, their cheers acknowledging both the dimensions of the princely organ and the fact that it was supposed to be radiating magic powers… (…).
An early Maharaja of Mysore was informed by a Chinese sage that the most efficacious aphrodisiacs in the world were made of crushed diamonds. That unfortunate discovery led to the rapid impoverishment of the state treasury as hundreds of precious stones were ground to dust in the princely mills. (…)»
Dominique Lapierre e Larry Collins, «Freedom at Midnight», pág. 168. 2ª Edição, 2003
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« (...) O marajá de Gwalior, esse, era antes um obcecado pela caça: matou o seu primeiro tigre aos 8 anos e nunca mais parou – aos 40 tinha morto mil e quatrocentos tigres, cujas peles revestiam por inteiro todas as divisões do seu palácio. (...)»
Miguel Sousa Tavares, «Equador», pág. 246, 1ª Edição, 2003
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« (...) Bharatpur bagged his first tiger at eight. By the time he was 35, the skins of the tigers he’d killed, stitched together, provided the reception rooms of his palace with what amounted to wall to wall carpeting. (…) The Maharaja of Gwalior killed over 1400 tigers in his lifetime… (…)».
Dominique Lapierre e Larry Collins, «Freedom at Midnight», pág. 174. 2ª Edição, 2003
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ESFARRAPADO
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Eis o texto recentemente publicado no Correio da Manhã.
«O anonimato da blogoesfera continua a fazer vítimas e a mais recente é o jornalista e escritor Miguel Sousa Tavares, autor de um fenómeno de vendas que dá pelo nome de ‘Equador’ (ed. Oficina do Livro). E ‘Equador’ é precisamente o livro na origem da acusação de plágio que surgiu esta semana na internet em
Em ‘Estranha Forma de Escrita’, título do texto que não poupa nem o livro nem o seu autor, lê-se em jeito de nota introdutória: “Nem todos temos disposição para ser enganados. Quando compramos um livro, devemos exigir que ele seja autêntico. Quando não é estamos perante o quê? Aqui fica o protesto. Por uma questão de higiene!”
O texto que se segue compara ‘Equador’, de Miguel Sousa Tavares, com ‘Freedom at Midnight’ da dupla Dominique Lapierre e Larry Collins, concluindo que “há parágrafos inteiros que foram pura e simplesmente traduzidos”.
Ao CM Miguel Sousa Tavares disse não ter conhecimento do caso, o que não obsta a que se sinta magoado com as acusações que descarta tranquilo, mas magoado... “Não ia plagiar um livro que é um ‘best-seller’ mundial e é no mínimo estranho que os tradutores não tenham dado pelo plágio. Se fosse para plagiar não escrevia. Há frases que foram escritas mil vezes na história da literatura, mas tenho o meu próprio estilo. Inimitável”, disse.
Sousa Tavares sucede a Prado Coelho acusado de plagiar o escritor João Ubaldo Ribeiro. Por debater fica agora questão maior: a da imunidade virtual.»
1. A questão maior não é, apesar da opinião do jornalista, o da imunidade virtual. Essa questão tem barbas e meio país já foi insultado através da blogosfera. Na sua maioria, os bloggers escrevem sob pseudónimo desde sempre. E muitos deles são jornalistas, que escrevem com outros nomes o que não têm coragem para escrever nos jornais nos quais trabalham.
2. Sousa Tavares está «magoado». Com quê? Com quem? Ao contrário do que ele costuma fazer, os autores deste blog não o insultam. Revelam factos. Ele que desminta esses factos. Os livros estão aí, editados, para serem lidos.
3. Os tradutores não deram por ela?!!! Que tradutores? Naturalmente aqueles que traduziram o original inglês ou francês para português...
4. «Inimitável», diz Sousa Tavares do seu estilo de escrita. Tem razão. Ninguém o imita. Ele é que imitou Lapierre e Collins.posted by lapierre & collins at
10:46 AM