\ A VOZ PORTALEGRENSE: D. Augusto César Alves Ferreira da Silva

segunda-feira, outubro 16, 2006

D. Augusto César Alves Ferreira da Silva

Educação sexual, ainda será possível educar?
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Diante da cultura do nosso tempo, ocorre perguntar: ainda será possível educar ou devemos renunciar a fazê-lo? Com efeito, a sociedade acusa uma falência acentuada, em questão de valores morais. E as ideologias totalizantes bem como a vaidade científico-tecnológica concorreram para desvalorizar as exigências do espírito. Assim, os educadores procuram adivinhar a filosofia que está por detrás da cultura hodierna, pois, deparam com enormes dificuldades na missão de educar para a liberdade, a tolerância, a paz, a responsabilidade e a sexualidade bem orientada. Mas sentem-se jogados por uma tendência mais personalista ou por uma técnica mais analítica.
Dai, que a responsabilidade dos pais e o seu pronunciamento, devam fazer parte integrante do processo educativo.
- Mas, hoje, ocupamo-nos da educação sexual, cujo conhecimento é necessário aos jovens e aos adultos. E não se pode reduzir a uma simples análise psicológica. Pois, o homem é mais do que isso: é um mistério de vida e transcendência, em cujo dinamismo a sexualidade toma parte. Como? Valendo-se do corpo, em ordem à felicidade? Antes, influenciando a pessoa toda, no âmbito do seu mistério e na intimidade da sua personalidade. Por isso, é de toda a conveniência orientar correctamente a educação sexual desde o princípio, para que os traumas não venham a surgir, nos anos seguintes. E é sabido que há adultos impreparados para situações difíceis, por causa dessa lacuna. Mas, diante duma cultura tão permissiva e provocadora, como a nossa, deve fazer parte do projecto a informação, a educação dos sentimentos, o respeito, a ascese e a oração. Assim:
- As crianças (meninos e meninas) devem aprender a estimar a sua natureza sexuada, a fim de descobrirem com naturalidade os seus impulsos e de os saber dominar, em ordem à maturidade. E isso obtém-se graças a uma sã e afectuosa convivência com os pais, que vão dando têmpera adequada à mentalidade dos filhos e vão esclarecendo com delicadeza a sua natural curiosidade. Quando, nesta idade se permitem desvios (ou se provocam), dificilmente se hão-de corrigir mais tarde. É por isso que os pais devem acompanhar com interesse e responsabilidade os filhos no âmbito da escola, da catequese e dos grupos, para que a socialização dos conhecimentos se faça com mérito e sem atropelos: informando-se junto dos encarregados e dialogando com as crianças. Também, adoptando alguns critérios que ajudem nesse trabalho: a verdade, a serenidade, a integração no âmbito do amor, a adequação ao crescimento. Os jovens (adolescência e juventude) deparam com um estado de incerteza que lhes põe muitas perguntas: sobre a consciência da própria individualidade sexuada e suas implicações, sobre a profissão a adoptar, sobre a vocação a seguir… Na adolescência, a atenção dos pais é indispensável e deve antecipar-se à convivência do grupo. Pois, a permissividade da cultura ambiente mostra-se perigosamente subjectiva e sugere experiências arriscadas para o desenvolvimento físico e espiritual desta idade. É necessário, também, que os educadores da fé se associem aos pais. A idade adulta precisa de ter em conta que (no âmbito da sexualidade) o matrimónio representa a meta do desenvolvimento psíquico do indivíduo. Com efeito, ser marido e mulher, ser pai e mãe, representa valores não absolutos, mas que colaboram com o crescimento e a felicidade. É ocasião de dar sentido à vida, dentro ou fora do matrimónio, desde que a renúncia seja objecto de uma escolha livre e compensada com uma actividade apostólica generosa (espiritual, sobretudo). A ancianidade também deve ser ajudada, ma tendo em conta a história pessoa o ambiente cultural e a concepção sexual da vida. Sobretudo levando a compreender que a vida tem sempre m significado positivo e um sentido de esperança. Antes de estar convencido disso o ancião dificilmente aceita ajuda. A menos que a fé propicie luz e colaboração. Pois, os cônjuges que atingem uma idade avançada, guiados por razões de fé, experimentam as condições ideais para fecundar de respiração infinita o amor humano, vivendo-o na graça do sacramento (símbolo da uma união de Cristo com a Igreja). Enfim: a educação sexual, ajudada pela fé e pela ciência, servirá tanto melhor o homem, quanto mais se libertar da pretensiosidade do materialismo. E a presença de Jesus (sua palavra, seu exemplo e sua doutrina) é o melhor tónico para a educação (e a educação sexual também).
D. Augusto César
Bispo Emérito de Portalegre
- Castelo Branco
in, Voz da Fátima, 2006-10-13, p.3