\ A VOZ PORTALEGRENSE: outubro 2010

domingo, outubro 31, 2010

Montalvo e as Ciências do nosso Tempo

JDACT
José Duro: « Fel é uma espécie de diário poético dos últimos dias de José Duro. O poema Doente, que encerra o livro, é uma longa confissão de amargura e desespero de um jovem que sabe já que a morte está muito próxima»

Biblioteca Municipal Portalegre

Biblioteca Municipal Portalegre
- Actividades de Novembro -
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sábado, outubro 30, 2010

António Ventura

2 de Novembro de 2010

sexta-feira, outubro 29, 2010

Ciclo de Conferências de Senadores - V

Uma Lição de Geopolítica

No passado dia 20 de Outubro, num final de tarde de uma amena quarta-feira de Outono, a sala de visitas do Instituto Politécnico de Portalegre recebeu mais uma Conferência de Senadores, sendo conferencista Adriano Moreira.
Perante uma sala completamente cheia, com pessoas a assistir em pé, o Presidente do IPP, Joaquim Mourato, após as palavras de circunstância, justificou a existência deste Ciclo como a necessidade sentida do IPP ‘sair fora de muros’, e dar-se a conhecer à cidade de Portalegre, à região e também ao país, uma vez que a notícia deste evento cívico e cultural há muito ultrapassou a urbe que o viu nascer.
Também o Presidente do IPP não deixou de dizer que a presença de Adriano Moreira, tal como a dos anteriores conferencistas, honrava a Instituição a que preside e ao mesmo tempo todos os presentes, nos quais se encontra um ‘núcleo duro’ que desde a primeira conferência está presente e que se tem alargado em número de forma considerável. Sempre presente o Governador Civil do Distrito de Portalegre, Jaime Estorninho.
De facto, pessoas ligadas à política, ao ensino, à cultura e à vida social de Portalegre marcam presença constante neste evento, o que mostra que a cidade tem público de qualidade para sustentar acontecimentos desta envergadura, mas só possíveis de realizar através de uma Entidade prestigiada no seio da Comunidade local e ‘além-fronteiras’, como hoje já é o Instituto Politécnico de Portalegre.
Adriano Moreira começou por citar o actual bispo do Porto, D. Manuel Clemente, um intelectual e Homem da Igreja, um valor cimeiro da cultura portuguesa. Para D. Manuel Clemente, desde o século XIX, Portugal tem uma crise de cem em cem anos. Aconteceu em 1810, após as Invasões Francesas e a estada da rainha e do príncipe regente no Brasil. Deu-se em 1910, com a mudança de regime, da Monarquia Constitucional para a República. E agora, em 2010, Portugal vive novamente uma crise, que espera que não conduza a alterações estruturais do regime ou da sociedade.
Adriano Moreira enuncia as razões que conduziram à actual crise, referindo que o crónico défice financeiro é gerado por políticas erradas porque são baseadas em populismos com intuitos eleitoralistas, e afirma que o futuro de Portugal, país europeu, no mar e na CPLP, funcionando a língua como factor de união.
Em 1974 dá-se uma mudança no Conceito Estratégico de Portugal. A adesão de Portugal à União Europeia é uma escolha sem alternativa. E como consequência desse acto político, os antigos conceitos de fronteira, de cidadania, de soberania, de cosmopolitismo, mudaram. Também os problemas de jurisdição interna passam a europeus. Ao mesmo tempo, a União Europeia vai ficando cada vez mais dependente do exterior em termos de matérias-primas, de energias não renováveis e de reserva de estratégia alimentar. E a adaptação à Globalização deixa a cada Estado membro uma margem de autonomia e liberdade, que para Portugal está sobretudo no mar, e na Comunidade de Países de Língua Portuguesa.
A CPLP, a que chama ‘Uma Janela de Liberdade’, é uma comunidade onde se fala a mesma língua, e desta forma a língua portuguesa é um valor que muito pode ajudar Portugal num mundo globalizado. E ao falar da Globalização afirma que esta tornou o mundo mais pequeno em inúmeras áreas como na economia, na cultura, mas o seu maior mal é a falta de regras, o que se traduz numa competição feroz pelo domínio do mercado, na acepção económica, principalmente quando princípios como os Direitos Humanos são preteridos face aos negócios entre Estados.
A interligação entre os Países de Língua Portuguesa é hoje já uma realidade, que em vários domínios muito tem contribuído para o desenvolvimento desses mesmos países. Hoje, muito graças à descoberta de importantes jazidas de petróleo e gás natural, o Brasil assume um papel cimeiro na Comunidade, sendo hoje mais do que potência regional, pertence ao BRIC, composto por Brasil, Rússia, Índia e China, o que faz dele um país a ter em conta no futuro, o que contribui para a afirmação deste espaço Lusófono. Um estado forte cria sinergias a montante e a jusante.
Sempre que Portugal se virou para o mar, teve desenvolvimento económico e científico, e protagonismo nos areópagos mundiais. Hoje tem uma zona marítima exclusiva de dimensões tais, que lhe permitiria com enorme rentabilidade o aproveitamento dos recursos marinhos que pululam na sua plataforma continental. Mas para que tal seja exequível, terão que ser revistas certas normas europeias, resultantes do Tratado de Lisboa, que coarctam muita da liberdade que os portugueses têm por direito sobre essas águas.
A língua, a CPLP e o mar constituem uma trilogia que muito pode ajudar Portugal a sair desta crise dos inícios do Terceiro Milénio.
Geopoliticamente, Portugal é um membro de pleno direito da União Europeia e da NATO, uma organização transatlântica.
Adriano Moreira afirma-se português, mas também europeu e atlantista. Diz que hoje os EUA são Marte, enquanto a Europa é Vénus, querendo dizer que os americanos vêm nas acções militares a forma de resolver problemas políticos, enquanto os europeus encontram na via negocial, do diálogo, a forma mais correcta e viável para resolver esses mesmos problemas. Hoje o conflito do Médio Oriente entre Israel e os Países Árabes tem leituras diferentes na Europa e nos EUA, e a última Guerra do Iraque foi fracturante para as relações entre americanos e europeus. Também a presença europeia no Afeganistão é cada vez mais contestada na Europa e quanto ao problema iraniano também não há consenso entre os EUA e a Europa.
Também não deixou de dizer que há perigos de coesão interna na União Europeia, porque um conjunto de cinco países-membros, os de maior dimensão e população, Alemanha, Espanha, França, Itália e Reino Unido, querem criar como que um directório que coordene todas as políticas europeias, e obrigando os restantes países a aceitarem-nas.
Portugal é dentro da EU um país ultra-periférico, que não só geograficamente está longe dos centros decisórios europeus. Mas tal dimensão não impede que tenha autóctones a liderar organismos internacionais, mesmo fora das fronteiras da União Europeia.
Todavia, palavras de esperança em relação ao futuro, quer português, quer europeu, foram proferidas a terminar.
Seguiu-se o período de perguntas e respostas. Se as questões colocadas foram pertinentes, as respostas foram esclarecedoras.
Adriano Moreira abordou a temática da entrada da Turquia na União Europeia, dizendo-se contrário, justificando que este espaço não pode ter fronteiras inimigas, ou não-amigas, como aconteceria se a Turquia viesse a fazer parte da EU. As novas fronteiras deixariam de ser seguras, e daí a importância que a Turquia sempre teve como parceira na NATO, uma aliança de índole militar e tão só.
Defendeu que a Europa deve respeitar a Rússia, que quando sair da situação em que está, ainda fruto dos estrangulamentos que o anterior regime lhe impôs, voltará a ter uma palavra forte no concerto das nações, principalmente na Europa. Há que não esquecer que a Rússia será sempre uma potência continental, e que terá sempre fronteiras com países que nada têm a ver com a civilização e cultura europeias.
E a propósito de uma pergunta que abordava o posicionamento das escolas da cidade de Portalegre no ranking do Ministério da Educação para o ano lectivo de 2009-2010, aproveitou para elogiar a sua Escola Primária, no fundo, uma Escola Republicana.
Adriano Moreira terminou, assim, falando da Escola, um tema sempre muito caro aos republicanos da Primeira República. Escola que para os republicanos de antanho seria o alforge do Homem Novo que idealizavam.
Mário Casa Nova Martins
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Ciclo de Conferências de Senadores VI
José Loureiro dos Santos
Moderador, Carlos Juzarte Rôlo
(em 25 de Novembro de 2010)
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Ciclo de Conferências de Senadores V
Moderador, Mário Casa Nova Martins
Texto de Apresentação
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Ciclo de Conferências de Senadores IV
Moderador, Avelino Bento
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Ciclo de Conferências de Senadores III
Moderador, Rui Cardoso Martins
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Ciclo de Conferências de Senadores II
Moderador, António Martinó
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Ciclo de Conferências de Senadores I
Moderador, Casimiro Meneses
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Ciclo de Conferências de Senadores - V

Excelentíssimo Senhor Presidente do IPP,
Professor Doutor Joaquim Mourato
Excelentíssimo Senhor Vice-Presidente do IPP,
Professor Doutor Albano Silva
Excelentíssimo Senhor Presidente da ESTG,
Professor Doutor Artur Romão
Excelentíssimo Senhor Professor da ESE,
Professor Doutor Avelino Bento
Excelentíssimo Senhor Governador Civil,
Senhor Jaime Estorninho
Excelentíssimo Senhor Professor Doutor Adriano Moreira
Minhas Senhoras e Meus Senhores

Começo por agradecer o convite que me foi feito para aqui estar, convite que muito me honra.
Remonta ao tempo do luto pela morte do Desejado, a primeira notícia sobre a arte dos lanifícios em Portalegre. Escreveu-se que em Portalegre foram feitos panos para o luto do rei D. Sebastião.
Com o apoio do Marquês de Pombal, Sebastião José de Carvalho e Melo, e dadas as condições geográficas, a serra com forte abundância de água, Portalegre transformou-se num importante centro de lanifícios, juntamente com a cidade da Covilhã.
Entretanto, circunstâncias conjunturais, a par com a inovação tecnológica, fizeram com que os lanifícios se deslocalizassem destas duas cidades e fossem para outras terras.
Então, a cidade da Covilhã delineou e fez uma aposta estratégica na área da educação, conseguindo que nela fosse instalada uma Universidade. E hoje o produto de excelência de toda uma região, a denominada Cova da Beira, assenta na sua Universidade, a Universidade da Beira Interior.
Situação geográfica e condicionantes da História, a proximidade de Portalegre a Évora e a existência no passado de uma Universidade eborense, fizeram com que em Portalegre não fosse possível a existência de uma Universidade, tendo em contrapartida sido criado um Instituto Politécnico.
Com fortes debilidades no tecido económico, social e cultural, Portalegre apenas pode contar com o seu Instituto Politécnico para perspectivar o Futuro.
E hoje Portalegre tem no Instituto Politécnico uma, se não mesmo a sua principal mais-valia.
Uma nova geração está hoje à frente dos destinos do Instituto Politécnico de Portalegre. Desde o primeiro momento, e conscientes do forte desafio que tinham pela frente, encetaram um programa de afirmação pública, no qual se insere este Ciclo de Conferências de Senadores.
Todos os Conferencistas deixarão uma Mensagem, que Quem a ouve não deixará de interpretar e transmitir.
António Arnaut, José Veiga Simão, João Bosco Mota Amaral, António Almeida Santos que aqui estiveram presentes, José Loureiro dos Santos que virá, e o prof. Adriano Moreira que hoje está connosco, são Personalidades da vida portuguesa e Personagens da História presente de Portugal.
Num final de noite, após mais uma Batalha em que se envolveu, uma Batalha da Esperança que viveu de forma intensa quanto convicta, mas à qual os deuses não foram favoráveis, perguntando-se ao prof. Adriano Moreira o que iria fazer no dia seguinte, respondeu:
_ Amanhã vou plantar macieiras!
E deste então o prof. Adriano Moreira tem deixado sementes, e uma dessas sementes vai ficar a partir de hoje em Portalegre. Saibamos plantá-la, fazê-la crescer para vir a dar fruto!
O prof. Adriano Moreira é uma Figura Pública, cujo estatuto há muito ultrapassou as fronteiras de Portugal. Brilhante advogado, político, professor e académico. Respeitado pela sua inteligência, cultura, coerência, verticalidade e independência. Com uma obra publicada em vários domínios do Saber, é pioneiro em Portugal na introdução do estudo de novas áreas do conhecimento científico.
O prof. Adriano Moreira é um visionário, não no sentido messiânico do padre António Vieira, mas no sentido em que as suas análises como que prevêem o futuro da Nação portuguesa e do espaço na qual ela se integra, a União Europeia. Mas tal como disse Guilherme d’Oliveira Martins (1) de António Vieira, também se deve dizer que o prof. Adriano Moreira sempre ‘combateu pela liberdade e pela dignidade humana com todas as suas forças e para além daquilo que o seu tempo ajudava’. E que ‘nunca fugiu das dificuldades nem da denúncia dos erros e atropelos’.
O Futuro, como disse Frederico Nietzsche, é dos Povos que tiverem maior Memória, e os ensaios académicos do prof. Adriano Moreira, ajudam a consolidar a nossa Identidade Nacional e a nossa Memória Colectiva como Povo e como Nação, e ao mesmo tempo dão as pistas para melhor escolhermos o caminho para o Futuro.
Manuel Braga da Cruz (2) apresentou o livro de Memórias do prof. Adriano Moreira na Sociedade de Geografia, e intitulou o Texto: _ ‘Adriano Moreira – Uma maneira portuguesa de estar no mundo’. Disse que em «A Espuma do Tempo – Memórias do Tempo de Vésperas», ‘o prof. Adriano Moreira dá, a quantos se interessam pelo estudo e compreensão da história contemporânea, a oportunidade de conhecer por dentro uma das maiores figuras que Portugal conheceu neste último século, cuja vida pública marcou profunda e decisivamente não apenas o curso político, mas também a vida universitária portuguesa, num raro exemplo de empenhamento cívico e patriótico’.
A Lição que o prof. Adriano Moreira aqui irá proferir, deixará certezas e criará dúvidas, mas abrirá e alertará espíritos inquietos face aos desafios dos tempos vindouros.
Hoje está em Portalegre o Presidente da Academia das Ciência de Lisboa. Fundada por rainha e apoiada por reis, vetusta e nobre Casa, é um dos grandes pólos da Cultura em Portugal. Os mais ilustres portugueses a ela pertenceram e pertencem. E não podia haver Instituição mais nobre e importante para o prof. Adriano Moreira liderar com a sua vasta experiência de Homem de Pensamento e de Acção.
Vejo no prof. Adriano Moreira o exemplo maior da arte de ser Português. Em Carregal do Sal, nos finais de Setembro de 1985, tive oportunidade de lho dizer pessoalmente. Então, estava junto de Sílvio Lima, o republicano e professor da Universidade de Coimbra, um Homem Livre tal como o é o prof. Adriano Moreira.
Neste ano do Centenário da República, Portalegre sentir-se-á mais rica, mais forte, mais culta, porque hoje nela está o prof. doutor Adriano José Alves Moreira.
Mário Casa Nova Martins
Notas:
(1) Martins, Guilherme d'Oliveira – Os combates de Vieira, Nova Cidadania, n.º 36, Julho.Setembro 2008, pg.52
(2) Cruz, Manuel Braga – Adriano Moreira - Uma maneira portuguesa de estar no mundo, Nova Cidadania, n.º 38, Janeiro.Março 2009, pg.11
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Ciclo de Conferências de Senadores

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6.ª Conferência
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25 de Novembro de 2010
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18h00
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Auditório dos Serviços Centrais
(Largo da Sé)
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CONFERENCISTA: José Loureiro dos Santos
Moderador : Carlos Juzarte Rôlo
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quinta-feira, outubro 28, 2010

Mário Silva Freire

CRÓNICAS DE EDUCAÇÃO – XX

Sucesso escolar através da música

Escreveu-se na última crónica de educação acerca do insucesso escolar e de algumas vias que são propostas para o combater.
Um aluno com insucesso é alguém que não se adapta ao modelo pedagógico que a escola lhe propõe, não se integrando quer nos conteúdos, quer na forma como o ensino lhe é apresentado. A criança ou jovem problemáticos vêem a aprendizagem como algo fastidioso e estranho aos seus interesses e experiências.
Ora, a música poderá ser aquele factor motivacional que é susceptível de prender um aluno com insucesso escolar, levando-o a trilhar outros caminhos no mundo do conhecimento e do comportamento. Foi assim que, já há alguns anos, se iniciou na Venezuela um Projecto que tem tido os melhores resultados. E é isso que está a acontecer na Amadora, conforme notícia no jornal Público de 28 de Setembro passado. O Conservatório Nacional, junto de 17 escolas espalhadas pelo País, englobando cerca de mil alunos, está há três anos a desenvolver o Projecto Orquestra Geração, semelhante ao venezuelano.
Um Projecto deste tipo, indo ao encontro da tendência natural do aluno para a actividade, e oferecendo-lhe, quase de imediato, uma gratificação pelo acto que executa, proporciona-lhe vários benefícios em diferentes áreas da personalidade, entendida esta no seu sentido mais amplo. Assim:
- crianças e jovens de etnias diferentes têm a possibilidade de conviver e descobrir, de maneira harmoniosa, as suas diferenças mas também aquilo que têm em comum;
- uma orquestra é um grupo de pessoas que trabalham em harmonia, sob a direcção de um maestro. Esta circunstância, de trabalhar em grupo e das vantagens que daí decorrem, pode ser transferível para a turma como grupo. Igualmente, aceitar-se uma autoridade para se atingir um fim benéfico pode conduzir a que a disciplina na sala de aula assuma formas mais comprometidas com a aprendizagem;
- uma criança ou adolescente que, a pouco e pouco, vai descobrindo que o sucesso do seu trabalho está dependente do sucesso do grupo e vice-versa, tenta esforçar-se mais; e desse esforço resulta a execução de uma obra que pode ser apreciada publicamente. Ora, isso traduz-se num reforço da auto-estima que irá repercutir-se numa maior auto-confiança e, consequentemente, ter efeitos positivos noutras áreas da aprendizagem. Foi isso que aconteceu na experiência venezuelana, em que alunos com graves problemas de aproveitamento e comportamento escolares passaram a ser alunos exemplares;
- o Projecto proporcionou um ensino artístico a quem, muito provavelmente, a ele não teria acesso;
- finalmente, as crianças e os jovens, levando os instrumentos para casa, sendo responsabilizados por eles, terão mais possibilidades de aproveitar os seus tempos livres noutras actividades que não sejam a de vadiarem na rua ou, em casa, de estarem ligados à televisão ou ao computador.
Talvez as entidades escolares devessem reflectir um pouco mais sobre os custos e os benefícios de projectos deste tipo, não só sob o ponto de vista estritamente orçamental, o que talvez já significasse uma compensação significativa mas, fundamentalmente, de natureza humana. Imagine-se, com o dinheiro que se gastou em computadores para o 1º ciclo, com efeitos duvidosos na aprendizagem, nestas idades, quantos instrumentos musicais poderiam ser comprados!
Mário Freire

quarta-feira, outubro 27, 2010

Jorge Luís Lourinho Mangerona

“Quando o mar bate na rocha…”

Desde que se acabaram as especiarias, e depois o ouro do Brasil, vivemos em constantes apertos. Vivemos é um eufemismo, porque isto de apertos tem muito a ver com o ditado popular:”Quando o mar bate na rocha quem se lixa é o mexilhão”. O problema é que o mexilhão somos quase todos nós. Por esse mundo fora, sejam liberais, socialistas ou comunistas que estejam no governo, a receita é mais ou menos idêntica e o povo vai suportando os ditames de meia dúzia de iluminados. Iluminados, salvo seja, que o tempo é de trevas e escasseiam homens de estado para quem o serviço público esteja acima de interesses pessoais ou partidários. É esta a razão porque as contas públicas têm mais buracos que um queijo suíço. Se os gastos forem com automóveis topo de gama, com arranjos florais ou jantares, despesas de representação ou cartão de crédito, publicidade ou assessorias, prémios a gestores de empresas públicas ou outras mordomias, são minudências que não têm influência no orçamento, se for o aumento de um ou dois cêntimos no ordenado de um desgraçado que ganha quatrocentos euros, ai Jesus… que o deficit dispara e os malandros que nos emprestam o dinheiro para comer querem mais juros. As receitas prescritas para a desgraça são sempre as mesmas e esta gente não aprende com os erros. Vejamos um exemplo: o encerramento de maternidades e centros de saúde que foi apresentada como uma medida que não só melhoraria a qualidade dos serviços prestados, como também se traduziria numa racionalização de meios e diminuição dos custos. Encerraram-se maternidades e centros de saúde e, entretanto, o buraco do orçamento do serviço nacional de saúde disparou! Pudera…convido-os a passar uma manhã, ou uma tarde, pelas proximidades do hospital ou a sentarem-se numa esplanada da zona (passe a publicidade) e a contar o número de ambulâncias que entram e saem. São ambulâncias de Sousel, Fronteira, Ponte de Sor, Avis, Nisa, etc… que num corrupio constante se deslocam das respectivas localidades para o hospital. É preciso notar que algumas destas localidades se situam a setenta ou mais quilómetros de Portalegre e que fazem viagens de ida e volta, duas ou três vezes por dia. Não será preciso fazer cálculos muito complicados para tirar conclusões acerca desta “poupança”... isto para não falar das consequências para a qualidade dos serviços prestados devido a este aumento da procura. Passe pelos corredores dos serviços de urgência e veja quantas camas há nos corredores ou agradeça a Deus por não ter problemas em momentos de grande afluência. Nestas condições a humanização dos serviços é “apenas” um pormenor, pois não há profissional que resista a tanta confusão. Em suma: as medidas que visavam a racionalização dos recursos e diminuição dos custos traduziram-se num alargar do buraco que, um dia, acabará por engolir o Serviço Nacional de Saúde e quanto à melhoria da qualidade dos serviços o mexilhão que se pronuncie. E, entretanto, o mar vai continuar a bater na rocha e o Zé mexilhão lá estará…
Jorge Luís Lourinho Mangerona

terça-feira, outubro 26, 2010

Carlos Manuel Faísca

Desmistificando a História - II

Brevíssima História do estatuto legal das Misericórdias

Recentemente surgiu um conflito entre a Igreja Católica e as misericórdias portuguesas. O motivo deste é conflito é simples: a Igreja pretende tutelar as misericórdias, enquanto estas pretendem uma maior autonomia daquela instituição. Disputa-se o estatuto jurídico destas instituições criadas em 1498 e para uma melhor compreensão do conflito, fica aqui um pequeno resumo da história do estatuto legal das misericórdias.
Fundadas pela Coroa, a de Lisboa pela Rainha D. Leonor e as restantes pelo Rei D. Manuel, até ao século XX as misericórdias foram confrarias leigas sob imediata protecção régia e totalmente isentas de jurisdição eclesiástica, sendo assim definidas pela própria Igreja no Concílio de Trento (1545-1563). Evidentemente que imensos eclesiásticos pertenceram e exerceram cargos relevantes nas centenas de misericórdias espalhadas pelo espaço português, impulsionados pela inspiração religiosa cristã está subjacente às obras de misericórdia e devido à forte influência social que um eclesiástico tinha na sociedade do antigo regime.
A ligação entre as misericórdias e a Igreja intensificou-se durante a I República, pois as primeiras mantiveram os actos de devoção religiosa que sempre as caracterizou, numa época conhecida por um forte pendor anti-clerical, estreitando-se assim os laços entre a Igreja e as misericórdias, com o apoio e incentivo a estas por parte da Igreja enquanto instituição e não apenas dos eclesiásticos enquanto indivíduos. Neste período alastra-se na opinião pública a ideia que as misericórdias são instituições da Igreja.
Durante o Estado Novo, as misericórdias passam a possuir um estatuto duplo: segundo o Código Administrativo (1940) passam a ser consideradas canonicamente erectas, mas, de forma contraditória, não são consideradas associações eclesiásticas nem sob a tutela da Igreja. Por decreto de lei de 7 de Novembro de 1945, a Igreja passa a controlar a componente religiosa das misericórdias, enquanto cabe ao estado tutelar a componente da assistência social. Com cerca de 2/3 das camas hospitalares a nível nacional, as misericórdias substituíram, durante décadas, o que virá a ser o Serviço Nacional de Saúde, pelo que, não convinha ao Estado abdicar desse controlo.
Com o 25 de Abril e o PREC, o Estado nacionaliza os principais bens das misericórdias, entre eles os hospitais, e foi aqui que as mesmas procuraram aliar-se à Igreja como forma de assegurar a sua sobrevivência perante um regime que lhes parecia ser terrivelmente hostil. Assim, em 1976 é criada a União das Misericórdias Portuguesas (UMP) durante o 5º Congresso das Misericórdias, onde reclamaram energicamente a sua integração na estrutura da Igreja Católica. Tal foi obtido em 1979, tornando-as canonicamente erectas, passando os bispos a comunicar ao governo a criação ou a extinção de cada Misericórdia, com excepção da Misericórdia de Lisboa que permaneceu sob a tutela do Estado.
Em 1998 inicia-se a questão entre a UMP e a Conferência Episcopal Portuguesa sobre a natureza privada ou pública das misericórdias, contencioso que continua por revolver……….
Carlos Manuel Faísca
Bibliografia
Lopes, Maria Antónia - As misericórdias de D. José ao final do século XX. In "Portugaliae Monumenta Misericordiarum". Lisboa: União das Misericórdias, 2002, vol. I

segunda-feira, outubro 25, 2010

António Martinó de Azevedo Coutinho

Tintin no Congo - eis uma proposta interessante, a de tentar saber, pelos indícios possíveis, como Tintin é interpretado no Congo, antes e depois da presente polémica.
Conhecemos, como dado muito significativo, o facto de num momento delicado ter sido precisamente na República Democrática do Congo que despertou um inequívoco sinal de tolerância -inteligente, culto e descomplexado- apto a resolver o receoso impasse que a casa editora europeia entretanto alimentara quanto ao relançamento do álbum há muito esgotado. Convém realçar o acontecimento, pela sábia tomada de posição de Clément Vidibio, um considerado jornalista congolês infelizmente já desaparecido, na revista Zaïre, quando em 1969 foi aí decidido publicar a “BD maldita”. Para além do que atrás já ficou transcrito, é oportuno recordar a propósito outras palavras de C. Vidibio: “Os homens bons são sobretudo congoleses e Tintin, o generoso, luta contra o mal encarnado por um mau Branco.” (...) “Seria injusto separar o Congo deste jovem herói cuja ternura pelo nosso país não é preciso demonstrar.”
Um testemunho autorizado, pelo conhecimento privilegiado que possui, é o do desenhador Barly Baruti, provavelmente o mais conhecido e apreciado criador congolês de BD da actualidade. Nome destacado na escola nacional da sua especialidade, ele viveu a rara oportunidade de estagiar em Bruxelas no atelier de Hergé, no princípio dos anos 80, para aí apreender os segredos do estilo “linha clara”. Ele declarou muito recentemente: “Hoje, este álbum pode chocar, é verdade. Mas Tintin no Congo não foi concebido para lançar as pessoas umas contra as outras. Fiz um estágio nos Estúdios Hergé no princípio dos anos 1980. Pude aí consultar a documentação que o autor utilizou; revistas e livros que louvavam os méritos da Bélgica colonial. É preciso recordar que este álbum é uma página da história comum da Bélgica e do Congo. É neste sentido que devemos lê-lo e compreender o seu sentido crítico. Tintin no Congo exige lucidez. Convida o leitor a compreender as coisas em relação àquele período. Não é um livro colonialista. É um livro paternalista, porque o paternalismo estava no espírito desses tempos. Não há motivos para o queimar!”
O desenhador congolês quis mesmo comentar uma recente visita efectuada por Alberto II da Bélgica à República Democrática do Congo, em Julho de 2010, a quando das comemorações dos 50 Anos da Independência deste país. E disse a tal pretexto: “Existem muitos encontros frustrados entre a Bélgica e o Congo no plano histórico. Isso faz com que as pessoas se interessem por tudo o que nos liga, como é o caso de Tintin no Congo. Neste contexto, ele é um símbolo comum ao qual tanto os Belgas como os Congoleses podem recorrer.”
Palavras serenas e simples que definem o fenómeno, sem paixão nem complexos, antes com um realismo que parece faltar a outros conterrâneos do desenhador...
Uma visita ao Congo, ainda que apenas virtual, pode revelar-nos ostensivas demonstrações públicas do apreço de que, em termos populares, a figura de Tintin continua a gozar.
Bastam-nos dois distintos mas complementares exemplos. Um consiste nas imagens do herói pintadas em murais ou representadas em efígie, tanto em paredes como em jardins.
Nos restos de um antigo comboio turístico, como na fachada de um bar, na parede de um parque infantil como num cuidado relvado, numa ilustração pintada a acrílico como na inscrição publicitária pública relativa a uma companhia petrolífera (esta patente na vizinha Angola, atenção!), aqui ficam evidentes alguns pormenores da inegável presença de um herói querido, na memória colectiva dos que o não esqueceram.
O outro exemplo, mais pragmático, conduz-nos a um capítulo com real significado económico, na área do artesanato congolês. Para além das peças clássicas, de grande qualidade estética radicada numa tradição secular, algumas oficinas de artesanato, em Kinshasa e noutras cidades congolesas, produzem efígies de Tintin, na sua maior parte inspiradas no álbum em apreço. O Ford T e o cadeirão de baloiço, com o herói neles sentado, são os temas mais frequentes. O testemunho dos próprios artesãos é inequívoco sobre o interesse despertado por este específico sector da produção local, com grande procura por parte dos turistas, sobretudo dos belgas e outros europeus. Como Baruti sintetizou, com rara oportunidade, Tintin continua e continuará como um comum símbolo de unidade, sem qualquer vocação para divisionismos...
É possível encontrar esta simbologia comum também sob a chancela oficial. Neste campo, o mais significativo evento consistiu numa emissão conjunta de selos, validando pela filatelia um entendimento do mais alto nível entre a Bélgica e a República Democrática do Congo.
Em 2001, numa emissão conjunta dos dois países, impressa em Malines, foi lançada uma série de selos comemorativa dos 70 anos da aparição do álbum Tintin no Congo. Os selos, com dois motivos e dois valores, são:
• Capa do álbum – com taxas de 0,84 do euro na Bélgica e de 461 francos congoleses na R.D.C.;
• Tintin colonial (reprodução parcial de um extra-texto de uma edição do álbum) – com taxas de 0,42 do euro na Bélgica e de 190 francos congoleses na R.D.C.
Para além desta emissão conjunta, destaque-se a aposição de um carimbo especial, com dois motivos complementares:
• 2800 Mechelen 31-12-2001 (Bélgica) – com Milou atrás de arbustos (duma vinheta do álbum);
• Kinshasa 31-12-2001 (R.D.C.) – com Tintin atrás de arbustos (duma vinheta do álbum).
Postais alusivos, para corresponderem a tradições filatélicas alusivas a este tipo de emissões (“máximo postal” e outras), foram também disponibilizados, constituindo hoje peças muito apreciadas e como tal devidamente valorizadas pelos coleccionadores.
Recentemente, mais um marco decisivo foi lançado no universo da comunicação, tendo como tema essencial Tintin au Congo de Papa. Trata-se de um interessante e oportuno álbum, organizado pelo jornalista belga Daniel Couvreur, de Le Soir, com a contribuição do nosso já conhecido Alain De Kuyssche. Numa edição inédita da Moulinsart, esta obra foi disponibilizada com o jornal Le Soir do dia 30 de Junho de 2010, constando de um elaborado conjunto -em texto e imagem- de depoimentos actuais e da curiosa recensão das fontes originais, de 1930.
Constituindo ainda uma sagaz e competente resposta aos argumentos do senhor Bienvenu, a obra veio trazer para a liça uma colectânea de rigorosas provas histórico-culturais de elevado nível, que desmontam com inatacável vigor algumas aleivosias em voga.
Tintin (está) no Congo? Sim, e para sempre!
António Martinó de Azevedo Coutinho

domingo, outubro 24, 2010

Essa de Cueirós

UM ANO PARA (CONTINUAR A) COMEMORAR
ou HÁ VIDA PARA ALÉM DO ORÇAMENTO

2010 será, para alguns profetas da desgraça cósmica, um ano catástrofe.
2010 é, para todos os portugueses -supersticiosos ou não, tanto faz!-, um ano catástrofe.
2010, para a União Europeia, foi instituído como o ano do combate à pobreza e à exclusão social. Na interpretação dos competentes e inspirados governantes que zelam por todos nós, este lema será por cá cumprido na íntegra, apenas sendo sujeito a uma ligeira rotação de 180 graus... Na nossa própria terra, para não fugir a esta regra de ouro, as coisas passaram-se, e vão continuar a passar-se, à imagem e semelhança desta saudável prática. Apenas com menos dinheiro...
Mas não vale a pena desesperar por tão pouco, porque viver no Burundi, na Coreia do Norte, na Nigéria, no Cazaquistão ou no Haiti parece que é ainda pior... Apenas se pagam por lá menos impostos.
Agora, depois das estonteantes, comoventes e dispendiosas comemorações da Primeira e mui saudosa República e após a banal salvação dos mineiros chilenos, ficámos reduzidos à quotidiana atracção da fascinante Casa dos Segredos. O que é relativamente pouco para entreter a malta...
Por isso, e para ultrapassar a crise, propõe-se aqui um singelo jogo para os próximos serões.
Trata-se de encontrar as semelhanças e diferenças entre estes três quadros:
Antecipando eventuais críticas, declara-se que quem interpretar a moldura como uma tarja de luto está a ser claramente mal intencionado...
Aceitam-se respostas, na Redacção (por mail, fax, telegrama, recado, bilhete postal ou correio expresso), até ao final do corrente mês.
Aos autores das três respostas consideradas mais completas, promete-se um diploma das Novas Oportunidades e um lugar de candidato -por escolha dos vencedores- às próximas eleições presidenciais, legislativas e autárquicas (locais, daqui).
Se nenhum dos partidos nacionais hoje em funcionamento aceitar tais integrações nas respectivas listas, tudo se fará por inventar outro, novinho em folha, dotado de suficiente abertura democrática e inerente criatividade.
Acresce que, para integrar o júri deste concurso e devido às suas demonstradas provas de capacidade e isenção, vão ser convidados os senhores presidentes da República, do Conselho de ministros e da Câmara Municipal de Portalegre.
Se, por remota hipótese, alguma destas personalidades rejeitar o honroso convite, informa-se que a lista de suplentes inclui António Luís Goucha, Costinha, Lili Caneças, Gilberto Madaíl, Carlos Cruz, Júlia Pinheiro, o senhor professor Carlos Queirós, Cinha Jardim, Pinto da Costa, José Castelo Branco e o deputado Ricardo Gonçalves, entre outros e outras.
2010 deve ficar escrito a letras de ouro nos anais da História Pátria e este é o nosso modesto mas sincero e empenhado contributo cultural nesse sentido.
Essa de Cueirós

sábado, outubro 23, 2010

Márcio-André

Márcio-André
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Márcio-André at Fábrica Braço de Prata (Lisbon)

sexta-feira, outubro 22, 2010

Associação de Futebol de Portalegre

Associação de Futebol de Portalegre

Fundada em 29 de Outubro de 1911, a Associação de Futebol de Portalegre é a mais antiga da província e a segunda do país.
Naquele ano de 1911, foram o Sport Clube Bombeiros Voluntários de Portalegre, o Sport Clube Bombeiros Robinson, o Sport Lisboa e Portalegre e o Sport Clube Esperancense, os clubes que deram vida à Associação de Futebol de Portalegre.
Todos os clubes já desaparecidos, no entanto cimentaram na cidade de Portalegre e no seu distrito a prática, o gosto e o desenvolvimento do Futebol.
O primeiro Presidente da Direcção foi Álvaro Coelho de Sampaio, professor liceal de ginástica, tendo como Secretário-Geral Leopoldo José Mocho, excelente defesa do Sport Lisboa e Benfica, que para Portalegre fora transferido em serviço dos Correios e Telégrafos.
Ambos são figuras de destaque nos primeiros passos da Associação de Futebol de Portalegre.
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Fotografia da primeira Direcção da AFP
Da esquerda para a direita:
Leopoldo José Mocho (1º Secretário)
Álvaro Coelho de Sampaio (Presidente)
Fred Schaw (Tesoureiro)
Ilídio José da Silva (2º Secretário)
Mário Casa Nova Martins

TOTAL - Para a História do Futebol em Portalegre

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No Centenário da AFP
Os Clubes e a AFP
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No Centenário da AFP
Obviamente demita(m)-se!
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No Centenário do Campo da Fontedeira
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Grupo Desportivo Portalegrense
Futebol Clube do Porto em Portalegre
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Grupo Desportivo Portalegrense
Sport Lisboa e Benfica em Portalegre
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Fundação da Associação de Futebol de Portalegre
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Grupo Desportivo Portalegrense
Homenagem a Severiano Ferro
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Mário Casa Nova Martins

quinta-feira, outubro 21, 2010

Mário Silva Freire

CRÓNICAS DE EDUCAÇÃO – XIX

Combater o insucesso escolar
com a psicologia ou com a pedagogia?

“É em respostas mais médico-psicológicas do que pedagógicas que deve centrar-se o combate ao insucesso escolar”. Esta é a ideia que se defende num artigo do dia 6 do corrente mês de Outubro, no jornal Le Monde, a propósito de um plano proposto pelo Alto Conselho da Educação de França para combater o insucesso escolar.
Este plano põe a ênfase na intervenção pedagógica, mediante um apoio escolar mais eficaz aos alunos, sugerindo, entre outras medidas, um ensino tutorial, um reforço da cultura humanista, a valorização da formação manual, uma maior autonomia pedagógica, assim como uma maior liberdade às escolas para recrutarem os seus professores.
Ora, os autores do artigo, dois pedopsiquiatras, contrapõem a este plano o facto de existirem numerosos estudos que indicam haver uma ligação estreita entre o insucesso escolar e as perturbações médico-psicológicas. Dizem eles que as perturbações psicológicas e psiquiátricas são raramente referidas nos debates relativos ao insucesso escolar. E, apresentando números, referem que as perturbações da aprendizagem, as perturbações da atenção, com ou sem hiperactividade, a depressão, as perturbações cognitivas, do comportamento e da personalidade, a esquizofrenia…estão quase sempre presentes em situações de insucesso escolar.
Nas ciências da educação, como ciências humanas, nem sempre a abordagem dos problemas pode ser feita a partir de um só modelo de intervenção. E este será o caso do insucesso escolar que, de uma maneira acentuada, apesar do facilitismo que impregna o nosso sistema de ensino, principalmente no básico, nos afecta. Ora, para se actuar sobre os fenómenos, há que conhecer as suas causas. E, relativamente ao insucesso escolar, uma parte significativa dos seus casos tem origem em problemas sociais: famílias disfuncionais, situações de abandono físico ou psicológico, separação familiar, carências económicas graves, desemprego, autoridade parental inexistente, ausência de regras em casa…
É claro que as duas maneiras de actuar sobre o insucesso escolar, a médico-psicológica e a pedagógica são excelentes terapêuticas, quando aplicadas não em alternativa mas, em complementaridade. O que me parece, contudo, é que se a sociedade deseja atacar de frente este grave problema da escola, terá que o fazer mais a montante, isto é, na família. É aí que se podem gerar os distúrbios psicológicos e os comportamentos inadequados que irão originar a falta de adaptação do aluno à vida escolar. É certo que muita desta actuação passa por medidas sociais que ultrapassam a própria escola. Outras, contudo, haverá, em que a escola, tentando promover uma educação parental adequada, poderia intervir de modo não só a prevenir mas a tratar este flagelo que invade a instituição escolar.
Mário Freire