\ A VOZ PORTALEGRENSE: Grupo Desportivo Portalegrense

terça-feira, dezembro 21, 2010

Grupo Desportivo Portalegrense

Futebol Clube do Porto em Portalegre

Entre domingo dia 18 e domingo dia 25 de Outubro de 1953, a equipa sénior do Grupo Desportivo Portalegrense efectua três jogos que ficaram para a sua história. O primeiro e o último, dizem respeito a duas jornadas consecutivas, a sexta e a sétima, do Campeonato Nacional da II Divisão, onde o GDP militava.
A meio da semana, terça-feira dia 20 de Outubro de 1953, o Grupo Desportivo Portalegrense vai jogar uma partida particular com o Futebol Clube do Porto, que naquele momento comandava a classificação do Campeonato Nacional da I Divisão.
Em 18 de Outubro anterior deslocou-se ao Estádio da Fontedeira o ex-primodivisionário Grupo Desportivo Estoril Praia. Previa-se um jogo de elevado grau de dificuldade para o GDP.
José Maria Cabecinha escreveu em “O Distrito de Portalegre” que ‘saiu vencedor merecido o Portalegrense, não pelo seu maior domínio ou pelas suas melhores jogadas, mas porque os dois golos que obteve foram dos que não mereceram contestação, e como o melhor aproveitamento das ocasiões de golo é que ditam os vencedores, está absolutamente certo e justo o seu triunfo.’
Descreveu desta forma o desenrolar da partida e os lances dos dois golos:
_ A primeira parte terminou com 1-0, golo alcançado por Brito aos 15 minutos, depois da marcação de um livre, por Sanina.
_ Na segunda parte, o jogo manteve as mesmas características e foi novamente Brito que aos 54 minutos marcou o segundo golo, depois de uma boa jogada de Jacinto.
Em análise aos jogadores afirmou:
_ Na equipa local, salientou-se o trabalho de Massano, Roqui, Jacinto e Sanina e o acerto de toda a defesa.
Em “A Rabeca” escreveu que ‘O clube portalegrense obteve, no passado domingo, uma esplêndida vitória sobre um dos mais fortes agrupamentos da Zona B; e se é verdade ter em algumas jogadas sido bafejado pela sorte, o que não dúvidas é a justiça do resultado, visto ter oposto à maior capacidade dos visitantes uma velocidade que aqueles só suportaram bem no primeiro quarto de hora.’
Em jeito de conclusão escreveu:
_ Para o resultado conseguido muito contribuiu, porém, o magnífico trabalho de Massano, tapando com o melhor sentido, o esplêndido extremo direito estorilista; a fibra aguda de Roqui à defesa e ao ataque, e a codícia de Jacinto, sem dúvida com o seu melhor jogo desde algumas épocas para cá. De resto o ataque, com excepção feita à lentidão do marcador, Brito, que podia ter feito mais e muito melhor, comportou-se magnificamente com um desrespeito absoluto pela categoria dos ases estorilistas Elói e Alberto.
Em “A Voz Portalegre”, Morujo Trindade escreveu que ‘o grupo azul, que quanto a nós vem domingo a domingo impondo numa melhoria sensível do seu conjunto e dos valores individuais que o constituem, derrotou o Estoril Praia, um dos sérios candidatos ao título, patenteando a todos os que viram o encontro uma exibição que só poderia trazer-lhe, como aconteceu, a vitória.’
Mais adiante diz que ‘ao maior saber estorilista contrapôs o Portalegrense uma velocidade e sentido de penetração, suficientes para lhe impor a sua vontade e daí os dois pontos da vitória.’
E termina prognosticando:
_ Pelo que vimos no passado domingo na Fontedeira, não seremos demasiado optimistas se nos convencermos que poderemos ter esperanças no nosso representante na II Divisão e com vista ao conseguimento dum lugar que lhe assegure o seu ingresso definitivo no próximo arranjo da mesma.
Quanto à arbitragem, dos três semanários de Portalegre, apenas dois a ela se referem. Muito irregular para “O Distrito de Portalegre”, e caseira em “A Rabeca”.
E apenas “O Distrito de Portalegre” edita as três equipas:
Portalegrense, 2
Estoril, 0
Árbitro: João Pimentel, de Évora
Portalegrense: Augusto, Santos e Massano; Moreno, Robalo e Roqui; Parra, Brito, Jacinto, Bica e Sanina.
Estoril: José Maria, Negrito e Alberto; Cassiano, Elói e Nunes; Lourenço, Vinagre, Andrade, Cordeiro e Pastorinha.

A 25 de Outubro o Grupo Desportivo Portalegrense irá a Elvas obter a sua primeira vitória fora, ganhado a «O Elvas» Clube Alentejano de Desportos por 2-0, com a maior justiça, segundo a imprensa local.

Quanto ao jogo com o Futebol Clube do Porto, reproduz-se na íntegra o que os jornais de Portalegre escreveram.
Mas, antes referira-se que a equipa do FCP chegou a Portalegre no domingo dia 18 de Outubro, e segundo “A Rabeca”, ‘o Portalegrense proporcionou aos visitantes nortenhos um passeio pelo Triângulo Turístico, com um lanche na Estalagem «Ninho de Águias», de Marvão; e a volta à Serra de Portalegre.’
No Campeonato da II Divisão o GDP tinha já feito seis jogos com os seguintes resultados e classificação, sexto classificado em catorze equipas:
Leões de Santarém – GDP 3-1
GDP – Casa Pia A. C. 4-1
Torriense – GDP 3-1
GDP – Marialvas 5-0
União de Coimbra – GDP 2-0
GDP – Estoril 2-0
J V E D F C P
6 3 0 3 13 9 6

E no final da reportagem do GDP-FCP, “A Voz Portalegrense” editou:
_ Encarregou-nos o G. D. Portalegrense de transmitir ao comércio da cidade, os seus melhores agradecimentos pela valiosa colaboração que prestaram ao Clube permitindo com o encerramento dos respectivos estabelecimentos, que maior número de espectadores assistissem ao encontro de futebol disputado com o F. C. P..
Foi, sem dúvida, uma grande jornada desportiva em Portalegre este jogo GDP-FCP.

_ A Rabeca, Ano 38, N.º 1752, 21 de Outubro de 1953, pg.2
Sem indicação do nome do autor da reportagem desportiva.
Jogo amigável
F. C. do Porto – 1
G. D. Portalegrense – 1
Ontem, terça-feira, realizou-se nesta cidade o encontro de futebol com o Futebol Club do Porto, que desde domingo à tarde, e a convite do Portalegrense, se encontrava em Portalegre.
Jogo ansiosamente esperado pelos desportistas locais, chamou ao Estádio da Fontedeira uma boa assistência, apesar de ser dia de semana, e diga-se em abono da verdade que valeu a pena. Se o Clube nortenho mostrou mais categoria, o Portalegrense, que vem subindo de forma, fez uma partida magnífica, batendo o pé à maior classe do adversário com jogadas de princípio, meio e fim, que causaram pânico à extrema defesa nortenha, onde Barrigana, com bastante mais trabalho que o guarda-redes local, se salientasse como o melhor jogador no terreno.
É que, quer no primeiro quer no segundo tempo – e neste o Portalegrense fez o seu melhor – os locais exerceram certo domínio territorial, produto duma maior velocidade sobre a bola, que bastas vezes descontrolou a defesa nortenha e que merecia mais do que a bola obtida, se o «calo» em encontros com grupos de figuras de nome no desporto nacional fosse maior e o contacto mais frequente.
A equipa portalegrense mostrou segurança, os médios de ataque, sobretudo Roqui, construíram ataques frequentes a que Jacinto e os restantes avançados davam sequência precisa. Brito, porém, com a lentidão que o caracteriza, prejudicou muitas vezes o trabalho dos companheiros, e sendo duma habilidade extraordinária, causa pena ver a sua pouca fibra.
A arbitragem de João Vieira, regular. Os clubes alinharam:
F. C. do Porto – Barrigana; Virgílio e Osvaldo; Eleutério, Arcanjo e Joaquim; Vieira, Albassini, Monteiro da Costa, Porcel, e depois Del Pinto e José Maria.
Portalegrense – Augusto, e depois Severiano; Santos e Massano; Roqui, Robalo e Moreno; Parra, depois Redondo, Calin, Jacinto, Bica, depois Brito e Sanina.
As bolas foram obtidas no 1.º tempo por Monteiro da Costa e Redondo.

Barrigana, o melhor jogador em campo

_ O Distrito de Portalegre, Ano 70, N.º 4.329, Sábado 24 de Outubro de 1953, pg.5
José Maria Cabecinha
Jogo amigável
Portalegrense, 1
F. C. do Porto, 1
Árbitro: João Vieira, de Portalegre
As equipas alinharam:
Portalegrense: Augusto (Severiano), Santos e Massano; Moreno, Robalo e Roqui; Parra (Redondo), Calin, Jacinto, Bica (Brito) e Sanina.
F. C. do Porto: Barrigana, Vergílio e Osvaldo; Joaquim, arcanjo e Eleutério; Carlos Vieira, Albasini, Monteiro da Costa, Porcel (Del Pinto) e José Maria.
Este jogo despertou o maior entusiasmo em todos os desportistas pelo que a assistência foi bastante numerosa.
Também o jogo em si foi daqueles que deixam agradáveis recordações, verificando-se que o Portalegrense quando completo, é uma equipa de valor, capaz de fazer frente às equipas de maior nomeada, servindo de exemplo este encontro com o Porto.
Os visitantes começaram a praticar com relativo à vontade e durante os primeiros 25 minutos não forçaram muito.
A partir de então e como verificassem que os locais não renunciaram à luta nem se descontrolavam, começou a luta com mais energia, ganhando o encontro maior emoção, porque os locais continuavam a lutar no mesmo ritmo de grande velocidade e generoso esforço, proporcionando-nos ambas as equipas um belo espectáculo desportivo.
A primeira parte terminou com o resultado de 1-1 com que veio a terminar o encontro, com golos de Monteiro da Costa aos 20 minutos e Redondo aos 40.
A segunda parte foi jogada no mesmo ritmo, com lances de bom futebol de ambas as equipas e Barrigana mais do Severiano, a ser chamado com mais frequência a pôr à prova os seus recursos.
O resultado final aceita-se bem, e a haver um vencedor este seria o Portalegrense.
A arbitragem foi regular.
Monteiro da Costa, o marcador do golo do FCP

_ A Voz Portalegrense, Ano XXI, 10/10/1953, N.º 1104, pg.2
Morujo Trindade
Jogo Particular
Levadas a bom termo as diligências entre as respectivas Direcções efectuou-se no passado dia 20, terça-feira, na Fontedeira, o anunciado encontro de futebol entre as categorias de honra do Futebol Clube do Porto e o Portalegrense.
Presenciado por uma das maiores assistências que têm ocorrido ao campo da Fontedeira, os grupos alinharam:
F. C. do Porto – Barrigana, Virgílio e Osvaldo; Eleutério, Miguel Arcanjo e Joaquim; Carlos Vieira, Albassini, Monteiro da Costa, Porcel e Zé Maria.
À segunda parte Del Pinto substituiu Porcel.
Portalegrense – Augusto, Santos e Massano; Moreira, Robalo e Roqui; Parra, Calin, Jacinto, Bica e Sanina.
Alinharam também Severiano, Brito e Redondo, respectivamente em substituição de Augusto, Bica e Parra.
Árbitro – Sr. João Vieira, da A. F. de Portalegre.
É muito provável que ao iniciar o encontro o estado de espírito da equipa local frente a um agrupamento de tanta categoria entre nós, lhe fizesse encarar a partida com natural receio, julgando que se deveria considerar batida, ao passo que aos jogadores do Futebol Clube do Porto sobrasse confiança para descerem, ao campo como vencedores certos e folgados. Se as primeiras jogadas foram talvez o reflexo desses dois estados psicológicos diferentes, vendo-se o F. C. do porto a pretender dar ar de exibição ao seu jogo, o que é certo é que a partir sensivelmente da primeira metade da 1.ª parte, a partida começou a interessar aos dois grupos, no tocante ao resultado final, já que o equilíbrio de domínio territorial era evidente.
Se do lado do F. C. do porto existiu melhor execução individual e desenvolvimento de jogo mais clássico, de banda dos locais veio ao de cimo a sua velocidade e poder de antecipação, que passou a dar-lhe também e principalmente a partir da entrada de Redondo possibilidades de mostrarem um período de jogo de ligação. E deste modo e dentro de uma correcção inexcedível, se desenrolou até final a magnífica partida de terça-feira, não sem que no período final Barrigana fosse chamado mais vezes a intervir do que Severiano.
Monteiro da Costa divagando sobre a esquerda e depois de receber um magnífico passe de J. Maria, marcou o 1.º e único tento do F. C. P., atirando sem possibilidade de defesa para Augusto. Passados poucos minutos Redondo marcava nas redes de Barrigana um tento de magnífica feitura e nascido duma jogada que os nossos adversários ou outros da sua igualha não desdenhariam assinar.
A uma passagem de Bica, Sanina centrou inteligentemente para Jacinto que tinha à sua ilharga M. Arcanjo; ganha a primeira disputa de bola por Jacinto, a bola ficou a saltar em frente a Barrigana para num relâmpago ser atirada para o fundo das suas redes com um potentíssimo pontapé de Redondo que para tanto nos mostrou magnífica execução.
Depois e com os locais mais confiantes o encontro decorreu até final como já referimos.
Para finalizar resta-nos envolver nas mesmas felicitações todos os jogadores do Desportivo portalegrense e os seus valorosos e correctíssimos adversários, pela magnífica partida de futebol que nos ofereceram, cabendo ainda aos nossos representantes ainda os parabéns pelo mérito do mais honroso resultado conseguido pelos seus grupos de sempre.
Ao snr. Vieira, que arbitrou, endereçamos, por merecidas, sinceras felicitações pelo trabalho produzido.
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Mário Casa Nova Martins