Ciclo de Conferências de Senadores - V
Uma Lição de Geopolítica
No passado dia 20 de Outubro, num final de tarde de uma amena quarta-feira de Outono, a sala de visitas do Instituto Politécnico de Portalegre recebeu mais uma Conferência de Senadores, sendo conferencista Adriano Moreira.
Perante uma sala completamente cheia, com pessoas a assistir em pé, o Presidente do IPP, Joaquim Mourato, após as palavras de circunstância, justificou a existência deste Ciclo como a necessidade sentida do IPP ‘sair fora de muros’, e dar-se a conhecer à cidade de Portalegre, à região e também ao país, uma vez que a notícia deste evento cívico e cultural há muito ultrapassou a urbe que o viu nascer.
Também o Presidente do IPP não deixou de dizer que a presença de Adriano Moreira, tal como a dos anteriores conferencistas, honrava a Instituição a que preside e ao mesmo tempo todos os presentes, nos quais se encontra um ‘núcleo duro’ que desde a primeira conferência está presente e que se tem alargado em número de forma considerável. Sempre presente o Governador Civil do Distrito de Portalegre, Jaime Estorninho.
De facto, pessoas ligadas à política, ao ensino, à cultura e à vida social de Portalegre marcam presença constante neste evento, o que mostra que a cidade tem público de qualidade para sustentar acontecimentos desta envergadura, mas só possíveis de realizar através de uma Entidade prestigiada no seio da Comunidade local e ‘além-fronteiras’, como hoje já é o Instituto Politécnico de Portalegre.
Adriano Moreira começou por citar o actual bispo do Porto, D. Manuel Clemente, um intelectual e Homem da Igreja, um valor cimeiro da cultura portuguesa. Para D. Manuel Clemente, desde o século XIX, Portugal tem uma crise de cem em cem anos. Aconteceu em 1810, após as Invasões Francesas e a estada da rainha e do príncipe regente no Brasil. Deu-se em 1910, com a mudança de regime, da Monarquia Constitucional para a República. E agora, em 2010, Portugal vive novamente uma crise, que espera que não conduza a alterações estruturais do regime ou da sociedade.
Adriano Moreira enuncia as razões que conduziram à actual crise, referindo que o crónico défice financeiro é gerado por políticas erradas porque são baseadas em populismos com intuitos eleitoralistas, e afirma que o futuro de Portugal, país europeu, no mar e na CPLP, funcionando a língua como factor de união.
Em 1974 dá-se uma mudança no Conceito Estratégico de Portugal. A adesão de Portugal à União Europeia é uma escolha sem alternativa. E como consequência desse acto político, os antigos conceitos de fronteira, de cidadania, de soberania, de cosmopolitismo, mudaram. Também os problemas de jurisdição interna passam a europeus. Ao mesmo tempo, a União Europeia vai ficando cada vez mais dependente do exterior em termos de matérias-primas, de energias não renováveis e de reserva de estratégia alimentar. E a adaptação à Globalização deixa a cada Estado membro uma margem de autonomia e liberdade, que para Portugal está sobretudo no mar, e na Comunidade de Países de Língua Portuguesa.
A CPLP, a que chama ‘Uma Janela de Liberdade’, é uma comunidade onde se fala a mesma língua, e desta forma a língua portuguesa é um valor que muito pode ajudar Portugal num mundo globalizado. E ao falar da Globalização afirma que esta tornou o mundo mais pequeno em inúmeras áreas como na economia, na cultura, mas o seu maior mal é a falta de regras, o que se traduz numa competição feroz pelo domínio do mercado, na acepção económica, principalmente quando princípios como os Direitos Humanos são preteridos face aos negócios entre Estados.
A interligação entre os Países de Língua Portuguesa é hoje já uma realidade, que em vários domínios muito tem contribuído para o desenvolvimento desses mesmos países. Hoje, muito graças à descoberta de importantes jazidas de petróleo e gás natural, o Brasil assume um papel cimeiro na Comunidade, sendo hoje mais do que potência regional, pertence ao BRIC, composto por Brasil, Rússia, Índia e China, o que faz dele um país a ter em conta no futuro, o que contribui para a afirmação deste espaço Lusófono. Um estado forte cria sinergias a montante e a jusante.
Sempre que Portugal se virou para o mar, teve desenvolvimento económico e científico, e protagonismo nos areópagos mundiais. Hoje tem uma zona marítima exclusiva de dimensões tais, que lhe permitiria com enorme rentabilidade o aproveitamento dos recursos marinhos que pululam na sua plataforma continental. Mas para que tal seja exequível, terão que ser revistas certas normas europeias, resultantes do Tratado de Lisboa, que coarctam muita da liberdade que os portugueses têm por direito sobre essas águas.
A língua, a CPLP e o mar constituem uma trilogia que muito pode ajudar Portugal a sair desta crise dos inícios do Terceiro Milénio.
Geopoliticamente, Portugal é um membro de pleno direito da União Europeia e da NATO, uma organização transatlântica.
Geopoliticamente, Portugal é um membro de pleno direito da União Europeia e da NATO, uma organização transatlântica.
Adriano Moreira afirma-se português, mas também europeu e atlantista. Diz que hoje os EUA são Marte, enquanto a Europa é Vénus, querendo dizer que os americanos vêm nas acções militares a forma de resolver problemas políticos, enquanto os europeus encontram na via negocial, do diálogo, a forma mais correcta e viável para resolver esses mesmos problemas. Hoje o conflito do Médio Oriente entre Israel e os Países Árabes tem leituras diferentes na Europa e nos EUA, e a última Guerra do Iraque foi fracturante para as relações entre americanos e europeus. Também a presença europeia no Afeganistão é cada vez mais contestada na Europa e quanto ao problema iraniano também não há consenso entre os EUA e a Europa.
Também não deixou de dizer que há perigos de coesão interna na União Europeia, porque um conjunto de cinco países-membros, os de maior dimensão e população, Alemanha, Espanha, França, Itália e Reino Unido, querem criar como que um directório que coordene todas as políticas europeias, e obrigando os restantes países a aceitarem-nas.
Portugal é dentro da EU um país ultra-periférico, que não só geograficamente está longe dos centros decisórios europeus. Mas tal dimensão não impede que tenha autóctones a liderar organismos internacionais, mesmo fora das fronteiras da União Europeia.
Todavia, palavras de esperança em relação ao futuro, quer português, quer europeu, foram proferidas a terminar.
Também não deixou de dizer que há perigos de coesão interna na União Europeia, porque um conjunto de cinco países-membros, os de maior dimensão e população, Alemanha, Espanha, França, Itália e Reino Unido, querem criar como que um directório que coordene todas as políticas europeias, e obrigando os restantes países a aceitarem-nas.
Portugal é dentro da EU um país ultra-periférico, que não só geograficamente está longe dos centros decisórios europeus. Mas tal dimensão não impede que tenha autóctones a liderar organismos internacionais, mesmo fora das fronteiras da União Europeia.
Todavia, palavras de esperança em relação ao futuro, quer português, quer europeu, foram proferidas a terminar.
Seguiu-se o período de perguntas e respostas. Se as questões colocadas foram pertinentes, as respostas foram esclarecedoras.
Adriano Moreira abordou a temática da entrada da Turquia na União Europeia, dizendo-se contrário, justificando que este espaço não pode ter fronteiras inimigas, ou não-amigas, como aconteceria se a Turquia viesse a fazer parte da EU. As novas fronteiras deixariam de ser seguras, e daí a importância que a Turquia sempre teve como parceira na NATO, uma aliança de índole militar e tão só.
Defendeu que a Europa deve respeitar a Rússia, que quando sair da situação em que está, ainda fruto dos estrangulamentos que o anterior regime lhe impôs, voltará a ter uma palavra forte no concerto das nações, principalmente na Europa. Há que não esquecer que a Rússia será sempre uma potência continental, e que terá sempre fronteiras com países que nada têm a ver com a civilização e cultura europeias.
E a propósito de uma pergunta que abordava o posicionamento das escolas da cidade de Portalegre no ranking do Ministério da Educação para o ano lectivo de 2009-2010, aproveitou para elogiar a sua Escola Primária, no fundo, uma Escola Republicana.
Adriano Moreira terminou, assim, falando da Escola, um tema sempre muito caro aos republicanos da Primeira República. Escola que para os republicanos de antanho seria o alforge do Homem Novo que idealizavam.
Mário Casa Nova Martins
*
*
*
*
Ciclo de Conferências de Senadores VI
José Loureiro dos Santos
Moderador, Carlos Juzarte Rôlo
(em 25 de Novembro de 2010)
Moderador, Carlos Juzarte Rôlo
(em 25 de Novembro de 2010)
*
Ciclo de Conferências de Senadores V
Ciclo de Conferências de Senadores IV
Moderador, Avelino Bento
*
*
Ciclo de Conferências de Senadores III
Moderador, Rui Cardoso Martins
*
*
Ciclo de Conferências de Senadores II
Moderador, António Martinó
*
*
Ciclo de Conferências de Senadores I
Moderador, Casimiro Meneses
*
*
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home