\ A VOZ PORTALEGRENSE: Ciclo de Conferências de Senadores - IV

terça-feira, julho 20, 2010

Ciclo de Conferências de Senadores - IV

Entre a ‘grande’ e a ‘pequena história’

Estão cumpridos dois terços, quatro em seis, do Ciclo de Conferências de Senadores, promovido pelo Instituto Politécnico de Portalegre. A última conferência, na passada quarta-feira dia 16 de Maio, teve como interveniente António de Almeida Santos, apresentado por Avelino Bento, um dos promotores deste evento de cultura e cidadania e docente do IPP.
Almeida Santos falou precisamente cento e vinte minutos. E desde já pode ser dito que teve agrado geral.
Começou de improviso falando dos momentos, indirectos, que teve com António de Oliveira Salazar. E importa dizer que dos quatro Senadores já ‘conversados’, três viveram, e viverão e pela lei natural da vida, mais tempo no Estado Novo do que na presente Terceira República. À excepção de Mota Amaral, até por um conjunto de razões que têm a ver com o próprio ou com a natureza do próprio e que evitamos enunciar ou enumerar, António Arnaut, Veiga Simão e agora Almeida Santos, foram salomónicos no elogio e na crítica a Salazar e seu Consulado.
A crítica a Almeida Santos e à sua Conferência tem a ver com o texto que leu, entremeando-o com considerandos oportunos, e não com estes mesmos.
No texto há muito erro histórico, e os erros deste tipo nada têm a ver com a interpretação histórica dada a um determinado acontecimento.
Para Almeida Santos, a figura maior do século XX português foi Afonso Costa. E não podemos estar em maior desacordo! Afonso Costa, e por mais de uma vez o afirmámos, é o rosto para o bem e para o mal da Primeira República. E o ‘mau’ na Primeiro República foi muito superior ao somatório do ‘bom’, pelo que a Afonso Costa se deve atribuir a falência do Regime. Mas respeitamos e compreendemos as razões de Almeida Santos, não só pelo seu posicionamento na política como pelas posições que toma na sociedade portuguesa.
Já em relação a Cunha Leal, coincidimos em alguns aspectos com a interpretação que deu à sua actividade política, mas as relações deste com Salazar foram muito mais ‘equilibradas’ do que fez crer.
Almeida Santos teve nesta Terceira República um papel importante nas relações entre Portugal e a Santa Sé, assim como Francisco Salgado Zenha. Aliás, os socialistas do PS sempre temeram um confronto com a Igreja no pós-25 de Abril de 1974, jamais querendo repetir aquilo que chamam de erros da Primeira República. E foi notório este facto político, quando por variadas vezes Almeida Santos referiu como o erro maior da Primeira República a luta contra a Igreja, querendo, ao mesmo tempo, ilibar Afonso Costa dos excessos então cometidos, o que é manifestamente impossível! Os factos, são factos.
Uma faceta que Almeida Santos mostrou, e por mais de uma vez, foi a de justicialista. Culpou os monárquicos de estarem constantemente a atacar a República, através de incursões, quando a História apenas relata duas incursões, vindas da Galiza e sem poder militar para fazer temer ou tremer o Regime Republicano. Paiva Couceiro nunca teve hipótese no campo militar e político. As Incursões Monárquicas, no plural porque foram duas, a primeira em 1911, a segunda em 1912, foram tentativas pessimamente planeadas de incursão militar pelo Norte de Portugal, feitas na sua maioria por civis de boas intenções mas mal equipados.
Mesmo a restauração monárquica em 1919 na cidade do Porto, a chamada Monarquia do Norte, tão efémera como romântica, não conseguiu vingar em Lisboa, tendo os monárquicos sido derrotados em Monsanto e obrigado a Junta Governativa do Reino a render-se.
A repressão aos monárquicos ao longo da Primeira República foi tão real quanto dura. Mas Almeida Santos, o justicialista, achou sempre ‘branda’ a acção repressiva dos republicanos sobre os monárquicos.
Tendo sido um dos principais responsáveis pela vergonhosa Descolonização das colónias portuguesas, de certeza que Almeida Santos não quereria que, se os responsáveis viessem ainda a ser julgados, sofrer a ‘brandura’ que os seus correligionários republicanos exerceram sobre os monárquicos na Primeira República.
Mais o maior ‘ódio de estimação’ para almeida santos é o rei D. Carlos I. e para denegrir a imagem do Rei Martirizado, nada melhor encontrou que a denominada ‘petit histoire’.
Falar dos amores do rei, das suas caçadas e de primeiro questionar para em seguida não duvidar dos dotes de pintor de D. Carlos, é no mínimo ‘pequena política’, facto que até por diversas criticou. Mas, como contraponto, elogiou o rei D. Luís, o ‘clássico’ para os republicanos da Primeira República. A ‘cartilha’ está ‘bem estudada’.
Mais interessante foi ouvir Almeida Santos dissertar sobre a Globalização e a Sobrepopulação. Actualíssimo na abordagem destas duas temáticas, foi elucidativo saber o que o Político pensa destas temáticas.
Em suma, duas horas que não foram ‘longas’.
E a apresentação do Conferencista teve 'conta, peso e medida'. Dito assim, o elogio a Avelino Bento é justo.
Mário Casa Nova Martins
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