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As três mortes de Mário Soares
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Quando os EUA “abandonaram à sua sorte” Portugal após o
golpe de estado corporativo de 25 de Abril de 1974, foi a Europa da Democracia
Cristã e da Social Democracia quem ajudou o país a lutar contra a tentativa de
implantação de uma ditadura comunista.
Essa tentativa comunista, que juntava o PCP aos seus
satélites como o MDP-CEE, MES, TUV SUV, e outros extremistas dentro das Forças
Armadas, começou logo a 1 de Maio de 1974, e prolongou-se até 25 de Novembro de
1975.
Nesse espaço de tempo deu-se a entrega dos Estados
Portugueses de África aos movimentos guerrilheiros marxistas, sem consulta às
populações, começou uma sangrenta guerra civil em Timor, e aconteceu a oferta
de Macau à China. Também nesse tempo o terror comunista era uma constante na
vida dos portugueses, que viram a economia ser destruída pela ideologia
marxista, chegando a fome e a miséria, as ‘aliadas’ preferenciais do
Socialismo.
Em toda esta fase de luta contra o comunismo, quer na
sociedade civil, quer dentro da estrutura militar, houve heróis e oportunistas,
como sempre e em todo o lado.
Parte da hierarquia da Igreja Católica teve um papel determinante
naquela luta, tal como toda uma Maioria Silenciosa, que quando foi preciso “disse
presente!”.
Da parte dos militares, uma minoria, civilizada e
disciplinada, resistiu sempre. Dentro das Forças Armadas houve enormes
saneamentos, que debilitaram a Resistência, sem nunca a quebrarem.
A Direita viu-se decapitada em 28 de Setembro de 1974 e em
11 de Março de 1975, pelo que ficou “a Direita possível”, representada pelo CDS.
A História fala de muitos protagonistas do lado dos
comunistas vencidos, e outros tantos do lado da Liberdade e da Democracia.
Mas o tempo apagou o nome de muitos desses protagonistas, para
se centrar em dois, Álvaro Cunhal, o vencido, Mário Soares, o vencedor. E desde
então, é assim que se quer que a História seja.
Mário Soares percorre a Terceira República, deixando nela a
sua marca pessoal nessa luta contra o comunismo, ele que foi comunista e
filiado no PCP. Mas dentro do PS, foi Francisco Salgado Zenha o estratega e o principal
lutador contra os comunistas.
A Mário Soares se atribui o principal papel na denominada
Descolonização. Mas foi o PCP e Ernesto Melo Antunes quem delinearam a
estratégia da entrega aos guerrilheiros marxistas dos Estados portugueses.
A entrada de Portugal na então CEE é atribuída a Mário
Soares. Mas tal entrada começou ainda na década de sessenta em pleno Estado
Novo, e essa entrada era uma inevitabilidade.
Como primeiro-ministro, Mário Soares conduziu o país à
bancarrota, não conseguindo sair dela sem apoio externo.
Na função de presidente da República fez milhões de
quilómetros em viagens por tudo o que era sítio no mundo, delapidando o erário
público, porque essas viagens, ditas presidenciais, nada de relevante trouxeram
para o país e para os portugueses. E o mesmo fez em Portugal, calcorreando todos
os lugares e lugarejos.
A ‘primeira morte’ de Mário Soares foi em 22 de Fevereiro de
2006, quando obtém apenas 14% dos votos expressos na campanha presidencial a
que concorre. Os portugueses elegem o seu arqui-inimigo logo à primeira volta,
mostrando que o seu tempo, o tempo de Mário Soares enquanto político acabara.
Daí até à sua ‘segunda morte’, em 7 de Janeiro de 2017, fez
um percurso de aproximação ao radicalismo esquerdista, aliás, onde começou,
como membro do PCP.
A ‘terceira morte’ de Mário Soares aconteceu três dias
depois da sua morte física. Se o velório em Belém tivera pouca gente, o cortejo
fúnebre pôs à evidencia que Mário Soares há muito ‘morrera’. Foi confrangedor ver
tão pouca gente nas ruas que o féretro percorreu. Nem as excursões promovidas
pelo PS conseguiram esconder esta evidência.