FERREIRA DE CASTRO .
José Maria Ferreira de Castro nasceu em 1898 em Ossela (Oliveira de Azeméis). Emigrou cedo para o Brasil, onde levou alguns anos de vida muito dura. Autodidacta, trouxe a sua própria experiência para o campo da Literatura e é, hoje, dos nossos autores modernos, o de mais alfa audiência internacional. A Selva (1930) vem conhecendo sucessivas traduções em muitas línguas. Emigrantes (1928), Eternidade (1933), A Tempestade (1933), Terra Fria (1934), A Lã e a Neve (1947), etc., são romances da sua lavra, notáveis como grandes reportagens (Pequenos Mundos — Velhas Civilizações, e A Volta ao Mundo) e, também, o grande livro de divulgação de arte, As Maravilhas Artísticas do Mundo.
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«TAJ-MAHAL», O MAIS BELO MONUMENTO AO AMOR,
QUE EXISTE NO MUNDO
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Obra de dois arquitectos, o francês Agostinho, de Bordéus, e o asiático Ustud-Isa, decorada por um veneziano, Jerónimo Verróneo, nela trabalharam 20000 homens durante 18 anos! Para enriquecer os mármores, vieram outras pedras de toda a Ásia diamantes, ágatas, safiras, turquesas, ónix, corais, granadas, jaspes, lazulitas, cristais de rocha, todos os reflexos, todos os brilhos minerais, numa magnificência espantosa.
... Entrámos num vasto terreiro, espécie de claustro vermelho, dividido em compartimentos abertos à frente, como esses que existem nos mercados. Eram as antigas instalações daqueles que vinham, de toda a Índia, ver o sepulcro famoso. Numa das faces deste quadrilátero, rasga-se grande porta rubra, de estilo persa, bela como uma miragem, monumental como um arco de triunfo, decorada com miríades de arabescos e sobrepujada por pequeninas cúpulas. Transpomo-la e logo nos quedamos vencidos. A porta enquadra a maravilha, obra branca e etérea, aparição de palácio extraterrestre, ao fim de jardins celestiais.
... O Taj-Mahal, com a sua grande cúpula, que outras, em miniatura, ladeiam, e flanqueado por quatro esguios minaretes, apresenta-se ao fim de comprido e estreito lago que corta totalmente o vasto jardim. Este líquido rectângulo dir-se-á uma alameda de prata, dando acesso, entre duas filas de pequeninos ciprestes, ao célebre mausoléu. A água está povoada de nenúfares e reflecte, fantasticamente, as cúpulas e os minaretes.
A suprema brancura do Taj-Mahal contrasta grandiosamente com o verde das árvores do parque e com o vermelho das muralhas e das mesquitas que se ostentam nas redondezas. Parece erguido sobre peanha inacessível aos homens, pois nenhuma escada se divisa entre os níveos mármores. Dai, da sua alvura e do céu onde ele se recorta, a sensação que o monumento dá, de coisa aérea, vaporosa, obra feita de espuma, que se dissolverá com um sopro, que se dissolverá se lhe tocarmos, apesar da sua majestosa grandeza. E visto da grande porta vermelha que ele deslumbra mais, parecendo desprender-se da terra e ascender às nuvens. À medida, porém, que nos acercamos, o Taj-Mahal vai adquirindo a sua inevitável realidade. Ele não constitui, decerto, o mais belo monumento do Mundo. Algumas obras gregas e egípcias oferecem maior nobreza, maior originalidade e mais complexas sugestões. Mas o Taj-Mahal, de feitio de uma mesquita, é a mais bela mesquita que existe no Mundo, o mais belo monumento da arquitectura árabe, como outro não há na terra islâmica.
Só quando se está mui perto do túmulo admirável, se descobre o lugar por onde se atinge a plataforma de mármore em que o Taj-Mahal assenta. Os arquitectos construíram, junto do largo plinto, uma parede que com ele se confunde e atrás da qual se ocultam duas escadas. Em todos os mármores que formam o pedestal vêem-se esculpidas portas e, em cada um dos quatro ângulos da peanha, ergue-se esbelto minarete. Ao centro, está o mausoléu gigantesco, que mostra, em cada face, grande porta em arco e, entre uma porta e outra, quatro janelas, duas em cima de outras duas, todas em arco também. Assim, de qualquer dos pontos cardeais que o contemplemos, o edifício maravilhoso apresenta sempre uma fachada igual às outras, uma beleza e uma harmonia 40 sempre iguais. E tudo torturado peio cinzel, com arabescos e inscrições obtidos por incrustação de mármores negros sobre o mármore branco.
Dentro, sob a cúpula principal, abre-se vasta rotunda e, em sua volta, ampla galeria, onde uma luz de cripta se filtra, cariciosamente. As paredes estão revestidas de marmóreas placas, onde excelsos artistas esculpiram toda uma vegetação de caprichosas, imaginárias formas. Em cada curva da galeria rasga-se uma porta sobre a rotunda sepulcral. Nesta há, ao centro, uma espécie de biombo, fantástico, todo de renda de mármore com embutidos negros, obra de uma beleza indescritível, a maior preciosidade do túmulo e uma das maiores vitórias artísticas de todos os tempos. É dentro desse resguardo transparente que se encontram dois sarcófagos com admiráveis incrustações, dois falsos túmulos, apenas de valor decorativo. Os verdadeiros jazem por baixo destes, dado que os prodigiosos artistas a quem se deve o Taj-Mahal, quiseram ocultar aos olhos indiscretos a sepultura de Arjumand Banu e, simultaneamente, manter a harmonia estética do monumento...
De A Volta ao Mundo