Crónica de Nenhures
Guernica após o bombardeamento alemão (1937)
Guernica, Katyn e Fernando J. B. Martinho
1. O ‘Jornal de Letras’ n.º 937, de 30 de Agosto a 12 de Setembro de 2006, tem como tema central ‘A Guerra Civil de Espanha - Presença na Literatura e na Arte portuguesas’.
Nesse dossier, visto de Esquerda, está um trabalho na página 17 de Fernando J. B. Martinho (Portalegre, 1938) intitulado ‘Carlos de Oliveira, Guernica’.
Nele, Fernando J. B. Martinho lembra os poemas de Álvaro Feijó, João Rui de Sousa, Orlando de Carvalho e Jaime Cortesão, tendo como temática Guernica e o seu significado para eles. Em seguida detém-se no neo-realista Carlos de Oliveira e no seu poema ‘Descrição da Guerra em Guernica’, escrevendo que ‘é um dos poemas mais altos da tradição de uma poesia ecfrástica moderna em Portugal, impulsionada, em larga medida, por Metamorfoses, de Jorge de Sena na primeira metade dos anos 60’. Continuando, afirma que ‘como o próprio título sugere, trata-se de um poema que pertence ao género da ekphrasis, que a leitura do poema vem, depois, confirmar’.
O poema do Autor de ‘Uma Abelha na Chuva’ é a pormenorizada descrição da pintura ‘Guernica’ de Pablo Picasso, e encontra-se em ‘Entre duas Memórias’ (1971), e integra-se, segundo o poeta e ensaísta portalegrense, ‘em posição medial, num conjunto de três que abre o livro, sob o título Cristal em Sória’.
2. O ataque realizado pelo 3.º Esquadrão da Legião Condor a Guernica, no País Basco, ocorreu na segunda-feira 26 de Abril de 1937, numa fase em que a vitória já pendia para as forças nacionalistas.
Esta cidade não seria um alvo importante no contexto da guerra em curso, mas as patentes militares responsáveis decidiram levá-lo a cabo, encarregando os aliados alemães para tal.
Dele resultou a destruição de Guernica, e, segundo dados oficiais pós-franquismo, 1.664 mortos e 889 feridos, numa população de cerca de 7.000 pessoas. O ataque começou cerca das 16 horas e 45 minutos, levado a cabo por Heinkels-11, e durou cerca de duas horas e três quartos. A repercussão negativa foi tão grande em termos públicos, que os nacionalistas passaram a atribuí-la aos ‘vermelhos’.
Um facto que depois se veio a apurar é que havia crateras provocadas por cargas de dinamite em eixos viários e em fábricas de Guernica, destruição que não pode ser atribuída aos alemães, nem aos italianos que mais tarde conquistarão a cidade. Será a clássica táctica de ‘guerra queimada’ utilizada em todo o tipo de guerra, neste caso levada a efeito pelos republicanos enquanto abandonavam Guernica.
3. O Massacre de Katyn teve lugar numa floresta junto a Gneizdovo, perto de Smolensk, na Rússia, em 1940, por ordem de Estaline e levada a cabo pelo NKVD.
Foi o fuzilamento de militares, na grande maioria oficiais, e civis polacos, feitos prisioneiros pelos soviéticos quando a URSS invadiu a Polónia em Setembro de 1939, resultado do Pacto de não agressão Germano-Soviético, estabelecido entre Hitler e Estaline em 1938 para, entre outras situações, a divisão da Polónia entre a Alemanha e a Rússia.
Em Março de 2005, as autoridades russas terminaram uma longa década de investigações sobre o Massacre na Floresta de Katyn, e o Procurador Militar Russo Alexander Savenkov, principal responsável deste projecto, assumiu que o total de mortes cifrava-se em 14.540 polacos.
Mas, quando da invasão da Rússia pela Alemanha, logo que os alemães descobriram as valas comuns em Katyn, e divulgaram publicamente este caso, os soviéticos de imediato atribuíram aquela chacina aos próprios alemães. Só depois do fim da URSS é que aceitaram o veredicto da História, e assumiram a responsabilidade por aquele acto de guerra injustificado.
4. Guernica é um símbolo para a Esquerda, representando a barbárie do Fascismo e do Nazismo. Os poemas daqueles poetas portugueses sobre aquele episódio da Guerra Civil de Espanha são exemplo disso. Para a Direita é um acontecimento que em nada contribuiu para o desenrolar da guerra, dispensável sob o ponto de vista militar e de nenhum significado ideológico.
Katyn é um Crime contra a Humanidade, perpetrado por uma ideologia totalitária, que é o comunismo, neste caso o comunismo soviético, fundamentalmente um crime de classe, justificado pelo leninismo. A Esquerda ignora-o. A Direita coloca os Mortos polacos, respeitosamente, no Panteão das Vítimas do Comunismo.
MM