\ A VOZ PORTALEGRENSE: Requiem por Jan Palach

segunda-feira, agosto 21, 2006

Requiem por Jan Palach

O «requiem» de Praga: 21 anos em Portugal
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Quatro anos antes do 25 de Abril, a RTP transmitiu, à noitinha, um programa musical onde surgia, a certa altura, uma canção bela e sombria, que se disse ser «subversiva». Chamava-se «Requiem por Jan Palach», o seu autor era o escritor nacionalista José Valle de Figueiredo. Celebrava a memória do jovem estudante de Filosofia Jan Palach, que se imolou pelo fogo na cidade de Praga, pouco depois da invasão soviética. Depressa se tomou num cântico de referência para os nacionalistas-revolucionários portugueses, ao lado dos poemas de Jean Pax Mefret, Leo Valeriano, Compagna Dell’Anello, Michel Sardou, Ângelo Branduardi e, mais recentemente, Chris de Burgh.
21 anos depois, lembramos aqui essa letra histórica. O «Requiem para Jan Palach».
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«Requiem por Jan Palach» (*)
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Arde o coração de Praga.
Arde o corpo de Jan Palach.
Podemos dizer que o Rei Venceslau,
montado em seu cavalo,
também viu crescer o fogo
em que arde o coração de Praga.
João Huss, queimando o seu corpo,
também arde na Praça de Praga.
E os cavaleiros da Boémia,
o povo e os grão-Senhores,
os operários de Pilsen,
os poetas e cantores da Eslovóquia,
todos ardem nessa tarde e nessa praça.
Queimamos a coragem e o heroísmo,
queimamos a nossa infinita resistência.
Não é verdade, Soldado Schweik?

Eles vieram das estepes e disseram:
É proibido morrer pela Pátria,
é proibido resistir à opressão,
é proibido combater a ocupação. (Refrão)
É proibido amar os campos verdes do seu país.
É proibido amar o verde da esperança.
É proibido amar a Esperança

Estás proibido, Jan Palach!
És proibido, Jan Palach!
Estás proibido de existir, Jan Palach!
Estás proibido de morrer!

Eles vieram das estepes a disseram
todas estas palavras.
Mas também é verdade que disse um dia o Rei Venceslau,
montado em seu cavalo:
«Esta nossa terra será livre,
e nela crescerão livres
as virgens, as mães e os filhos.
E nela crescerão livres as flores.»
E das flores virão rosas,
rosas brancas, para cobrir a campa
de Jan Palach.
Arde o Coração de Praga,
arde o corpo de Jan Palach,
arde o corpo do Futuro.
E já cresce a Primavera!

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(*) Letra de José Valle de Figueiredo, escrita no fim dos anos 60. Música de Manuel Rebanda. Jan Palach imolou-se pelo fogo no fim de 1968, em pleno centro da Praça Venceslau, em Praga, símbolo do fundador da nacionalidade.

O semanário ‘O Diabo’ de 29 de Agosto de 1988, na página 13, traz uma notícia sobre aquela obra poético-revolucionária, que reproduz.
Apenas referência quanto à data da morte de Jan Palach, que não foi em finais de Dezembro de 1968, como se lê no jornal, mas sim em 16 de Janeiro de 1969.
Mário Casa Nova Martins