MEC em 'Casablanca'
Como acaba «Casablanca»?
CASABLANCA é um grande filme romântico, porque, tal como nos romances da vida real, os actores não sabem para onde vão nem como vão acabar. É mesmo verdade: houve tantos problemas com o guião, que foi escrito durante as filmagens, e ninguém sabia qual era a história que se estava a contar.
Esta deliciosa desorientação é visível nos rostos de Humphrey Bogart e de Ingrid Bergman - chega a ser uma máscara de estupidez -, mas consegue reclassificar-se como encenação de um amor louco.
Eles estão confusos; tentam cobrir as possibilidades narrativas que ainda estão por definir; agem como se estivessem perdidos num mar de expressões abstractas. Ou seja: parecem mesmo apaixonados.
Todo o filme é erguido sobre esta incerteza. O coração chama para um lado; o dever para outro; a coerência dramática para não sei onde. Deste caos tão habilmente disfarçado - ninguém pode revelar que ainda não existe uma história - emergem simulacros perfeitos da amizade, da primazia da ética, da saudade e, sobretudo, do triunfo da memória sobre a realidade.
Casablanca é a história de um amor interrompido que não acaba; que continua; que não precisa de ser retomado só porque os dois amantes se reencontram. É por isso que o filme pode ser visto tantas vezes: porque é um «loop» contínuo em que a heroína está sempre a reaparecer e a desaparecer. No meio de tantos intercâmbios entre éticas e egoísmos, é Bergman/llsa que faz o maior sacrifício: só ela trai o seu amor uma segunda vez. E, mesmo assim, a incerteza flutuante de Casablanca deixa tudo em aberto.
A última vez que vi Casablanca, por exemplo, fiquei com a impressão de que estavam todos a divertir-se; a marcar tempo. Que Rick e lisa acabariam por juntar-se, mal a guerra acabasse, mas que, entretanto, Rick até preferia mais uns tempos de paz e sossego lá no bar dele em Casablanca.
Quem sabe? Poder saber-se tudo e nada acerca de um filme que se conhece tão bem é o que torna Casablanca no grande filme que pode não ser - mas grandemente parece.
Esta deliciosa desorientação é visível nos rostos de Humphrey Bogart e de Ingrid Bergman - chega a ser uma máscara de estupidez -, mas consegue reclassificar-se como encenação de um amor louco.
Eles estão confusos; tentam cobrir as possibilidades narrativas que ainda estão por definir; agem como se estivessem perdidos num mar de expressões abstractas. Ou seja: parecem mesmo apaixonados.
Todo o filme é erguido sobre esta incerteza. O coração chama para um lado; o dever para outro; a coerência dramática para não sei onde. Deste caos tão habilmente disfarçado - ninguém pode revelar que ainda não existe uma história - emergem simulacros perfeitos da amizade, da primazia da ética, da saudade e, sobretudo, do triunfo da memória sobre a realidade.
Casablanca é a história de um amor interrompido que não acaba; que continua; que não precisa de ser retomado só porque os dois amantes se reencontram. É por isso que o filme pode ser visto tantas vezes: porque é um «loop» contínuo em que a heroína está sempre a reaparecer e a desaparecer. No meio de tantos intercâmbios entre éticas e egoísmos, é Bergman/llsa que faz o maior sacrifício: só ela trai o seu amor uma segunda vez. E, mesmo assim, a incerteza flutuante de Casablanca deixa tudo em aberto.
A última vez que vi Casablanca, por exemplo, fiquei com a impressão de que estavam todos a divertir-se; a marcar tempo. Que Rick e lisa acabariam por juntar-se, mal a guerra acabasse, mas que, entretanto, Rick até preferia mais uns tempos de paz e sossego lá no bar dele em Casablanca.
Quem sabe? Poder saber-se tudo e nada acerca de um filme que se conhece tão bem é o que torna Casablanca no grande filme que pode não ser - mas grandemente parece.
Miguel Esteves Cardoso
14 ÚNICA 19 Agosto 2006 Expresso
14 ÚNICA 19 Agosto 2006 Expresso
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home