\ A VOZ PORTALEGRENSE: março 2024

quinta-feira, março 28, 2024

Iberismo e União Ibérica

Nas estepes da Rússia

Espanha luta com ardor,

unida com a Alemanha

por uma Espanha melhor.

 

E quando a Espanha voltarmos

de novo queremos lutar

e expulsaremos o inglês

do Penedo de Gibraltar.

 

O nosso grito de vitória

no mundo inteiro o ouvirão

quando recuperarmos

todo o Marrocos e Orão.

 

Só esperamos a ordem

que nos dê o nosso general

para apagar a fronteira

de Espanha com Portugal.

 

E quando isso conseguirmos,

alegres podemos ficar,

por termos conseguido

fazer uma Espanha imperial.

*

Estes versos são de uma das canções da Divisão Azul, entoada nos campos da Rússia ao lado da Alemanha nazi.

O texto que a reproduz traduzida está na Revista ‘E’ do Expresso, página 32, do passado 15 de Março de 2024, inserido no trabalho de Ricardo Silva intitulado «Os planos de Franco para invadir Portugal».

Francisco Franco e Iberismo sempre ‘rimaram’. Como ao longo de séculos a obsessão espanhola por integrar Portugal é uma constante.

Recorrendo apenas ao século XX, as três figuras espanholas mais influentes, a par de milhentas menores, que defendiam o Iberismo foram Afonso XIII, José António Primo de Rivera e Francisco Franco.

Afonso XIII tentou anexar Portugal após a implantação da República. José António Primo de Rivera, fundador da Falange, sempre defendeu a integração de Portugal em Espanha. Franco tem como tese na Academia de Infantaria de Toledo, como invadir Portugal.

Existe documentação pública a testar o forte Iberismo deste trio. E das outras figuras menores.

Ainda no século XX, quem mais pugnou pela integração de Portugal na Espanha, foi o escritor comunista José Saramago, que inclusive se auto-exilou na ilha espanhola de Lanzarote, onde veio a falecer.

Um facto curioso, dir-se-á extraordinário, é uma parte dos actuais Nacionalistas portugueses terem em José António Primo de Rivera um ideólogo, e a Falange como referência de acção dita revolucionária.

E António Sardinha, figura grada do Nacionalismo português, também ‘navegou’, quiçá levemente, nas águas do Iberismo.

Por outro lado, o Embaixador Alberto Franco Nogueira pugnou ao longo da sua vida contra o Iberismo, figurando hoje no Panteão dos Portugueses que sempre defenderam e honraram a Pátria Portuguesa.

Já no século XXI surge um partido político herdeiro do Franquismo, o VOX, que defende a União Ibérica.

Este partido, em termos da União Europeia, pertence ao mesmo grupo no Parlamento Europeu que o partido português Chega.

Na recente campanha eleitoral para as legislativas do passado 10 de Março, o líder do VOX esteve presente em Portugal num comício do Chega, sem que ninguém deste partido, ou outros, se incomodasse. Que tempos estes!

Mário Casa Nova Martins

E A Revista do Expresso, Edição 2681, 15/Março/2024, pgs 26 a 32

segunda-feira, março 25, 2024

AA - Memória e Poder

Memória e Poder

Do Capitólio à Rocha Tarpeia, não vai mais do que um passo.

Na Roma antiga, a Rocha Tarpeia era um local onde eram feitas execuções, sendo as vítimas lançadas desta rocha para a morte. E a expressão que ainda hoje lembra esses dois lugares romanos, Rocha Tarpeia e Capitólio, é utilizada para lembrar como o Poder é efémero.

Que o diga Aníbal Cavaco Silva, dez anos primeiro-ministro, uma década presidente da República, que no passado 10 de Março viu na sua terra natal, Boliqueime, um partido à direita do PSD ficar confortavelmente à frente desse mesmo PSD nas eleições legislativas.

Longe vai o tempo em que o Cavaquistão parecia indestrutível. A arrogância, a soberba, o caciquismo que caracterizou esse período, a constante tentativa de asfixiar eleitoralmente o partido situado à sua direita, a par de uma estratégia económica Keynesiana de obras públicas financiadas pela União Europeia, deixou reais marcas.

Contudo, hoje Cavaco Silva é mais lembrado pela frase de que “nunca se enganava e raramente tinha dúvidas”, do que pela obra de betão que deixou como legado, ou pelo tempo que passou no Palácio de Belém.

Vindo como que de ‘além-túmulo’, Cavaco Silva protagoniza várias aparições públicas na campanha eleitoral do seu partido de sempre e escreve artigos na imprensa, no sentido de mostrar o seu apoio incondicional ao líder e ao projecto do PSD.

Mas, pelo menos em Boliqueime, não se pode dizer que o entusiástico apelo ao voto no PSD por Cavaco Silva tenha sido foi ouvido, pelo contrário.

Assim sendo, poder-se-á questionar se há uma ingratidão político-ideológica em relação a Aníbal Cavaco Silva, que conquistou maiorias absolutas e venceu eleições presidenciais.

É um facto que Cavaco Silva foi um vencedor na política portuguesa nesta Terceira República e é inquestionável que deixou obra pública.

Todavia, nunca deixou de mostrar uma faceta de autocrata, jamais mostrou sentimentos altruístas, não foi dialogante, mostrou-se sempre esfíngico e distante na forma como se relacionou com apoiantes e adversários. Também não teve apetência para a Cultura, quiçá, por força da sua formação técnica.

Agora nada diz ou representa para as gerações que hoje têm funções na política e para o actual eleitorado. Cavaco Silva é ‘uma voz do passado’ que veio ao presente e não foi ouvido.

Mário Casa Nova Martins

sexta-feira, março 22, 2024

Guerra na Ucrânia - Clara Ferreira Alves

Guerra na Europa

«Bruxelas tinha um único trabalho, deixar a Europa de fora de uma guerra fratricida e fazer valer a diplomacia. Em vez disso, atirou a Ucrânia para uma guerra que nunca ganharia, em nome de uma NATO disfuncional e de promessas de armas e dinheiro sem fim. E querer rearmar a Alemanha para entrar em guerra com a Rússia. Um plano que agrada aos militares neutralizados, ao lobby da indústria de armas e aos pupilos do Pentágono.»

Clara Ferreira Alves

E A Revista do Expresso, Edição 2681, 15/Março/2024, pg.3

*

Lucidez da Articulista, em tempo de uma derrota militar e sobretudo política e económica anunciada. A submissão aos EUA por parte de uma parte dos Europeus é consequência da dependência militar da Europa face à até há pouco potência hegemónica mundial.

A Rússia rapidamente transformou a sua economia numa economia de guerra, tem crescimento económico e consegue fazer face em homens e material a esta guerra de longa duração, ao contrário da Europa e dos próprios EUA.

Esta realidade é ocultada por todos os meios às opiniões públicas, americana e europeia, começando na não divulgação das notícias contrárias à ‘verdade estabelecida’, proibindo o acesso a canais televisivos e rádios ‘do lado errado’, fazendo a pior das censuras, e perseguindo quem não ‘responde’ pelo ‘lado certo’ deste guerra entre os EUA e a Rússia, por razões mais geopolíticas que económicas, no mártir solo ucraniano.

Vive-se um tempo de tripolaridade mundial. Os EUA já não são a única potência, a China é cada mais uma potência mundial. E quando a guerra acabar na Europa, a Rússia sairá mais forte e voltará a ocupar o lugar de grande potência mundial.

Quanto à Europa, a liderança germânica na União Europeia reforçar-se-á. O Norte da Europa distanciar-se-á em termos económicos do Sul, gerando-se fortes assimetrias de toda a ordem. A decadência americana continuará, e a ‘rica’ Europa nunca mais vai ser a mesma.

Esta guerra no centro da Europa foi o pior que podia ter acontecido aos europeus. Conflitos regionais irão resultar da derrota europeia e americana na Ucrânia. Novas guerras de fronteiras assolarão o solo europeu, num retrocesso civilizacional.

E no final será a Europa, não os EUA, o grande perdedor!

Mário Casa Nova Martins

terça-feira, março 19, 2024

Desabafos 2023/24 - XII

É já nesta próxima quarta-feira, dia 20 de Março que se saberá o resultado final das eleições legislativas do passado 10 de Março.

O tempo dirá, ou demostrará que a vitória do vencedor será pírrica.

O vencedor em termos de mandatos terá uma vantagem mínima, o que para além de trazer instabilidade num futuro governo, pairará sempre o erro colossal que foi o presidente da República ter aceitado a demissão do anterior primeiro-ministro e provocar estas eleições legislativas antecipadas.

O fervor do mediatismo que sempre mostrou, a irresponsabilidade da maioria dos actos que pratica, a vontade a todo o preço de levar para o governo o partido no qual e do qual é militante, o presidente da República é e será o maior responsável por tudo o que o futuro trará para Portugal. E os tempos não vão ser nada fáceis.

Quando as Corporações vierem reivindicar tudo e o seu contrário, quando a resolução dos verdadeiros problemas do país não conseguirem resolução por parte do governo que irá sair deste acto eleitoral, então estará criado o cenário de maior instabilidade.

Hoje há um partido de Direita forte, há um partido de Esquerda forte, e haverá um governo formado pelo partido do centro que tem no seu seio duas correntes, uma o PPD que quer acordos com o partido da Direita, e a outra o PSD que quer acordo com o partido da Esquerda. Para bom entendedor, tudo está dito.

Mas que se diga e repita, que toda está conflitualidade social e política teve como fautor, como promotor o presidente da República, que uma vez mais mostrou ser de uma enorme irresponsabilidade.

Num tempo e momento que Portugal mais precisava de estabilidade, tudo aconteceu ao contrário. Mais uma oportunidade perdida para Portugal e para os Portugueses.

Mário Casa Nova Martins

17 de Março de 2024

Rádio Portalegre

sábado, março 09, 2024

Contra o Bloco Central

Contra o Bloco Central

O ‘voto útil’ é útil para quem o recebe, mas nunca o é para quem o dá. Mesmo assim, não há campanha eleitoral política que não surja esta falácia, esta mentira.

O ‘voto útil’ não é um voto livre, é um voto condicionado, porque é sempre um voto contra algo, não é voto construtivo, é sim um voto destrutivo. O ‘voto útil’ é um voto que é dado em oposição, em contrário, em negação, que faz com que a própria essência do voto seja adulterada.

O Centrão que tem governado Portugal nesta Terceira República, faz sempre a apologia do ‘voto útil’, seja à Direita, seja à Esquerda. E na presente campanha eleitoral tal é assumido à Esquerda pelo PS e à Direita pelo PSD.

Em períodos curtos, em coligação ’disfarçada’ com o PS e em coligações com o PSD, também teve responsabilidades governativas, mínimas, o CDS. Mas o fim histórico do CDS aconteceu, e hoje já nem ‘muleta’ é do PSD, que entretanto o ‘absorveu’.

Muito se deve ao ‘voto útil’ e a continuadas coligações com o PSD, o tal ‘abraço de urso’, o fim político do CDS, um perda enorme para o Personalismo e a Democracia Cristã em Portugal.

Foi justamente por causa do ‘voto útil’ e da ‘ganância’ de sucessivas direcções do CDS em ir em coligações com o PSD, que se deu o seu fim histórico e político. Hoje a ‘utilidade’ do CDS, após sucessivos «abraço de urso» do PSD limita-se a ser, não muleta, mas uma espécie de apêndice do PSD, que quando não lhe interessar o mesmo PSD ‘despejará’ inexoravelmente.

A apologia do ‘voto útil’ pelo Centrão, faz com que ele se perpetue na governação, e, assim, ganhando a eleição PS ou PSD, tudo fica como dantes. E para o Eleitor que pratica o ‘voto útil’ e que quer a alternância, que quer mudar o rumo da governação, o ‘voto útil’ transforma-se num voto inútil!

A alternativa ao Centrão não é votar nos partidos que o formam, mas sim nas alternativas, à Direita e à Esquerda, que existem.

A Esquerda tem essas alternativas, e a Direita tem as suas, que no caso presente são os Partidos Chega e Iniciativa Liberal.

O modelo económico da Iniciativa Liberal é o aplicado na Irlanda, na Polónia, na Hungria e noutros países que liberalizaram a economia e obtiveram resultados excelentes, ultrapassando Portugal no ranking económico da própria UE. O Chega assenta o seu modelo económico na matriz Democrata-Cristã, entre o Liberalismo e o Socialismo. E tudo é Economia!

Muito teria Portugal e os Portugueses a ganhar com uma Economia livre, que criasse riqueza suficiente para o País sair da cauda da União Europeia.

Não será com o famigerado ‘voto útil’ que não é mais do que um voto inútil, que Portugal se libertará das grilhetas deste Socialismo na Economia que o asfixia.

Mário Casa Nova Martins

sexta-feira, março 08, 2024

AA - O "Voto Inútil"

O ‘Voto Inútil’

Um certo consenso diz que a principal razão da última maioria absoluta do Partido Socialista, em 30 de Janeiro de 2022, foi que à última hora, à boca das urnas, indecisos e ‘receosos’ aliaram-se num sindicato de voto, em coligação negativa, para impedir que a ‘direita’ formasse governo, votando no PS.

Sendo verdade, então foi o ‘voto útil’ que ‘deu’ a dita maioria absoluta aos socialistas.

O ‘voto útil’ é muito útil para quem o recebe, mas torna-se inútil para quem o dá!

Nesse Janeiro de 2022, à Esquerda o ‘voto útil’ fez com que os dois partidos radicais de Esquerda, PCP e BE, vissem diminuir o número de votos e de mandatos, tal como o partido ‘hermafrodita’ PAN.

Desde a entrada em vigor da actual Constituição da República, dois partidos têm alternado na governação, PSD e PS.

Em linguagem simples, segundo a Lei de Gresham, «a má moeda tende a expulsar do mercado a boa moeda». E isto passa-se também em política. A ’boa moeda’ são os partidos que não pertencem ao ‘Centrão’, e a ‘má moeda’ é o ‘Centrão’, o PS e o PSD.

PS e PSD são as duas faces de uma mesma moeda que é o ‘Centrão’, que não cria riqueza para o país, mas sim clientelas tentaculares, geradoras de corrupção e enriquecimento próprio, enquanto os portugueses sofrem a debacle do sistema público de saúde, da escola pública, dos serviços públicos, da Justiça.

Poderá haver no próximo 10 de Março ‘voto útil’ à Esquerda e à Direita, seja no PS, seja no PSD agora ‘travestido’ de AD.

«Há vida para além do ‘Centrão’!» Basta os Portugueses quererem, votando à Direita e à Esquerda nos partidos fora do ‘Centrão’, por uma vez não exercendo o tão famigerado ‘voto útil’.

«Que se lixe o ‘Centrão’!» Há alternativa, à Direita e à Esquerda, a este terrível ‘Centrão’ de tudo e do seu contrário.

A Esquerda tem como alternativa ao PS partidos Estalinistas e Trotskistas.

A Direita tem nos Liberais e nos Conservadores, a alternativa ao voto no PSD/AD. Com o regresso do PSD a governar Portugal, pouco ou nada será diferente da presente governação socialista.

O Liberalismo e o Conservadorismo são alternativos ao Socialismo.

Se a Direita não efectivar o ‘voto útil’, nada ficará como dantes.

Mário Casa Nova Martins

quinta-feira, março 07, 2024

Desabafos 2023/24 - XI

A Lei de Gresham é um princípio económico que diz que uma moeda sobrevalorizada (tem um valor determinado por uma autoridade monetária acima do valor de mercado) expulsa uma moeda subvalorizada (tem um valor determinado pela mesma autoridade abaixo do valor de mercado).

Em linguagem simples, segundo a Lei de Gresham «a má moeda tende a expulsar do mercado a boa moeda». E isto passa-se também em política. A ’boa moeda’ são os partidos que não pertencem ao ‘Centrão’, e a ‘má moeda’ é o ‘Centrão’, o PS e o PSD.

Com o ‘voto útil’ o ‘Centrão’ faz com que os outros partidos fora dele não tenham capacidade de influência e desta forma o ‘Centrão’ governa despoticamente, como é exemplo mais recente a maioria do PS que por causa de problemas com a Justiça caiu com estrondo, levando às eleições legislativas antecipadas de 10 de Março próximo.

Que se lixe o ‘Centrão’, esse bloco central de interesses, composto por PSD e PS que tudo governa em Portugal nas últimas décadas, nas juntas de freguesia, autarquias, governos regionais e governo da República.

Fomentadores, PS e PSD, de corrupção, banca rota, crise na Saúde, crise na Educação, crise nos Serviços Públicos, crise na Justiça, em suma um ‘Centrão’ asfixiante que tudo controla, que tudo tutela e que vive à custa dos impostos que cobra aos Portugueses.

Mas há vida para além do ‘Centrão’, basta os Portugueses quererem, votando à Direita e à Esquerda nos partidos fora do ‘Centrão’, por uma vez não exercendo o tão famigerado ‘voto útil’.

 À direita do ‘Centrão’, Liberais e Conservadores podem determinar o sentido da governação, se sobre eles não recair o famigerado ‘volto útil’!

Que se lixe o ‘Centrão’! Há vida para lá do Centrão! Votar Conservador ou Liberal são alternativas ao PSD ‘travestido’ de AD!

Mário Casa Nova Martins

4 de Março de 2024

Rádio Portalegre