\ A VOZ PORTALEGRENSE: abril 2010

sexta-feira, abril 30, 2010

Ciclo de Conferências de Senadores - II

Foto: André Relvas / Fonte Nova

Primeira República e Amor à Pátria

Teve lugar na passada quarta-feira dia 28 a segunda Conferência de Senadores, agora com José Veiga Simão.
Começa-se por se dizer que uma vez mais foram as ‘ausências’ que as ‘presenças’, provando-se outra vez, se tal ainda fosse necessário, que em Portalegre a Cultura ‘anda de rastos’, assim como a vida política, económica e social da Cidade.
O presidente do Instituto Politécnico de Portalegre, Joaquim Mourato, fez uma breve apresentação, tecendo os encómios justos e dito as palavras certas. A crise do Ensino em Portugal, à qual o Conferencista viria a referir-se mais tarde, também esteve presente na apresentação, e faça-se justiça ao IPP pela iniciativa que está a levar a cabo, no sentido de aproximar a Escola da Cidade e da Região. E tudo no dia em que já se sabia que o jornal O Distrito de Portalegre, uma Instituição de Portalegre, iria no dia seguinte ‘fechar portas’, num processo de forte incompetência de quem o dirigia e de quem o tutelava.
Foto: André Relvas / Fonte Nova

António Martinó de Azevedo Coutinho fez a apresentação de Veiga Simão, utilizando para tal um Diaporama, método que domina na perfeição. Também falou antes e depois da apresentação do Diaporama. Mas através do Diaporama, durante mais de vinte minutos, foi ‘desfilando’ parte da vida e obra de Veiga Simão, tudo acompanhado por música e canção de intervenção de, entre outros, José Afonso e Manuel Freire.
Ao todo, foram largos minutos em que um percurso de vida foi dissecado com saber e mestria.
Foto: André Relvas / Fonte Nova

Não é despiciendo relembrar que o anterior Conferencista fora António Arnaut, e que a Conferência foi de uma qualidade excelente. Então, o Apresentador insistiu na problemática do Serviço Nacional de Saúde, e refira-se que na assistência estava ‘em peso’ a célula local dos médicos do PCP, mas António Arnaut ‘foi muito mais do que isso’, e a sua Conferência teve brilhantismo.
Veiga Simão trouxe um texto escrito, mas utilizou-o em muitos momentos apenas como guião, e deu à farta assistência uma ‘lição de cátedra’. António Arnaut e José Veiga Simão são decididamente representantes de outros tempos, de outras Gentes!
Perante a insistência do Apresentador, António Arnaut disse que não vinha para falar do SNS, o que cumpriu. Veiga Simão disse que iria falar principalmente da Primeira República e fazer um paralelo entre a Ética Republicana e o tempo presente. Esta temática também fora abordada por António Arnaut, e desta vez se a ‘forma’ era semelhante, o ‘conteúdo’ foi diferente, o que veio enriquecer mais este ainda ‘curto’ ciclo que se estenderá até ao Outono de 2010.
Na Apresentação, António Martinó já tinha introduzido a temática que Veiga Simão iria desenvolver, o que se tornou numa mais-valia. Apelidou Veiga Simão como um Homem das Três Repúblicas, e acentuou o carácter de inovação na contribuição de Veiga Simão na área da Educação em Portugal, recorrendo entre outros a Rómulo de Carvalho.
José Veiga Simão aceitou plenamente ser um Homem das Três Repúblicas, tal como António Martinó dissera na Apresentação, embora da Primeira República apenas a vivesse através da memória de seu Pai, pessoa que ao longo da Conferência se provou ser Alguém fundamental na formação Cívica de Veiga Simão, o professor, o político e o Homem.
Abordando o estado de Educação em Portugal, comparou-a às Capelas Imperfeitas do Mosteiro da Batalha e o simbolismo que encerram. Disse que ‘a verdadeira educação assemelha-se às Capelas Imperfeitas’.
Afirmou que ‘vive-se um tempo de grande dificuldade na vida dos portugueses’ e acrescentou que ‘hoje o desejo de civilidade, de democracia participativa’ deve nortear todos sem excepção.
De facto, não viveu na Primeira República, mas que na sua vida ela esteve sempre presente. Recordou que na sala de jantar dos pais estava um retrato de António José de Almeida, para ele uma figura tutelar. Fora seu Pai quem lhe explicara os motivos pelos quais admirava António José de Almeida.
A sua vida decorrera em três continentes. Na Europa em Inglaterra, em África em Moçambique, que apelidou de sua segunda Pátria, e na América do Norte nos Estados Unidos da América. Em todos aprendera e deles recebeu uma mundovisão que lhe tem sido ‘companheira’ no seu dia-a-dia.
Considera que em Portugal ‘não há visão estratégica que nos permita perspectivar o futuro’, acrescentado que ‘muitas instituições hoje não são credíveis’. Portugal está na Europa de pleno direito, ‘mas tem ostracizado a componente atlântica’, realidade que combateu quando da última vez que foi ministro. E ao falar das suas passagens por diferentes governos, disse-se ‘ocasionalmente político’.
Um acto político de que se orgulha foi o de ter mandado inscrever no Monumento à Guerra de África junto ao Tejo o nome de todos os que deram a vida pela Pátria na Guerra Colonial. Outro foi o de ter dado a maior dignidade ao Cemitério onde repousam os Mortos portugueses da Primeira Guerra Mundial em França.
Ao referir-se a Moçambique falou nas ‘riquezas inexploradas de Moçambique', as quais lhe podem proporcionar um futuro de paz e prosperidade.
Falou da barbárie da Guerra abordando a Primeira Grande Guerra e a Guerra Civil de Espanha. Disse-se, tal como seu Pai, Anglófilo durante a Segunda Grande Guerra. Considerou o ano de 1922 um ano importante para a História de Portugal com a visita de Estado de António José de Almeida ao Brasil, a travessia do Atlântico entre Lisboa e o Rio de Janeiro por Gago Coutinho e Sacadura Cabral, e o pleno restabelecimento das relações entre Portugal e a Santa Sé. Tudo depois de falar da importância que a Primeira República deu ao Ensino, principalmente ao pré-escolar e à escolaridade obrigatória, elogiando a Reforma de João Camoesas. Mas não esqueceu os insucessos como os ataques à Religião ou à contínua queda dos Governos e a instabilidade política daí resultante.
Mas o grande legado da Primeira República é para José Veiga Simão o Amor à Pátria. A palavra Pátria foi muito utilizada ao longo da Conferência por parte do Conferencista. Veiga Simão deu uma lição de Portuguesismo, diga-se sem temer os ventos que vão destruindo o Portugal Democrático em que vivemos. Fraca gente a que nos governa, e que a outro nível se pode dar como exemplo aquela que ditou o fim do mais que centenário jornal O Distrito de Portalegre. É que há pastores de Homens e pastores de Almas!
Veiga Simão termina a sua Conferência citando José Régio e declamando excertos do ‘Cântico Suspenso’. Mas, sempre insistindo que hoje a Ética Republicana está adulterada, ainda voltou a afirmar que ‘a Ética Republicana tem que voltar a ser apanágio nos que governam a Pátria Portuguesa’.
Mário Casa Nova Martins
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Maria Helena Freire e Mário Silva Freire
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Carlos Juzarte Rôlo e Arlanda Gouveia
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Francisco Rolo e José Campino
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Moçambique, 'ontem' e 'hoje'

Grande Hotel - Beira, Moçambique

Antes de 25 de Abril de 1974
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Antes de 25 de Abril de 1974

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Em 2007
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Em 2007
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Mário

quinta-feira, abril 29, 2010

O Distrito de Portalegre

O FIM


O vil metal

Ao fim de contas, é só o que interessa...
Podemos tentar consolar-nos com o facto de termos feito um jornal hodierno, capaz, em termos de design, de ombrear com qualquer outro jornal regional, com conteúdos capazes de cumprir o dever de informar, com opinião capaz de alargar os horizontes para além do que aconteceu, dando sentido e até prevendo o que irá acontecer, mas não fomos capazes de produzir riqueza.
Temos a melhor equipa possível, com gente competente e humanamente bem formada, um ambiente de trabalho de fazer inveja a qualquer empresa, mas isso não é conversível em euro e, embora valha muito, não tendo preço, acaba soterrado no desequilibro da pilha do deve e do haver.
Temos os melhores leitores e assinantes do mundo, que contribuíram com o que puderam, mas que não chega para continuar a pagar salários e fornecedores.
Temos os melhores anunciantes possíveis, mesmo aqueles que nos continuam a dever aos milhares o dinheiro de que precisávamos, como de pão para a boca, os sérios não foram suficientes para ofuscar os incumpridores.
Temos os melhores fornecedores possíveis, pacientes e compreensivos, mas precisam de pagar os seus compromissos como gostaríamos de poder pagar os nossos.
Por isso, e apesar do projecto DP fazer hoje tanta falta à cidade e à região, como sempre fez, ao longo dos 126 anos que neste número se encerram, fechamos as portas.(...)

Mário Silva Freire

CRÓNICAS DE EDUCAÇÃO
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Ensinar e aprender
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“O professor não ensina: ajuda o aluno a aprender”.
A frase é extraída de um livro que foi editado no início dos anos 60, mas que hoje, mais do que nunca, tem plena actualidade. Ela é repetida, em rodapé, em letras maiúsculas, ao longo da obra, cerca de trinta vezes.
Ora, “ensinar” não tem o mesmo significado que “aprender”. O primeiro termo centra-se na acção do professor. Mas o fim último dessa acção é que o aluno aprenda. Por melhores recursos pedagógicos que o professor tenha à disposição; por mais modernos que sejam os equipamentos disponíveis; por mais confortáveis que possam ser as instalações; por mais actualizadas que sejam as formações científica e pedagógica dos docentes; por mais atraentes que sejam as suas condições de trabalho e de remuneração, se não houver aprendizagem dos alunos, ao serviço de quê estarão esses recursos, equipamentos, instalações, formação e condições de trabalho?
Há que criar nos alunos, antes de mais, valores que se traduzam em objectivos que norteiem as suas actividades de aprendizagem. Ensinar sem objectivos não ajuda o aluno a aprender. Mas esses objectivos, para serem mobilizadores, terão que ir ao encontro das suas necessidades. Nem sempre essas necessidades serão devidamente percepcionadas por ele. Cabe, então, ao professor torná-las conscientes e, depois, dar-lhes as condições para serem satisfeitas.
Para que serve isto que estou a estudar? Eis uma interrogação que, frequentemente, o aluno coloca e que não pode ficar sem resposta. Ora, o professor deverá tentar encontrar sempre uma razão que o aluno entenda e que justifique a aprendizagem que vai fazer, qualquer que seja a disciplina ou matéria a tratar. E razões não faltam, desde aquelas que se prendem com a resolução de problemas da vida quotidiana, passando pelas que se ligam ao seu futuro como cidadão ou cidadã, até às outras que tentam dar resposta a interrogações sobre o funcionamento da Vida, da Natureza, do Universo, da Sociedade. É no suscitar deste “apetite” para o aprender do aluno que poderia começar o ensino do professor.
Mas os pais não ficam isentos da responsabilidade de fazer nascer nos seus filhos esse desejo de conhecer. Eles terão que se esforçar por encontrar as razões que expliquem que só o conhecimento lhes poderá abrir as portas do futuro.
Mário Freire
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1 Lima, Lauro de Oliveira (1962), A Escola Secundária Moderna, Rio de Janeiro: Editora Fundo de Cultura

in, O Distrito de Portalegre, 29 de Abril de 2010, p.10

Escola Silvina Candeias

quarta-feira, abril 28, 2010

António Martinó de Azevedo Coutinho

O Instituto Politécnico de Portalegre associa-se aos festejos nacionais do Centenário da República. Para comemorar a efeméride programou um Ciclo de Conferências de Senadores, subordinadas ao tema “A República e o Mundo”, que teve início na segunda quinzena de Março.
Com este acontecimento pretende-se reflectir, não tanto sobre o facto histórico em si, matéria mais do âmbito dos historiadores, mas sobre alguns percursos que nos transportaram ao Portugal contemporâneo.
Confirmadas estão as participações de ilustres conferencistas que, com a sua experiência e sabedoria, vão reflectir sobre as relações entre Portugal e o Mundo de hoje.
Contamos consigo!
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2.ª Conferência: dia 28 de Abril, pelas 18h00, no auditório dos Serviços Centrais
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Moderador: António Martinó de Azevedo Coutinho
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Conferencista: José Veiga Simão
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José Veiga Simão nasceu em 1929 na Guarda. Foi em Coimbra e na sua Universidade que em 1951 se licenciou em Ciências Físico-químicas e que em 1961 foi seu Professor catedrático, após o doutoramento em Física Nuclear que realizou na Universidade de Cambridge em 1957.
Entre 1963 e 1970 foi Reitor da Universidade de Lourenço Marques, em Moçambique.
Mas é fundamentalmente a partir de 1970 que a sua vida profissional ganha outra dimensão, passando, a partir daí, a ser um professor universitário com grandes responsabilidades políticas, responsabilidades que manteve ao longo de três décadas.
De 1970 a 1974 foi Ministro da Educação Nacional, tendo ficado ligado a reformas profundas no sistema educativo português. A “Reforma Veiga Simão”, como ainda hoje é conhecida aquela etapa reformista da educação, assentou, por um lado, em pressupostos de “educação de todos os portugueses” e da “democratização do ensino” e, por outro lado, em projectos concretos de reforma do sistema escolar e de linhas gerais de reforma do ensino superior.
Após o 25 de Abril de 1974, assume, entre outros, os seguintes cargos públicos: é Embaixador de Portugal na ONU (1974-1975), Presidente do Laboratório Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial (1978-1983 e 1985-1992), Ministro da Indústria e Energia, após ter sido eleito deputado (1983-1985) e Ministro da Defesa Nacional (1997-1999).
José Veiga Simão, um trajecto de vida ímpar: um aluno extraordinário, um professor universitário brilhante, um cidadão e um político com forte comprometimento social.

Luís Pargana

DESABAFOS – XIV

Sessão solene

No Domingo passado a Revolução de Abril fez anos. 36!
Quando se faz anos costuma fazer-se uma festa. Comemorar-se! Ainda mais quando se trata de um acontecimento maior da nossa história colectiva, como é a instauração da Liberdade e do Regime Democrático.
Em Portalegre, no Domingo, a Câmara Municipal comemorou o 25 de Abril com um hastear da Bandeira e uma Sessão Solene.
Nesta Sessão discursaram os Partidos. Os que têm assento na Assembleia Municipal, mais o Bloco de Esquerda, porque o Presidente da Câmara o convidou. Democraticamente, ou não fosse o Dia 25 de Abril.
Naturalmente, nos seus discursos, solenes como manda a sessão, cada Partido expressou os seus pontos de vista sobre a Revolução - golpe de estado, para o CDS…
Não deixou de ser curioso que foram os discursos do CDS e do PSD os únicos que falaram de Otelo, de Vasco Gonçalves, de Vasco Lourenço. Evocaram também a Reforma Agrária e as Nacionalizações. O PREC, como ficou conhecido o Processo Revolucionário em Curso. E fizeram-no, ao mesmo tempo que criticavam o saudosismo do 25 de Abril e depreciavam os cravos chamando-lhes arranjos florais. Nos seus discursos, falaram até da União Soviética, da Carbonária e dos Jacobinos.
Foram discursos modernos, sem dúvida. Imbuídos de pragmatismo.
E, tal como quando se cospe na sopa que se está a comer, foram discursos que aproveitaram a comemoração de Abril para dele escarnecer. Pelo menos do seu dia 25. Que “chatice”… tivesse este mês menos um dia e teríamos tido discursos mais alegres, menos amargurados no seu conteúdo.
O último discurso foi do Presidente da Câmara. Diferente de todos os outros porque se pôs fora dos Partidos. Acima deles. No final convidou todos os presentes, com a solenidade da ocasião, a aproveitarem a tarde do Dia 25 de Abril para visitarem a Feira de Doçaria Conventual que decorria no Mosteiro de São Bernardo. Acrescentou que isso poderia “adoçar algumas bocas mais amargas”…
E foi então que percebi porque é que a comemoração do 25 de Abril de Mata Cáceres se resume à Feira de Doçaria Conventual, arriscando desafiar os dias já mais quentes do final do mês de Abril: Para adoçar algumas bocas mais amarguradas com a Revolução que aconteceu, em Portugal, há 36 anos.
É caso para dizer que se não há Festa, pelo menos que haja bolos…
Eu, por mim, digo: 25 de Abril, sempre!
27/04/2010
Luís Pargana

CEA - Centro de Estudos do Autoconhecimento

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terça-feira, abril 27, 2010

António Martinó de Azevedo Coutinho

ÀS TRÊS, FOI DE VEZ?

Notas de viagem – Brasília, 50 anos

No passado ano, em distintas oportunidades, dispus do ensejo de conhecer as três capitais do Brasil: Salvador da Baía, Rio de Janeiro e Brasília.
Foram-no em sucessivas etapas da História do grande país irmão, as duas primeiras ainda na fase dos tempos que, unidos, partilhámos.
Salvador, tornada capital pelo governador Tomé de Sousa a partir de 1549, na época pioneira da colonização portuguesa, é uma cidade carregada dos vestígios e marcas da nossa presença. Depois, em 1763, nos tempos do Marquês de Pombal, este ordenou a transferência dos atributos de capital da imensa colónia para Rio de Janeiro, a “cidade maravilhosa”, por onde ficaram os governantes, mesmo após a independência. Finalmente, já na era contemporânea, o presidente Juscelino Kubitschek concretizou uma das suas visões de modernidade, fazendo construir a cidade de Brasília na imensa vastidão do Planalto Central.
Agora, precisamente a 21 de Abril, comemoraram-se, com pompa e circunstância, os 50 anos de vida dessa nova, e jovem, capital do Brasil. Os meios de comunicação social trouxeram-nos, e a todo o Mundo, esses ecos festivos. Lembrei-me, por isso, dos dias por lá passados e, daí, senti o impulso de partilhar com os leitores do blog uma espécie de pessoal nota de viagem, ainda carregada das impressões contraditórias então colhidas.
Pelos finais da primeira metade do passado século, o urbanista Lúcio Costa partilhou com o arquitecto Óscar Niemeyer os planos e os desenhos da futura capital federal. Os seus curiosos e sintonizados testemunhos públicos revelaram sempre os principais objectivos de construção, a partir do zero, de uma cidade de tamanho limitado, sossegada e inovadora, com qualidade de vida quase ideal. A prevista integração entre os homens e a arquitectura permitiria, em teoria pura, o desenvolvimento dum comércio local sem atropelos, a ausência de industrialização e de todos os outros focos de poluição, largas avenidas sem semáforos e o mais tranquilo trânsito automóvel. Em suma, poucos prédios, pouca população, poucos automóveis e pouca burocracia. E, no entanto, os planos foram traçados com ambição: onde havia 81 deputados para encher, ao tempo, o Congresso, foi previsto o dobro dessa lotação. Mas hoje são 513 os parlamentares. O Palácio do Planalto foi concebido, com largueza de vistas, para 200 funcionários. Agora tem 700. E todos os exemplos são desta escala...
O resultado está à vista: para além das lindas vistas de bilhete-postal que todos conhecemos das páginas policromadas das revistas e por isso declarada Património da Humanidade, pela Unesco, em 1987, resultou uma cidade desequilibrada e macrocéfala, sem a projectada e desejada dimensão humana.
A desproporção entre as bem-intencionadas teorias e as desajustadas práticas obtidas é por demais evidente nos mais vulgares actos do quotidiano. Não existem placas indicativas e quase tudo é longe, demasiado longe e distante, mesmo para quem não tenha qualquer dificuldade de locomoção. Portanto, viver em Brasília sem dispor de automóvel próprio pode tornar-se uma dificuldade insuperável, dado o congestionamento dos percursos urbanos de autocarros e a flagrante ausência de uma rede central de metropolitano, que apenas liga os “dormitórios” satélites à periferia da grande cidade. Restam os táxis, abundantes e baratos.
Comunidade (ainda) sem passado, Brasília não dispõe de qualquer museu significativo, embora se aceite sem reservas a sua própria e elegante monumentalidade como uma mostra pública de bom gosto estético, ao ar livre. No entanto, as grandes peças urbanísticas e monumentais envelheceram sem qualquer manutenção adequada e o seu estado de degradação é bem visível se estivermos suficientemente próximos e atentos.
Os espaços privilegiados de convívio são, afinal como nas mais vulgares cidades, os gigantescos shoppings... E o que resta a Brasília? Se subirmos ao alto da sua Torre da TV, podemos perceber um pouco das suas contraditórias potencialidades: a arrojada elegância do seu traçado, imitando um avião, com os Eixos Monumental e Rodoviário (a fuselagem) e as Superquadras Norte e Sul (as asas), com o belo lago artificial Paranoá ao fundo, as abundantes zonas verdes e o “Centro do Poder” (no lugar da cabina), onde se instalaram os Palácios do Planalto, da Justiça, do Supremo Tribunal Federal, do Itamaraty e do Congresso Nacional (todos na Praça dos Três Poderes), mais a longuíssima Esplanada dos Ministérios, os Sectores das Embaixadas e, um pouco afastados, o Teatro Nacional e a Catedral. De cada lado, embora longe da Torre da TV, a Universidade Federal (uma das melhores do País) e o Cine Brasília, algo decrépito; nas costas (onde estaria o leme do avião), o Memorial JK, em honra do presidente-fundador.

Se acrescentarmos as áreas residenciais, os sectores dos hotéis de turismo, dos restaurantes e dos clubes desportivos, com o Estádio Mané Garrincha (onde a nossa selecção de futebol foi há meses humilhada), o autódromo internacional e o magnífico Parque da Cidade, dedicado à primeira-dama Sarah Kubischek, quase se esgota a lista. Se lhes juntarmos o Palácio da Alvorada (residência presidencial) e a fabulosa ponte JK talvez se complete a relação, relativamente modesta, dos pólos de atracção da moderna capital de um dos maiores, mais progressistas e mais desiguais países de hoje, “apenas” a 10.ª maior economia do Mundo.
Depois, vive-se freneticamente por todos aqueles espaços e é aqui que os estudiosos e críticos locais assentam as suas objecções: a nova capital abrasileirou-se muito depressa, incorporando os clássicos problemas do País, da violência à corrupção, do desemprego à discriminação, da competitividade desenfreada à especulação imobiliária...
Nas suas grandezas como nas suas misérias, Brasília será afinal o espelho fiel da orgulhosa Nação que, num curto espaço de tempo, foi capaz de a erguer do nada. Neste “pormenor” talvez esteja o segredo do seu lendário fascínio: os 140 164 habitantes da zona, em 1960, passaram a 2 606 885, em 2010; o seu PIB “per capita” cresceu, no mesmo período, de 484 para 15 844 unidades monetárias...
Salvador da Baía, Rio de Janeiro, Brasília - quem nos garante que, num futuro de crescente prosperidade para o Brasil, esta relação de capitais ficará por aqui?
António Martinó de Azevedo Coutinho
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domingo, abril 25, 2010

Luís Filipe Meira

 Trilogia Millennium

Steg Larsson, jornalista e editor da revista Expo foi um dos maiores peritos mundiais no estudo de movimentos antidemocráticos, de extrema-direita e nazis. Morreu subitamente depois de entregar à editora sueca os três volumes da trilogia Millennium, que estava pensada para dez. A trilogia Millennium desenvolve uma investigação jornalistica de ficção centrada no crime económico e no abuso de autoridade. Os direitos das mulheres também são tratados nesta obra que se estende por mil e novecentas páginas acondicionadas em três volumes que sendo autómonos também se completam. Os protagonistas são o jornalista Mikael Blomkvist, director da revista Millennium e a estranha e inadaptada Lisbeth Sandler, uma hacker de primeira linha que sofreu ao longo da sua curta existência abusos de toda a espécie.
João Mário Silva escreveu na revista Ler, que o segredo das aventuras de Blomkvist e Sandler está no seu carácter viciante: quem começa a ler, não consegue parar. Na net há relatos das insónias de pessoas que leram os livros (cada um com cerca de 500/600 páginas) de uma só vez, bem como descrições da sindrome de abstinência que passaram os mais fanáticos, antes da publicação do volume seguinte. Abstendo-me de comentar estas situações fundamentalistas e radicais, sempre vos digo que eu, leitor medíocre e preguiçoso, acabei ontem de ler o 3º volume cujas 715 páginas 'despachei' em pouco mais de três dias. E se demorei tanto a pegar-lhe – tenho-o há quatro ou cinco meses – foi porque sabia que logo que o começasse dificilmente o deixaria e isso naturalmente iria afectar o meu quotidiano.
Esta trilogia produziu as respectivas versões cinematográficas que nem de perto nem de longe fazem jus aos livros, antes pelo contrário, pois nem chegam a aguçar no espectador a curiosidade de ler os livros.

A proposta aqui fica, se for aceite vai provávelmente dar-me razão senão... paciência será uma oportunidade perdida em partilhar momentos inolvidáveis com Mikael Blomkvist e Lisbeth Sandler.
Luís Filipe Meira

sábado, abril 24, 2010

Mário Silva Freire

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XVI Feira de Antiguidades e Livro Antigo

in-libris
Lg José Moreira da Silva, 11-Sala A
Porto 4000-312
telefone & fax 22 5105038
telemóvel 91 999 15 97

e-mail in-libris@in-libris.pt

Queima das Fitas 2010

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Clique no quadro para visualizar
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Noites no Parque

2 de Maio (Sexta-Feira)
- Fingertips
- The voices of Bob Sinclair & David Gueta – Gary Nesta Pine, Tara Mcdonald e Cozi
- Sexy Sound System
- As Fans


3 de Maio (Sábado)
- Hands On Approach
- David Fonseca
- Anthony B
- Tuna de Medicina da Universidade Coimbra
-Tuna Feminina de Medicina da Universidade de Coimbra


4 de Maio (Domingo)
- GandaMalucos
- Tiago Silva
- José Malhoa
- Hi-Fi
- Fan-Farra


5 de Maio (Segunda-Feira)
- Diabolo
- Quinta do Bill

- Primitive Reason
- Estudantina


6 de Maio (Terça-Feira)
- Soulbizness
- Mind da Gap
- Clã
- In Vino Veritas
- As Mondeguinas


7 de Maio (Quarta-Feira)
- Moranguitos
- Jorge Palma
- Yves LaRock feat Jaba
- Phartuna
-Imperial Taffuc


8 de Maio (Quinta-Feira)
- Pluma
- Ez Special
- Gabriel, o Pensador
- Coral Quecofónico do Cifrão


9 de Maio (Sexta-feira)
- Klepht
- Tiago Bettencourt
- Groove Armada Dj set
- Grupo de Cordas
- Orxestra Pitagórica


10 Maio (Sábado)
- Dapunksportif
- James
- Mesa
- Rags
- Grupo de Fad
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Preço dos Bilhetes Gerais
- Bilhete Geral de Parque: €47
- Bilhete Geral de Parque + Chá Dançante + Garraida: €55
- Bilhete Geral de Parque + Chá Dançante + Garraida + Baile: €67

sexta-feira, abril 23, 2010

António Martinó de Azevedo Coutinho

Publicidade Global ou A Arte dos Limites

Uma vez mais é o pretexto dos interessantes posts aqui colocados que me desperta a vontade de partilhar um pouco, seleccionado, do que vou descobrindo nas frequentes navegações, mais ou menos orientadas, que pratico Net fora.
Agora foram dois esses recentes “detonadores”: o cartaz publicitário com Raul Castro receoso do rato, genial metáfora alusiva à persistente falta de respeito dos dirigentes cubanos pelos direitos humanos e à inerente censura praticada a tal propósito, assim como a imagem inicial do vídeo Empire State of Mind, na interpretação de Alicia Keys e Jay-Z, tendo o “casario” típico dessa fabulosa Nova Iorque por pano de fundo.
A conjugação dum invulgar produto publicitário com o inconfundível ambiente urbano de Manhattan fez-me lembrar o trabalho de uma conceituada agência brasileira dessa área criativa, a DM9DDB. Esta firma, galardoada com o título mundial de Agência do Ano no prestigiado Festival Internacional de Publicidade de Cannes de 2009, produziu um vídeo extremamente polémico, que desencadeou os mais entusiásticos elogios e, simultaneamente, os mais inflamados protestos.
Nem sequer me atrevo a emitir aqui uma opinião pessoal, que naturalmente detenho, para não influenciar o juízo que cada leitor/espectador tem o direito de produzir a propósito.
O que posso acrescentar é o facto de o vídeo ter sido alegadamente produzido para apoiar uma campanha, financiada pela WWF Brasil, uma prestigiada Organização não Governamental dedicada às causas ambientalistas. O tema é simples: “O Tsunami matou 100 vezes mais pessoas que o atentado de 11 de Setembro de 2001. O planeta é brutalmente poderoso; por isso respeite-o e preserve-o.”
Ao que parece, o vídeo foi apresentado na Net e logo divulgado pelo YouTube. Tal aconteceu entre os finais de 2008 e os princípios de 2009 e a reacção foi quase instantânea e global, tanto no sentido do apreço como no do desprezo, um e outro extremados a limites quase inconcebíveis.
O resultado foi, igualmente, apaixonado: a Agência ordenou a retirada imediata do vídeo da circulação, desculpou-se publica e veementemente, repreendendo mesmo os próprios criadores, jovens profissionais da firma, enquanto a WWF Brasil repudiou liminarmente o anúncio, considerando-o ofensivo e de mau gosto, afirmando ainda que não autorizara a sua produção nem a sua divulgação. Mais: a Organização lembrou que, cientificamente, os tsunamis nada têm a ver com preservação ou conservação da Natureza, sendo causados por terramotos e outras forças geológicas...
Restar-nos-á, certamente, alguma perplexidade derivada do binómio forma versus significado. A ética aceitará a elaboração de um discurso formalmente bem intencionado que parta de uma certa ilegitimidade no conteúdo?
Poderemos (ou deveremos) despertar as consciências pelo choque criativo? Existem, de facto, alternativas no universo publicitário de hoje?
Como quase sempre acontece, o polémico vídeo com apenas 70 segundos de duração, embora oficialmente retirado da Net, pode ser encontrado noutros sítios. É o seu visionamento que vos propomos, assim como uma necessária reflexão. Depois, cada qual poderá concluir sobre a sua validade ou a sua inutilidade, sobre os seus méritos e vantagens ou os seus defeitos e riscos...
Em diálogo íntimo connosco ou no confronto com as opiniões alheias, talvez, no final, aprendamos qualquer coisa.
António Martinó de Azevedo Coutinho
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quinta-feira, abril 22, 2010

Portalegre no seu melhor!

Maria De La Sallete
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Mário Casa Nova Martins

quarta-feira, abril 21, 2010

Luís Pargana

DESABAFOS - XIII

Abril

Estamos em Abril, mês de Primavera e de Revoluções!
Em Abril aconteceu a nossa Revolução, o 25 de Abril, corria o ano de 1974. Portugal acordou do seu sono letárgico, rejubilou de e abriu-se ao Mundo e à Esperança. Como é próprio das Revoluções, o País fez as suas rupturas, traçou caminhos, travou combates, fez aprendizagens e conquistas e foi construindo um caminho que consolidou a nossa liberdade e a democracia.
Este ano, comemoram-se 36 anos da Revolução portuguesa. Hoje poucos pensam no salto imenso que resultou da acção daquela madrugada de 74. Na revolução de valores que despontou dos canos das espingardas e dos punhos que então se ergueram um pouco por todo o lado. Nos direitos que se conquistaram – o direito a ter opinião e expressá-la, o direito a uma vida melhor, o direito à dignidade humana.
O País mudou!
Mas, Abril não resolveu todos os problemas do País, e muito menos do Mundo. Foi um passo no processo de desenvolvimento e de progresso, mas apenas um primeiro passo de um caminho longo e complexo que não cessa o seu percurso, enquanto durar a nossa existência colectiva.
36 anos depois da Revolução a democracia portuguesa está ainda longe de atingir a sua maturidade. É uma democracia jovem e cercada por tentações próprias do Mundo neo-liberalizado em que vivemos – tentações de poder, de enriquecimentos fáceis, tentações de egoísmo, individualismo e intolerância que contrariam os valores de igualdade, fraternidade e solidariedade proclamados em 25 de Abril de 74.
Uma das mais sólidas instituições resultantes da Revolução de Abril foi o Poder Local Democrático – as autarquias locais, Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia, eleitas pelas populações de 4 em 4 anos e que devem ser agentes de desenvolvimento local, próximos das populações e prestando contas directas das suas opções e actividades.
O sistema autárquico português é um exemplo de sucesso em toda a Europa, de administração municipal. No entanto, tem também os seus vícios e as excepções que confirmam a regra. Mas, que, pela proximidade que têm às populações acabam por ser um mau exemplo da forma de fazer política que em nada dignificam esta instituição de Abril.
Não falo de casos extremos e mediáticos, como são os exemplos de “Fátima Felgueiras”, “Isaltino Morais” ou de “Avelino Ferreira Torres”, que trouxeram para as autarquias o ónus da suspeição quanto à transparência das gestões municipais e da promiscuidade entre o interesse público e os interesses particulares, mas refiro-me a um dos maiores problemas dos nossos tempos, associado à inversão de valores que vai grassando pelo País – o chamado “chico-espertismo”, que faz com que sejam valorizadas práticas de desprezo para com as regras e as normas de boa conduta e convivência.
É este “chico-espertismo nacional” que está na génese dos desvios no exercício do poder no nosso País, nos problemas de corrupção e de controlo de pessoas e instituições que têm vindo a lume nos últimos tempos.
Mas, o problema começa nas famílias, quando o pai se gaba de não ter pago o pacote de gomas no supermercado, por distracção da rapariga da caixa, ou quando justifica a gazeta à escola, do seu filho, inventando um qualquer problema de saúde.
Continua na escola quando se banaliza a ideia de que copiar num exame só é errado quando se tem o azar de ser apanhado, ou de que não tem mal cometer falta sobre o adversário desde que o árbitro não veja.
Gabar-se de ter metido uma nota na carta de condução, para não se ser multado na estrada, ou de receber um subsídio indevido por falcatruar a declaração de IRS, são comportamentos recorrentes e que dizem muito do modo como nos relacionamos em sociedade e dos exemplos com que nos identificamos.
Voltando ao Poder Local Democrático, que resultou do 25 de Abril, sendo um dos mais importantes patamares da gestão pública no nosso País, é também um espelho do que de bom e de mau existe na nossa sociedade. Por isso, o exercício de um mandato autárquico, conferido pelo voto popular, deve ser entendido como uma responsabilidade acrescida de exemplo cívico e de cidadania.
É que Abril também tem o seu dia 1 e isso é um mal que afecta por vezes as instituições e os titulares de cargos públicos…
Por isso, não posso deixar de desabafar sobre a facilidade com que, por vezes, se mente no exercício destas funções, sem qualquer pudor em relação a essa mentira, por muito insignificante que possa parecer. Como, por exemplo, votar contra a acta, de uma reunião, alegando em declaração de voto que foi sonegada a possibilidade da sua leitura, quando a mesma foi fotocopiada, entregue, lida e corrigida nessa mesma reunião.
Quem mente por tão pouco é capaz de mentir por muito mais, desde que lhe sirva os propósitos e ainda que à custa da dignidade das pessoas. Enfim, trata-se, afinal, do tal “chico-espertismo” que o País tem de erradicar, porque lhe tolhe o desenvolvimento e a maturidade.
Em Abril, mês de revoluções, é tempo, também, para falarmos de valores. E para se mudarem comportamentos.
20/04/2010
Luís Pargana

terça-feira, abril 20, 2010

Luís Filipe Meira

No CAEP
A Contornar a Crise

Taxi Taxi! e Sean Riley

Longe vão os tempos em que nestas páginas referia, com alguma mágoa, que a oferta de espectáculos promovida pelo CAEP era quase excessiva, pois dificilmente um orçamento familiar normal conseguia acompanhar as propostas apresentadas. Hoje, a oferta continua a existir mas sem o brilho de outros tempos.É no entanto imperativo que se diga que o programa que o CAEP oferece continua a ser bastante digno e quase sempre interessante. Posto isto, passemos à análise das prestações das Taxi Taxi! e de Sean Riley que nos visitaram recentemente.

TAXI TAXI!
Pequeno Auditório
Sábado 10.04
O que dizer deste duo sueco formado por duas meninas muito jovens e bem dispostas, com boa voz e gostos interessantes, que deram em Portalegre, depois dum óptimo jantar e antes do regresso a casa, um último concerto de um tour europeu naturalmente desgastante?
Pouca coisa! Certamente que as mocinhas estavam desejosas de regressar a Estocolmo e contar à família e aos amigos as peripécias desta primeira aventura europeia.Ainda assim, julgo que vale a pena não as perder de vista, pois há ali potencial que justifique manter o interesse para observação futura só que noutras condições.

SEAN RILEY & THE SLOWRIDERS
Grande Auditório
Sábado 17.04
Parece que foi ontem que assisti no Espaço Café Concerto do CAE à imberbe mas assaz curiosa actuação desta banda de Coimbra. Mas já lá vão três anos, dois albuns gravados, uma actuação no Festival de Paredes de Coura, além de um coro de elogios de gente influente. Três anos em que os rapazes aproveitaram para ganhar corpo, maturidade e potenciar o talento que já era patente na altura.
Por isso não se estranha o magnífico concerto que Sean Riley e os seus Slowriders nos ofereceram no último sabado. Perante uma sala bem preenchida por um publico interessado mas menos entusiasta do que é hábito, estes músicos que dominam perfeitamente o “American Songbook” levaram-nos “Pela Estrada Fora” numa viagem pela América que tanto os fascina, como ficou amplamente demonstrado no lançamento do concerto com a leitura em off das últimas linhas de “On The Road”, a bíblia da geração beat que Jack Kerouac escreveu em 1957.
Sean Riley de voz anasalada e um visual tipo Bob Dylan de ”Highway 61 Revisited” está um front man de estalo e os seus Slowriders, cujo espirito também navega algures pela Route 66, cobrem-lhe as costas com talento e perfeição neste assalto concertado ao melhor da musica americana em que guitarras galopantes em registo rock de auto-estrada convivem com a tradição americana espelhada em orgãos gospel, pianos honky tonk e baladas melancólicas deixando no ar uma questão sem resposta; porque é que em Coimbra se faz tanta e tão boa musica americana???
Se no ar fica uma questão, há no entanto uma conclusão que se tira...
Como cresceram estes rapazes em pouco mais de três anos!
E é assim, com bons concertos a preços baixos, que se contorna a crise.
Luís Filipe Meira