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Entre 16 de Março de 1974 e 25 de Novembro de 1975, várias ‘quarteladas’
se sucederam, como em 25 de Abril de 1974, em 28 de Setembro de 1974, e em 11
de Março de 1975.
Todas elas tiveram um denominador comum, António Sebastião
Ribeiro de Spínola.
Spínola, o anti-general como Eduardo Freitas da Costa lhe
chamou, e o grupo que o rodeava, esteve sempre presente nestes movimentos de
cariz militar e corporativista. E em todos, junto com os seus ‘fiéis, perdeu!
Do outro lado, contrário aos spinolistas, estavam três
grupos, o dos ultra-radicais marxistas liderados por Otelo Saraiva de Carvalho,
os comunistas liderados por Vasco Gonçalves/Rosa Coutinho, e o dos ‘moderados’,
socialistas marxistas, liderados por Melo Antunes.
No final das ‘quarteladas’ venceu o grupo dos ‘moderados’.
No meio de todos os grupos e grupelhos políticos, dominava o
Partido Comunista Português. Contra o PCP estava o Partido Socialista. Os outros
partidos sobreviventes da guerra civil política 1974/75, o CDS e o PPD, timidamente
se juntavam ao PS contra o radicalismo de extrema-esquerda, enquanto a igreja
católica, a contragosto e tardiamente, se lhes juntou.
Após 25 de Abril de 1974 vários grupos de pessoas de Direita
formaram partidos. Contudo, as diferentes ‘quarteladas’, nas quais esses
partidos de Direita foram figuras decorativas porque quem realmente mandava
eram os militares das diversas facções, foram proibindo esses partidos de
Direita. Dela, da verdadeira Direita, nada restou. CDS era de ‘centro’ com
práticas socializantes, PPD era ‘social-democrata’ com laivos de marxismo.
CDS e PPD, dois partidos tolerados pelos vencedores das
sucessivas ‘quarteladas’, sempre temerosos, medrosos face à ideologia dominante
da época, o socialismo de cariz marxista.
Com o passar dos anos, o «25 de Novembro de 1975» foi sendo
mitificado. Para a direita do regime, tornou-se uma data marcante, o início da
verdadeira democracia que o “25 de Abril” prometera. Nomes de militares
entraram para os ‘altares’ dessa direita do regime. Os mortos do lado dos
vencedores tornaram-se mártires da ‘causa’.
Para a Direita, esta data foi sempre pensava de outra forma.
Nesta data a facção comunista perdera influência relativa, algo se passara mas
tudo ficara como dantes. Em termos ideológicos, o “terceiro mundismo
melo-antunianismo” vencera em toda a linha.
Foi necessário esperar até Setembro de 2020, data em que
saiu o livro de Riccardo Marchi «À Direita da Revolução – Resistência e
Contra-Revolução no PREC [1974-1974]», para de uma vez por todas se perceber o
papel da Direita neste aziago período desta Terceira República.
Até então, contributos sobre este período foram sendo
conhecidos, tais como memórias de protagonistas e estudos de cariz académico.
Porém, o livro de Riccardo Marchi torna-se diferente,
essencial, dado o distanciamento do próprio Autor em relação aos factos e a
forma como os analisa e interpreta.
A multiplicidade das fontes fez com que este trabalho
consiga dar uma visão aprofundada do que se passou, e permite ao Leitor fazer
um juízo completo sobre as diferentes correntes em jogo e desta forma
compreender-se o papel dos intervenientes, sejam eles principais ou
secundários.
Passados quarenta e cinco anos do «25 de Novembro de 1975»,
é possível, à Direita, ver as ‘luzes’ e as ‘sombras’ de um curto período de
tempo, que tanta implicação trouxe para o tempo que se seguiu. Até hoje!
Hoje há um governo de socialistas, apoiado por comunistas e
radicais de esquerda. Uma ‘mistura’ de ‘vencedores’ e ‘derrotados’ do «25 de
Novembro de 1975».
O tempo não parou em Portugal. Regrediu. Voltou atrás!