\ A VOZ PORTALEGRENSE: 25 de Novembro a data fantasiada

quarta-feira, novembro 25, 2020

25 de Novembro a data fantasiada

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Entre 16 de Março de 1974 e 25 de Novembro de 1975, várias ‘quarteladas’ se sucederam, como em 25 de Abril de 1974, em 28 de Setembro de 1974, e em 11 de Março de 1975.
Todas elas tiveram um denominador comum, António Sebastião Ribeiro de Spínola.
Spínola, o anti-general como Eduardo Freitas da Costa lhe chamou, e o grupo que o rodeava, esteve sempre presente nestes movimentos de cariz militar e corporativista. E em todos, junto com os seus ‘fiéis, perdeu!
Do outro lado, contrário aos spinolistas, estavam três grupos, o dos ultra-radicais marxistas liderados por Otelo Saraiva de Carvalho, os comunistas liderados por Vasco Gonçalves/Rosa Coutinho, e o dos ‘moderados’, socialistas marxistas, liderados por Melo Antunes.
No final das ‘quarteladas’ venceu o grupo dos ‘moderados’.
No meio de todos os grupos e grupelhos políticos, dominava o Partido Comunista Português. Contra o PCP estava o Partido Socialista. Os outros partidos sobreviventes da guerra civil política 1974/75, o CDS e o PPD, timidamente se juntavam ao PS contra o radicalismo de extrema-esquerda, enquanto a igreja católica, a contragosto e tardiamente, se lhes juntou.
Após 25 de Abril de 1974 vários grupos de pessoas de Direita formaram partidos. Contudo, as diferentes ‘quarteladas’, nas quais esses partidos de Direita foram figuras decorativas porque quem realmente mandava eram os militares das diversas facções, foram proibindo esses partidos de Direita. Dela, da verdadeira Direita, nada restou. CDS era de ‘centro’ com práticas socializantes, PPD era ‘social-democrata’ com laivos de marxismo.
CDS e PPD, dois partidos tolerados pelos vencedores das sucessivas ‘quarteladas’, sempre temerosos, medrosos face à ideologia dominante da época, o socialismo de cariz marxista.
Com o passar dos anos, o «25 de Novembro de 1975» foi sendo mitificado. Para a direita do regime, tornou-se uma data marcante, o início da verdadeira democracia que o “25 de Abril” prometera. Nomes de militares entraram para os ‘altares’ dessa direita do regime. Os mortos do lado dos vencedores tornaram-se mártires da ‘causa’.
Para a Direita, esta data foi sempre pensava de outra forma. Nesta data a facção comunista perdera influência relativa, algo se passara mas tudo ficara como dantes. Em termos ideológicos, o “terceiro mundismo melo-antunianismo” vencera em toda a linha.
Foi necessário esperar até Setembro de 2020, data em que saiu o livro de Riccardo Marchi «À Direita da Revolução – Resistência e Contra-Revolução no PREC [1974-1974]», para de uma vez por todas se perceber o papel da Direita neste aziago período desta Terceira República.
Até então, contributos sobre este período foram sendo conhecidos, tais como memórias de protagonistas e estudos de cariz académico.
Porém, o livro de Riccardo Marchi torna-se diferente, essencial, dado o distanciamento do próprio Autor em relação aos factos e a forma como os analisa e interpreta.
A multiplicidade das fontes fez com que este trabalho consiga dar uma visão aprofundada do que se passou, e permite ao Leitor fazer um juízo completo sobre as diferentes correntes em jogo e desta forma compreender-se o papel dos intervenientes, sejam eles principais ou secundários.
Passados quarenta e cinco anos do «25 de Novembro de 1975», é possível, à Direita, ver as ‘luzes’ e as ‘sombras’ de um curto período de tempo, que tanta implicação trouxe para o tempo que se seguiu. Até hoje!
Hoje há um governo de socialistas, apoiado por comunistas e radicais de esquerda. Uma ‘mistura’ de ‘vencedores’ e ‘derrotados’ do «25 de Novembro de 1975».
O tempo não parou em Portugal. Regrediu. Voltou atrás!