A VOZ PORTALEGRENSE
sexta-feira, fevereiro 27, 2015
quarta-feira, fevereiro 25, 2015
Desabafos, 2014/2015 - XII
Pelo buraco da
fechadura
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Num tempo, que foi
sempre tempo, em que o sexo é um produto comercial de altíssimo valor e
consequente lucro, o filme «As Cinquenta Sombras de Grey» não passa de mais um
negócio rendoso, a par da trilogia livresca que é suporte deste e de dois
futuros filme da saga.
Por nenhuma razão em
especial, não lemos a trilogia, e não contamos ir ver o filme, nem as sequelas.
Mas, repita-se, não há razão qualquer para que tal assim seja, apenas
desinteresse.
Todavia, é impossível
ficar-se indiferente à questão, uma vez que a obra foi um best-seller e o filme
é recorde de bilheteira por onde tem estreado. Também não há média que se preze
que não tenha dedicado tempo e páginas sobre filme e livros.
A crítica tem sido
feroz para com o filme, mas, claro!, o filme não foi feito para os críticos
mais sim para as multidões que o veem e do qual colhem lições, seja lá o que
tal queira dizer ou ser.
Curiosamente, este
delírio em torno do filme não será diferente do que foi quando da estreia do «Último
Tango em Paris», filme que a intelectualidade cultivou e cultiva, «Emmanuelle»,
belíssimo filme erótico, e com menor fulgor, «A Grande Farra», todos da
primeira metade da década de setenta do século passado.
Este, é público, traz
o sadomasoquismo como cabeça de cartaz. E certamente fará o contento de quem o
vê.
Em todos os tempos e
épocas, o sexo é utilizado nas mais diversas formas e conteúdos. A História do
Sexo acompanha a História da Humanidade. Que não se cultive a hipocrisia em
relação ao sexo!
Passaram-se dias, e
hoje já o filme não é falado. Porventura, a sua falta de qualidade, e esquecido
o modismo que era a sua visualização, tirou-o de cena. Dificilmente o próximo
da trilogia terá o mediatismo que este teve.
Mas a verdade é que
se tornou matéria opinativa em praticamente todos os sectores da sociedade, o
que quer dizer que não é um filme neutro.
Vive-se um tempo
hedonista, no qual o prazer, a busca do prazer parece ser o único propósito da
vida, num tempo em que prazer significa o mero prazer sensual.
Assim, questões do
foro íntimo, o sexo e a sexualidade, estão na praça pública como objectos não
tanto de prazer mas como matéria comercial, e são motivo de conversa, de estudo
e menos do que realmente são, algo que pertence à esfera do privado.
in, Rádio Portalegre, Desabafos, 23/02/2015
Mário Casa Nova Martins
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sexta-feira, fevereiro 20, 2015
segunda-feira, fevereiro 16, 2015
Desabafos, 2014/2015 - XI
A taxa de risco de
pobreza em Portugal era 18,7% em 2012. Em 2013 passou para 19,5% a percentagem de pessoas que estavam em risco de pobreza.
Em dois anos, houve,
portanto, um aumento de 0,8%. Pode-se dizer que perto de dois milhões de
portugueses estavam no limiar da pobreza, número elevado para o total da sua
população
É um facto que 2012 e
2013 são os piores anos económicos do período em que Portugal esteve sob tutela
de organismos internacionais, a denominada Troika. Contudo, tal não serve de
desculpa para este alto valor.
Uma leitura mais
atenta do documento do Instituto Nacional de Estatística, revela que apesar de
o aumento do risco de pobreza ter abrangido todos os grupos etários, foi
superior nos casos dos menores de 18 anos, tendo o risco de pobreza passado de
24,4% em 2012 para 25,6% em 2013.
Também se fica a
saber que as famílias monoparentais e os agregados com três ou mais crianças
foram os que registaram maiores taxas de risco de pobreza (38,4%), enquanto os
agregados com três ou mais adultos e com crianças dependentes viram o seu risco
de pobreza aumentar cinco pontos percentuais entre 2012 (23,8%) e 2013 (28,8%).
Outra revelação
mostra que há aumentos do risco de pobreza das pessoas com emprego (10,7%,
mais 0,3% face a 2012) e dos reformados (12,9%, mais 0,2% face a 2012).
Diferentes conclusões
podem ser tiradas do referido documento, mas importa ter sempre o maior cuidado
na análise dos números referentes à pobreza, quer pela sensibilidade da
temática, quer pelo fácil aproveitamento político, e não só, que muitas vezes se faz da pobreza, a qual
tem múltiplas faces.
A par da pobreza material, há outros tipos de pobreza
que também geram exclusão social. E não há tempo nem lugar onde ou em que não
haja pobreza.
Se é impossível erradicar a pobreza, há formas de a
poder minorar. Terá que haver sempre Instituições vocacionadas para a tornar
menos dura, o próprio Estado é parceiro nesse combate, mas não se pode
substituir à sociedade civil. Ai de quando a ‘boa consciência’ dos políticos pretende
ser o elemento principal desse combate. Todavia, as políticas assistencialistas
não conseguem resolver todo o problema.
Inquestionavelmente, a maior forma de combate à pobreza é criar-se as condições
de a economia se regenerar e criar emprego. O emprego, a sua existência, é a chave
para que a pobreza diminua, e, consequentemente, com ele cresce a riqueza do
país e das suas gentes.
in, Rádio Portalegre, Desabafos, 09/02/2015
Mário Casa Nova Martins
*
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segunda-feira, fevereiro 09, 2015
quinta-feira, fevereiro 05, 2015
Crónica de Nenhures
Ruínas do teatro da antiga Esparta com o monte Taigeto ao fundo
*
Uma questão de bom senso
*
A Grécia é o exemplo maior da natureza humana. Ao «pão e
circo» romano, juntou-se agora um novo Cola di Rienzo, e irá tudo acabar não em
ópera, mas em opereta. Antes em opereta, do que em drama.
À ‘entrada de leão’ do governo grego, está a seguir-se uma
cómica ‘saída de sendeiro’. Mas toda esta opereta tem consequências!
Há muito que se sabia da situação fraudulenta das contas
públicas gregas, que tinha como objectivo criar as condições para que a Grécia
entrasse na moeda única. A partir de então, houve muito tempo para que a União
Europeia agisse de forma para que tudo fosse corrigido e não se chegasse à
situação presente.
Todavia, os interesses políticos, não deixar cair os partidos do
centro, e sobretudo os económicos, quanto mais empréstimos mais juros se
receberia, e em alta, conduziram à tragédia grega que se vive.
Quanto se diz que na Grécia, as recentes eleições foram um
triunfo da democracia, está, como ensina o ditado popular, ‘a tapar-se o sol
com a peneira’, porque quem ganhou foi a demagogia.
Foram propostas irrealistas que levaram à vitória eleitoral, daí o
recuo do actual governo nessas mesmas propostas, mas, em paralelo, o mesmo governo
tomou de imediato medidas populistas que só pioram a situação económica do
país. Um paradoxo de
consequências mais do que previsíveis, o povo grego ‘pagará’ a curto prazo estas
irresponsabilidades governativas.
A Grécia não será a Venezuela da Europa, muito menos a Cuba
europeia. Também não será uma nova Atenas. O seu futuro terá que ser uma novíssima
Esparta.
“Que fazer?”, eis a famosa pergunta leninista, a qual, na
prática, deu origem à feroz ditadura comunista. Contudo, esse também não é o caminho
a seguir na Grécia. Mas que a União Europeia é tão, ou mais, responsável pelo
que se está a passar no sul da Europa, disso não haja dúvidas.
A solução, ou soluções, são diferentes para cada país, mas
que a ‘formiga’ tem que ‘governar’ em vez da ‘cigarra’, é uma incómoda verdade.
A crise grega trará instabilidade política, económica e
sobretudo monetária a toda a União Europeia. A unidade europeia vai ser, mais
do que questionada, posta à prova. Por mais que os políticos do sistema digam o
contrário, não há certezas quanto ao futuro.
Se houvesse Homens de Estado na Europa, o caminho seria mais
fácil de trilhar, um caminho de austeridade, sim, num tempo em que a Europa se
vê com um conflito a leste de final imprevisível, e com o ‘cavalo de Tróia’ do
multiculturalismo no seu seio, que a corrói, destruindo a sua Identidade, os seus
Valores e a sua Matriz.
Mário Casa Nova Martins
quarta-feira, fevereiro 04, 2015
Les Aventures d'Hergé
*
Um livro (apenas) para coleccionar
Parecia que tudo já fora dito ou escrito sobre Hergé e
Tintin, mas este filão inesgotável continua a produzir trabalhos sobre a dupla
mais famosa da BD.
Também as reedições são uma constante, e de entre elas
destaca-se a biografia de Georges Remi intitulada «Les Aventures d'Hergé», de José-Louis
Bocquet, Jean-Luc Fromental, e Stanislas Barthélémy, editada pela Dargaud (6 de
outubro 2011), álbum com 72 páginas.
Esta obra é de 1999, e ressurge na altura da saída do
infeliz filme de Steven Spielberg «Les Aventures de Tintin : Le Secret de la
Licorne», em 2011.
Tentando por um lado imitar a linha clara, e por outro em
estilo naif, é uma biografia que mistura factos reais com efabulações,
resultando algo sensaborão.
Mostrando os tempos em que hoje vive o legado de Hergé, não
lhe falta uma certa reescrita, ou, se se quiser, uma correcção da vida do pai de
Tintin, adequando-a ao presente.
Mas também as aventuras do Repórter do Século XX têm sido ao
longo dos anos, e das modas, como que reformuladas, para agradar aos censores
do politicamente correcto.
Se este álbum é mais uma peça para a colecção dos
Tintinófilos, quiçá, resultará uma desilusão para quem queira realmente conhecer
a verdadeira biografia de Georges Prosper Remi.
Esta BD não passa de uma mão cheia de verdades convenientes sobre
a vida de Hergé.
Em Portugal, este álbum foi editado em Maio de 2003 pela Mundo Fantasma, em co-edição com as Edições Devir. Em formato entre o A5 e o A4, capa mole, está há muito esgotado.
Em Portugal, este álbum foi editado em Maio de 2003 pela Mundo Fantasma, em co-edição com as Edições Devir. Em formato entre o A5 e o A4, capa mole, está há muito esgotado.
Mário Casa Nova Martins
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