Desabafos, 2014/2015 - XII
Pelo buraco da
fechadura
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Num tempo, que foi
sempre tempo, em que o sexo é um produto comercial de altíssimo valor e
consequente lucro, o filme «As Cinquenta Sombras de Grey» não passa de mais um
negócio rendoso, a par da trilogia livresca que é suporte deste e de dois
futuros filme da saga.
Por nenhuma razão em
especial, não lemos a trilogia, e não contamos ir ver o filme, nem as sequelas.
Mas, repita-se, não há razão qualquer para que tal assim seja, apenas
desinteresse.
Todavia, é impossível
ficar-se indiferente à questão, uma vez que a obra foi um best-seller e o filme
é recorde de bilheteira por onde tem estreado. Também não há média que se preze
que não tenha dedicado tempo e páginas sobre filme e livros.
A crítica tem sido
feroz para com o filme, mas, claro!, o filme não foi feito para os críticos
mais sim para as multidões que o veem e do qual colhem lições, seja lá o que
tal queira dizer ou ser.
Curiosamente, este
delírio em torno do filme não será diferente do que foi quando da estreia do «Último
Tango em Paris», filme que a intelectualidade cultivou e cultiva, «Emmanuelle»,
belíssimo filme erótico, e com menor fulgor, «A Grande Farra», todos da
primeira metade da década de setenta do século passado.
Este, é público, traz
o sadomasoquismo como cabeça de cartaz. E certamente fará o contento de quem o
vê.
Em todos os tempos e
épocas, o sexo é utilizado nas mais diversas formas e conteúdos. A História do
Sexo acompanha a História da Humanidade. Que não se cultive a hipocrisia em
relação ao sexo!
Passaram-se dias, e
hoje já o filme não é falado. Porventura, a sua falta de qualidade, e esquecido
o modismo que era a sua visualização, tirou-o de cena. Dificilmente o próximo
da trilogia terá o mediatismo que este teve.
Mas a verdade é que
se tornou matéria opinativa em praticamente todos os sectores da sociedade, o
que quer dizer que não é um filme neutro.
Vive-se um tempo
hedonista, no qual o prazer, a busca do prazer parece ser o único propósito da
vida, num tempo em que prazer significa o mero prazer sensual.
Assim, questões do
foro íntimo, o sexo e a sexualidade, estão na praça pública como objectos não
tanto de prazer mas como matéria comercial, e são motivo de conversa, de estudo
e menos do que realmente são, algo que pertence à esfera do privado.
in, Rádio Portalegre, Desabafos, 23/02/2015
Mário Casa Nova Martins
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