\ A VOZ PORTALEGRENSE: fevereiro 2014

quinta-feira, fevereiro 20, 2014

Luís Filipe Meira

Paulo de Carvalho no CAEP
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Voz, Piano e a Exaltação da Poesia
 
Paulo de Carvalho atuou sábado passado no CAEP. Julgo que foi a primeira vez que o artista nos visitou, sendo também o meu primeiro concerto de um dos maiores cantores/compositores da história da chamada música ligeira portuguesa.
Aos 66 anos de idade e meio século de carreira, Paulo de Carvalho já passou por todos os capítulos desse imenso livro que nos conta a história da música portuguesa; o rock dos 60s com os Sheiks; uma tentativa de carreira internacional com “As Canções de Manolo Diaz” em 1970; a produtiva e interessante fase festivaleira de 71 a 74; o fulgor revolucionário nos anos subsequentes; o regresso ao passado das canções com Fernando Tordo e Carlos Mendes em “Só Nós Três” em 1989; ainda uma incursão pela música sinfónica com Álvaro Cassuto em 1993 e com a London Symphony Orchestra em 1994; compôs e interpretou fados; criou pontes entre os vários géneros e culturas musicais em 1992 no projeto “Musica d´Alma” com o espanhol Vicente Amigo e com artistas africanos; em 2012 editou o álbum “Duetos de Lisboa”; e há poucos dias subiu pela primeira vez ao palco do Coliseu de Lisboa para um espetáculo em nome próprio.
Paulo de Carvalho viveu uma vida cheia entre glórias e fracassos, entre amigos e falsos amigos, mas como disse Noel Coward “the show must go on” e Paulo de Carvalho tem o feito de forma exemplar, nunca entrando em euforias desmedidas nem em depressões continuadas, e o espetáculo “ Voz e Piano”, a que assistimos no CAEP, foi a prova provada disso mesmo.
Admito que as minhas expetativas estavam divididas entre a certeza de um espetáculo digno e o reconhecimento da dificuldade de gestão, pelo risco de monotonia, de um concerto apenas com piano a acompanhar. No entanto essas minhas pequenas dúvidas ficaram desfeitas ao ver a forma como o artista prendeu o público logo na abertura com a interpretação à capella de “Uma Canção” colada a “A Voz” pelo piano de Vítor Zamora. Depois foi o fluir do espetáculo de uma forma descontraída, mas muito séria.
A exaltação da poesia portuguesa é o pretexto do espetáculo, de forma cantada por Paulo de Carvalho com o suporte de luxo que é o piano do músico cubano, Vitor Zamora, pleno de sobriedade e competência e pontuada pelas declamações de João Loy, diseur empolgante a fazer lembrar Mário Viegas, que percorreram com profundidade a poesia de Alberto Caeiro, António Boto, Pedro Homem de Melo, Fernando Pessoa, Ary dos Santos e Camões.
Paulo de Carvalho escolheu para este concerto um reportório sóbrio, mas de extremo bom gosto, onde não faltou uma incursão à Cuba de Sivio Rodriguez, a Cabo Verde de Cesária ou um improviso, apenas acompanhado de adufe, sobre dois versos de Agostinho da Silva. Em momento algum se deixou levar pelo facilitismo das canções mais populares, mas como não podia ignora-las, reservou-as para um final mais ou menos apoteótico com os “Meninos do Huambo” em comunhão com o público e uma contida, mas não menos magnífica, interpretação de “E Depois do Adeus”. O encore trouxe a célebre “Nini” já em coro, com o público rendido a extravasar o prazer pelo espetáculo que tinha assistido.
Foi pena que o Grande Auditório do CAE não tivesse repetido a lotação esgotada do concerto de Camané. Razões haverá certamente e não vale a pena especular sobre isso. Mas foi pena porque é sempre uma enorme satisfação ver um artista aos 66 anos de idade e com 52 de carreira apresentar um espetáculo de tamanho nível assente na exaltação da poesia portuguesa que nós, quase, todos ignoramos.
É público e notório que somos um país de grandes poetas que não lê poesia. Por isso sessões desta qualidade são e serão sempre bem-vindas.
Paulo de Carvalho está para durar, se me permitem a analogia futebolística, está em excelente forma física e técnica, o que perdeu em potência vocal ganhou em maturidade, tem um conhecimento acumulado ao longo de décadas e sabe aplica-lo ao momento. Tem pois o savoir faire necessário e, julgo, que suficiente para manter uma carreira notável em velocidade de cruzeiro. A prova é este formato que tem tudo, digo eu, para ser um sucesso em salas apropriadas.

quarta-feira, fevereiro 19, 2014

Desabafos 2013/2014 - IX

Quando Bento XVI resigna, um raio atravessa os céus e cai na cúpula da catedral de São Pedro.
Quando o seu sucessor, o papa jesuíta, simbolicamente lança pombas brancas, sinal de paz, uma gaivota e um corvo atacam-nas com desusada violência.
Para muitos, ateus, agnósticos e ‘compagnons de route’, estes factos são ‘fait-divers’ que apenas mentes conspurcadas pelo obscurantismo da religião dão importância, dão significado.
Mas será que estamos sós no Universo? Será que não há algo que está acima do nosso Conhecimento, da nossa Razão?
Cada vez mais se sente que o que está profetizado no denominado Terceiro Segredo de Fátima ainda não aconteceu. Os factos que João Paulo II identificou com o texto do Segredo, dando-o como cumprido, poderão não ser os correctos. O atentado que o papa sofreu, teve razões políticas e não religiosas.
Os ataques à Doutrina da Igreja Católica, feitos dentro e fora dela são cada vez mais fortes.
Quando no passado, no tempo das Luzes, se falava que os grandes adversários de Roma eram o Laicismo e o Cientismo, hoje os seus inimigos usam outro tipo de armas, de argumentação.
O Vaticano II abriu as portas à revisão da Doutrina, e não tardou muito para que o então papa Paulo VI, o papa hamletiano, dissesse que «os fumos de satanás» tinham entrado na Igreja Católica. E desde então têm-se espalhado de uma forma assustadora.
Se às Profecias de São Malaquias se juntar a Imagem que é descrita no texto do Terceiro Segredo de Fátima, então o que está para vir é tão grave, tão destruidor, que as Consciências se devem preparar para uma nova Idade, onde a Luz dará lugar às Trevas.
Os tempos estão a mudar. A besta do Apocalipse de João espreita para dominar o Mundo.
in, Rádio Portalegre, Desabafos, 17/02/2014
Mário Casa Nova Martins

terça-feira, fevereiro 18, 2014

Rodrigo Emílio

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18 de fevereiro de 2014, no dia do seu 70.º Aniversário
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segunda-feira, fevereiro 17, 2014

Sobre a Cultura de Direita em Portugal



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António Araújo integral no IDL 07.02.2014

quinta-feira, fevereiro 13, 2014

Luís Filipe Meira

Noite de Fados no CAEP
 
Com Camané
 
O fado vive em estado de graça e passa por um momento de afirmação, talvez único na sua história. Nem durante o antigo regime, que utilizava o fado como arma de propaganda politica, o fado viveu o momento excecional que agora vive. E não terá sido pela Unesco ter declarado o Fado como Património Imaterial da Humanidade, isso terá sido uma consequência e não uma causa.
Em minha opinião, o momento atual do fado é o culminar de um processo de renovação de mentalidades encetado desde há alguns anos e que tem vindo a abrir o fado ao mundo. Processo que, para além de trazer novos públicos, levou a que as novas gerações se interessassem por ouvir e cantar o fado. Há uma nova forma de estar no fado que leva a que os fadistas interajam com outros músicos e se apresentem em palcos impensáveis.
Camané apresentou o álbum Sempre de Mim no Sudoeste, um festival marcadamente pop/rock. Ainda há poucos dias ouvi Kátia Guerreiro falar com entusiasmo de uma atuação na Arábia Saudita e de um tour por oito cidades dinamarquesas, algumas delas pequenas comunidades que nunca tinham ouvido falar de fado e muito menos ouvir canta-lo. Carminho grava com Chico Buarque e Milton Nascimento, emociona Caetano Veloso e é convidada surpresa de Nicolas Jaar, um mágico da eletrónica, para um concerto na discoteca Lux. Ana Moura partilha o palco com Prince e com os Rolling Stones. Mariza já teve duas nomeações para os Latin Grammy Awards e os seus álbuns entram nas listas dos melhores do ano de importantes publicações ligadas à World Music. E Gisela João? Essa menina de Barcelos (!) que esgota salas, veste calções, ténis, tem tatuagens nos braços e uma voz belíssima ainda maior que o seu sorriso e que, como escreveu Nuno Pacheco no Ipsilon, apresentou uma pérola como estreia discográfica.
Ora tudo isto é a demonstração cabal do momento alto, quiçá único, que vive o fado e que, é preciso dizê-lo, não perdeu as referências; Gisela João tem Camané como estrela-guia, que por sua vez tem Carlos do Carmo como referência. E esta trilogia é interessante; pois se em 2013 Gisela João fez o disco do ano, Carlos do Carmo celebrou 50 anos de carreira com Fado é Amor, disco gravado em dueto com alguns dos maiores fadistas da atualidade. E Camané fez também uma celebração de carreira com a edição da coletânea ”O Melhor 1995-2013” e um grande concerto no Coliseu de Lisboa. Celebração que se estendeu para este ano com um tour que começou a 10 de Janeiro em Beja e que irá terminar em Viena d`Áustria a 18 de Maio, após 23 concertos em Portugal, Macedónia, Bélgica, Holanda e Alemanha.
Portalegre, por esta vez, “contou para o totobola” e entrou na rota de Camané, que atuou no CAE no passado sábado perante uma plateia madura, que esgotou praticamente o Grande Auditório, plateia e balcão incluídos, da sala da Praça da República.
O concerto, coisa rara, começou a horas, estendeu-se por hora e meia e teve um arranque devastador com uma tripla constituída por Complicadíssima Teia de António Boto, Sopram Ventos Adversos e Luz de Lisboa de Manuela de Freitas
Com a sala ainda envolta em escuridão, ouve-se aquela voz intensa e única de predestinado cantar à capella em plenos pulmões “Complicadíssima Teia” que cola de imediato a “Sopram Ventos Adversos” - que José Mário Branco gravou em 1982, no álbum Ser Solidário – que cola a “Luz de Lisboa”. E a partir daí, passada a primeira tempestade perfeita, foi um Camané ainda mais que perfeito nas interpretações, mais contido, como é sua característica, na interação com o público, o que pouco importa, pois nós estamos ali para ouvir o cantor no seu talento interpretativo e não o artista em piadas de circunstância. Mas mesmo a relação com o público é perfeita, pois o fadista mesmo sabendo que tem o público na mão, nunca deixa de manter um diálogo tranquilo e uma atitude verdadeiramente humilde que nem por um momento soa a falso. Mesmo quando, sem ter necessidade de o fazer, quase pede desculpa por cantar “Abandono” de Amália, sentimos a genuinidade da justificação. E é essa genuinidade respeitosa, sem subserviência, que mais impressiona nas interpretações de Camané, seja na forma como conta a história de um desentendimento entre Carlos Ramos e Marceneiro por causa de um poema, seja na intensidade que coloca na interpretação dos poemas de David Mourão Ferreira, Fernando Pessoa, Pedro Homem de Mello, Manuela de Freitas, Álvaro de Campos, na forma como canta Zé Mário Branco, João Ferreira Rosa e Fausto ou os poetas populares que escreviam poemas de amor para fado.
Ontem, no final do espetáculo, quando vi a felicidade daquele auditório a agradecer de pé a excelência do espetáculo que tinha acabado de assistir e obrigar o fadista a regressar por três vezes ao palco, lembrei-me de um texto que li algures no ano passado sobre um concerto de Camané no CCB e que dizia qualquer coisa como isto; se o CCB se levantou para aplaudir o concerto, então também aplaudiu as escolhas do fadista, os poetas e fados e as suas interpretações ao longo de duas décadas. Foi exatamente o que eu senti no final daquele concerto. A plateia aplaudiu o concerto, mas também agradeceu tudo que o fadista nos tem oferecido ao longo da sua brilhante carreira.
As notas finais, Prof Marcelo dixit, vão para o despojamento do cenário, em que o foco está centrado naquilo que é mais importante, a música e os músicos. E para os três músicos que mais que o suporte do artista, são de uma forma discreta, mas extremamente competente, parte integrante e fundamental do concerto.

terça-feira, fevereiro 11, 2014

Fernando Correia Pina


Revista de imprensa
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MARILU LEVA NO CU
uma injeção.
Porém, tu
no primeiro verso que leste,
depreendeste
que a moça era sodomita.
Isto é o que acontece,
dia a dia, nos jornais
que tendo como único pretexto
vender mais,
retiram as frases do contexto
e imprimem-nas em letras garrafais.

sábado, fevereiro 08, 2014

Saneamentos no «Diário de Notícias»

José Saramago pretendia que o DN fosse “um instrumento nas mãos do povo português, para a construção do socialismo” e que quem não estivesse “empenhado neste projecto” seria melhor “abandonar o Diário de Notícias”. Clarificava-se, então, a linha editorial que o jornal passaria a ter.
A nova direcção do diário com maior circulação nacional durante o “Verão Quente” de 1975 – com tiragens diárias superiores a 100 mil exemplares – prometia, num artigo publicado em primeira página logo a seguir à tomada de posse, “servir o Povo Português e a verdade, contra os inimigos do Povo Português e a mentira”, recusando, por isso, subjugar-se a “interesses particulares”.
A 15 de Agosto de 1975 o Diário de Notícias avisava os seus leitores de que tinha tomado conhecimento de um documento, elaborado por um grupo de trinta jornalistas, no qual era questionada a orientação do jornal. Iniciava-se um duro conflito, que rapidamente ultrapassa as portas do velho diário da Avenida da Liberdade, coincidindo com um dos momentos mais “quentes” do período revolucionário português, caracterizado por profundas lutas entre defensores de diferentes projectos políticos para o futuro do país, mas também por diversas tentativas de controlo político-ideológico dos meios de comunicação social.
Este livro, publicado no âmbito da colecção Media e Jornalismo, coordenada por Ana Cabrera, analisa o conturbado processo que culminou no saneamento de uma parte dos jornalistas do Diário de Notícias, conhecido como «Caso dos 24» e que se mantém, ainda hoje, envolto em grande polémica, existindo sobre ele opiniões divergentes. Um caso que não foi apenas um problema laboral, colocando em evidência os diferentes posicionamentos políticos-ideológicos dos trabalhadores do jornal e as lutas internas e externas pelo seu controlo.
Pedro Marques Gomes é investigador do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa. Doutorando em História Contemporânea na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde prepara uma tese sobre a Imprensa e o Poder na Revolução de 25 Abril de 1974, é Mestre em Jornalismo pela Escola Superior de Comunicação Social. Participou no projecto de investigação “Justiça Política na Transição para a Democracia em Portugal”, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Tem como principais interesses de investigação a história dos média e do jornalismo e da liberdade de imprensa.
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terça-feira, fevereiro 04, 2014

Desabafos 2013/2014 - VIII

Não há crescimento digno desse nome.
A demografia é péssima.
A natureza humana não melhorou.
A evolução da medicina aumentou a esperança de vida, mas os seus custos tornam-na de acesso proibitivo para a grande maioria.
O Estado Social actual não tem sustentabilidade.
O politicamente correcto é asfixiante.
A pobreza aumenta a par das desigualdades sociais.
Esta é a Europa que vai a votos no próximo dia 25 de maio.
Esta é a Europa que no dia 26 de maio de 2014 estará mais extremada e extremista, mais intolerante e concentracionária, mais sectária e menos europeia.
A Europa que vai sair das eleições europeias de domingo dia 25 de maio deste ano será uma Europa mais decadente do que é hoje. Sem líderes, sem massa crítica, sem pensamento e acção, acentuará o cinzentismo que caracteriza os eurocratas que a governam.
Os eurocratas que estão à frente dos destinos políticos da Europa são tão autistas como era a nomenclatura soviética nas vésperas da implosão da Rússia bolchevique! E tão leninistas como ela!
Em Portugal, nas próximas eleições europeias os partidos do governo, para minorar perdas eleitorais vão em lista conjunta, o que reduz o leque de opção de voto à Direita.
A Direita não vai estar representada neste acto eleitoral pelo que essa orfandade ideológica mais irá acentuar o divórcio daquele eleitorado com a classe política que a diz representar.
A mais do que certa derrota eleitoral dos partidos do governo em 25 de maio, é justa e merecida.
Mas o mais grave, o mais doloroso e ignóbil é perder por ausência em combate. E a Direita portuguesa uma vez mais demitiu-se de combater.
in, Rádio Portalegre, Desabafos, 03/02/2014
Mário Casa Nova Martins