\ A VOZ PORTALEGRENSE: março 2012

segunda-feira, março 26, 2012

Fernando Correia Pina

Duas variações sobre o tema da Reforma Administrativa
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Conclusões do relatório preliminar


Este país
está todo mal desenhado,
caquético, anquilosado,
porque há governos civis.
Não há progresso
nesta crónica anemia
e a culpa é toda do excesso
de juntas de freguesia
e ainda há mais:
somos um povo atrasado
pelo número exagerado
de câmaras municipais.
O ideal
é não termos interior,
irmos atrás do sol-pôr
pôr tudo no litoral.
Para quê manter
aldeias só de labregos
vilas com falta de empregos
que só nos dão que fazer?
Melhor seria
votá-las ao esquecimento
porque não dão maioria
mas pesam no orçamento.
Assim proponho
que de Sagres a Monção
se empilhe toda a nação
e se sonhe um novo sonho
de transformar
este país peregrino
num Chile mais pequenino,
estreitinho, à beira-mar. 
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Hino das moças da Junta 


Nós somos as alegres funcionárias
da Junta de Freguesia
cumprindo as tarefas mais várias
sempre com a mesma alegria.
Cedinho, varremos a praça
depois vamos ao café,
dizemos mal de quem passa, (bis)
divertimo-nos bué.
O nosso emprego é garantido,
viva o nosso Presidente!
Se ele mudar de partido (bis)
conta com os votos da gente.

sexta-feira, março 16, 2012

António Martinó de Azevedo Coutinho

Ultimamente, tenho presenciado ao vivo alguns desafios de futebol, bastantes mais do que em média costumava frequentar. Aconteceu assim com o recente Sporting-Manchester City.
Sportinguista assumido que sou, desde sempre, cumpro afinal uma espécie de grata sina familiar que começou com o meu pai, passou por mim e pelo meu filho e já vai nos netos, todos sem excepção. Naturalmente, fiquei contente com o resultado do aludido encontro, quase uma raridade em época de tantos desconsolos acumulados. Se me atrevo agora em falar no tema, não é como provocação ao meu amigo Mário, administrador deste blog e benfiquista de gema, mas porque tal me apeteceu em função de uma Crónica de TV sobre o assunto em epígrafe.
Veio no Diário de Notícias, no passado dia 10, e foi assinada pelo jornalista Joel Neto. O seu título era desde logo apelativo: Puxando para baixo.
Vou transcrevê-la, em duas partes intercaladas pelas minhas próprias reflexões.
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Faltavam uns dez minutos para acabar o Sporting-Manchester City, transmitido pela SIC. O Sporting estava ao ataque e a bola acabara de bater pela quarta vez na mão de um jogador adversário. E, no entanto, aí continuava Paulo Garcia, o narrador: “É importante o Sporting conseguir segurar este 1-0!”, “É fundamental o Sporting conseguir preservar este resultado!”. Sim, é verdade: o City esmagara o Porto poucas semanas antes. Sim, é verdade: o Sporting podia ter sofrido golos do City, inclusive perdendo o jogo. Sim, é verdade: o orçamento do City é dez vezes ao do Sporting, as probabilidades das casas de apostas favoreciam os ingleses e até havia nas bancadas adeptos leoninos que tinham ido a Alvalade para ver sobretudo o adversário. Mas o Sporting não só estava no ataque, como ainda nem começara a retenção de bola. Ou eu nunca vi futebol na vida ou estava à procura do 2-0.
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Sim, é verdade que metade duma só perna goleadora do Wolfswinkel do princípio da época tinha resolvido a eliminatória já em Alvalade. Sim, é verdade que as vedetas do City acertaram duas vezes nos paus da baliza de Rui Patrício, mas também é verdade que as melhores e mais frequentes oportunidades de golo pertenceram aos modestos mas esforçados leões. Sim, é verdade que o mais lógico será o triunfo final do City, mas justificado por uma eventual vantagem ganha na Inglaterra, porque no seu próprio estádio o Sporting foi, objectivamente, superior.
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Pelo contrário, Paulo Garcia preferia dramatizar, avançando com a possibilidade de uma tragédia. E Nuno Luz, o repórter de pista, idem (“Se a bola fosse à baliza, Rui Patrício nem a via”, chegou a dizer). Talvez se pudesse acusá-los de recuperarem os velhos chavões do relato desportivo. Mas é mais simples do que isso. A SIC levou um guião e, apesar de os acontecimentos o terem contrariado, não conseguiram sair dele. De resto, já se sabe: o miserabilismo patriótico está em voga. Em Carnaxide e nos media em geral. Preparemo-nos: daqui até Junho, não haverá dia em que não sejamos recordados das dificuldades superlativas, mesmo insuperáveis, que Portugal terá de enfrentar no Campeonato da Europa, em que ainda por cima caiu no dito “Grupo da Morte”. Haja coração.
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Sim, é verdade, há muita gente que hoje só sabe ler pela cartilha do chefe, tipo His Master’s Voice (A Voz do seu Dono), como nos discos de vinil do antigamente...
Infelizmente, disso tivemos e continuamos a ter exemplos políticos, em todos os tempos e de todas as cores e paladares. Por que devemos surpreender-nos com estes “trocos” desportivos?
A SIC decidiu antecipadamente que o insignificante Sporting, mesmo perante adversário que displicentemente iniciou o encontro num descontraído estilo de treino ligeiro, deveria abrir respeitosas e submissas alas ao todo-poderoso City. As coisas não se passaram exactamente assim e os “sicários” não foram capazes de dar a volta ao texto prévio... Preferiram a mentira subjectiva à objectiva verdade.
Em Belém e em São Bento as coisas não são muito diversas, se atentarmos com alguma atenção nos pormenores dos respectivos relatos. Isso não é bola!? Não, que não é! Então não estamos na Liga Europa, com uma data de grupos estrangeiros a jurar-nos pela pele, com empresários “fífia” exploradores, arbitragens escandalosas, chicotadas psicológicas, clubes falidos mas a lutar bravamente para evitar a despromoção, apesar dos presidentes cometerem deslizes cada vez que abrem a boca, com corrupção a rodos, decisões judiciais atrasadas e discutíveis, mais as transferências milionárias, as promessas mirabolantes, uma imprensa sensacionalista, etc.???
E aqui não há apenas Paulos Garcias e Nunos Luzes. Há, por exemplo, Miguéis Relvas, sagassíssimos, que nos querem convencer de que excepções são adaptações... Outra vez a mentira, grosseira e descarada, lançada em público como se todos fôssemos imbecis e não entendêssemos a realidade.
Com mil diabos, não basta exigirmos que os relatadores desportivos sejam decentes e honestos. Também temos direito, constitucional, à verdade política.
É por tudo isto que só me apetece gritar como o outro: Instruam-me, porra!
António Martinó de Azevedo Coutinho

quarta-feira, março 14, 2012

Luís Filipe Meira

Empregos, Desempregos, Protocolos
&
Subsídios
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Escrevo neste jornal, por convite expresso do seu director, Manuel Isaac Correia, praticamente desde o 1º número. È verdade que essa colaboração foi-me pedida para a área da cultura e espectáculos, mas nunca me foi levantado qualquer óbice ou proibida a invasão de outras áreas, nomeadamente a política. No entanto e porque as minhas convicções ideológicas não são claras e definidas depois de tanto tempo a carregar desilusões…tenho-me abstido de tomar posições públicas sobre as tempestades que têm assolado Portugal e, concomitantemente, os portugueses, ao longo das últimas décadas. Naturalmente que, muitas vezes tive vontade de o fazer, mas por isto ou por aquilo, nunca o fiz.
A última vez que tive vontade de o fazer foi há cerca de seis meses, quando o ministro da economia, Álvaro Santos Pereira visitou com pompa e circunstância aquela fábrica que fica ali para os lados do Areeiro, na estrada para Castelo de Vide e que, aposto, nenhum portalegrense sabe o nome, nem quem é o seu proprietário, devido à velocidade supersónica com que tem mudado de nome e de proprietário, demonstrando que é o exemplo acabado que o dinheiro não tem nome e, como a água, não tem cheiro nem cor, sendo o sabor altamente selectivo. Mesmo o rasto – leia-se subsídios governamentais – têm desaparecido, não sei se utilizando os mesmos métodos, que os bandoleiros do velho oeste utilizavam para apagar as pistas, depois de assaltarem o banco da cidade.
Bem, mas dizia eu, que a última vez que tive vontade de escrever sobre um assunto fora do campo da cultura ou espectáculos foi no Verão, a propósito da visita que o ministro da economia fez à tal fábrica que, como manda a cartilha capitalista, foi desmantelada em várias unidades para assim ser mais fácil gerir os recursos humanos, leia-se despedir os empregados.
 Pois o ministro apareceu acompanhado dos deputados do PSD, Cristóvão Crespo e Manuel Matos Rosa, do Presidente da Câmara auto demitido, Mata Cáceres e de diversas forças vivas da cidade. Rezam as crónicas que os proprietários das parcelas da fábrica que davam lucro, declararam o seu empenho e vontade férrea em criar dezenas de novos postos de trabalho e alcandorar a região ao lugar que merece, o que acontecerá assim que o governo desbloqueie os tais subsídios, que são pão para a boca destes esforçados e empenhados empresários.
Essa foi a última vez que tive vontade de escrever sobre um assunto fora da minha área. Reconheço que o assunto tocava-me de perto, pois o meu cunhado era um dos cinquenta funcionários despedidos no seguimento do processo de insolvência de uma das unidades que dava prejuízo e que, no caso dele, tinha ficado a arder com 24,000,00 euros. Não o fiz, na altura, porque tive alguns problemas de saúde, apesar de ter enviado, como eleitor, o meu protesto à estrutura do PSD local, onde tenho velhos amigos, mas nem assim tive direito a resposta. Posteriormente o meu cunhado adoeceu e acabaria por falecer, não só, mas também por isto, pois a situação de desempregado sem volta, ajudou de uma forma decisiva a que entrasse num processo de degradação sem retorno.
Mas, como eu acho que as contas devem ser apresentadas e saldadas no acto, não voltaria a este assunto, se não houvesse novidades….mas houve…
Na página 4 do último número do Alto Alentejo, há uma notícia que nos dá conta que o Instituto Politécnico de Portalegre assinou um protocolo com “ a unidade industrial sita na estrada nacional 246, Quinta de S. Vicente”, não cito o nome porque para a semana pode já ter mudado. Como é de bom tom, o presidente do IPP considerou “a tal empresa” como parceiro estratégico e, só podia, proferiu palavras de circunstância. O representante das “tais empresas” assegurou que vão ser criados novos postos de trabalho e chegou ao desplante de considerar que apesar da região não poder dar resposta às necessidades da empresa a aposta passará por aqui com trabalhadores qualificados ou não. Obviamente que este Sr. Dr. não falou na idade desses trabalhadores. A finalizar este Sr. Dr. não resistiu e cito:
(…) Se tudo correr bem, se tivermos as ajudas que precisamos de ter e se de facto conseguirmos dotar “ a tal empresa” da capacidade que queremos, teremos perto de 300 funcionários (…)
Sinceramente não sei, mas tenho as minhas dúvidas que o crescimento económico de Portalegre possa ser sustentado desta forma. Criar empresas em cima dos destroços de outras ou criar emprego subsidiado para os jovens, alicerçado no desemprego dos mais velhos, não me parece um caminho com futuro. Parece-me sim, um percurso perigoso, cheio de areias movediças e que pode resvalar. Recordo-me dos meus tempos de juventude e dos livros de banda desenhada onde os índios não deixavam que ninguém invadisse os cemitérios onde os antepassados descansavam, pois estes podiam revoltar-se… Não sei pois, se será boa ideia levantar empresas em cima dos despojos ainda quentes das antecedentes…
Mas… pode ser que eu, humilde reformado, não tenha capacidade, nem visão estratégica para estas coisas. Afinal há tantos “opinion makers” locais e nenhum perdeu tempo com este assunto…
Talvez tenha sido um delírio provocado pela inactividade precoce. Bem diziam os meus amigos que a reforma antecipada pode levar à incontinência verbal…
Luís Filipe Meira

segunda-feira, março 12, 2012

Duarte Fernandes Pinto

A Terceira Dimensão - Fotografia Aérea
Imagens dos Céus de Portugal
CLICAR nas Fotografias para ver em Modo Ecrã Inteiro
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sexta-feira, março 09, 2012

António Martinó de Azevedo Coutinho


O acordo ortográfico e o futuro da língua portuguesa…

(O texto seguinte é da autoria da “anónima” administradora do blog A Biblioteca de Jacinto -que eu não conhecia!-, tendo-me chegado há dias pela generosa partilha que das coisas boas sempre vão fazendo os amigos certos e cúmplices.
Não desejo gastar aqui qualquer adjectivo na apreciação do referido blog; a sua qualidade é desde logo tão evidente que os dispensa.
Nem o facto, devidamente comprovado, de este texto ser já antigo -foi publicado em Agosto de 2009- reduz o seu interesse. Escrito na forma delirante e absurda de uma quase insuportável ironia, o texto a seguir transcrito com a devida homenagem à sua inspirada autora significa uma saudável crítica que o acordo bem merece e justifica.)
Tem-se falado muito do Acordo Ortográfico e da necessidade de a língua evoluir no sentido da simplificação, eliminando letras desnecessárias e acompanhando a forma como as pessoas realmente falam.
Sempre combati o dito Acordo mas, pensando bem, até começo a pensar que este peca por defeito.
Acho que toda a escrita deveria ser repensada, tornando-a mais moderna, mais simples, mais fácil de aprender pelos estrangeiros.
Comecemos pelas consoantes mudas: deviam ser todas eliminadas.
É um fato que não se pronunciam.
Se não se pronunciam, porque ão-de escrever-se?
O que estão lá a fazer?
Aliás, o qe estão lá a fazer?
Defendo qe todas as letras qe não se pronunciam devem ser, pura e simplesmente, eliminadas da escrita já qe não existem na oralidade.
Outra complicação decorre da leitura igual qe se faz de letras diferentes e das leituras diferentes qe pode ter a mesma letra.
Porqe é qe “assunção” se escreve com “ç” e “ascensão” se escreve com “s”?
Seria muito mais fácil para as nossas crianças atribuír um som único a cada letra até porqe, quando aprendem o alfabeto, lhes atribuem um único nome.
Além disso, os teclados portugueses deixariam de ser diferentes se eliminássemos liminarmente o “ç”.
Por isso, proponho qe o próximo acordo ortográfico elimine o “ç” e o substitua por um simples “s” o qual passaria a ter um único som.
Como consequência, também os “ss” deixariam de ser nesesários já qe um “s” se pasará a ler sempre e apenas “s”.
Esta é uma enorme simplificasão com amplas consequências económicas, designadamente ao nível da redusão do número de carateres a uzar.
Claro, “uzar”, é isso mesmo, se o “s” pasar a ter sempre o som de “s” o som “z” pasará a ser sempre reprezentado por um “z”.
Simples não é?
Se o som é “s”, escreve-se sempre com s.
Se o som é “z” escreve-se sempre com “z”.
Quanto ao “c” (que se diz “cê” mas qe, na maior parte dos casos, tem valor de “q”) pode, com vantagem, ser substituído pelo “q”.
Sou patriota e defendo a língua portugueza, não qonqordo qom a introdusão de letras estrangeiras.
Nada de “k”.
Não pensem qe me esqesi do som “ch”.
O som “ch” pasa a ser reprezentado pela letra “x”.
Alguém dix “csix” para dezinar o “x”?
Ninguém, pois não?
O “x” xama-se “xis”.
Poix é iso mexmo qe fiqa.
Qomo podem ver, já eliminámox o “c”, o “h”, o “p” e o “u” inúteix, a tripla leitura da letra “s” e também a tripla leitura da letra “x”.
Reparem qomo, gradualmente, a exqrita se torna menox eqívoca, maix fluida, maix qursiva, maix expontânea, maix simplex.
Não, não leiam “simpléqs”, leiam simplex.
O som “qs” pasa a ser exqrito “qs” u qe é muito maix qonforme à leitura natural.
No entanto, ax mudansax na ortografia podem ainda ir maix longe, melhorar qonsideravelmente.
Vejamox o qaso do som “j”.
Umax vezex excrevemox exte som qom “j” outrax vezex qom “g”.
Para qê qomplicar?!?
Se uzarmox sempre o “j” para o som “j” não presizamox do “u” a segir à letra “g” poix exta terá, sempre, o som “g” e nunqa o som “j”.
Serto?
Maix uma letra muda qe eliminamox.
É impresionante a quantidade de ambivalênsiax e de letras inuteix qe a língua portugesa tem!
Uma língua qe tem pretensõex a ser a qinta língua maix falada do planeta, qomo pode impôr-se qom tantax qompliqasõex?
Qomo pode expalhar-se pelo mundo, qomo póde tornar-se realmente impurtante se não aqompanha a evolusão natural da oralidade?
Outro problema é o dox asentox.
Ox asentox só qompliqam!
Se qada vogal tiver sempre o mexmo som, ox asentox tornam-se dexnesesáriox.
A qextão a qoloqar é: á alternativa?
Se não ouver alternativa, pasiênsia.
É o qazo da letra “a”.
Umax vezex lê-se “á”, aberto, outrax vezex lê-se “â”, fexado.
Nada a fazer.
Max, em outrox qazos, á alternativax.
Vejamox o “o”: umax vezex lê-se “ó”, outrax vezex lê-se “u” e outrax, ainda, lê-se “ô”.
Seria tão maix fásil se aqabásemox qom isso!
Para qe é qe temux o “u”?
Para u uzar, não?
Se u som “u” pasar a ser sempre reprezentado pela letra “u” fiqa tudo tão maix fásil!
Pur seu lado, u “o” pasa a suar sempre “ó”, tornandu até dexnesesáriu u asentu.
Já nu qazu da letra “e”, também pudemux fazer alguma qoiza: quandu soa “é”, abertu, pudemux usar u “e”.
U mexmu para u som “ê”.
Max quandu u “e” se lê “i”, deverá ser subxtituídu pelu “i”.
I naqelex qazux em qe u “e” se lê “â” deve ser subxtituidu pelu “a”.
Sempre.
Simplex i sem qompliqasõex.
Pudemux ainda melhurar maix alguma qoiza: eliminamux u “til” subxtituindu, nus ditongux, “ão” pur “aum”, “ães” – ou melhor “ãix” - pur “ainx” i “õix” pur “oinx”.
Ixtu até satixfax aqeles xatux purixtax da língua qe goxtaum tantu de arqaíxmux.
Pensu qe ainda puderiamux prupor maix algumax melhuriax max parese-me qe exte breve ezersísiu já e sufisiente para todux perseberem qomu a simplifiqasaum i a aprosimasaum da ortografia à oralidade so pode trazer vantajainx qompetitivax para a língua purtugeza i para a sua aixpansaum nu mundu.
Será qe algum dia xegaremux a exta perfaisaum?
(simples intermediário: António Martinó de Azevedo Coutinho)

quarta-feira, março 07, 2012

António Martinó de Azevedo Coutinho

DUAS ESTATÍSTICAS RETRATAM  OS NOSSOS SÍTIOS
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PRÓLOGO - O título acima não é, exactamente, o que me apetecera escrever. Ter-lhe-ia preferido: Duas Estatísticas Distritais. Mas, em boa verdade, a minha hesitação justifica-se: não tenho a certeza de poder utilizar com rigor o termo distritais... Será que o distrito ainda funciona, residualmente, como divisão administrativa ou serão os novos reordenamentos territoriais, em curso ou anunciados, que lhe darão a machadada final?
De qualquer forma, o que pretendo aqui e agora abordar é a recente divulgação pública, pelos jornais, de duas muito diversas estatísticas onde o território que nos habituámos a denominar como Distrito de Portalegre surge retratado nas suas mais próximas evidências. Porque tais retratos não foram retocados, também não me merecem grandes comentários, deixando-se tal tarefa ao cuidado de cada amável e interessado leitor d’A Voz Portalegrense.
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RETRATO UM – POR AQUI MORRE-SE MUITO E NASCE-SE POUCO...
Veio publicado na secção Sociedade do Correio da Manhã, em 17 de Fevereiro passado, sob o esclarecedor título Demografia – Portugal Envelhecido – Um Terço do País sem Crianças. O artigo em epígrafe revela alguns números preocupantes, como o de, em 2010, terem nascido em Portugal 101 800 bebés contra 105 954 registos de óbitos. Descreve depois exemplos de incentivos autárquicos à natalidade local, sobretudo em regiões mais fustigadas pela desertificação, porém com reduzido efeito prático, como confirmam as estatísticas. O mais interessante (!?) do artigo reside num mapa onde se inscrevem os trinta concelhos com menos bebés, dados relativos a 2010. Nesta décima parte autárquica do país real figuram nada mais nada menos do que sete concelhos do tal nosso distrito (termo usado com as devidas reservas!). Portanto, e em resumo, quase metade dos quinze concelhos do distrito de Portalegre está inscrita na “lanterna vermelha” nacional.
Eis a sua relativa posição - número de ordem, designação e número de nascimentos:
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04 -                 Fronteira                   12
16 -                 Arronches                 19
20 -                 Castelo de Vide         20
24 -                 Marvão                      21
28 -                 Gavião                       24
29 -                 Avis                            25
30 -                 Crato                         25
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Como é evidente, esta dura e crua enumeração falha, por omissão, em dados fundamentais, como as respectivas populações residentes ou os seus níveis etários, por exemplo. De qualquer forma, quando se sabe, pelo mais recente Censo, que as nossas terras têm vindo aceleradamente a perder gente, podemos concluir que é muito preocupante mais este sinal de alarme...
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RETRATO DOIS – POR AQUI, APESAR DE TUDO, GERE-SE BEM...
A fonte é a mesma, o Correio da Manhã, só mudando a data, 1 de Março, e o tema, a gestão autárquica em tempos de crise. O título central é, também, bastante esclarecedor: Câmaras perdem 216 mil (euros) por dia. O artigo aborda a problemática das receitas municipais em queda, prejudicando o funcionamento das autarquias. O caso mais flagrante é o de Oeiras, que terá perdido mais de 11 milhões de euros em 2010, sobretudo em função da crise imobiliária. Também aqui os jornalistas procuraram sintetizar em mapas e curtas relações estatísticas o comportamento das autarquias no domínio da respectiva gestão financeira. Quanto à sua dimensão relativa, os municípios são repartidos por três categorias, grandes, médios e pequenos. Na primeira das listagens publicadas, todas alusivas aos melhores exemplos de gestão financeira, não poderia obviamente surgir nenhum dos nossos municípios.
Já na relação das vinte melhores médias Câmaras Municipais, o nosso distrito (!?) surge bem representado:
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02 -                 Elvas
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Na lista das pequenas autarquias -bons exemplos de gestão- contamos com um notável destaque:
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03 –                 Castelo de Vide
09 -                 Arronches
11 -                 Ponte de Sor
13 -                 Marvão
16 -                 Gavião
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Conclusão, embora sumária e superficial: seis (em quinze) das nossas Câmaras Municipais são referidas como merecendo especial menção, porque dotadas de uma cuidada gestão financeira, tanto mais relevante quanto tal avaliação se processa em função das extremas dificuldades envolventes, sobejamente conhecidas.
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EPÍLOGO – Nascer pouco ou gerir bem. Talvez algum inspirado sociólogo consiga encontrar pontos de encontro entre estas duas distintas realidades regionais.
Por mim, que não sou especialista de coisa nenhuma, apenas me preocupando em pensar livremente, como sei e como posso, não deixo de registar a ausência da minha própria terra, Portalegre, em qualquer destas relações. Fico sem saber se por cá se nasce o suficiente, embora esteja convicto de que o saldo demográfico indígena também é negativo.
Infelizmente, tenho uma certeza. A última relação onde os jornais inscreveram o nome de Portalegre é bem pouco louvável. Foi repetida nos últimos tempos, mas apenas recordo a mais recente, através das páginas do Diário de Notícias de 26 de Fevereiro. Esta indesejável lista é a dos 38 municípios com maiores problemas de tesouraria, os mais críticos, em situação iminente de falência e a serem intervencionados pelo Ministério das Finanças (esta explicitação é do jornal). E é precisamente aqui que consta a Câmara Municipal de Portalegre, num “honroso” lugar. Eis a sua relativa posição, número de ordem, designação e total das dívidas:
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07 -                 Portalegre                  € 14 134 690
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Prometi acima não tecer grandes comentários. Este, de facto, revela-se dispensável.
António Martinó de Azevedo Coutinho

segunda-feira, março 05, 2012

António Martinó de Azevedo Coutinho

CAPÍTULO   FINAL
Durante largos meses, com a cumplicidade do Mário que comigo partilha apreço e admiração pela banda desenhada, deixei aqui patente um largo e denso dossier sobre o caso judicial que envolveu o álbum Tintin no Congo.
Nem sequer vale a pena recapitular aqui e agora os meandros do caso. Os arquivos deste blog permitirão a qualquer leitor interessado uma fácil recapitulação dos pretextos, dos episódios vividos nos meios judiciais de Bruxelas e, sobretudo, da exaustiva análise, pessoal e parcialíssima, que teci sobre tudo isso. Nunca escondi a posição assumida sobre a acusação, perversa e inadequada, nem sobre a expectativa da única sentença possível que, mais cedo ou mais tarde, a justiça iria determinar sobre o pleito.
O entendimento final do tribunal belga, exposto no passado dia 10 de Fevereiro de 2012 e assim pondo termo ao logo processo iniciado em 2007, foi o de que seria absurdo acusar Hergé de racismo sem ter em conta o contexto histórico em que foi publicada a aventura Tintin au Congo. Não tendo sido feita prova de que tal obra tinha uma intenção discriminatória, foi mandada arquivar, por infundada, a queixa de Bienvenu Mbutu Mondondo, cidadão da República Democrática do Congo a residir na Bélgica.
Naturalmente, tratando-se de uma decisão de primeira instância, dela poderá haver ainda recurso... No entanto, é de tal forma claro e indiscutível o fundamento jurídico da sentença, que só uma absurda teimosia dos autores da queixa daria prolongamento à sua infeliz saga...
Completando o dossier e as adendas depois publicadas, este é mesmo, e em definitivo, o capítulo final. Porém, pelo seu manifesto interesse, quero aqui juntar-lhe um outro testemunho sobre o tema que, no passado dia 16 de Fevereiro, foi publicado no jornal Correio da Manhã. Trata-se de uma opinião subscrita pelo Doutor Rui Pereira, professor universitário e antigo (e recente) ministro da Administração Interna, igualmente admirador de banda desenhada e de Tintin.

O seu interessante artigo Tintim em Liberdade, aqui reproduzido, revela um profundo conhecimento crítico deste e doutros casos, onde o espírito censório aplicado a formas de expressão e criação artística ameaçou a própria liberdade.
Creio que este é um feliz e adequado epílogo quanto ao caso Tintin no Congo.
António Martinó de Azevedo Coutinho

sexta-feira, março 02, 2012

Fernando Correia Pina


Eu tenho uma pistola como a tua

tu tens uma pistola como a minha.

A minha pistola leva dez balas como a tua

a tua pistola leva dez balas como a minha.

A minha pistola é uma arma de agressão

a tua pistola é uma arma de defesa.

Quando empunho a minha pistola sou uma ameaça para a sociedade

quando empunhas a tua pistola és um defensor da ordem.

Quando nas festas disparo a minha pistola para o ar

as minhas balas furam a camada do ozono.

Quando nas festas disparas a tua pistola para o ar

as tuas balas tapam os buracos do ozono.

Isto é o que tu dizes.

Mas, como é possível

se a minha pistola é igual à tua

e a tua pistola é igual à minha?