António Martinó de Azevedo Coutinho
DUAS ESTATÍSTICAS RETRATAM OS NOSSOS SÍTIOS
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PRÓLOGO - O título acima não é, exactamente, o que me apetecera escrever. Ter-lhe-ia preferido: Duas Estatísticas Distritais. Mas, em boa verdade, a minha hesitação justifica-se: não tenho a certeza de poder utilizar com rigor o termo distritais... Será que o distrito ainda funciona, residualmente, como divisão administrativa ou serão os novos reordenamentos territoriais, em curso ou anunciados, que lhe darão a machadada final?
De qualquer forma, o que pretendo aqui e agora abordar é a recente divulgação pública, pelos jornais, de duas muito diversas estatísticas onde o território que nos habituámos a denominar como Distrito de Portalegre surge retratado nas suas mais próximas evidências. Porque tais retratos não foram retocados, também não me merecem grandes comentários, deixando-se tal tarefa ao cuidado de cada amável e interessado leitor d’A Voz Portalegrense.
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RETRATO UM – POR AQUI MORRE-SE MUITO E NASCE-SE POUCO...
Veio publicado na secção Sociedade do Correio da Manhã, em 17 de Fevereiro passado, sob o esclarecedor título Demografia – Portugal Envelhecido – Um Terço do País sem Crianças. O artigo em epígrafe revela alguns números preocupantes, como o de, em 2010, terem nascido em Portugal 101 800 bebés contra 105 954 registos de óbitos. Descreve depois exemplos de incentivos autárquicos à natalidade local, sobretudo em regiões mais fustigadas pela desertificação, porém com reduzido efeito prático, como confirmam as estatísticas. O mais interessante (!?) do artigo reside num mapa onde se inscrevem os trinta concelhos com menos bebés, dados relativos a 2010. Nesta décima parte autárquica do país real figuram nada mais nada menos do que sete concelhos do tal nosso distrito (termo usado com as devidas reservas!). Portanto, e em resumo, quase metade dos quinze concelhos do distrito de Portalegre está inscrita na “lanterna vermelha” nacional.
Eis a sua relativa posição - número de ordem, designação e número de nascimentos:
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04 - Fronteira 12
16 - Arronches 19
20 - Castelo de Vide 20
24 - Marvão 21
28 - Gavião 24
29 - Avis 25
30 - Crato 25
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Como é evidente, esta dura e crua enumeração falha, por omissão, em dados fundamentais, como as respectivas populações residentes ou os seus níveis etários, por exemplo. De qualquer forma, quando se sabe, pelo mais recente Censo, que as nossas terras têm vindo aceleradamente a perder gente, podemos concluir que é muito preocupante mais este sinal de alarme...
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RETRATO DOIS – POR AQUI, APESAR DE TUDO, GERE-SE BEM...
A fonte é a mesma, o Correio da Manhã, só mudando a data, 1 de Março, e o tema, a gestão autárquica em tempos de crise. O título central é, também, bastante esclarecedor: Câmaras perdem 216 mil (euros) por dia. O artigo aborda a problemática das receitas municipais em queda, prejudicando o funcionamento das autarquias. O caso mais flagrante é o de Oeiras, que terá perdido mais de 11 milhões de euros em 2010, sobretudo em função da crise imobiliária. Também aqui os jornalistas procuraram sintetizar em mapas e curtas relações estatísticas o comportamento das autarquias no domínio da respectiva gestão financeira. Quanto à sua dimensão relativa, os municípios são repartidos por três categorias, grandes, médios e pequenos. Na primeira das listagens publicadas, todas alusivas aos melhores exemplos de gestão financeira, não poderia obviamente surgir nenhum dos nossos municípios.
Já na relação das vinte melhores médias Câmaras Municipais, o nosso distrito (!?) surge bem representado:
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02 - Elvas
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Na lista das pequenas autarquias -bons exemplos de gestão- contamos com um notável destaque:
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03 – Castelo de Vide
09 - Arronches
11 - Ponte de Sor
13 - Marvão
16 - Gavião
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Conclusão, embora sumária e superficial: seis (em quinze) das nossas Câmaras Municipais são referidas como merecendo especial menção, porque dotadas de uma cuidada gestão financeira, tanto mais relevante quanto tal avaliação se processa em função das extremas dificuldades envolventes, sobejamente conhecidas.
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EPÍLOGO – Nascer pouco ou gerir bem. Talvez algum inspirado sociólogo consiga encontrar pontos de encontro entre estas duas distintas realidades regionais.
Por mim, que não sou especialista de coisa nenhuma, apenas me preocupando em pensar livremente, como sei e como posso, não deixo de registar a ausência da minha própria terra, Portalegre, em qualquer destas relações. Fico sem saber se por cá se nasce o suficiente, embora esteja convicto de que o saldo demográfico indígena também é negativo.
Infelizmente, tenho uma certeza. A última relação onde os jornais inscreveram o nome de Portalegre é bem pouco louvável. Foi repetida nos últimos tempos, mas apenas recordo a mais recente, através das páginas do Diário de Notícias de 26 de Fevereiro. Esta indesejável lista é a dos 38 municípios com maiores problemas de tesouraria, os mais críticos, em situação iminente de falência e a serem intervencionados pelo Ministério das Finanças (esta explicitação é do jornal). E é precisamente aqui que consta a Câmara Municipal de Portalegre, num “honroso” lugar. Eis a sua relativa posição, número de ordem, designação e total das dívidas:
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07 - Portalegre € 14 134 690
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Prometi acima não tecer grandes comentários. Este, de facto, revela-se dispensável.
António Martinó de Azevedo Coutinho
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