\ A VOZ PORTALEGRENSE: António Martinó de Azevedo Coutinho

sexta-feira, março 09, 2012

António Martinó de Azevedo Coutinho


O acordo ortográfico e o futuro da língua portuguesa…

(O texto seguinte é da autoria da “anónima” administradora do blog A Biblioteca de Jacinto -que eu não conhecia!-, tendo-me chegado há dias pela generosa partilha que das coisas boas sempre vão fazendo os amigos certos e cúmplices.
Não desejo gastar aqui qualquer adjectivo na apreciação do referido blog; a sua qualidade é desde logo tão evidente que os dispensa.
Nem o facto, devidamente comprovado, de este texto ser já antigo -foi publicado em Agosto de 2009- reduz o seu interesse. Escrito na forma delirante e absurda de uma quase insuportável ironia, o texto a seguir transcrito com a devida homenagem à sua inspirada autora significa uma saudável crítica que o acordo bem merece e justifica.)
Tem-se falado muito do Acordo Ortográfico e da necessidade de a língua evoluir no sentido da simplificação, eliminando letras desnecessárias e acompanhando a forma como as pessoas realmente falam.
Sempre combati o dito Acordo mas, pensando bem, até começo a pensar que este peca por defeito.
Acho que toda a escrita deveria ser repensada, tornando-a mais moderna, mais simples, mais fácil de aprender pelos estrangeiros.
Comecemos pelas consoantes mudas: deviam ser todas eliminadas.
É um fato que não se pronunciam.
Se não se pronunciam, porque ão-de escrever-se?
O que estão lá a fazer?
Aliás, o qe estão lá a fazer?
Defendo qe todas as letras qe não se pronunciam devem ser, pura e simplesmente, eliminadas da escrita já qe não existem na oralidade.
Outra complicação decorre da leitura igual qe se faz de letras diferentes e das leituras diferentes qe pode ter a mesma letra.
Porqe é qe “assunção” se escreve com “ç” e “ascensão” se escreve com “s”?
Seria muito mais fácil para as nossas crianças atribuír um som único a cada letra até porqe, quando aprendem o alfabeto, lhes atribuem um único nome.
Além disso, os teclados portugueses deixariam de ser diferentes se eliminássemos liminarmente o “ç”.
Por isso, proponho qe o próximo acordo ortográfico elimine o “ç” e o substitua por um simples “s” o qual passaria a ter um único som.
Como consequência, também os “ss” deixariam de ser nesesários já qe um “s” se pasará a ler sempre e apenas “s”.
Esta é uma enorme simplificasão com amplas consequências económicas, designadamente ao nível da redusão do número de carateres a uzar.
Claro, “uzar”, é isso mesmo, se o “s” pasar a ter sempre o som de “s” o som “z” pasará a ser sempre reprezentado por um “z”.
Simples não é?
Se o som é “s”, escreve-se sempre com s.
Se o som é “z” escreve-se sempre com “z”.
Quanto ao “c” (que se diz “cê” mas qe, na maior parte dos casos, tem valor de “q”) pode, com vantagem, ser substituído pelo “q”.
Sou patriota e defendo a língua portugueza, não qonqordo qom a introdusão de letras estrangeiras.
Nada de “k”.
Não pensem qe me esqesi do som “ch”.
O som “ch” pasa a ser reprezentado pela letra “x”.
Alguém dix “csix” para dezinar o “x”?
Ninguém, pois não?
O “x” xama-se “xis”.
Poix é iso mexmo qe fiqa.
Qomo podem ver, já eliminámox o “c”, o “h”, o “p” e o “u” inúteix, a tripla leitura da letra “s” e também a tripla leitura da letra “x”.
Reparem qomo, gradualmente, a exqrita se torna menox eqívoca, maix fluida, maix qursiva, maix expontânea, maix simplex.
Não, não leiam “simpléqs”, leiam simplex.
O som “qs” pasa a ser exqrito “qs” u qe é muito maix qonforme à leitura natural.
No entanto, ax mudansax na ortografia podem ainda ir maix longe, melhorar qonsideravelmente.
Vejamox o qaso do som “j”.
Umax vezex excrevemox exte som qom “j” outrax vezex qom “g”.
Para qê qomplicar?!?
Se uzarmox sempre o “j” para o som “j” não presizamox do “u” a segir à letra “g” poix exta terá, sempre, o som “g” e nunqa o som “j”.
Serto?
Maix uma letra muda qe eliminamox.
É impresionante a quantidade de ambivalênsiax e de letras inuteix qe a língua portugesa tem!
Uma língua qe tem pretensõex a ser a qinta língua maix falada do planeta, qomo pode impôr-se qom tantax qompliqasõex?
Qomo pode expalhar-se pelo mundo, qomo póde tornar-se realmente impurtante se não aqompanha a evolusão natural da oralidade?
Outro problema é o dox asentox.
Ox asentox só qompliqam!
Se qada vogal tiver sempre o mexmo som, ox asentox tornam-se dexnesesáriox.
A qextão a qoloqar é: á alternativa?
Se não ouver alternativa, pasiênsia.
É o qazo da letra “a”.
Umax vezex lê-se “á”, aberto, outrax vezex lê-se “â”, fexado.
Nada a fazer.
Max, em outrox qazos, á alternativax.
Vejamox o “o”: umax vezex lê-se “ó”, outrax vezex lê-se “u” e outrax, ainda, lê-se “ô”.
Seria tão maix fásil se aqabásemox qom isso!
Para qe é qe temux o “u”?
Para u uzar, não?
Se u som “u” pasar a ser sempre reprezentado pela letra “u” fiqa tudo tão maix fásil!
Pur seu lado, u “o” pasa a suar sempre “ó”, tornandu até dexnesesáriu u asentu.
Já nu qazu da letra “e”, também pudemux fazer alguma qoiza: quandu soa “é”, abertu, pudemux usar u “e”.
U mexmu para u som “ê”.
Max quandu u “e” se lê “i”, deverá ser subxtituídu pelu “i”.
I naqelex qazux em qe u “e” se lê “â” deve ser subxtituidu pelu “a”.
Sempre.
Simplex i sem qompliqasõex.
Pudemux ainda melhurar maix alguma qoiza: eliminamux u “til” subxtituindu, nus ditongux, “ão” pur “aum”, “ães” – ou melhor “ãix” - pur “ainx” i “õix” pur “oinx”.
Ixtu até satixfax aqeles xatux purixtax da língua qe goxtaum tantu de arqaíxmux.
Pensu qe ainda puderiamux prupor maix algumax melhuriax max parese-me qe exte breve ezersísiu já e sufisiente para todux perseberem qomu a simplifiqasaum i a aprosimasaum da ortografia à oralidade so pode trazer vantajainx qompetitivax para a língua purtugeza i para a sua aixpansaum nu mundu.
Será qe algum dia xegaremux a exta perfaisaum?
(simples intermediário: António Martinó de Azevedo Coutinho)