Não se pode dizer que ficámos excessivamente surpreendidos com a notícia segundo a qual “a História suspenderá por algum tempo a sua publicação” (p.7).
A revista «História» chegou ao centésimo número da sua Terceira Série, e “parou para pensar”. E que bem precisava!
No editorial, o director, Fernando Rosas, despede-se, passando o testemunho a Luís Farinha. Já aqui tínhamos dito que Rosas era apenas director nominal, além de há muito não haver qualquer texto assinado por ele, era nitidamente Farinha quem assumia as funções de direcção.
Este número cem é constituído, como se lê, pel’“o melhor de 100 números da História”. É uma opção interessante, mas que vem por a nu as dificuldades por que a revista passava.
Esta série nunca conseguiu afirmar-se. Escrita por gente ligada à Universidade, não era uma revista académica. Mas também não era de divulgação. Caminhou sempre nessa ambiguidade, o que fez com que não conseguisse entrar nos círculos académicos, aí existem as revistas das Faculdades de História das diferentes Universidades, nem chegasse a um número grande de interessados em História.
Também nunca quis, se é que o pretendeu, ser abrangente. De Esquerda desde o primeiro número da primeira série, não conseguiu, ela que é de História, acompanhar ou entender as alterações sociológicas da sociedade portuguesa e “fechou-se” no gueto ideológico do anti-fascismo e do anti-salazarismo. Ora a sociedade portuguesa é plural e muitas das análises que eram feitas na revista há muito que a própria Academia as tornara obsoletas. Recrutando os colaboradores numa área estreita, eram sempre os mesmos a escrever e sobre as mesmas temáticas, repetindo-se.
Ao longo de cem números a que correspondem treze anos, Outubro de 1994 a Setembro de 2007, apenas apresentou um número especial temático, «Para Compreender o Islão», excelente, aliás. É pouco, muito pouco para quem inicialmente tinha objectivos tão amplos e diversificados. Neste tempo, passaram-se factos históricos em Portugal e no Mundo que mereciam uma análise, mas sempre a estreiteza ideológica impediu que fossem abordados. Muitos outros foram tratados sempre sob uma perspectiva não sectária mas de facção, funcionando, curiosamente com raridade, a figura da «Carta ao Director» como meio de contra-argumentação, o que é manifestamente insuficiente, se não redutor.
Desejamos que a revista regresse, e o mais rápido possível. Daremos o “benefício da dúvida” ao novo Director, Luís farinha, e à equipa que formará. Mas a «História» terá que optar entre ser uma revista académica para um público académico, ou uma revista que concilie este aspecto e o da divulgação, estando nós a fazer um paralelo com «La Aventura de la Historia», que conhecemos.
E também tem que ser plural em termos de estudo dos temas que aborda. Com isso ganhará mais leitores e ampliará a sua influência na sociedade, credibilizando-se. E será este o primeiro objectivo que uma qualquer revista de Cultura deve perseguir.
Que venha a “Quarta Série” da «História». Cá estaremos para dela continuar a falar!