\ A VOZ PORTALEGRENSE: Crónica de Nenhures

quinta-feira, setembro 27, 2007

Crónica de Nenhures

Perfídia
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Portugal é assim mesmo. Os mesmos que “ontem” se recusaram a receber o líder espiritual e político tibetano no exílio, o Dalai Lama, são os mesmos que “hoje” se insurgem contra a Junta Militar que governa a Birmânia, que está a enfrentar forte contestação popular, liderada por monges budistas.
Não há diferença entre o Tibete e a Birmânia em termos de liberdades e garantias dos cidadãos. A diferença reside no facto de a Birmânia ser um regime em que vigora uma ditadura militar, que se perpétua há quatro décadas a esta parte, e o Tibete é um País ocupado por uma potência invasora, a República Popular da China.
Desde 1989, Myanmar é o nome que actualmente se dá à Birmânia, antiga colónia britânica. Tornada independente em 1948, foi em 1962 que se deu o primeiro golpe de estado militar, tendo-se seguido outro em 1988. Aliada da China, os militares têm contado com o apoio desta potência asiática, ela própria uma “intocável” ditadura de partido único, o Partido Comunista Chinês.
O que é preciso é não afrontar a China no caso do Tibete, e no caso de Myanmar, algo mudará para que tudo fique na mesma. A China não pode permitir que a revolta budista vingue, porque então este cenário poderia repetir-se no Tibete, se os monges liderassem a revolta contra o ocupante.
A retórica ocidental continuará, mas sem resultados práticos. E que moralidade têm, no caso de Portugal, os líderes políticos indígenas para atacarem o regime birmanês, quando há dias não tiveram coragem de denunciar a ocupação chinesa do Tibete, ou, ainda, de condenarem os EUA liderados por George W. Bush, pelas violações dos Direitos Humanos, no Iraque, no Afeganistão e na base de Guantánamo?
MM