\ A VOZ PORTALEGRENSE: junho 2024

sexta-feira, junho 28, 2024

AA Birkin - Hardy - Bardot

Birkin – Hardy – Bardot

Houve um tempo em que se era jovem, que se acreditava na Imortalidade, nos Deuses, na Virtude, no Amor. Tempo de uma Juventude vivida, sentida, idolatrada, eterna.

Das diferentes formas de se viver e exaltar o Amor, poesia, canção, cinema era a trilogia que transformava a existência. Os ‘sixties’ são a fronteira entre um antes e um depois, um marco jamais esquecido, uma época de abundância, de liberdade, de felicidade, de confiança no futuro. A Europa esquecera a guerra civil que a consumira, terminada nos remotos anos quarenta, e voltava a viver e com forte vontade de viver.

«Je t’aime moi non plus» é uma canção (1967) e também um filme (1976). Ambos têm a assinatura de Serge Gainsbourg, mas é Jane Birken, como cantora e protagonista que fica célebre.

Jane Mallory Birkin  (Londres, 14/12/1946 – Paris, 16-07-2023) foi compositora, cantora, actriz e modelo inglesa, mas é em França que atinge a notoriedade. A sua ligação com Gainsbourg marcou um estilo.

A canção foi proibida em inúmeros países, como Portugal, alvo de censura em rádios, e recebeu a excomunhão do Vaticano. Tornou-se um sucesso retumbante. A carga de erotismo ainda hoje é sentida e vivida por quem a ouve. Intemporal!

«Tous Les Garçons Et Les Filles» (1962), escrita e musicada por Françoise Hardy, é de uma beleza nostálgica, melancólica, inigualável. «Message Personnel» (1973), o testemunho de um Amor que se deseja mas que não acontece. Dois momentos únicos, de uma perfeição transcendental!

Françoise Madeleine Hardy (Paris, 17/01/1944 – Paris, 11/06/2024) marcou o seu tempo. Compôs, musicou, escreveu, amou, sofreu, e de tudo deixou testemunho. Uma vida completa. Princípios e valores acompanham um percurso exemplar. E uma voz única, uma beleza perene, um marco na moda disputada por costureiros e estilistas.

«Et Dieu… Creá La Femme» (1956) prenuncia já os anos sessenta que estavam para chegar. Filme ousado, saúda e glorifica a Beleza através da protagonista.

Brigitte Anne-Marie Bardot (Paris, 28/09/1934), bela, sensual, apolínea, é para ela que originalmente Gainsbourg escreve «Je t’aime moi non plus». Mas o cinema não deixa que Bardot o abandone, e a sua carreira percorre principalmente a década de sessenta, a par de uma carreia menos fulgurosa como cantora. Como modelo, deslumbrou. Mantém o estatuto de ícone daquela década maravilhosa.

Jane Birkin e Françoise Hardy partiram. Brigitte Bardot há muito que se recolheu. O tempo, esse, fará perdurar os seus legados.

Mário Casa Nova Martins

sexta-feira, junho 14, 2024

AA Medos e Demónios

Medos e Demónios

‘Os amanhãs que cantam’ há muito que ‘emudeceram’. Simbolicamente, a sua derrota data de 9 de Novembro de 1989, com a queda do Muro de Berlim. Mas nunca deixaram de manter viva na Europa a sua dominação seja na cultura, seja na comunicação social.

Eleitoralmente de imediato desaparecem. Contudo, resistiram décadas em Portugal, se bem que hoje no parlamento sejam apenas 9 em 230 deputados (4 Estalinistas e 5 Trotskistas), uma minoria de 3,9 %.

A última campanha eleitoral para as eleições europeias de 9 de Junho passado, mostrou a sua preponderância na comunicação social nacional, onde conseguiram marcar a agenda, não política mas uma agenda de ódio a tudo o que não está na sua cartilha ideológica totalitária.

Em Portugal, durante décadas ameaçaram com “o regresso do fascismo”, frase que se traduzia na criação de um medo na forma de condicionar o voto, de ameaça a quem em público tinha uma opinião diferente, de intimidação a quem saísse fora do cânone dito progressista. E isto acontecia no Ensino, com grande intensidade na Universidade, nos meios intelectuais, mas também nos empregos e na vida social.

Desmontada esta perfídia de “o regresso do fascismo”, nova frase surgiu na tentativa de cerceamento, de intimidação, de demonização, que é “a ascensão da extrema-direita”.

Formatação de mentes ao longo do último meio século marca o processo de despotismo imposto pelo radicalismo de esquerda.

Quando a Europa está em guerra, que está para durar, sabendo-se que não vai haver vencedores mas sim vencidos; quando a economia europeia está em crise, pela guerra e pela desindustrialização acelerada que erradamente teve; uma Europa sem as matérias-primas que hoje são as mais importantes para as novas indústrias e tecnologias; uma Europa com excesso de burocracia, fraca produtividade, problemas de competitividade, corrupção; e toda a campanha eleitoral teve apenas um denominador, “a ascensão da extrema-direita”.

Dominou debates, noticiários, comentários, momentos de campanha dos partidos, “a ascensão da extrema-direita”.

Partidos do arco da governação e radicais de esquerda com assento parlamentar, ocuparam o tempo não a discutir o presente e o futuro da Europa e da União Europeia, mas sim a criar um clima persecutório, claustrofóbico. Tudo se resumia ao tema, “a ascensão da extrema-direita”!

E o que é “a ascensão da extrema-direita”? Uma frase que nada diz, porque a extrema-direita, que realmente existe em Portugal, nada tem a ver com os ‘alvos’ que se pretendiam atacar.

Mário Casa Nova Martins

terça-feira, junho 04, 2024

AA - Declínio e Queda da Europa

Declínio e Queda da Europa

«A Roma dos Augustos acabara nos desvios, loucuras e perfídias dos Calígulas e Neros. Uma construção que dominara o mundo e que nos legou a nossa civilização, o famoso Ocidente, descontrolada por excessos de poder, abundância, nepotismo e despotismo, e vigiada de perto pelas hordas de inimigos às portas do império, foi vencida com estrondo e humilhação. Os bárbaros entraram.»

A ‘insuspeita’ Clara Ferreira Alves escreveu o que acima se transcreve na Edição 2689 do passado 10 de Maio na revista “E” do semanário Expresso, página 3. E convida à leitura de duas obras “A História do Declínio e Queda do Império Romano” de Edward Gibbon, editada pela Book Builders em 2020 em dois volumes, e “Considerações sobre as Causas da Grandeza dos Romanos” de Montesquieu, editada pela Assírio & Alvim em 2002, edições que temos.

Esta introdução conduz ao recente ‘festival da eurovisão’. De edição para edição, a decadência instalou-se inexoravelmente, tornando-se o espelho da actual sociedade europeia.

O que conduziu à queda de Roma, e mais tarde de Constantinopla a Oriente, está cada vez mais a acontecer na Europa. E não são os emigrantes os ‘bárbaros’ que estão a destruir a civilização europeia, são os próprios europeus, que hedonisticamente trabalham para o fim da sua própria civilização.

O dito ‘festival da eurovisão’ é a montra dessa decadência, desse fim de um tempo civilizacional, em que a Ética e a Moral se abastardaram, gerando monstruosidades, com a concordância dos poderes políticos, a conivência da hierarquia do catolicismo, a aceitação da cultura degenerada, figura central deste ‘festival de horrores’.

Vive-se o tempo da “civilização faustiana”, que Oswald Spengler enunciou na sua obra «A Decadência do Ocidente», nunca traduzida em Portugal, mas disponível, por exemplo, na edição espanhola Colección Austral da Espasa Calpe.

Está-se no tempo da cultura faustiana, a cultura dionisíaca de Nietzsche em oposição à cultura apolínea. Nietzsche associava Dionísio à intoxicação, desarmonia, ausência de forma, sublimidade e música, enquanto Apolíneo representava a contemplação, harmonia, beleza, e o equilíbrio entre as formas, especialmente através da razão.

Assim se compreende porque é dito que o Festival da Eurovisão é um espelho da decadência da civilização ocidental.

Quando o Belo é substituído pelo Feio, a Estética pelo Hediondo, o Normal pela Aberração, o Espírito pela Matéria, então, muito doente está a Sociedade.

Mário Casa Nova Martins

segunda-feira, junho 03, 2024

Desabafos 2023/24 - XVII

O regime já tem a sua obra, que é a obra do regime. E a obra do regime é o Aeroporto Luís de Camões!

Mas o regime também tem mais uma obra do regime, que é uma nova travessia do Rio Tejo, simultaneamente rodoviária e ferroviária.

E o regime ainda tem uma outra obra do regime, que é o chamado ‘comboio de alta velocidade’.

O aeroporto é na margem sul do Tejo, em Alcochete, para servir Lisboa. A nova ponte sobre o Tejo serve o novo aeroporto e consequentemente Lisboa. O TGV liga o Porto a Lisboa e vice-versa, e Madrid a Lisboa e vice-versa.

As três infra-estruturas, se um dia vierem a ser construídas, serão mais-valia para o concelho de Portalegre, se o IC 13 for concluído e a ligação da capital do distrito à A6 for melhorada, tal como o IP2 que o atravessa.

Mas ainda haverá alguém em Portalegre que acredite que o IC13 alguma vez será concluído? Haverá alguém em Portalegre que acredita que a ligação à A6, seja por Campo Maior ou por Elvas, alguma vez terá no mínimo perfil de IC? Que a ligação do IP2 entre Fratel (A23) e Estremoz (A6) será um ‘verdadeiro’ IP? E que a ligação entre a A23 e A6, passando a oeste de Portalegre cidade, em vez de IP, terá perfil de auto-estrada?

Só os políticos em campanha eleitoral afirmarão que o IC13 será concluído, ou que as ligações à A6 e A23 terão o perfil que se justifica!

E ainda se acredita que a Barragem do Pisão vai mesmo ser construída? Pareceres de toda a ordem há, graças a gabinetes de toda a ordem. Tal como outro tipo de organismos a ela ligados.

O pior cego não é o que não vê, mas sim aquele que finge não ver. O pior surdo o que finge não ouvir. O pior mudo é o que não o admite. E a pior mentira é enganar-se a si próprio.

Mário Casa Nova Martins

27 de Maio de 2024

Rádio Portalegre