\ A VOZ PORTALEGRENSE: junho 2021

quarta-feira, junho 23, 2021

Mário Silva Freire

Revista Psicologia e Educação On-Line 2021, Vol. 4, Nº 1, 1 - 8

Aceite: 18/04/2021 

Resumo do artigo publicado na revista da UBI

Trata-se de um estudo das preferências profissionais de duas populações de crianças dos 6-10 de idade, do 1º ao 4º ano de escolaridade, representativas do concelho de Portalegre, separadas 32 anos no tempo, anos escolares de 1987-1988 e de 2019-2020, abrangendo uma amostra total de 1132 pessoas (540 e 592, respectivamente).

Um dos conceitos introduzidos é o de “taxa de dispersão” que traduz o número de profissões diferentes preferidas por cada 100 crianças. Quanto maior for o valor da taxa de dispersão, maior será o número de profissões conhecidas pela população em estudo.

No que se refere às preferências profissionais das crianças de 1987-1988, num total de 77 profissões escolhidas, verificou-se uma diferença acentuada da taxa de dispersão entre rapazes (20,7%) e raparigas (13,8%).

Quanto às preferências profissionais das crianças de 2019-2020, as preferências profissionais distribuíram-se por 116 profissões em que a taxa de dispersão dos rapazes foi de 29,4% e o das raparigas de 26,6%.

Estes valores indicam uma aproximação muito significativa entre os sexos nas crianças de 2019-2020, no que se refere ao conhecimento do mundo das profissões, ao contrário do que se passava com as crianças de 1987-1988.

Quanto às diferenças no conteúdo dessas preferências, nas duas amostras, no léxico de 1987-1988, aparecia a nomeação de profissões como as de peixeiro, taberneiro, apanhador de castanhas, pastor, cantoneiro, carpinteiro, lavadeira, guarda-fiscal, doméstica, polícia-sinaleiro…  que hoje já desapareceram ou estão em vias de extinção.

Quanto às preferências emitidas em 2019-2020, elas abrangem um conjunto alargado de profissões, muitas das quais não são referidas em 1987-1988, algumas exigindo formação superior, como as de astronauta, biólogo marinho, dentista, designer de interiores e de moda, engenharias (agrícola, civil, informática, mecânica), estilista, farmacêutico, jornalista, juiz, paleontólogo… Na profissão de músico ocorreram algumas especialidades (flautista, guitarrista e violoncelista).

Um outro conceito introduzido no estudo foi o de “índice de concentração”, servindo ele de crivo para separar as profissões mais preferidas. Não se entrando na caracterização deste índice, verificou-se que na população de 1987-1988 essas profissões foram, por ordem percentualmente crescente, as seguintes: pedreiro, polícia, mecânico, enfermeiro/a, cabeleireira, futebolista, médico/a e professor/a, correspondendo estas profissões a 60% das crianças. Tal significou que os restantes 40% dispersaram as suas preferências por 69 profissões. Observou-se, ainda, que as profissões de pedreiro, polícia, mecânico e futebolista só foram escolhidas por rapazes; a profissão de cabeleireira só o foi por raparigas; as restantes profissões (enfermeiro/a, médico/a e professor/a), tendo ainda um forte pendor feminista, tiveram preferências em ambos os sexos.

Relativamente às profissões mais escolhidas na população de 2019-2020, elas foram, por ordem percentualmente crescente, as seguintes: estilista, actor/actriz, militar, cozinheiro/a, bombeiro/a, You Tuber, cabeleireiro/a, cantor/a, médico/a, polícia, professor/a, veterinário/a e futebolista, correspondendo elas a 60% das crianças. Os restantes 40% das crianças distribuíram as suas preferências profissionais por 103 profissões. Apenas a profissão de estilista foi preferida pelo sexo feminino, embora as restantes, tendo representação em ambos os sexos, apresentem ainda alguma tendência sexista.

Comparando as duas populações escolares, verifica-se que do ano 1987-1988 para o ano 2019-2020 houve, relativamente às profissões mais preferidas por um só dos sexos, uma descida de 62,5% para 7,7%, o que significa uma diminuição muito acentuada dos estereótipos associados a profissões desempenhadas ou só por homens ou só por mulheres.  

 A abertura da sociedade a ideias mais igualitárias em relação aos papéis do homem e da mulher reflecte-se com muito destaque neste estudo comparativo entre estas duas populações. Com os dados com que se trabalhou pode concluir-se que, para as crianças dos 6-10 anos de idade, do ano escolar de 2019-2020, ao contrário das crianças de há 32 anos atrás, o facto de se ser homem ou mulher ou o lugar onde se reside não é percepcionado como um factor de grande relevância que as limite na concretização das suas preferências profissionais.

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terça-feira, junho 22, 2021

Autárquicas 2021 em Portalegre

No concelho de Portalegre, as candidaturas autárquicas, seguem o seu linear caminho.

Bem, nem todas.

O PS tem na Rua 1.º de Maio a sua sede de candidatura, privilegiando as cores, amarelo e preto, do concelho, apresentando o leitmovif, slogans, da campanha, e ultima as listas.

O CLIP tem o ‘trabalho de casa’ feito, está no terreno desde o princípio do ano, ao ‘aparecer’ nos funerais, nos lares, nas associações e ‘em tudo o que mexe’.

O PCP surpreendeu ao ‘trocar o certo pelo incerto’, e está a consolidar a sua base eleitoral, uma vez que com a ‘escolha’ feita perde o ‘voto útil’.

O ‘novato’ Chega está em convulsão ao afastar o candidato à junta de freguesia Sé e São Lourenço (sinais, ‘dores de crescimento’, ou o ‘albergue espanhol’ está a abrir fissuras), mas tem certo uma fatia do eleitorado do CDS, dado ser quem é o candidato à autarquia.

Embora queiram que nada transpire, a verdade é que o PSD tem tido dificuldade no preenchimento das listas. Uns, pura e simplesmente, recusaram entrar nesta ‘aventura perdedora’, outros, dado que a candidata tem a liberdade de escolher quem quer, foram ‘eliminados’, e os que irão aparecer não são mais-valia, são segundas e terceiras escolhas.

É por estes factos internos do PSD que o CDS deve repensar a coligação que, segundo se diz, uma vez que nada é público, terá ‘cozinhado’.

Que o CDS do concelho de Portalegre faça um Plenário de Militantes, que convide simpatizantes, e promova um debate que ponha em cima da mesa a hipótese de uma coligação (que se sabe ser perdedora) com o PSD, ou a hipótese de avançar sozinho.

Defendemos que o CDS deve concorrer com listas próprias!

O CDS nada tem a ganhar em fazer uma coligação eleitoral no concelho de Portalegre com ‘este’ PSD. Perde identidade, divide-se, dilui-se.

O passado de coligações do CDS com o PSD no concelho de Portalegre mostra que o PSD só quer coligação quando está fraco, quando sabe que não vai ganhar a autarquia.

Foi isto mesmo que a sua actual candidata fez no passado em Arronches.

Na candidatura em que sabia que não ganharia (2005), fez uma coligação com o CDS e o PPM. Passados quatro anos, quando todos os dados indicavam que ia ganhar, tal como aconteceu (2009), recusou a reedição da coligação com o CDS.

E factos, são factos!

Mário Casa Nova Martins

quarta-feira, junho 09, 2021

Salazar, o Ditador que se recusa a morrer

Recordo uma conversa de décadas com o dr. Rui Biscaia Tello Gonçalves, sobre um texto meu no extinto semanário «O Distrito de Portalegre». Em finais de Julho desse ano, por altura da data do seu falecimento, escrevera no meu espaço «Conta-Corrente» sobre António de Oliveira Salazar.

Preocupado, como Amigo alertava-me que ainda não era tempo para se falar de Salazar. O meu texto era o que pensava sobre aquela figura política, e ‘fugia’ dos cânones oficiais.

Hoje, passadas décadas, quem se atreve a escrever sobre Salazar, fora desses cânones, sujeita-se a ser insultado e caluniado. Mas, como “os cães ladram e a caravana passa” (abençoado Povo que tais ditados populares tem!), nunca me coibi de dizer e escrever aquilo que para mim é a verdade dos factos.

Esta introdução vem a propósito da leitura do livro «Salazar, o Ditador que se recusa a morrer», editado pela D.QUIXOTE.

Há um texto interessante de João Pedro Castanheira no semanário «Expresso» intitulado «As livrarias estão cheias de lixo sobre Salazar», citado na bibliografia, e é totalmente verdade. Daí se ter o maior cuidado em adquirir livros sobre Salazar e o Salazarismo. Esta temática ‘vende como pães quentes’, tal como outras temáticas que são estória e nada têm de História. Inclusive, se determinada palavra aparece no título, logo é sinónimo de vendas.

Esta obra de Tom Gallagher trata de Salazar, o seu tempo e a sua obra vistos por um estrangeiro, o que desde logo dá um distanciamento do Autor face ao tema que estuda.

O maior interesse, dado que os factos são do domínio público, é, justamente, conhecer a maneira interpretativa de Alguém que embora conheça bem o século XX português, não o viveu presencialmente.

Não se pretende fazer uma crítica pormenorizada sobre o livro. Contudo, refira-se o ‘desmontar’ do mito do ‘justo’ de Cabanas de Viriato, uma das ‘vacas sagradas’ do anti-salazarismo. Interessante a análise sobre Henrique Galvão, Santos Costa, e sobretudo Marcello Caetano. Rolão Preto não é ‘esquecido’, e convirá dizer que recentemente a «Contra-Corrente» editou uma antologia de textos do Nacional-Sindicalismo.

A análise das relações entre Salazar e os americanos é excelente.

Um livro a ler! Sem complexos, na busca da Verdade, em Liberdade.

Hoje em Portugal vigora um regime Socialista, não do tipo totalitário como o soviético, mas é um facto que se tem um Estado excessivamente interventivo nos campos da economia, saúde e educação, e cada dia que passa a Extrema-Esquerda tem mais influência no Governo do PS. Vive-se um Socialismo à portuguesa, que tem conduzido o País para a cauda da União Europeia.

O parágrafo anterior serve de introdução a uma frase do livro, página 88, linhas 24 a 27: _ Mas, como observou um historiador, [Salazar] moldou Portugal «de modo muitíssimo socialista» deixando os portugueses acostumados a uma grande presença do Estado e muitíssimo dependentes do Estado.

O historiador era o socialista A. H. de Oliveira Marques. E, p’ra que conste, nunca fui Salazarista!

Mário Casa Nova Martins