Mário Silva Freire
Revista Psicologia e Educação On-Line 2021, Vol. 4, Nº 1, 1 - 8
Aceite: 18/04/2021
Resumo do artigo publicado na revista da UBI
Trata-se de um estudo
das preferências profissionais de duas populações de crianças dos 6-10 de
idade, do 1º ao 4º ano de escolaridade, representativas do concelho de
Portalegre, separadas 32 anos no tempo, anos escolares de 1987-1988 e de
2019-2020, abrangendo uma amostra total de 1132 pessoas (540 e 592,
respectivamente).
Um dos conceitos
introduzidos é o de “taxa de dispersão” que traduz o número de profissões
diferentes preferidas por cada 100 crianças. Quanto maior for o valor da taxa
de dispersão, maior será o número de profissões conhecidas pela população em
estudo.
No que se refere às preferências
profissionais das crianças de 1987-1988, num total de 77 profissões
escolhidas, verificou-se uma diferença acentuada da taxa de dispersão entre
rapazes (20,7%) e raparigas (13,8%).
Quanto às preferências
profissionais das crianças de 2019-2020, as preferências profissionais
distribuíram-se por 116 profissões em que a taxa de dispersão dos rapazes foi
de 29,4% e o das raparigas de 26,6%.
Estes valores indicam uma
aproximação muito significativa entre os sexos nas crianças de 2019-2020, no
que se refere ao conhecimento do mundo das profissões, ao contrário do que se
passava com as crianças de 1987-1988.
Quanto às diferenças no
conteúdo dessas preferências, nas duas amostras, no léxico de 1987-1988,
aparecia a nomeação de profissões como as de peixeiro, taberneiro, apanhador de
castanhas, pastor, cantoneiro, carpinteiro, lavadeira, guarda-fiscal,
doméstica, polícia-sinaleiro… que hoje
já desapareceram ou estão em vias de extinção.
Quanto às preferências
emitidas em 2019-2020, elas abrangem um conjunto alargado de profissões, muitas
das quais não são referidas em 1987-1988, algumas exigindo formação superior,
como as de astronauta, biólogo marinho, dentista, designer de interiores e de
moda, engenharias (agrícola, civil, informática, mecânica), estilista,
farmacêutico, jornalista, juiz, paleontólogo… Na profissão de músico ocorreram
algumas especialidades (flautista, guitarrista e violoncelista).
Um outro conceito
introduzido no estudo foi o de “índice de concentração”, servindo ele de crivo para
separar as profissões mais preferidas. Não se entrando na caracterização
deste índice, verificou-se que na população de 1987-1988 essas profissões foram,
por ordem percentualmente crescente, as seguintes: pedreiro, polícia, mecânico,
enfermeiro/a, cabeleireira, futebolista, médico/a e professor/a, correspondendo
estas profissões a 60% das crianças. Tal significou que os restantes 40% dispersaram
as suas preferências por 69 profissões. Observou-se, ainda, que as profissões
de pedreiro, polícia, mecânico e futebolista só foram escolhidas por rapazes; a
profissão de cabeleireira só o foi por raparigas; as restantes profissões
(enfermeiro/a, médico/a e professor/a), tendo ainda um forte pendor feminista, tiveram
preferências em ambos os sexos.
Relativamente às profissões
mais escolhidas na população de 2019-2020, elas foram, por ordem
percentualmente crescente, as seguintes: estilista, actor/actriz, militar,
cozinheiro/a, bombeiro/a, You Tuber, cabeleireiro/a, cantor/a, médico/a,
polícia, professor/a, veterinário/a e futebolista, correspondendo elas a 60%
das crianças. Os restantes 40% das crianças distribuíram as suas preferências
profissionais por 103 profissões. Apenas a profissão de estilista foi preferida pelo sexo
feminino, embora as restantes, tendo representação em ambos os sexos,
apresentem ainda alguma tendência sexista.
Comparando as duas
populações escolares, verifica-se que do ano 1987-1988 para o ano 2019-2020 houve,
relativamente às profissões mais preferidas por um só dos sexos, uma descida de
62,5% para 7,7%, o que significa uma diminuição muito acentuada dos
estereótipos associados a profissões desempenhadas ou só por homens ou só por
mulheres.
A abertura da sociedade a ideias mais igualitárias em relação aos papéis do homem e da mulher reflecte-se com muito destaque neste estudo comparativo entre estas duas populações. Com os dados com que se trabalhou pode concluir-se que, para as crianças dos 6-10 anos de idade, do ano escolar de 2019-2020, ao contrário das crianças de há 32 anos atrás, o facto de se ser homem ou mulher ou o lugar onde se reside não é percepcionado como um factor de grande relevância que as limite na concretização das suas preferências profissionais.
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