Custódio
Castelo no CAEP
Uma
Noite bem Passada
Custódio
Castelo é um homem de múltiplos talentos, peculiaridades várias e currículo
invejável. Castelo domina a guitarra portuguesa como poucos e movimenta-se em
diversas vertentes; solista, acompanhante e professor, pois leciona o 1º Curso
Superior de Guitarra Portuguesa na ESART de Castelo Branco.
Começou
a tocar viola aos 13 anos e a fazer o habitual percurso de grupos de baile e
bandas de garagem. Mas o som encantatório da guitarra portuguesa que ia ouvindo
nos discos de Amália depressa lhe prendeu a atenção e seria por cima desses
mesmos discos que aprenderia a tocá-la. Mas a evolução seria de tal forma
rápida que acabaria, mesmo sem fazer o tirocínio pelas casas de fado, por
acompanhar a própria Amália, mas também Fernando Maurício e Manuel de Almeida,
sendo ainda requisitado por estrelas da nova geração como Ana Moura, Mariza,
Mafalda Arnaulth ou Camané. Curiosamente, o que também é demonstrativo da sua
versatilidade como músico, empresta regularmente a sua guitarra, ao vivo e em
disco, a duas “não fadistas”, Cristina Branco e Mísia. Como solista percorre
diversos caminhos e sonoridades várias. Tendo Lisboa como ponto de partida,
avança à descoberta de músicas e sons do mundo. Castelo não é herdeiro de Paredes,
nem de Chainho, nem de Fontes Rocha – que reconhece como influência - mas bebe
nessas fontes que mistura com os sons da lusofonia para construir uma música de
grande universalidade, o que o leva a ser solicitado para as quatro partidas do
mundo para concertos a solo ou para parcerias com músicos de diversas áreas.
No ano
passado Custódio Castelo gravou Inventus, disco que chegará a cerca de 80
países e em que o músico presta homenagem a Amália, Fontes Rocha, Cesária Évora
e, nas suas palavras, é o espelho do percurso e aprendizagem que foi fazendo ao
longo dos anos.
Ora foi
esta interessante e rica personagem que subiu no último sábado, ao palco do
CAEP para um concerto de média expetativa.
Castelo
entrou em palco ao som do contrabaixo e da viola, cumprimentou o público com um
respeitoso boa noite, tendo como resposta o silêncio de uma sala meio cheia ou
meio vazia. O músico não desarmou, repetiu o cumprimento e em troca recebeu um
desconfortável e sumido “boa noite”. Sentou-se e em vez de arrancar para um
tema forte para quebrar o gelo, solicitou o público para o acompanhar num
pequeno coro. O degelo estava em marcha, a partir daí foi sempre em crescendo
até aos dois grandes momentos finais; o primeiro com a participação de dois
guitarristas de Portalegre, António Eustáquio e Ricardo Gordo e o segundo com a
interpretação magnífica de “ O Encantador de Tristezas”, suite de três
andamentos de enorme intensidade.
Castelo
é para além de músico brilhante, um excelente comunicador como ficou provado ao
longo deste concerto em que, como fez questão de referir por diversas vezes, a
partilha dos momentos foi ativa e constante. Pena foi, como referiu António
Eustáquio, que a cidade não se tivesse mobilizado para receber condignamente um
grande intérprete de guitarra portuguesa. Foi pena não ter aparecido mais gente
pois teriam tido uma noite bem passada…