\ A VOZ PORTALEGRENSE: Luís Filipe Meira

quarta-feira, abril 17, 2013

Luís Filipe Meira

Guitolão World Project no CAEP
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Lugar ao Sul
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Há alguns meses atrás no seguimento de uma conversa de ocasião, um amigo que tem alguns conhecimentos musicais e que toca viola razoavelmente, dizia-me que lhe parecia que o guitolão poderia vir a ser um instrumento falhado, pois apresentava diversas limitações, nomeadamente pouca flexibilidade.
Confesso que os argumentos me pareceram pouco ou nada convincentes, no entanto, apesar da minha paixão platónica pela música, a minha formação musical é nula, logo a hipótese do contraditório ou de contra argumentação consistente tornou-se tarefa impossível e fiquei-me por mudar o rumo da conversa.
Como não fiquei convencido, umas semanas depois em conversa com um outro amigo – este músico profissional – levantei a questão das limitações do guitolão como instrumento musical.
Aqui a análise já foi substancialmente diferente; disse-me esse outro amigo, que era demasiado cedo para analisar a capacidade de um instrumento tão jovem, do qual existem meia dúzia de exemplares, que tem apenas sete anos de vida e um diminuto número de executantes a explorarem-lhe as sonoridades.
Afinal o cavaquinho ou ukelele tem mais de um século de existência e as origens da guitarra portuguesa remontam à Idade Média. Assim e com estas variáveis será sempre prematuro ajuizar para já as capacidades do guitolão.
O guitolão é um instrumento de cordas baseado na guitarra portuguesa, nascido a partir de uma proposta de Carlos Paredes ao construtor Gilberto Grácio, que devido à morte de Mestre Paredes decidiu entregá-lo a António Eustáquio para o trabalhar e desenvolver à medida do seu talento
O guitolão foi apresentado em 2005 e desde aí António Eustáquio tem vindo a utiliza-lo em diversas vertentes.
Começou com o Quarteto Ibero-Americano com o qual gravou um primeiro cd com um repertório clássico com transcrições de música erudita, tendo depois trabalhado com o contrabaixista Carlos Barretto em registo livre, onde a improvisação andava ao sabor do talento dos dois músicos que iam construindo, paulatinamente, uma música empolgante sem espartilhos e de enorme riqueza criativa.
Este Guitolão World Project é um projeto recente de quatro músicos de Portalegre – António Eustáquio, Miguel Monteiro, Vítor Miranda e Samuel Lupi – que procuram sonoridades mediterrânicas, coloridas, festivas e quentes construídas à volta do guitolão de António Eustáquio com o saxofone soprano de Miguel Monteiro como braço direito e cuja conciliação de sons se apresenta escudada na batida do cájon de Samuel Lupi e no enchimento rítmico do contrabaixo de Vítor Miranda.
Se o projeto dá ainda os primeiros passos, os músicos já têm muitos e bons anos de eclética experiência. Sendo que, para além do talento e experiência, todos eles apresentam na sua personalidade musical um pequeno mas importante pormenor: têm bom gosto, o que faz toda a diferença. Assim posso dizê-lo, sem medo de errar, que este Guitolão World Project tem tudo para dar certo. Haja tempo, oportunidade e vontade para estes músicos percorrerem um caminho que em Portugal está mais ou menos desbravado mas que tem imenso trafego, leia-se concorrência.
O concerto do CAEP confirmou isso mesmo, a matéria-prima existe e o potencial é enorme, o resto virá com tempo, trabalho e marketing. O verão está à porta, os festivais e os concertos multiplicam-se e se é verdade que talvez seja um pouco cedo para um FMM Sines ou um Med Loulé, haverá outros certamente. Para além do mercado espanhol, que está ali ao virar da esquina, ter uma enorme apetência para este tipo de música.
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