Luís Filipe Meira
Guitolão World Project no CAEP
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Lugar ao Sul
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Há alguns meses atrás no seguimento de uma
conversa de ocasião, um amigo que tem alguns conhecimentos musicais e que toca
viola razoavelmente, dizia-me que lhe parecia que o guitolão poderia vir a ser
um instrumento falhado, pois apresentava diversas limitações, nomeadamente
pouca flexibilidade.
Confesso que os argumentos me pareceram
pouco ou nada convincentes, no entanto, apesar da minha paixão platónica pela
música, a minha formação musical é nula, logo a hipótese do contraditório ou de
contra argumentação consistente tornou-se tarefa impossível e fiquei-me por
mudar o rumo da conversa.
Como não fiquei convencido, umas semanas depois em conversa com um
outro amigo – este músico profissional – levantei a questão das limitações do
guitolão como instrumento musical.
Aqui a análise já foi substancialmente diferente; disse-me esse outro
amigo, que era demasiado cedo para analisar a capacidade de um instrumento tão
jovem, do qual existem meia dúzia de exemplares, que tem apenas sete anos de
vida e um diminuto número de executantes a explorarem-lhe as sonoridades.
Afinal o cavaquinho ou ukelele tem mais
de um século de existência e as origens da guitarra portuguesa remontam à Idade
Média. Assim e com estas variáveis será sempre prematuro ajuizar para já as
capacidades do guitolão.
O guitolão é um instrumento de cordas
baseado na guitarra portuguesa, nascido a partir de uma proposta de Carlos
Paredes ao construtor Gilberto Grácio, que devido à morte de Mestre Paredes
decidiu entregá-lo a António Eustáquio para o trabalhar e desenvolver à medida
do seu talento
O guitolão foi apresentado em 2005 e desde
aí António Eustáquio tem vindo a utiliza-lo em diversas vertentes.
Começou com o Quarteto
Ibero-Americano com o qual gravou um primeiro cd com um repertório clássico
com transcrições de música erudita, tendo depois trabalhado com o
contrabaixista Carlos Barretto em registo livre, onde a improvisação andava ao
sabor do talento dos dois músicos que iam construindo, paulatinamente, uma
música empolgante sem espartilhos e de enorme riqueza criativa.
Este Guitolão World
Project é um projeto recente de quatro músicos de Portalegre – António
Eustáquio, Miguel Monteiro, Vítor Miranda e Samuel Lupi – que procuram
sonoridades mediterrânicas, coloridas, festivas e quentes construídas à volta do guitolão de
António Eustáquio com o saxofone soprano de Miguel Monteiro como braço direito
e cuja conciliação de sons se apresenta escudada na batida do cájon de Samuel
Lupi e no enchimento rítmico do contrabaixo de Vítor Miranda.
Se o projeto dá ainda os primeiros passos,
os músicos já têm muitos e bons anos de eclética experiência. Sendo que, para
além do talento e experiência, todos eles apresentam na sua personalidade
musical um pequeno mas importante pormenor: têm bom gosto, o que faz toda a diferença.
Assim posso dizê-lo, sem medo de errar, que este Guitolão World
Project tem tudo para dar certo. Haja tempo, oportunidade e vontade para
estes músicos percorrerem um caminho que em Portugal está mais ou menos
desbravado mas que tem imenso trafego, leia-se concorrência.
O concerto do CAEP confirmou isso mesmo, a
matéria-prima existe e o potencial é enorme, o resto virá com tempo, trabalho e
marketing. O verão está à porta, os festivais e os concertos multiplicam-se e
se é verdade que talvez seja um pouco cedo para um FMM Sines ou um Med Loulé, haverá
outros certamente. Para além do mercado espanhol, que
está ali ao virar da esquina, ter uma enorme apetência para este tipo de
música.
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