\ A VOZ PORTALEGRENSE: agosto 2008

sábado, agosto 30, 2008

Corrupção no Futebol em Portugal

Percebi tudo sobre o futebol português no dia 21 de Setembro de 1994. E por isso que tenho grande dificuldade em perceber os receios dos adeptos do FC Porto Nada temam. Se nada aconteceu depois do golo do Amaral, não é um parecer de Direito Administrativo que vos vai tramar
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Quer-me parecer que
o parecer parece mas não é
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Não pretendo gabar-me, mas a verdade é que percebi tudo sobre o futebol português no dia 21 de Setembro de 1994. Disputavam-se os últimos cinco minutos da segunda mão da final da Supertaça, no Estádio das Antas. Quem marcasse, ganhava. E o Benfica marcou. Custou um bocadinho, mas marcou. Lembro-me como se fosse hoje: Carlos Secretário, um especialista a fazer assistências para os adversários, isola de forma brilhante César Brito. César Brito remata para excelente defesa com as mãos de Baía, que se encontra dois metros fora da grande área. O árbitro, sr. Donato Ramos, observa rigorosamente a lei que se aplica em jogos no Estádio das Antas e manda seguir. Por sorte, a bola sobra para um jogador do Benfica chamado Amaral. Amaral chuta e José Carlos, defesa-central do FC Porto, introduz a bola na própria baliza. Golo. Nisto, o árbitro auxiliar, que naquela altura ainda se chamava bandeirinha, levanta a dita. No momento em que o jogador do FC Porto marca o autogolo, há um jogador do Benfica, a uns 15 ou 20 metros de distância, que está em fora-de-jogo posicional. Inteligentemente, Baía tinha saído da grande área para defender com as mãos o remate de César Brito, deixando depois este último em posição irregular. Golo anulado. Quem não acreditar ou estiver esquecido, pode refrescar a memória aqui:
http://www.youtube.com/watch?v=QXu7kU-BHFY
Como é evidente, fiquei esclarecido. Quando rebentou o escândalo dos quinhentinhos do Guímaro, nem um minuto de atenção dediquei ao assunto. Quando Carlos José Amorim Calheiros (conhecido no mundo do futebol como Carlos Calheiros e no mundo das agências de viagens como José Amorim) foi de férias para o Brasil com a viagem paga pelo FC Porto, tudo comprovado por facturas, encolhi os ombros. O clube da organização e do rigor tinha pago, por engano, uma viagem a um árbitro. E daí? Quem nunca pagou uma viagem a um árbitro por lapso que atire a primeira pedra. Acontece-me pelo menos uma vez por mês. Quando li as escutas sobre a «fruta para dormir» e os «rebuçadinhos para a noite», nem pensei duas vezes. E quando Pinto da Costa confessou que recebeu um árbitro em casa na véspera de um jogo, limitei-me a bocejar.
É por isso que tenho grande dificuldade em compreender os receios dos adeptos do FC Porto.Quando se soube que o parecer de Freitas do Amaral considerava válidas as deliberações do CJ, Guilherme Aguiar declarou à comunicação social que, embora ainda não tivesse lido o parecer, mesmo assim já o achava fantasioso. Aqui está uma proeza difícil, mesmo para um jurista experimentado. O FC Porto emitiu um comunicado informando que, afinal, o prof. Freitas do Amaral não era o exemplo de credibilidade e competência que, duas semanas antes, eles tinham garantido que era. Para quê darem-se a este ridículo? Amigos, se não aconteceu nada depois do golo do Amaral, dos quinhentinhos, do José Pratas a bater o recorde dos 100 metros à frente do Fernando Couto em Coimbra, do Calheiros, da fruta para dormir e do serviço de árbitros ao domicílio, não é um parecer de Direito Administrativo que vos vai tramar. Nada temam. Têm tempo para ler os documentos antes de o comentarem. E depois podem dizer: «Sim senhor, gostei muito de ler o parecer, a história é empolgante, e tal, mas agora vou arquivá-lo aqui no caixote do lixo, ao lado desta factura em nome de José Amorim». Mais cedo ou mais tarde, é lá que ele vai parar.
Ricardo Araújo Pereira
A BOLA 3 de Agosto de 2008

Golo anulado ao Amaral

sexta-feira, agosto 29, 2008

Alentejo

Espanhóis no Alentejo
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Tinha acabado de chegar ao Alentejo uma excursão de espanhóis.
Ao ver um alentejano, o guia comunicou aos passageiros:
- Ahora me voy hablar con ese portugués alentejano...
E foi ter com o alentejano:
- ¡Hola! ¿Como te llamas?
- Tónho...
- Yo también me llamo Antonio. ¿Cual es tu profesión?
- Sou músico...
- Yo también soy músico. ¿Y que tocas?
- Toco trompete, e tu?
- Yo también toco trompetee. Una vez fue a la Fiesta de Nuestra Señora de los Remedios y toqué tan bien, que la Señora bajó de las andas y empezó a llorar.
De imediato, replicou o alentejano:
- E ê fui uma vez à Festa do Senhor dos Passos e toquei tan bém, tan bém, que o Senhor largou a cruz, agarrou-se a mim e disse-me:
- ‘Ah, g’anda Tónho, tocaste melhor que o cabrão do espanhol que fez chorar a minha Mãezinha.’
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By mail, from near Quinta da Regaleira

quinta-feira, agosto 28, 2008

Praia (com Bandeira Azul)

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Na maré baixa, o cheiro tornava-se insuportável!

quarta-feira, agosto 27, 2008

Cinema


Hyde and Hare

Cinema

Jekyll& Jekyll, Hyde & Hyde
As duas mais célebres adaptações da história de Robert Louis Stevenson produzidas na Hollywood clássica.
Luís Miguel Oliveira
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O Médico e o Monstro
De Rouben Mamoulian
*****
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O Médico e o Monstro
De Victor Fleming
****º
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Warner (Colecção Essenciais Warner)
Extras
****º

Reunidas num só disco, eis as duas mais célebres adaptações da história de Robert Louis Stevenson produzidas na Hollywood clássica.

Muito mais conhecida a versão de 1941, dirigida por Victor Fleming e protagonizada por Spencer Tracy e Ingrid Bergrnan; mas genial, e uma das grandes obras-primas da Hollywood dos “thirties”, a versão de 1931 de Rouben Mamoulian, com Fredric March e Miriam Hopkins.

Fazê-las coexistir na mesma edição repara uma injustiça: a versão 41 foi responsável pela obscuridade em que durante décadas viveu a versão de 1931 porque a MGM, seguindo prática das “majors” na época, adquiriu os direitos do filme de Mamoulian (que era uma produção Paramount) apenas para o fazer desaparecer de circulação. A versão Mamoulian é genial, mas a versão Fleming é também muito boa. Ilustram coisas diferentes a partir da mesma história. Dez anos na Hollywood desta época eram uma eternidade, tal a velocidade a que o cinema americano se movia.

A versão Mamoulian testemunha a vitalidade inventiva, “experimental”, do tempo em que Hollywood incorporava a grande novidade técnica daqueles anos, o som (então jovem de quatro anos), e a conciliava com outras proezas, relacionadas com a mobilidade da câmara (fenomenal sequência de abertura) e os efeitos especiais (a primeira transformação de Jekyll em Hyde, feita em plano único com recurso a filtros na objectiva e uma maquilhagem “invisível”, é ainda extraordinária).

A versão de Fleming ilustra, entre outras coisas, o tempo de um classicismo consolidado, um modo de fazer e de narrar onde o todo é sempre superior à soma das partes. Mas aconteceu ainda um pormenor decisivo no tempo que mediou os dois filmes. A entrada em vigor do Código de Produção, o “Código Hays”, com a sua lista de interditos.

A versão de Mamoulian é exemplar desses últimos anos “pré-código”, quando a censura moral ainda não tinha letra de lei. Mesmo que a versão Fleming não seja apenas um filme da época do Código, e seja um reflexo do “moderado” estilo da MGM (a mais conservadora das “majors”), é interessante comparar, por exemplo, algo tão simples como o vocabulário. Mas claro que as diferenças são mais fundas - a sugestão sexual da versão Mamoulian é fortíssima: a primeira sequência entre March e Hopkins é antológica, e até inclui, no plano da bengala dele na liga dela, o tipo de simbologia obscena que mais tarde Bunuel tanto praticaria, antes determinar com a bamboleante perna despida de Hopkins a acompanhar, em longa sobreposição, os passos do Dr. Jekyll, não deixando dúvidas a ninguém sobre a real motivação das suas transformações em Hyde.

A versão de 1941 atenua isto, caminhando mais para terrenos melodramáticos, assim como se preocupa em atribuir à personagem de Bergman uma aura mais aceitável (é funcionária “dum” cabaret, mas Hopkins era funcionária “num” cabaret). Do mesmo modo, o recorte de Tracy é mais trágico, é mais vítima de algo que correu mal; March, no filme de 1931, mesmo que gere um Hyde mais primitivo (um animal, simiesco), não deixa que o seu Jekyll, tenso e nervoso, instaure uma divisão assim tão grande: Hyde é apenas o seu prolongamento voluntário.


Resumiríamos assim: o filme de 1931 ilustra o génio de Mamoulian, e o de 1941 ilustra o génio do sistema. Cópias óptimas, e um extra valioso: o filme de Mamoulian com comentário audio do historiador americano Greg Mank. Como “bónus”, uma curta-metragem de Bugs Bunny, “Hyde and Hare”, parodiano a história de Stevenson.

terça-feira, agosto 26, 2008

Leitura(s) de Férias

O MARIDO DA CONTORCIONISTA
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Flamínia conseguia morder o próprio tornozelo sem tirar os pés do chão. Especulava-se sobre o que Flamínia seria capaz de fazer no leito nupcial. E invejava-se o Cartão, beneficiário de tantas loucuras presumidas
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Durante anos, o Carlão foi alvo de especulações e inveja. Tinha se casado com uma contorcionista, Flamínia, que nos seus tempos de circo era chamada «A Mulher sem Espinha». Flamínia conseguia morder o próprio tornozelo sem tirar os pés do chão. Especulava-se sobre o que Flamínia seria capaz de fazer no leito nupcial. E invejava-se o Carlão, beneficiário de tantas loucuras presumidas. Logo o Carlão!
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«Logo o Carlão!» foi, durante anos, o bordão de todas as conversas sobre o casal e o que eles fariam na cama. Logo o pacato Carlão, que, na opinião geral dos amigos, tinha o apelo sexual de um rabanete. E as especulações sobre o que a contorcionista faria no seu parceiro sexual ganhavam um tom de espanto maior com a lembrança de que o parceiro era o Carlão, logo o Carlão. Que até se casar com a contorcionista suspeitava-se que fosse virgem. Que até se tomar o assunto preferido do grupo só era conhecido pela sua extrema sovinice. Logo o Carlão!
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Ninguém chegou a pedir ao Carlão que satisfizesse a curiosidade dos amigos e contasse como era a sua vida sexual com Flamínia. Ou, para não esquecer o respeito, dona Flamínia. E, diante do silêncio do Carlão, as especulações se multiplicavam. As possibilidades eram infinitas, a variedade de posições inacreditável. Para quem não recordasse ou não conhecesse o número da «Mulher sem Espinha» no circo, bastava lembrar que ela entrava no picadeiro carregada numa sacola de supermercado. Era tão flexível e dobrável que cabia dentro de uma sacola! E fora vendo-a morder o próprio tornozelo sem tirar os pés do chão que o Carlão decidira casar-se com ela, certamente pensando nas possibilidades e na variedade. Quem diria. Logo o Carlão, um «gourmet» sexual!
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A imaginação dos amigos funcionava:
— Ela pode botar uma perna por aqui, a outra por aqui, segurar aqui, ecom a língua...
— Ele pode dobrar ela assim, puxar uma perna para cá e...
Mas um dia o Carlão apareceu, sozinho e desconsolado, e sentou-se com o grupo. Tinha recém-chegado de viagem. Viajava muito. Tinha uma boa renda, mas só voava na classe económica e quando havia promoção. E um dos três amigos não se conteve:
— Carlão, não leva a mal. Mas você sabe que a gente vive especulando sobre a vida sexual, sua e da dona Flamínia. Nós...
— Eu não tenho vida sexual. A Flamínia tem.
Abriu-se uma clareira de espanto.
— O quê?
— Ela faz tudo sozinha. Não precisa de ninguém.
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E já que estava disposto a contar tudo, Carlão contou que escolhera a contorcionista porque precisava de uma companheira portátil. Quando viajavam, ela ia dobrada dentro de uma mala, e ainda sobrava espaço para acondicioná-la bem e protegê-la do frio do compartimento das bagagens dos aviões. Depois só precisavam cuidar para os hotéis não descobrirem que eram dois num quarto simples.
E porque é que ele estava tão desconsolado? Onde estava dona Flamínia?
— Em Singapura.
— Como?
— A bagagem extraviou.
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Quer dizer: as coisas nem sempre são o que parecem.
LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO
32 actual 09 Agosto 2008 Expresso

segunda-feira, agosto 25, 2008

Crónica de Nenhures

29.ª Olimpíada da Era Moderna – Pequim
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Dadas as circunstâncias, Portugal esteve “bem” em Pequim. Pode mesmo dizer-se que os atletas portugueses obtiveram bons resultados. Claro que há excepções, mas de acordo com as tais circunstâncias, país sem grande prática desportiva, instalações medíocres, factos indesmentíveis a par de uma excessiva politização dos próprios atletas, mas essas excepções “servem” para que no futuro situações menos correctas, sérias, sejam corrigidas e eliminadas.
Mas não pode ficar em claro a série de “penduras” que se deslocaram a Pequim, sem que a sua presença fosse indispensável. Desde políticos a antigos atletas, passando pelo “trintão” presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), aquelas presenças são “decoração” que se dispensava.
Há trinta anos no COP, já é tempo de Vicente Moura “zarpar”! Com as “promessas” de Medalhas que fez à partida e as declarações que proferiu ao longos do Jogos, não tem “espaço” para continuar à frente do COP. Mas estamos em Portugal, país de “brandos costumes”…
Mário Casa Nova Martins

29.ª Olimpíada da Era Moderna – Pequim

Saudação aos Atletas do Sport Lisboa e Benfica pelas Medalhas Alcançadas
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Nelson Évora - Medalha de Ouro - Triplo Salto
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Vanessa Fernandes - Medalha de Prata - Triatlo

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Di Maria - Medalha de Ouro - Futebol

29.ª Olimpíada da Era Moderna – Pequim

Os chineses foram tudo menos politicamente correctos. Se não fossem uma potência mundial, certamente os seus líderes seriam julgados pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por racismo e xenofobia, ou mesmo por crimes contra a humanidade.
Não bastou a farsa da cerimónia de abertura, em que “misturaram” imagens em tempo real e imagens anteriormente gravadas. Ainda tiveram a ousadia de colocarem a cantar em playback Lin Miaoke enquanto a verdadeira cantora, Yang Peiyi “ouvia-se” em casa, num puro acto de racismo.
Mas também foi “notícia” o facto de naquela cerimónia as 56 etnias oficiais chinesas coreografadas, serem representadas somente por uma etnia! Outro acto de racismo.
Dirão os “puristas” que tudo foi feito tendo em conta «projectar a imagem correcta porque era o melhor para a nação».
E quando assim é, não há TPI que lhes faça frente!!!
Certamente o futuro trará mais "notícias" semelhantes. Mas é tudo a bem da nação!

29.ª Olimpíada da Era Moderna – Pequim

A escolha de Albert Speer Jr. Pelos dirigentes chineses não pode deixar de evocar os totalitarismos do século XX
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O triunfo da vontade da China

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Nina L. Khrucheva*
Quando tiver lugar a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, os espectadores vão ser presenteados com um espectáculo meticulosamente coreografado e banhado pelo mais puro kitsch nacionalista.
É claro que a última coisa que a China deseja para os seus Jogos Olímpicos é vê-los associados a imagens que recordem as tropas de choque hitlerianas marchando a passo de ganso. Não esqueçamos que o nacionalismo oficial chinês proclama que o “progresso pacífico” do país evolui num idílio de “desenvolvimento harmonioso”. Mas a verdade é que, tanto do ponto de vista estético como político, o paralelo não tem nada de rebuscado.
Na realidade, ao escolher Albert Speer Jr. - o filho do arquitecto favorito de Hitler e designer chefe dos Jogos Olímpicos de Berlim de 1936 - para conceber o plano geral dos Jogos de Pequim, é o próprio Governo chinês que torna impossível esquecer a radical politização da estética que foi uma marca dos totalitarismos do século XX. Da mesma maneira que fizeram esses regimes, fascistas ou comunistas, também os líderes chineses tentaram transformar o espaço público e os eventos desportivos numa prova visível das suas competências e do seu direito a governar.
A encomenda que foi feita a Speer Jr. foi a de conceber o plano geral para o acesso ao complexo olímpico de Pequim. O seu conceito central consistiu na construção de uma imponente avenida que liga a Cidade Proibida ao Estádio Nacional, onde vai ter lugar a cerimónia de abertura. O plano do seu pai para “Germânia” - o nome escolhido por Hitler para a Berlim que planeava construir depois da Segunda Guerra Mundial - também se organizava em torno de um eixo central, igualmente poderoso.
Os dirigentes chineses vêem os Jogos Olímpicos como um palco para demonstrar ao mundo a extraordinária vitalidade do país que construíram nas últimas três décadas. E essa demonstração serve um objectivo interno ainda mais importante: legitimar a futura permanência do actual regime aos olhos dos chineses comuns. Dado este imperativo, uma linguagem arquitectónica que se caracteriza pela grandiloquência e pelo gigantismo parece quase inevitável.
É por tudo isto que não é uma surpresa que os Jogos de Pequim se pareçam com os orgulhosos Jogos que mereceram tanta atenção do Führer e seduziram as massas alemãs em 1936. Tal como os Jogos de Pequim, as Olimpíadas de Berlim foram concebidas como um baile de debutantes, uma grande estreia. A máquina de propaganda nazi de Josef Goebbels foi utilizada a fundo. As imagens de atletas - utilizadas de uma forma brilhante no aclamado documentário de Leni Riefenstahl, Olímpia - pareciam criar um laço entre os nazis e os antigos gregos e confirmar assim o mito nazi segundo o qual os alemães e a civilização alemã eram os verdadeiros herdeiros da cultura “ariana” da Antiguidade clássica.
Enquanto desenhava os planos para os Jogos de Pequim, Speer Jr., um reputado arquitecto e urbanista, também pensou, tal como o seu pai, criar uma metrópole futurista global. Mas é claro que a linguagem que usou para vender a sua ideia aos chineses foi muito diferente da que o seu pai usou para apresentar os seus planos a Hitler. Em vez de sublinhar a magnificência dos seus projectos, o jovem Speer preferiu insistir no seu carácter ecológico. A ideia era transportar a cidade de Pequim, com a sua história velha de 2000 anos, para a hipermodernidade - enquanto a Berlim que o seu pai tinha planeado em 1936 era “simplesmente megalómana”.
É evidente que os filhos não devem ser julgados pelos pecados dos pais. Mas, neste caso, quando o filho usaelementos essenciais que constituíam os princípios arquitectónicos do seu pai e serve um regime que tenta usar os Jogos para as mesmas razões que animaram Hitler, não estará ele conscientemente a reflectir esses pecados?
Os regimes totalitários - os nazis, os soviéticos em 1980 e agora os chineses - querem ser anfitriões dos Jogos Olímpicos para mostrar ao mundo um sinal da sua superioridade. A China acredita que encontrou um modelo próprio para desenvolver e modernizar o país e os seus dirigentes olham para os Jogos da mesma maneira que os nazis e Leonid Brejnev olharam: como uma maneira de “vender” o seu modelo a uma audiência global.
É evidente que os chineses mostraram ser politicamente insensíveis ao escolher um arquitecto cujo nome tem tais conotações políticas. E é possível que o nome de Speer não outro país até aqui tenha pesado da sua escolha. O que os chineses queriam era encenar uns Jogos que pusesse em evidência uma certa imagem de si mesmos e Speer Jr., inspirando-se na arquitectura do poder que o seu pai dominava, pôde apresentar a solução desejada.
A concretização da visão olímpica de Speer Jr. e da dos seus patronos assinala o fim de um bem-vindo interlúdio. Durante os anos que se seguiram ao fim da guerra-fria, a política esteve afastada dos Jogos. Uma medalha de ouro representava as qualidades desportivas e a dedicação dos atletas individuais e não os supostos méritos do sistema político que os produzia.
Mas agora regressámos a uma estética de mesmerismo político, que se reflecte na declaração do Governo do país anfitrião, segundo a qual a China deverá ganhar mais medalhas de ouro que qualquer outro país até aqui.
Quando a tocha olímpica acabar o seu percurso - que foi aliás uma ideia dos nazis, usada pela primeira vez nos jogos de 1936 - ao longo da avenida do poder imaginada por Speer Jr., o mundo poderá de novo testemunhar o triunfo da vontade totalitária.
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* Nina Krucheva é professora de Relações Internacionais na New School University, em Nova Iorque, e é sénior fellow do World Policy Institute de Nova Iorque. É autora do livro Imagining Nabokov: Rússia between Art and politics.

29.ª Olimpíada da Era Moderna – Pequim

Interessante artigo do jornal «A Bola».
De facto, ao longo desta 29.ª Olimpíada, muito se falou dos XI Jogos Olímpicos, em Berlim. Um fascínio para os média.
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Post Scriptum (ou 'moral da história') - Um elemento da Juventude hitleriana ofereceu a Jaime Mendes as suas próprias botas para que o português pudesse acabar a maratona.

29.ª Olimpíada da Era Moderna – Pequim

Um título “sugestivo” do jornal «A Bola».
Mostra o multiculturalismo dos EUA.
Porém não deixa de ser curioso ver um jornal progressista fazer esta divisão étnica.
Factos de um tempo inquieto.

domingo, agosto 24, 2008

70.ª Volta a Portugal em Bicicleta

David Plaza
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Aquém do se esperava a presença do Sport Lisboa e Benfica na 70.ª Volta a Portugal, que há pouco terminou com a vitória justa de David Blanco, um Galego.
David Plaza ficou em terceiro e Cândido Barbosa em oitavo.

Na Geral por Equipas o SLB ficou em segundo.
Venceu três etapas, Plaza uma, a primeira, e Cândido duas.
"Soube a pouco".

Cândido Barbosa

sexta-feira, agosto 22, 2008

Torre do Tombo

Fachada principal da Torre do Tombo
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Do Arquivo Nacional da Torre do Tombo
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SENTENÇA PROFERIDA EM 1487 NO PROCESSO CONTRA O PRIOR DE TRANCOSO
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(Autos arquivados na Torre do Tombo, Armário 5, Maço 7)
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“Padre Francisco da Costa, prior de Trancoso, de idade de sessenta e dois anos, será degredado de suas ordens e arrastado pelas ruas públicas nos rabos dos cavalos, esquartejado o seu corpo e postos os quartos, cabeça e mãos em diferentes distritos, pelo crime que foi arguido e que ele mesmo não contrariou, sendo acusado de ter dormido com vinte e nove afilhadas e tendo delas noventa e sete filhas e trinta e sete filhos; de cinco irmãs teve dezoito filhas; de nove comadres trinta e oito filhos e dezoito filhas; de sete amas teve vinte e nove filhos e cinco filhas; de duas escravas teve vinte e um filhos e sete filhas; dormiu com uma tia, chamada Ana da Cunha, de quem teve três filhas, da própria mãe teve dois filhos. Total: duzentos e noventa e nove, sendo duzentos e catorze do sexo feminino e oitenta e cinco do sexo masculino, tendo concebido em cinquenta e três mulheres”.

“El-Rei D. João II lhe perdoou a morte e o mandou pôr em liberdade aos dezassete dias do mês de Março de 1487, com o fundamento de ajudar a povoar aquela região da Beira Alta, tão despovoada ao tempo, e guardar no Real Arquivo esta sentença, devassa e mais papéis que formaram o processo”.
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By mail, from Esta Terra do Fim-do-Mundo

quinta-feira, agosto 21, 2008

Arquivo Cadaval

A revista Única, do Expresso, do passado sábado 16 de Agosto, páginas 40 a 44, traz um trabalho de Joana Leitão de Barros, cujo protagonista é o Marido da Filha do primeiro casamento do 10.º duque de Cadaval.
Não vamos abordar o tema acerca de quem deveria hoje estar à frente da Casa de Cadaval. Esse assunto, recorde-se, foi objecto de decisão pessoal do actual duque de Bragança e Pretendente ao Trono de Portugal.
O que retemos daquele trabalho são os últimos três parágrafos, cujo texto em baixo reproduzimos.
É com a maior surpresa que lemos que o Arquivo Cadaval foi vendido após a morte do 10.º duque. Falta de conhecimento da importância de tal Arquivo? Problemas financeiros dos seus possidentes? Enfim, há todo um conjunto de conjecturas que se podem formular acerca da venda de tão importante Arquivo para a História de Portugal. Mas o ónus de tal facto fica com quem o praticou.
Também surpresa, mas menos, é o facto do ferro da Casa de Cadaval ter sido alienado pela Família. Mas também é sabido que a Nobreza portuguesa é economicamente pobre.
Portugal tem que estar grato ao Genro do 10.º duque de Cadaval, assim como a sua Mulher e Filha por terem trazido de volta tão importante Arquivo. Que mais não fosse por isso, mereciam ser Eles os duques de Cadaval.
Mário Casa Nova Martins
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( ... )
Tanto quanto está envolvido na recuperação do Convento de Santa Cruz de Rio de Mourinho, mobiliza-o o projecto de pôr a salvo, definitivamente, o arquivo Cadaval.
Depois da morte do 10.° duque do Cadaval, o arquivo familiar foi vendido a um negociante do Norte «pelos seus detentores». Posto ao corrente da transacção, Hubert Guerrand-Hermés correu a recuperá-lo. «A verdadeira ocupação a que me ofereço, nos próximos anos, é a de assegurar que os arquivos sejam bem classificados e poder assistir à sua abertura aos investigadores», afirma. Os documentos têm uma base dominial e vão ser tratados por uma equipa de paleógrafos chefiada por Bernardo de Sá Nogueira, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, do Centro de História desta universidade.
Como «as coisas acontecem» este francês, bom conhecedor de vinhos e amante de pintura (Anselm Kieffer, Donald Baechier, Liu Wei e Kirill Chelushkin estão entre as referências, que nomeie também Vieira da Silva, Pomar e Charters de Almeida), viu o destino colocar-lhe em mãos a reintrodução do ferro Cadaval, uma coudelaria outrora conheceu um enorme prestígio. «Aconteceu por acaso, embora há muito sonhasse fazer qualquer coisa neste campo... acabou por surgiu em consequência da minha ligação a Alter Real». Emílio Amaral Cabral, depositário do ferro Cadaval, surpreendeu-o com «um gesto generoso» ao oferecer-lhe o ferro. «Gostaria muito de fazer ressurgir o dos Cadaval. Os cavalos não têm título, apenas nome, não é verdade?»
44 ÚNICA 15 Agosto 2008 EXPRESSO

página 43

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página 41

quarta-feira, agosto 20, 2008

Carlota Joaquina

A Rainha Contra-Revolucionária
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Ainda mais do que o Rei D. Miguel I, Sua Mãe a Rainha Dona Carlota Joaquina de Bourbon é o alvo preferido da Historiografia Liberal. De tudo acusada, todos os nomes chamada, Carlota Joaquina é uma Rainha que devido à sua forte personalidade aliada a fragilidade do Marido, D. João VI, um Bragança, marcou a época em que viveu. Conservadora, contra-revolucionária, viu no Infante D. Miguel quem poderia conduzir as rédeas do Poder.
O outro Filho, D. Pedro, era, como seu Pai, um homem que não conseguia criar condições que o credibilizassem junto de todos os sectores da Sociedade. Tornado Imperador do Brasil, em breve foi destituído, tal como viria a acontecer com seu Filho, D. Pedro II.
Imperador do Brasil, D. Pedro perde o direito ao Trono de Portugal, sendo os direitos de sua Filha, D. Maria, nulos.
Mas com apoio Liberal europeu, à cabeça de um grupo de mercenários, vence a Guerra Civil, e D. Maria torna-se Rainha.
O Rei D. Miguel I vê-se obrigado a emigrar. Mas quando tal acontece já a Rainha Dona Carlota Joaquina tinha falecido. Desta forma, já não assistiu à tragédia em que mergulhou Portugal.

Esta Oração Fúnebre é, além do Elogio à Defunta Rainha, um libelo em defesa da Legitimidade do rei D. Miguel I.
Mário Casa Nova Martins

Carlota Joaquina

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Do Alfarrabista

Recebemos da Livraria Académica uma Obra hoje rara, que é um Panegírico à Rainha D. Carlota Joaquina, quando do primeiro aniversário do seu falecimento.

(9821 – Frei João de S. Boaventura, Oração Fúnebre da Muito Alta e Poderosa Imperatiz e Rainha de Portugal a Senhora D. Carlota Joaquina de Bourbon … )

terça-feira, agosto 19, 2008

Aniversário

“Antes de mais, viver é comprometer-se”
(Pierre Drieu La Rochelle)

Esta é a máxima de
Pedro Guedes no Último Reduto, que celebra cinco anos. Segue-a sem vacilar.
Ao longo destes anos tem semeado e certamente também terá colhido.
Mas o mais importante é que é uma Referência!

Pedro, Parabéns.
Mário

Pervez Musharraf

O amigo dos americanos
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Desde sempre que os interesses suplantam a amizade mais forte. Um dos mais recentes exemplos desta “máxima” é o fim da “amizade” entre Pervez Musharraf e os EUA.
Se os EUA tiveram um “amigo” dedicado, esse era sem sombra de dúvida o paquistanês Musharraf. Este tudo sacrificou pelos agora ingratos americanos. Por estes prendeu, torturou, assassinou irmãos paquistaneses. Obedeceu a tudo o que os americanos decidiram, traiu o seu Povo e a sua Religião. Não merece perdão!
A Ditadura que fez vigorar a soldo dos americanos foi longa no tempo e dura pela repressão. Destabilizou a Região, sempre sensível, e fê-la regredir em termos civilizacional. Foi um bárbaro!
Como qualquer objecto descartável, Pervez Musharraf é hoje um homem só. Desprezado pelos seus Concidadãos, “ignorado” pelos “amigos” americanos, tem que ser julgado por competentes Tribunais paquistaneses. Os seus crimes não podem passar impunes.
Mário Casa Nova Martins

segunda-feira, agosto 18, 2008

Alexandre Soljenitsine

Alexandre Issaïevitch Soljenitsyne
(11 de Dezembro de 1918, Kislovodsk – 3 de Agosto de 2008, Moscovo).

O Último dos Heróis.

Muito foi dito, mas muito mais ficou por dizer sobre Alexandre Soljenitsine. Mas não seremos nós quem dirá o que falta, até porque jamais teremos palavras para dizer quanto venerávamos em Vida o Homem. E ainda mais, se possível, hoje que já é uma Memória.
A Memória da maior distopia que a Humanidade conhece foi descrita por quem a viveu. Contemporâneo de alguns dos maiores tiranos da História, Lenine, Trotsky e Estaline, dá um testemunho da vida quotidiana na Rússia do seu tempo.
O ser o Cronista não-oficial dos anos de terror na Rússia, faz dele um ser abjecto para a Esquerda Ocidental e incómodo para a Direita Ocidental colaboracionista. Caluniado, ostracizado, vive a par do exílio forçado nos EUA, então uma Terra de Liberdade, Tolerância e Fé, um exílio interior, que faz com que denuncie e profetize o declínio do Ocidente.
Viveu o tempo suficiente para se reencontrar com a Sua Amada Rússia. Não foi fácil para a Rússia os tempos seguintes ao fim da ditadura. Convulsões sucederam-se, mas o tempo do ressurgimento aconteceu. Então foi o tempo da Reconciliação.
A Santa Madre Rússia despediu-se de Alexandre Soljenitsine com toda a solenidade. O Ocidente, cobarde, quase ignorou este Acontecimento Histórico. Mas o Mundo de Alexandre Soljenitsine também não tem nada a ver com o que hoje o mesmo Ocidente representa.
Mário Casa Nova Martins

Alexandre Soljenitsine












Na altura não nos foi possível prestar Homenagem à Memória de Alexandre Soljenitsine.
Fazemo-lo agora, e nada melhor que lembrar algumas das Obras editadas em Portugal, e que temos.
Mário Casa Nova Martins