*
PORTALEGRE VISTO POR ESTRANGEIROS
*
Duas memórias de Portalegre nos escritos de sir John
Kincaid, oficial do duque de Wellington
*
Our third march from Castello Branco
brought us to Portalegre, where we halted for some days.
In a former chapter, I have given
the Portuguese national character, such as I found it generally, but in nature
there are few scenes so blank as to have no sunny side, and throughout that
kingdom, the romantic little town of Portalegre still dwells the greenest spot
on memory's waste.
Unlike most other places in that
devoted land, it had escaped the vengeful visit of their ruthless foe, and
having, therefore, no fatal remembrance to cast its shade over the future, the
inhabitants received us as if we had been beings of a superior order, to whom
they were indebted for all the blessings they enjoyed, and showered their
sweets upon us accordingly.
In three out of four of my sojourns
there, a friend and I had the good fortune to be quartered in the same house.
The family consisted of a mother and two daughters, who were very good-looking
and remarkably kind. Our return was ever watched for with intense interest, and
when they could not command sufficient influence with the local authorities to
have the house reserved, they nevertheless contrived to squeeze us in; for when
people are in a humour to be pleased with each other, small space suffices for
their accommodation.
Such uniform kindness on their part,
it is unnecessary to say, did not fail to meet a suitable return on ours. We
had few opportunities of falling in with things that were rich and rare, (if I
except such jewels as those just mentioned,) yet were we
always stumbling over something or other, which was carefully preserved for our
next happy meeting; and whether they were gems or gew-gaws, they were alike valued
for the sake of the donors.
The kindness shown by one family to
two particular individuals goes, of course, for nothing beyond its value; but
the feeling there seemed to be universal.
Our usual morning's amusement was to
visit one or other of the convents, and having ascertained the names of the
different pretty nuns, we had only to ring the bell, and request the pleasure
of half-an-hour's conversation with one of the prettiest amongst them, to have
it indulged; and it is curious enough that I never yet asked a nun, or an
attendant of a nunnery, if she would elope with me, that she did not
immediately consent, — and that, too, unconditionally.
My invitations to that effect were
not general, but, on the contrary, remarkably particular; and to show that in accepting
it they meant no joke, they invariably pointed out the means, by telling me
that they were strictly watched at that
time, but if I returned privately, a week or two after the army had passed,
they could very easily arrange the manner of their escape.
I take no credit to myself for any
preference shewn, for if there be any truth in my looking-glass—and it was one
of the most flattering I could find — their discriminating powers would entitle
them to small credit for any partiality shewn to me individually; and while it
was no compliment, therefore, to me, or to the nunnery, it must necessarily be
due to nature, as showing that the good souls were overflowing with the milk of
human kindness, and could not say nay while they possessed the powers of pleasing:
for, as far as I have compared notes with my companions, the feeling seemed to
have been general.
_ Extraído de Random Shots from a Rifleman
_______
April 13th, 1812.--Quartered at Portalegré.
DEAR PORTALEGRÉ!
I cannot quit thee, for the fourth and last time, without a
parting tribute to the remembrance of thy wild romantic scenery, and to the
kindness and hospitality of thy worthy citizens! May thy gates continue shut to
thine enemies as heretofore, and, as heretofore, may they ever prove those of
happiness to thy friends! Dear nuns of Santa Clara! I thank thee for the
enjoyment of many an hour of nothingness; and thine, Santa Barbara, for many of
a more intellectual cast! May the voice of thy chapel-organ continue unrivalled
but by the voices of thy lovely choristers! and may the piano in thy refectory
be replaced by a better, in which the harmony of strings may supersede the
clattering of ivories! May the sweets which thou hast lavished on us be
showered upon thee ten thousand fold! And may those accursed iron bars divide
thee as effectually from death as they did from us!!!
_ Extraído de Adventures in the Rifle Brigade, in the
Peninsula, France, and The Nederlands, from 1809 to 1815
O dia três de março trouxe-nos de Castelo Branco para
Portalegre, onde ficámos alguns dias.
Num capítulo anterior, falei do caráter nacional português, tal como eu o achei, em geral, mas na natureza há poucas cenas tão brancas que não têm um lado ensolarado e naquele reinado, a pequena cidade romântica de Portalegre ainda permanece o lugar mais verde nos resíduos da memória .
Contrariamente à maior parte dos lugares naquela terra devota,
escapou à visita vingativa dos seus
inimigos impiedosos e, não tendo, por isso, nenhuma lembrança para lançar a sua
sombra sobre o futuro, os habitantes receberam-nos como se fôssemos seres de
uma condição superior, a quem eles estavam em dívida por todas as bênçãos recebidas e cobriram-nos de atenções.
Em três das quatro estadias lá, eu e um amigo tivemos a
sorte de estarmos hospedados na mesma casa. A família era constituída por mãe e duas filhas, que
eram muito bonitas e extraordinariamente
simpáticas. O nosso regresso era sempre visto com
imenso interesse, e quando não conseguiam exercer a influência necessária junto das autoridades locais para reservarem a casa, elas conseguiam
encaixar-nos, porque quando as pessoas querem agradar umas às outras, um pequeno espaço é suficiente para se alojarem.
Tal simpatia constante da
sua parte, é desnecessário dizer, não falhou na retribuição da nossa
parte. Nós tivemos poucas oportunidades de
oferecer coisas que eram caras e raras, (se eu excluir tais jóias como as agora mencionadas), no
entanto nós estávamos sempre a encontrar uma coisa ou outra, que era cuidadosamente conservada
para o nosso próximo feliz encontro, e quer
fossem pedras preciosas ou bijuteria, eram valorizadas igualmente em
consideração aos seus dadores.
A simpatia de uma família por dois indivíduos particulares não vai além do seu
valor, mas o sentimento ali parecia ser universal.
O nosso divertimento
matinal era visitar um ou outro convento e tendo averiguado o nome de
diferentes freiras bonitas, nós só tínhamos de
tocar a campainha e requisitar o prazer de meia hora de conversa com uma das
mais bonitas, para ser concedido. E é curioso que
eu nunca pedi a uma freira ou uma frequentadora do convento se ela fugir comigo
que ela não concedesse imediatamente e isso, também, incondicionalmente.
Os meus convites para
esse efeito não eram gerais, pelo contrário, eram extraordinariamente particulares, e para mostrarem que ao
aceitaram não era brincadeira, elas invariavelmente referiam a maneira, dizendo-me
que estavam a ser rigidamente vigiadas naquela altura, mas se eu voltasse, em
privado, uma semana ou duas depois do exército ter passado, elas podiam muito facilmente arranjar maneira de fugir.
Eu não me dou nenhum
crédito por nenhuma preferência demonstrada, pois se há alguma verdade no meu
espelho, e foi um dos mais lisonjeiros que consegui arranjar, os seus poderes
discriminatórios dar-lhes-iam direito a pouco crédito por qualquer parcialidade
mostrada a mim individualmente; e se não era nenhum elogio, por isso, para mim,
ou para o convento, deve ser necessariamente devido à natureza, como para
mostrar que as almas boas estavam a transbordar de leite da bondade humana e
não podiam dizer não enquanto possuíssem os poderes de agradar: porque, tendo
comparado com comentários dos meus companheiros, o sentimento parecia ser
geral.
_______
Abril, 13, 1812 –
Aquartelado em Portalegre
Querida Portalegre!
Eu não posso deixar-te,
pela quarta e última vez, sem uma homenagem de despedida à memória do teu
cenário romântico selvagem e à simpatia e hospitalidade dos teus dignos cidadãos! Possam os teus portões continuar fechados para os teus inimigos como até
agora e, como dantes, possam eles mostrar felicidade aos teus amigos! Queridas
freiras de Santa Clara! Eu agradeço-vos por usufruir uma hora de nada; e a ti,
Santa Bárbara, por muitas de índole intelectual! Possa a voz do teu órgão da
capela continuar sem rival exceto pelas vozes das tuas encantadoras coristas! E possa o piano no teu refeitório ser
substituído por um melhor, no qual a harmonia das cordas possa substituir o barulho
de marfins! Possa a bondade que nos deste ser derramada sobre vós dez mil
vezes! E possam aquelas barras de ferro malditas separar-vos eficazmente da
morte como elas fizeram de nós!