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Quando se deu a revolução corporativa do 25 de Abril de
1974, eu tinha dezassete anos. Esta revolução mudou o Regime, mas eu com aquela
idade, nado, criado e vivido em Portalegre, nada sabia ou me interessava por
política, interessado que era, isso sim, em futebol, vivendo o dia-a-dia do meu
querido e glorioso Grupo Desportivo Portalegrense e também do Sport Lisboa e
Benfica. Frequentava o cinema, Crisfal e Cine-Parque, comprava livros no
Silvino e no José Maria Alves, onde tinha conta aberta, e frequentava as tascas
e as cervejarias. Tinha um grupo restrito de Amigos, que principalmente me
acompanhavam no Café Alentejano (o tempo do Café Facha é o a da minha meninice,
quando acompanhava o meu Pai), e nos deliciosos almoços e lanches nas ditas
tascas e cervejarias.
Porém, no Liceu Nacional de Portalegre já havia alunos
politizados! Mas que, curiosamente, a quem não ligávamos. Esses, os tais
politizados, eram gente ligada à Mocidade Portuguesa, que há muito deixara de
ser de frequência obrigatória.
Ora se esses politizados pertenciam à Mocidade Portuguesa é
porque se identificavam com o Regime do Marcellismo. Ninguém os obrigava a
pertencer àquela organização política do Estado Novo. E, recorde-se que muitos
deles foram em visita, com tudo pago pelo Regime, às então Províncias
Ultramarinas, em viagens de cariz totalmente político e, claro, de propaganda
política.
Se assim se comportavam em 24 de Abril de 1974, no dia
seguinte, 25 de Abril de 1974, tornaram-se revolucionários, ditos
anti-fascistas.
Essa gente foi da mais extremista durante o PREC, e
principalmente no Verão Quente, um curto período do tenebroso Processo
Revolucionário Em Curso. Estiveram em tudo o que de mais mau aconteceu naquele
período, fazendo parte de partidos políticos da extrema-esquerda.
Em momento algum participei em qualquer actividade política
antes da Revolução dos Cravos. Daí nunca ter tido nada a ver com o Estado Novo.
Mas na Terceira República, e seguindo o que toda a gente fazia, comecei a ter
intervenção política.
Sentindo-me próximo da Democracia Cristã, liguei-me à
Juventude Centrista, a organização juvenil do Partido do Centro Democrático e
Social.
Que horrendo crime para alguns que considerava Amigos, e
para aquela gente extremista!
Rapidamente como que fiquei de quarentena, como que se
formou uma espécie de cordão sanitário em torno de mim. Eu era infrequentável!
Eu era Fascista!
E não esqueço quando tive que pedir protecção na Polícia de
Segurança Pública, no Governo Civil, na campanha eleitoral para as Eleições
para a Constituinte, porque eu junto com elementos da JC de Castelo Branco (a
JC em Portalegre como que não existia, por força do medo que os seus elementos,
que não eu, tinham dos extremistas) andávamos a colar cartazes do CDS. Parece
que ainda estou a ver aquela canalha ululando em frente ao edifício do Governo
Civil, querendo-nos linchar! Muitos vivem ainda hoje em Portalegre, e nunca
mais lhes esqueci os rostos possessos de raiva e ódio. E de impotência!
Hoje estou afastado da política activa, mas mantenho-me fiel
à Doutrina Social da Igreja, às Encíclicas dos Papas Sociais, no fundo à
ideologia que era a da Democracia Cristã.
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Também hoje se diz que o Facebook é um mundo! E tal é mais
do que uma frase feita, mas do que uma constatação é uma verdade.
Por convite do César Azeitona, um dos seus Administradores,
entrei para um grupo intitulado «A Voz do Plátano».
Penso que em boa hora o fiz, uma vez que através de já
centenas de fotografias está a ser feita uma História de Portalegre.
Todavia, este tipo de acontecimento, que é sempre mais do
que meritório, tende muito a que se tente escrever, melhor, reescrever a
história, ou a pequena história, através de inverdades, falsas verdades e
bajulações, que são sempre serôdias.
Um ex-informador da PIDE nunca pode ser um anti-fascista, um
Democrata. Ou pode?
Um bêbado, cujo mérito era a sua vida de excessos, não pode ser
elevado á categoria de anti-fascista e à categoria de figura da Cidade. Ou
pode?
Foi editada em «A Voz do Plátano» uma fotografia.
Digo que é, entre comas, uma fotografia assassina. É de um
acto político durante o Estado Novo, já no seu estertor.
Se fosse possível identificar todos os presentes, e
acompanhar os seus percursos políticos no pós-25 de Abril de 1974, de certeza
que as surpresas seriam muito grandes. Ou talvez não, já que de certeza naquela
altura o espírito democrático e anti-fascista enchia a sala.
Por todo o País, tal como quando da queda da Monarquia, os
denominados Adesivos a seguir ao 25 de Abril foram mais do que muitos. E muitos
deles ainda hoje escondem as antigas ligações ao Estado Novo através do seu
esquerdismo, extremismo e oportunístico anti-fascismo.
Gente dessa tentou linchar-me. Canalha dessa chamava-me
Fascista. Conheço-os. E eu desprezo-os!
Mário Casa Nova Martins