No Centenário da Associação de Futebol de Portalegre
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Obviamente, demita(m)-se!
Não há almoços grátis...
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A Associação de Futebol de Portalegre faz hoje, dia 29 de Outubro de 2011, cem anos. Segundo a imprensa local, neste dia tem lugar um almoço comemorativo que «vai reunir cerca de 300 pessoas de todo o país» (1).Para uma Associação de Futebol que nem dinheiro tem para entregar no acto da inscrição 10 bolas de futebol aos clubes, por cada escalão, como era sua prática, dar-se ao luxo de oferecer almoço e estadia a convidados, prova que o mais importante para quem a dirige é o protagonismo e não a defesa da prática do desporto que é a razão de ser da sua existência física.
A Associação de Futebol de Portalegre é uma instituição centenária na idade, mas há muito que é um órgão bafioso, bolorento e desprestigiado no tecido desportivo do distrito de Portalegre. Com práticas que lembram um tempo passado, fechou-se sobre si própria, impedindo o progresso da modalidade que tutela, o futebol.
Como exemplo do que acabámos de afirmar, está o facto de uma equipa de Futsal feminino da cidade de Portalegre estar a disputar o Campeonato Distrital da Associação de Futebol de Évora, somente porque a Associação de Futebol de Portalegre não teve capacidade de organizar um campeonato da modalidade. E promove, paga, numa vila do distrito um encontro particular de Futsal entre as selecções de Portugal e de Espanha!
Outro exemplo da mediocridade que rege a Associação de Futebol de Portalegre prende-se com o estado em que se encontra o primeiro troféu instituído pela instituição, a taça que foi entregue ao vencedor do primeiro campeonato realizado. Sabe-se que «esta taça em cobre tem o pé em madeira, que está a ficar algo deteriorado». E quem dirige esta Associação de Futebol em tempo algum fala da necessidade de restauro de tal valiosa e histórica peça!
A mediocridade atrai mediocridade, e maior exemplo no distrito de Portalegre poder-se-á encontrar na instituição que nem consegue preservar o que de mais valioso tem no seu centenário historial!
É um exagero o valor que a Associação de Futebol de Portalegre exige para a inscrição ou a transferência de atletas, o que inviabiliza que os Clubes do distrito possam entrar nas competições. O valor das inscrições e das transferências de jogadores no distrito de Portalegre asfixiam os Clubes, matam a modalidade.
É uma exorbitância o que a Associação de Futebol de Portalegre cobra para organizar um jogo de futebol nos campeonatos regionais. «Cada clube paga 200 euros à Associação de Futebol, pela organização dos seus jogos em casa». E quando se sabe que as entradas para os jogos são grátis!
E o curioso é que a própria Associação de Futebol de Portalegre viola os seus próprios estatutos, ao permitir a inscrição de Clubes com dívidas à AFP. Inacreditável, mas verdadeiro!
Também a ignorância quanto à História do Futebol em Portalegre é esmagadora, ao não se saber, ainda por mais existindo obra publicada sobre o assunto, que o primeiro campo de futebol em Portalegre foi o Estádio da Fontedeira, e não o Campo da Bola, como erradamente se afirma. E acentua-se aquela ignorância, quando se diz que no Campo da Bola se realizavam os jogos dos campeonatos de futebol em Portalegre.
Mas parece que tudo está bem. Os discursos que hoje serão pronunciados de certeza que serão irreais, surreais! Os favores, ou a troca de favores, a tal obrigam.
Há cem anos, as bolas de futebol eram de fabrico artesanal, de couro, muito duras, e quando chovia pesavam imenso. Hoje são feitas com os materiais mais modernos e tornam este desporto ainda mais aliciante. As regras do jogo pouco mudaram, mas mesmo assim geram debate e foram-se adaptando aos tempos. Ao contrário, na Associação de Futebol de Portalegre, há dezenas de anos, quase tantos quantos a mesma gente que hoje a domina por lá se tem perpetuado nos lugares, mudando apenas os pelouros, continua tudo na mesma!
Há que mudar gentes e acima de tudo mentalidades na Associação de Futebol de Portalegre. Ela tem que se abrir ao tempo presente, acabar com os anacronismos, com a incompetência.
Quando uma Associação de Futebol já nem tem capacidade financeira para entregar bolas de futebol aos Clubes que lhe pagam principescamente, por maus serviços, há que o dizer, já há muito que quem a dirige ‘passou o prazo de validade’! Então, só há um caminho a seguir, demita-se, obviamente!
Mário Casa Nova Martins
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(1) Seguimos, com a maior atenção o trabalho jornalístico inserido no semanário Alto Alentejo, na sua edição N.º 249 de quarta-feira dia 19 de Outubro de 2011, páginas 16, 17 e 18.