Tragédia anunciada
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A barbárie instalou-se de armas e bagagens no Paquistão. É verdade que não tem sido fácil o caminho pós-independência desta ex-colónia inglesa. A par da rivalidade com a Índia, uma potência continental emergente, vive o Paquistão uma instabilidade política crónica. Parte dessa instabilidade tem a ver com a Religião, onde fundamentalismos têm provocado quase a desintegração política do país.
Mas a Religião não explica tudo. Uma política de alianças com os EUA tem potenciado o clima de violência nos últimos anos. Aliado fundamental na denominada cruzada contra o terrorismo, segundo a doutrina americana, o Paquistão deixou de ser um país independente para se tornar num peão no jogo geo-estratégico de Washington. Se por um lado tem servido de contra-poder face a uma Índia, nuclear como o Paquistão, mas que aspira a liderar o Índico e ser alternativa democrática à China totalitária, é uma base recuada dos americanos em relação ao Afeganistão.
O Afeganistão está sob tutela da ONU, mas há muito que os países que têm no território forças militares querem deixar este vespeiro tribal. Apenas os EUA querem permanecer, e para o fazer necessitam do Paquistão.
Sob tutela militar, debaixo de um coro de protestos da comunidade internacional, o regime paquistanês decidiu fazer um simulacro de eleições livres. Para tal, permitiu que uma aliada dos EUA, antes condenada, por entre outras faltas, de corrupção concorresse, e simultaneamente dificultando a campanha do último líder político eleito democraticamente.
Algo correu mal na estratégia dos militares e dos EUA, quando a vencedora antecipada é assassinada. Num acto de grande violência perpetrado por um suicida, a farsa teve um final trágico.
Que se vai seguir, é uma incógnita. Mas esta tragédia é mais uma derrota da Administração de George W. Bush.
MM