\ A VOZ PORTALEGRENSE

sexta-feira, julho 26, 2024

AA O caso de Olivença

O caso de Olivença

Olivença é o símbolo de um Iberismo permanente. O Iberismo está vivo em cada castelhano, e só não é mais agressivo porque a Catalunha, o País Basco e a Galiza mantêm fortes aspirações nacionais, e desviam o foco de Portugal. Não muito recentemente o partido VOX espalhou um cartaz de propaganda política no qual a Península Ibérica era um só Estado, Portugal estava ‘incluído’ na Espanha.

Fala-se muito do Tratado entre a Alemanha Nazi de Hitler e a Rússia Soviética de Estaline, o Pacto Ribbentrop – Molotov de 1939, que fazia a partilha da Polónia, Países Bálticos e outros. Mas não se fala do Tratado de Fontainebleau de 1807, assinado entre a França de Napoleão e a Espanha Bourbónica, no qual Portugal era divido em três partes, o Reino da Lusitânia Setentrional (Entre-Douro e Minho) destinado à Rainha da Etrúria, o Principado dos Algarves (Alentejo e Algarve) concedido a Manuel de Gody ministro de Carlos IV, e a parte restante (Trás-os-Montes, Beira, Estremadura) ficaria ‘em depósito até à paz’.

Existe hoje em Espanha, como no passado, uma literatura abertamente na defesa do Iberismo, da integração de Portugal na ‘Grande Hespanha’. Entre outros exemplos, tem-se «Iberia, 9 dezembro 2022, por Jorge Ruiz Morales», «Iberismo: Hacia la unión de España y Portugal (Historia), 31 janeiro 2023, por Javier Martínez-Pinna (Coredactor)», «Repensar Iberia: Del Iberismo Peninsular al Horizonte Europeu (Ensaio), 12 fevereiro 2024, por Ramon Villares». Em Portugal também há quem defenda o Iberismo, mas sem o vigor dos espanholistas.

Mas enquanto Madrid ‘sonha’ com a União Ibérica, e quer ‘recuperar’ Gibraltar, ‘esquece’ os enclaves marroquinos de Ceuta e Melilla. Interessante ler «Ceuta, Melilla, Olivenza y Gibraltar: ¿Dónde acaba España? (Sociologia y Politica), 1 outubro 2003, por Máximo Caial (Autor), Sebastián García Schnetzer (Diseño gráfico), Alejandro Garcia Schnetzer (Diseño gráfico)».

Recorde-se que em 1704, as forças anglo-holandesas capturaram Gibraltar à Espanha durante a Guerra da Sucessão Espanhola, e que esse território foi cedido à Grã-Bretanha em perpetuidade ao abrigo do Tratado de Utrecht em 1713.

Quanto a Olivença, o Tratado de Alcanizes de 1297, estabelecia Olivença como parte de Portugal. Em 1801, através do Tratado de Badajoz, denunciado em 1808 por Portugal, Olivença foi anexada. Em 1817 a Espanha reconheceu a soberania portuguesa subscrevendo o Congresso de Viena de 1815, comprometendo-se à entrega do território o mais prontamente possível. Até aos dias de hoje, não aconteceu.

Mário Casa Nova Martins

domingo, julho 14, 2024

Henrique Barrilaro Ruas e Camões

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Passam hoje vinte e um anos que faleceu Henrique Barrilaro Ruas (Figueira da Foz, 2-3-2021 / Cascais, 14-07-2003).
Neste ano das Comemorações do V Centenário do Nascimento de Luis Vaz de Camões, é justo lembrar o Camoniano Henrique Barrilaro Ruas, e a Obra que escreveu e editou sobre o Poeta.

sexta-feira, julho 12, 2024

AA Manuel António Baptista Casa Nova

Manuel António Baptista Casa Nova

(Portalegre, 15-10-1945 – Santarém, 2-7-2024)

A nossa geração de primos direitos Casa Nova era constituída por uma rapariga e quatro rapazes. Cronologicamente, o MA, o JJ, o AC, a MC, o MJ. A diferença etária entre o mais velho, o Manel, e o mais novo, eu, era dez anos e nove meses. Nascemos e vivemos a nossa infância e juventude em Portalegre. Os nossos Pais fizeram com que esse tempo fosse bom. Um tempo de crescer despreocupadamente. Tudo tivemos, nada nos faltou.

A nossa grande referência era a Avó Joana. Ela unia toda a Família, e quando nos deixou, foi o fim de um tempo.

Quando acabámos o Liceu, três foram para Lisboa, um para Santarém, e outro para Coimbra. A partir daí tudo foi diferente. A última vez que os cinco estivemos juntos foi no funeral da Tia Ascensão, que dos nossos Pais foi a última a deixar-nos.

Diz-se que em todas as famílias há uma ‘bête noire’. Lamento, mas nenhum dos cinco o foi ou é.

Mas, também, há sempre nas famílias um ‘patinho feio’. E na nossa geração de primos, o ‘patinho feio’ era o Manel.

Porventura o Manel seria o melhor dos cinco. Coração grande, generoso, confiável, sempre presente. Despretensioso, cordato, afável, criava Amizades que perduraram. Sério, integro, profissional competente. Marido, Pai, Avô. Viveu habitualmente.

O Manel era a Memória viva da Família. Sabia os parentescos, as datas, as histórias. Qualquer dúvida, ele tirava.

Literatura e cinema, as suas grandes paixões. Em Portalegre pertenceu ao cine clube da época, sabia de cinema como poucos. Nunca deixou de ler e ver cinema. Dos mais cultos de nós.

Quando esteve em Angola não perdeu a ligação a Portalegre. A Avó Joana enviava-lhe todas as semanas «O Distrito de Portalegre», a «Rabeca», assim como a «Vida Mundial». Muitas vezes eu é que ia ao correio fazer o envio.

Residindo em Santarém a maior parte do tempo, nunca esqueceu Portalegre. Acompanhava o viver da cidade através dos jornais locais, hoje o «Alto Alentejo», e da «Rádio Portalegre». Quantas vezes o Manel me dava as notícias do que por cá se passava. Amou Portalegre.

Depois da MC, é o Manel que parte. Que vazio!

Senti uma grande necessidade de exteriorizar a dor desta perda de forma pública. Não é meu hábito. É a Vida. Que continua.

Mário Casa Nova Martins

sexta-feira, junho 28, 2024

AA Birkin - Hardy - Bardot

Birkin – Hardy – Bardot

Houve um tempo em que se era jovem, que se acreditava na Imortalidade, nos Deuses, na Virtude, no Amor. Tempo de uma Juventude vivida, sentida, idolatrada, eterna.

Das diferentes formas de se viver e exaltar o Amor, poesia, canção, cinema era a trilogia que transformava a existência. Os ‘sixties’ são a fronteira entre um antes e um depois, um marco jamais esquecido, uma época de abundância, de liberdade, de felicidade, de confiança no futuro. A Europa esquecera a guerra civil que a consumira, terminada nos remotos anos quarenta, e voltava a viver e com forte vontade de viver.

«Je t’aime moi non plus» é uma canção (1967) e também um filme (1976). Ambos têm a assinatura de Serge Gainsbourg, mas é Jane Birken, como cantora e protagonista que fica célebre.

Jane Mallory Birkin  (Londres, 14/12/1946 – Paris, 16-07-2023) foi compositora, cantora, actriz e modelo inglesa, mas é em França que atinge a notoriedade. A sua ligação com Gainsbourg marcou um estilo.

A canção foi proibida em inúmeros países, como Portugal, alvo de censura em rádios, e recebeu a excomunhão do Vaticano. Tornou-se um sucesso retumbante. A carga de erotismo ainda hoje é sentida e vivida por quem a ouve. Intemporal!

«Tous Les Garçons Et Les Filles» (1962), escrita e musicada por Françoise Hardy, é de uma beleza nostálgica, melancólica, inigualável. «Message Personnel» (1973), o testemunho de um Amor que se deseja mas que não acontece. Dois momentos únicos, de uma perfeição transcendental!

Françoise Madeleine Hardy (Paris, 17/01/1944 – Paris, 11/06/2024) marcou o seu tempo. Compôs, musicou, escreveu, amou, sofreu, e de tudo deixou testemunho. Uma vida completa. Princípios e valores acompanham um percurso exemplar. E uma voz única, uma beleza perene, um marco na moda disputada por costureiros e estilistas.

«Et Dieu… Creá La Femme» (1956) prenuncia já os anos sessenta que estavam para chegar. Filme ousado, saúda e glorifica a Beleza através da protagonista.

Brigitte Anne-Marie Bardot (Paris, 28/09/1934), bela, sensual, apolínea, é para ela que originalmente Gainsbourg escreve «Je t’aime moi non plus». Mas o cinema não deixa que Bardot o abandone, e a sua carreira percorre principalmente a década de sessenta, a par de uma carreia menos fulgurosa como cantora. Como modelo, deslumbrou. Mantém o estatuto de ícone daquela década maravilhosa.

Jane Birkin e Françoise Hardy partiram. Brigitte Bardot há muito que se recolheu. O tempo, esse, fará perdurar os seus legados.

Mário Casa Nova Martins

sexta-feira, junho 14, 2024

AA Medos e Demónios

Medos e Demónios

‘Os amanhãs que cantam’ há muito que ‘emudeceram’. Simbolicamente, a sua derrota data de 9 de Novembro de 1989, com a queda do Muro de Berlim. Mas nunca deixaram de manter viva na Europa a sua dominação seja na cultura, seja na comunicação social.

Eleitoralmente de imediato desaparecem. Contudo, resistiram décadas em Portugal, se bem que hoje no parlamento sejam apenas 9 em 230 deputados (4 Estalinistas e 5 Trotskistas), uma minoria de 3,9 %.

A última campanha eleitoral para as eleições europeias de 9 de Junho passado, mostrou a sua preponderância na comunicação social nacional, onde conseguiram marcar a agenda, não política mas uma agenda de ódio a tudo o que não está na sua cartilha ideológica totalitária.

Em Portugal, durante décadas ameaçaram com “o regresso do fascismo”, frase que se traduzia na criação de um medo na forma de condicionar o voto, de ameaça a quem em público tinha uma opinião diferente, de intimidação a quem saísse fora do cânone dito progressista. E isto acontecia no Ensino, com grande intensidade na Universidade, nos meios intelectuais, mas também nos empregos e na vida social.

Desmontada esta perfídia de “o regresso do fascismo”, nova frase surgiu na tentativa de cerceamento, de intimidação, de demonização, que é “a ascensão da extrema-direita”.

Formatação de mentes ao longo do último meio século marca o processo de despotismo imposto pelo radicalismo de esquerda.

Quando a Europa está em guerra, que está para durar, sabendo-se que não vai haver vencedores mas sim vencidos; quando a economia europeia está em crise, pela guerra e pela desindustrialização acelerada que erradamente teve; uma Europa sem as matérias-primas que hoje são as mais importantes para as novas indústrias e tecnologias; uma Europa com excesso de burocracia, fraca produtividade, problemas de competitividade, corrupção; e toda a campanha eleitoral teve apenas um denominador, “a ascensão da extrema-direita”.

Dominou debates, noticiários, comentários, momentos de campanha dos partidos, “a ascensão da extrema-direita”.

Partidos do arco da governação e radicais de esquerda com assento parlamentar, ocuparam o tempo não a discutir o presente e o futuro da Europa e da União Europeia, mas sim a criar um clima persecutório, claustrofóbico. Tudo se resumia ao tema, “a ascensão da extrema-direita”!

E o que é “a ascensão da extrema-direita”? Uma frase que nada diz, porque a extrema-direita, que realmente existe em Portugal, nada tem a ver com os ‘alvos’ que se pretendiam atacar.

Mário Casa Nova Martins

terça-feira, junho 04, 2024

AA - Declínio e Queda da Europa

Declínio e Queda da Europa

«A Roma dos Augustos acabara nos desvios, loucuras e perfídias dos Calígulas e Neros. Uma construção que dominara o mundo e que nos legou a nossa civilização, o famoso Ocidente, descontrolada por excessos de poder, abundância, nepotismo e despotismo, e vigiada de perto pelas hordas de inimigos às portas do império, foi vencida com estrondo e humilhação. Os bárbaros entraram.»

A ‘insuspeita’ Clara Ferreira Alves escreveu o que acima se transcreve na Edição 2689 do passado 10 de Maio na revista “E” do semanário Expresso, página 3. E convida à leitura de duas obras “A História do Declínio e Queda do Império Romano” de Edward Gibbon, editada pela Book Builders em 2020 em dois volumes, e “Considerações sobre as Causas da Grandeza dos Romanos” de Montesquieu, editada pela Assírio & Alvim em 2002, edições que temos.

Esta introdução conduz ao recente ‘festival da eurovisão’. De edição para edição, a decadência instalou-se inexoravelmente, tornando-se o espelho da actual sociedade europeia.

O que conduziu à queda de Roma, e mais tarde de Constantinopla a Oriente, está cada vez mais a acontecer na Europa. E não são os emigrantes os ‘bárbaros’ que estão a destruir a civilização europeia, são os próprios europeus, que hedonisticamente trabalham para o fim da sua própria civilização.

O dito ‘festival da eurovisão’ é a montra dessa decadência, desse fim de um tempo civilizacional, em que a Ética e a Moral se abastardaram, gerando monstruosidades, com a concordância dos poderes políticos, a conivência da hierarquia do catolicismo, a aceitação da cultura degenerada, figura central deste ‘festival de horrores’.

Vive-se o tempo da “civilização faustiana”, que Oswald Spengler enunciou na sua obra «A Decadência do Ocidente», nunca traduzida em Portugal, mas disponível, por exemplo, na edição espanhola Colección Austral da Espasa Calpe.

Está-se no tempo da cultura faustiana, a cultura dionisíaca de Nietzsche em oposição à cultura apolínea. Nietzsche associava Dionísio à intoxicação, desarmonia, ausência de forma, sublimidade e música, enquanto Apolíneo representava a contemplação, harmonia, beleza, e o equilíbrio entre as formas, especialmente através da razão.

Assim se compreende porque é dito que o Festival da Eurovisão é um espelho da decadência da civilização ocidental.

Quando o Belo é substituído pelo Feio, a Estética pelo Hediondo, o Normal pela Aberração, o Espírito pela Matéria, então, muito doente está a Sociedade.

Mário Casa Nova Martins

segunda-feira, junho 03, 2024

Desabafos 2023/24 - XVII

O regime já tem a sua obra, que é a obra do regime. E a obra do regime é o Aeroporto Luís de Camões!

Mas o regime também tem mais uma obra do regime, que é uma nova travessia do Rio Tejo, simultaneamente rodoviária e ferroviária.

E o regime ainda tem uma outra obra do regime, que é o chamado ‘comboio de alta velocidade’.

O aeroporto é na margem sul do Tejo, em Alcochete, para servir Lisboa. A nova ponte sobre o Tejo serve o novo aeroporto e consequentemente Lisboa. O TGV liga o Porto a Lisboa e vice-versa, e Madrid a Lisboa e vice-versa.

As três infra-estruturas, se um dia vierem a ser construídas, serão mais-valia para o concelho de Portalegre, se o IC 13 for concluído e a ligação da capital do distrito à A6 for melhorada, tal como o IP2 que o atravessa.

Mas ainda haverá alguém em Portalegre que acredite que o IC13 alguma vez será concluído? Haverá alguém em Portalegre que acredita que a ligação à A6, seja por Campo Maior ou por Elvas, alguma vez terá no mínimo perfil de IC? Que a ligação do IP2 entre Fratel (A23) e Estremoz (A6) será um ‘verdadeiro’ IP? E que a ligação entre a A23 e A6, passando a oeste de Portalegre cidade, em vez de IP, terá perfil de auto-estrada?

Só os políticos em campanha eleitoral afirmarão que o IC13 será concluído, ou que as ligações à A6 e A23 terão o perfil que se justifica!

E ainda se acredita que a Barragem do Pisão vai mesmo ser construída? Pareceres de toda a ordem há, graças a gabinetes de toda a ordem. Tal como outro tipo de organismos a ela ligados.

O pior cego não é o que não vê, mas sim aquele que finge não ver. O pior surdo o que finge não ouvir. O pior mudo é o que não o admite. E a pior mentira é enganar-se a si próprio.

Mário Casa Nova Martins

27 de Maio de 2024

Rádio Portalegre

sexta-feira, maio 17, 2024

AA - O talentoso Mr. Bugalho

O talentoso Mr. Bugalho

Houve um tempo em que os escolhidos para a Política, para a Causa Pública, era gente d’algo. Hoje não é bem assim. Ou não é mesmo assim.

‘Minutos de fama’ num qualquer canal televisivo ou numa estação de rádio, escrever em jornais ditos de referência frases bem conseguidas dentro do reinante politicamente correcto, atacando ‘saudosistas’, ‘radicais’, ‘anarcocapitalistas’, ‘populistas’, e já se tem a ‘figura pública’, «talentosa, aqui e ali polémica e até “disruptiva”», que é a escolha certa, perfeita para o cargo político.

Por certo quando Patricia Highsmith encontrou “o talentoso Mr. Ripley”, não previra que num futuro um outro talentoso iria emergir, não da pena, da pluma de um ilustre escritor, mas sim da imaginação de um ‘rural’ líder político de ‘um País à beira-mar plantado’!

Para que não haja dúvidas quanto ao talento do talentoso Mr. Bugalho, como vem reproduzido num trabalho jornalístico assinado por Eunice Lourenço [Expresso, 25 de abril de 2024, Primeiro Caderno, página 9], num momento de grande modéstia, a Mãe de Sebastião ‘sempre lhe viu qualidades fora do comum e o estimulou’.

No mesmo trabalho, a jornalista refere quão modesto é Mr. Bugalho, ao reproduzir duas frases que o talentoso gosta de dizer, e que são, “Marcelo quis ouvir-me porque sou muito bom”, e “sou o melhor naquilo que faço”.

Diz-se politicamente conservador. Recentemente escreveu sobre dois livros saídos e que a Esquerda ‘assassinou’ com a sua proverbial ‘democracia’. Provavelmente o próprio não os terá lido, mas afirmou que são «dois livros multifacetados mas algo reaccionários (“Identidade e Família”, mais plural, “Abril às Direitas”, mais antissistema), mostrando quanto reverente é perante o que a Esquerda pensa e dita, provando pertencer à tal ‘direita’ que a Esquerda tolera. [E Revista do Expresso, Edição 2687, página 16]

Tempo antes teve oportunidade de ir como deputado para São Bento pelo CDS. Recusou, porque na época se identificava com o grupo de Paulo Portas, Adolfo Mesquita Nunes, Assunção Cristas, que tinham perdido o Congresso para Francisco Rodrigues dos Santos.

Que interessa que se recorde ‘a notícia por suspeitas de violência doméstica’. Qual o problema da intolerância agressiva no debate com terceiros. Que importa que se considere ‘senhor e dono da verdade’.

Porém, na conjuntura presente, as eleições europeias do próximo 9 de Junho são um momento demasiado importante para a Europa e Portugal.

Mário Casa Nova Martins

quarta-feira, maio 15, 2024

Desabafos 2023/24 - XVI

Mudam-se os tempos, mas não se mudam as vontades. Que o diga o ‘sequioso’ PSD que está a fazer o mesmo que antes o PS fizera, que é ‘a troca das cadeiras’, um movimento que acontece sempre quando o governo muda, a autarquia muda. PS e PSD trocam lugares de nomeação política sempre que o que está na governação perde e o que está na oposição ganha. Portanto, nada de novo nesta Terceira República.

Desejosos estavam os sociais-democratas de voltar a ocupar aqueles lugares, que num passado já foram seus, mas que depois passaram para o PS e agora regressam ao PSD.

É um fartar vilanagem!

Esses lugares de nomeação política, altamente remunerados, com grandes mordomias, de grande apetência, não são ocupados pelos ‘melhores’, por mérito.

E como se tem visto ao longo do tempo, o desempenho da larguíssima maioria dos detentores desses lugares de nomeação política é um desastre mais que anunciado!

Mas as vontades permanecem qualquer que seja o tempo. «Boys and Girls», «rapazes e raparigas» de cartão de militante em punho, fazem fila para que seja ele ou ela a escolha do partido para o lugar de nomeação.

Meritocracia, competência, responsabilidade, são palavras inexistentes quando da nomeação. Militância partidária, subserviência ao partido, fidelidade ao líder, são as ‘qualidades’ mínimas exigidas para ocupar o cargo de nomeação política. Tudo o resto é aceitável.

Sendo assim os factos, a nua e crua realidade, como ainda há quem se espante quando se fala em corrupção na administração pública, nos institutos e instituições tutelados pelo estado, nas autarquias, no governo, enfim, em tudo em que o estado ‘toca’ com a sua ‘mão invisível’ de favores, benesses, mordomias e quejandos.

Como é dito nas Bem-Aventuranças, “Abençoados os puros de coração, porque verão a Deus!”

Mário Casa Nova Martins

13 de Maio de 2024

Rádio Portalegre

 

quinta-feira, maio 09, 2024

II Encontro de Clássicos




sexta-feira, maio 03, 2024

AA - Ramón ou a beleza de matar trotskistas

Ramón ou a beleza de matar trotskistas

Não é uma peça de teatro, também não é um romance, é, sim, a história, a história real de Ramón Mercader, o catalão que matou o inimigo do povo. Ramón não teve dúvidas em assassinar o inimigo do povo e também inimigo do Pai dos Povos.

Lev Davidovich Bronstein, que a História veio a conhecer como Trotsky, teve uma carreira fulgurante no País dos Sovietes. Revolucionário bolchevique, autor de purgas, fundador do Gulag, organizador do exército vermelho, ex-comissário do povo, e traidor, foi para o exílio, fixando-se no México, onde em 20 de Agosto de 1940 foi assassinado por Ramón.

Antes, a 24 de Maio, Ramón tentara pela primeira vez assassinar Trotksy, mas é à segunda que consegue o feito. No escritório da casa de Trotsky, em Coyoacán perto da Cidade do México, Ramón feriu-o mortalmente na cabeça com uma pequena picareta de alpinismo.

Ramón Mercader, estalinista espanhol convicto que combateu na Guerra Civil de Espanha, foi preso e condenado a vinte anos de prisão. Cumprida a pena em Maio de 1960, vai viver para Cuba.

Por tal façanha, no tempo de Nikita Khrushchov, em 1961 Ramón Mercader foi proclamado Herói e condecorado na República dos Sovietes.

Ramón Mercader nasceu em Barcelona a 7 de Fevereiro de 1913 e veio a falecer em Havana em 18 de Outubro de 1978. Os seus restos mortais foram trasladados de Cuba para o cemitério de Kuntsevo em Moscovo, na época de Leonid Brejnev, o que prova a eterna gratidão dos Sovietes a Ramón pelo acto praticado.

O cinema não esqueceu este episódio, e em 1972 surge «O Assassinato de Trotsky», um filme italo-franco-britânico, dirigido por Joseph Losey, com Richard Burton no papel de Trotsky e Alain Delon no papel de Ramón.

Mais tarde, livros, documentários cinematográficos e uma série relatam estes factos.

Leon Trotsky também foi um intelectual, e os seus escritos produziram uma doutrina, o trotskismo. E em nome desse trotskismo muitos trotskistas foram assassinados por ordem do Pai dos Povos, José Estaline, cuja praxis deu origem ao estalinismo.

Estalinismo e trotskismo foram arqui-inimigos desde então, se bem que actualmente, pelo menos em Portugal, essas duas correntes de pensamento totalitário, coabitam harmoniosamente, seja em sindicatos, nos protestos de rua, ou no Parlamento onde apoiam medidas, ora de um, ora de outro.

Mário Casa Nova Martins

terça-feira, abril 30, 2024

Desabafos 2023/24 - XV

O ciclo eleitoral de 2024 continua a bom ritmo. A 26 do próximo Maio terão lugar as eleições antecipadas para a Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira. Depois a 9 de Junho seguem-se as eleições para o Parlamento Europeu. E só os deuses saberão se não acontecerá neste ano de 2024 mais um qualquer acto leitoral.

Será que o governo conseguirá cumprir a legislatura? O governo chegará até ao final de 2024? Não é despiciendo formular estas e outras questões.

Mas em relação à Madeira, o resultado das eleições não deverá ser muito diferente das açorianas, isto é, não haverá maioria absoluta de um só partido, apenas relativa, e assim a instabilidade política instalar-se-á, enquanto essa mesma instabilidade está permanente nos Açores e começa a consolidar-se no continente.

Os próximos tempos não se avizinham politicamente pacíficos, e o presidente da República continuará a ser factor de instabilidade.

Mas, dado o facto de se conhecerem os principais candidatos às eleições europeias, é justo começar-lhe a dar a importância devida.

Não se acredita que a distribuição de mandatos será idêntica à anterior, em 26 de Maio de 2019. O panorama político, económico e social actual, quer na Europa, quer em Portugal é muito diferente. As crises que os europeus e consequentemente os portugueses atravessaram nestes últimos cinco anos, da mais variada ordem, alteraram os dados que vigoraram em 2019.

Em Portugal, dificilmente a Esquerda Radical terá o mesmo número de eleitos que teve há cinco anos. A Direita elegerá deputados europeus. Embora na Europa o PSD esteja na ‘família’ do PPE, de centro-direita, em Portugal é social-democrata, o que é o continuado embuste, ao aceitar votos da Direita e ser de Centro-Esquerda. O PS provavelmente será o vencedor.

E assim vai o país.

Mário Casa Nova Martins

29 de Abril de 2024

Rádio Portalegre

sexta-feira, abril 19, 2024

AA - O Dissolvente

O Dissolvente

O adjectivo ‘dissolvente’ define-se como “Que o que tem a propriedade de dissolver”.

Em sentido figurado, o adjectivo ‘dissolvente’ é “Que ou aquilo que desorganiza ou corrompe. Igual a corruptor, desorganizador”.

Desde que ocupa o Palácio de Belém, o seu actual inquilino duas vezes dissolveu a Assembleia da República, uma vez dissolveu a Assembleia Legislativa dos Açores, uma vez dissolveu a Assembleia Legislativa da Madeira.

E diga-se que em todas as eleições antecipadas, mesmo prevendo o próximo resultado eleitoral na Região Autónoma da Madeira, sempre ganhou o partido que o presidente da República apoia, e no qual antes de ocupar a actual função política desempenhou os mais altos cargos.

A partir do dia 9 de Setembro de 2025, o dito inquilino de Belém já não pode exercer o seu poder de dissolver qualquer um dos Parlamentos, Regional ou da República.

Mas, até lá, será que, passados os prazos constitucionais, o presidente da República ainda irá fazer mais alguma dissolução parlamentar?

Esta pergunta será pertinente, dado o caracter de dissolvente do presidente da República. A sua forma de fazer política é marcada por uma forma disruptiva de tratar a causa pública, criando factos políticos, não se mostrando confiável a adversários e principalmente a aliados, contribuindo para o descrédito da função que desempenha, abastardando a Presidência da República.

Num tempo de grandes desafios que Portugal e principalmente a União Europeia atravessam, tudo o que possa descredibilizar a Política, terá num futuro próximo graves consequências para o próprio funcionamento das Instituições portuguesas e europeias. E o presidente da República não tem dado contributos positivos para que os portugueses tenham confianças nas Instituições.

Contenção nos actos e nas palavras seria o mínimo que se poderia esperar e desejar do presidente da República até ao final do seu mandato em 2026. Mas dada a natureza do mesmo, tal não se afigura possível.

Como jornalista e comentador político foi parcial, como político não criou consensos mas divergências graves dentro e fora do partido que chegou a liderar, como presidente da República quis ser presidente-rei. Procurou o apoio das massas através da forma circense, a ponto de hoje ser motivo de chacota as ‘selfies’, os abraços, os apertos de mão.

A marca que irá deixar quando abandonar o Palácio de Belém não será positiva, pelo contrário. Se o regime fosse monárquico, quiçá, o seu cognome seria «O Dissolvente».

Mário Casa Nova Martins

quinta-feira, abril 18, 2024

Desabafos 2023/24 - XIV

O governo governa ‘no fio da navalha’. A apresentação do programa de governo no final da semana passada no parlamento pôs a nu a fragilidade da situação em que este se encontra.

Com maioria relativa, o governo enfrenta a oposição das Direitas, IL e Chega, da Esquerda, PS, e dos radicais de Esquerda que inclusive apresentaram duas moções de rejeição ao programa de governo.

Ambas as moções de rejeição fora derrotadas, mas a forma como o foram mostrou ‘o separar de águas’ entre Direita e Esquerda, deixando o partido do governo num incómodo centro que não augura nada de bom para os tempos próximos.

Em termos de o governo conseguir à Direita uma maioria absoluta no parlamento, a IL é irrelevante dado o número de deputados que tem, restando o Chega, que ao contrário do que diz não tem o menor interesse em apoiar o executivo nesta legislatura.

Desta forma, resta o apoio ao governo por parte da Esquerda, e essa Esquerda é o PS.

Evidentemente o governo não conta com a extrema-esquerda para qualquer tipo de apoio ou convergência.

O PSD, hoje como sempre, define-se como social-democrata e diz estar no centro-esquerda. E assim sendo, será fácil obter o apoio do PS para governar. O PS está também na área da social-democracia, pese embora o seu actual líder se situar na ala esquerdista do partido.

Mas o que os portugueses querem é estabilidade na governação, daí que seja um facto natural o PSD estar continuadamente a procurar o PS para a área dos acordos de incidência governativa. E o PS, umas vezes está em concordância, mas outras mostra-se renitente, pelo menos na retórica, em ser ‘muleta’ do PSD e seu governo.

Mário Casa Nova Martins

15 de Abril de 2024

Rádio Portalegre

segunda-feira, abril 08, 2024

Novos Hábitos à Direita

Que Direita há hoje no Parlamento português, é uma pergunta que na actualidade tem razão de ser.

Como definiu Giuseppe Prezzolini, a Direita é o conjunto das Direitas, as que conhecemos e as que esquecemos.

Não há Direita, mas sim Direitas, e numa Democracia perfeita, teria que haver Direitas e Esquerdas. Contudo não era isso que acontecia em Portugal desde 1976, ano em que tiveram lugar as primeiras eleições legislativas do regime que inaugurou a presente Terceira República.

Durante décadas no Parlamento apenas existiu um partido que, umas vezes timidamente, outras nem tanto, se definia como de Direita, o CDS, depois PP, depois CDS-PP, que com altos e baixos na representação Parlamentar caminhou até se diluir no passado 10 de Março no partido à sua esquerda.

Entretanto um novo partido conseguiu representação parlamentar, e veio mudar a face do Parlamento português, primeiro com um deputado, depois com doze e agora com cinquenta.

O Chega, desde a primeira hora se definiu de Direita, provocando no mainstream o maior dos sobressaltos.

Será oportuno lembrar que na Inventona do 28 de Setembro de 1974 foi proibido o partido mais importante de Direita, que se formara após o 25 de Abril desse ano, o Partido do Progresso, Partido do Progresso – Movimento Federalista Português.

Que se recorde que após a Quartelada de 11 de Março de 1975 foi proibido de concorrer às eleições legislativas desse ano o Partido da Democracia Cristã (PDC), que era no momento o partido mais forte e importante da Direita.

Ao CDS, definido como Centrista, foi-lhe permitido apresentar-se às eleições, e de então até ao aparecimento do Chega ao Parlamento era a Direita possível.

PPD, ou PSD, ou PPD-PSD nunca se afirmou de Direita, se bem que aceitasse de bom grado os votos da maioria do Povo da Direita que não escolhia o CDS, ou PP, ou CDS-PP.

Também se refira que o CDS votou contra a primeira versão da actual Constituição, socialista-marxista, quiçá o momento mais importante da sua História.

O crescimento do Chega fez desaparecer o CDS do Parlamento. Agora este regressa pela mão do PSD, onde está praticamente diluído.

Também surgiu no Parlamento um novo partido, a Iniciativa Liberal. De início definiu-se de Esquerda, querendo ficar sentada no Hemiciclo entre PS e PSD. Cresceu na eleição seguinte, e manteve o número de eleitos nesta última. Entretanto começou um ziguezague ideológico, e assim sendo o seu futuro poderá a vir a ser idêntico ao do CDS, a integração no PSD.

Desta forma, fica sozinho o Chega como o verdadeiro e único partido de Direita em Portugal com representação parlamentar.

Pela primeira vez nesta Terceira República existe um partido Conservador de Direita no Parlamento português, assumido. E enquanto assim se mantiver, se a sua vertente ideológica continuar coerente, se representar os verdadeiros Valores de Direita, a Família, a Propriedade, o Trabalho, a Liberdade, será a Direita que faz falta.

Uns tentaram, outros falharam, ainda outros não quiseram assumir ser de Direita, serem Direita. Hoje o Chega ocupa o espaço de uma Direita das Direitas.

Mário Casa Nova Martins

sexta-feira, abril 05, 2024

AA - Franco versus Ventura

Franco versus Ventura

O Segundo Liberalismo caracterizou-se em termos políticos pela contínua instabilidade governativa, que a partir de determinada altura foi marcado pela alternância de dois partidos, o Partido Regenerador, à direita, e o Partido Progressista, à esquerda. Foi na parte final do século XIX que essa forma de governação atingiu a sua maior expressão, ficando conhecida como Rotativismo.

No início do século XX, em 12 de Fevereiro de 1901, dá-se uma cisão no Partido Regenerador, liderada por João Franco, que forma em 16 de Maio seguinte o Partido Regenerador Liberal. Este episódio político marca o fim do Primeiro Rotativismo.

Em Maio de 1906 estava o país em mais uma crise política do Rotativismo. A 21 de Março caíra o ministério do partido Regenerador de Hintze Ribeiro, e a 19 de Maio é a vez do ministério do Partido Progressista de José Luciano de Castro.

A 2 de Abril de 1906 João Franco alia-se ao Partido Progressista, dando origem à formação da Concentração Liberal, contra o Partido Regenerador.

Segue-se o ministério da Concentração Liberal presidido por João Franco, que toma posse nesse 19 de Maio e durará até 12 de Abril de 1907. Depois, João Franco, com o apoio do rei, governará de 10 de Maio até ao Regicídio. E pouco mais de dois anos passados, dá-se o fim do regime monárquico.

Com a entrada em vigor da Constituição Portuguesa de 1976 e em sucessivas eleições legislativas, dois partidos ao longo de todo este tempo têm governado Portugal em alternância, o Partido Socialista e o Partido Popular Democrático – Partido Social Democrata. De ideologia quase idêntica, na área da social-democracia, têm sido ao longo dos anos os pilares do regime. É o Segundo Rotativismo.

Em 2018 André Ventura desfilia-se do PSD e vai em 9 de Abril de 2019 fundar um partido. Esse partido, Partido Chega, concorre pela primeira vez a umas eleições legislativas logo no ano da fundação e elege um deputado, tal como o Partido Regenerador-Liberal de João Franco na primeira vez que concorreu.

Em eleições sucessivas, passa em 2022 a ter doze deputados, e em Maio de 2024 alcança cinquenta deputados num hemiciclo de 230.

Tendo em conta as condições políticas resultantes da última eleição legislativa, acredita-se que o Segundo Rotativismo acabou, dando lugar a um tripartidarismo, com o Partido Chega (50 deputados) de Direita, o PPD-PSD (78 deputados) de Centro e o PS (78 deputados) de Esquerda.

Ler História, estudar História é conhecer o Passado, compreender o Presente, preparar o Futuro.

Mário Casa Nova Martins

terça-feira, abril 02, 2024

Desabafos 2023/2024 - XIII

Armadilhado pela Esquerda com o «não é não», infantilmente dito pelo seu líder, o PSD deu um espectáculo de baixíssimo nível político na semana passada quando da eleição do presidente da Assembleia da República, mostrando-se como, aliás, tem sido ao longo da sua história um partido não confiável.

Tendo acordado com um dos partidos o nome do novo presidente da Assembleia da República, figuras secundárias do PSD vieram desmentir esse acordo feito pelos líderes parlamentares, como foi tornado público e com o conhecimento e concordância dos presidentes dos partidos envolvidos no acordo.

O passado lembra que concretamente nas relações entre PSD e CDS, quando o CDS era um partido autónomo e livre da tutela do PSD, quantas vezes esse mesmo PSD negou e traiu acordos feitos entre estes dois partidos. Uma longa história longa!

Diga-se que, ao contrário, o PS sempre honrou acordos e compromissos quando os fez com os partidos à sua esquerda. Comportamento oposto ao do PSD.

Agora as coisas não aconteceram como o PSD estava habituado com o CDS, que sempre se auto subordinou, se auto diminuiu face ao PSD, preferindo ‘abraço de urso’, ‘engolir de sapos’, em troca de miseráveis ‘pratos de lentilhas’!

Desta forma, a eleição da segunda figura do Estado está manchada pelo irresponsável comportamento do PSD, ficando indícios de que esta legislatura poderá vir a ser curta.

Foi necessária a atitude responsável do PS, para que este episódio negativo para a Democracia tivesse um desfecho correcto.

O positivo desta situação política, é que ficou claro a continuação do Centrão a determinar os rumos políticos, e que a verdadeira oposição ao PSD está à sua direita.

Mário Casa Nova Martins

2 de Abril de 2024

Rádio Portalegre

quinta-feira, março 28, 2024

Iberismo e União Ibérica

Nas estepes da Rússia

Espanha luta com ardor,

unida com a Alemanha

por uma Espanha melhor.

 

E quando a Espanha voltarmos

de novo queremos lutar

e expulsaremos o inglês

do Penedo de Gibraltar.

 

O nosso grito de vitória

no mundo inteiro o ouvirão

quando recuperarmos

todo o Marrocos e Orão.

 

Só esperamos a ordem

que nos dê o nosso general

para apagar a fronteira

de Espanha com Portugal.

 

E quando isso conseguirmos,

alegres podemos ficar,

por termos conseguido

fazer uma Espanha imperial.

*

Estes versos são de uma das canções da Divisão Azul, entoada nos campos da Rússia ao lado da Alemanha nazi.

O texto que a reproduz traduzida está na Revista ‘E’ do Expresso, página 32, do passado 15 de Março de 2024, inserido no trabalho de Ricardo Silva intitulado «Os planos de Franco para invadir Portugal».

Francisco Franco e Iberismo sempre ‘rimaram’. Como ao longo de séculos a obsessão espanhola por integrar Portugal é uma constante.

Recorrendo apenas ao século XX, as três figuras espanholas mais influentes, a par de milhentas menores, que defendiam o Iberismo foram Afonso XIII, José António Primo de Rivera e Francisco Franco.

Afonso XIII tentou anexar Portugal após a implantação da República. José António Primo de Rivera, fundador da Falange, sempre defendeu a integração de Portugal em Espanha. Franco tem como tese na Academia de Infantaria de Toledo, como invadir Portugal.

Existe documentação pública a testar o forte Iberismo deste trio. E das outras figuras menores.

Ainda no século XX, quem mais pugnou pela integração de Portugal na Espanha, foi o escritor comunista José Saramago, que inclusive se auto-exilou na ilha espanhola de Lanzarote, onde veio a falecer.

Um facto curioso, dir-se-á extraordinário, é uma parte dos actuais Nacionalistas portugueses terem em José António Primo de Rivera um ideólogo, e a Falange como referência de acção dita revolucionária.

E António Sardinha, figura grada do Nacionalismo português, também ‘navegou’, quiçá levemente, nas águas do Iberismo.

Por outro lado, o Embaixador Alberto Franco Nogueira pugnou ao longo da sua vida contra o Iberismo, figurando hoje no Panteão dos Portugueses que sempre defenderam e honraram a Pátria Portuguesa.

Já no século XXI surge um partido político herdeiro do Franquismo, o VOX, que defende a União Ibérica.

Este partido, em termos da União Europeia, pertence ao mesmo grupo no Parlamento Europeu que o partido português Chega.

Na recente campanha eleitoral para as legislativas do passado 10 de Março, o líder do VOX esteve presente em Portugal num comício do Chega, sem que ninguém deste partido, ou outros, se incomodasse. Que tempos estes!

Mário Casa Nova Martins

E A Revista do Expresso, Edição 2681, 15/Março/2024, pgs 26 a 32

segunda-feira, março 25, 2024

AA - Memória e Poder

Memória e Poder

Do Capitólio à Rocha Tarpeia, não vai mais do que um passo.

Na Roma antiga, a Rocha Tarpeia era um local onde eram feitas execuções, sendo as vítimas lançadas desta rocha para a morte. E a expressão que ainda hoje lembra esses dois lugares romanos, Rocha Tarpeia e Capitólio, é utilizada para lembrar como o Poder é efémero.

Que o diga Aníbal Cavaco Silva, dez anos primeiro-ministro, uma década presidente da República, que no passado 10 de Março viu na sua terra natal, Boliqueime, um partido à direita do PSD ficar confortavelmente à frente desse mesmo PSD nas eleições legislativas.

Longe vai o tempo em que o Cavaquistão parecia indestrutível. A arrogância, a soberba, o caciquismo que caracterizou esse período, a constante tentativa de asfixiar eleitoralmente o partido situado à sua direita, a par de uma estratégia económica Keynesiana de obras públicas financiadas pela União Europeia, deixou reais marcas.

Contudo, hoje Cavaco Silva é mais lembrado pela frase de que “nunca se enganava e raramente tinha dúvidas”, do que pela obra de betão que deixou como legado, ou pelo tempo que passou no Palácio de Belém.

Vindo como que de ‘além-túmulo’, Cavaco Silva protagoniza várias aparições públicas na campanha eleitoral do seu partido de sempre e escreve artigos na imprensa, no sentido de mostrar o seu apoio incondicional ao líder e ao projecto do PSD.

Mas, pelo menos em Boliqueime, não se pode dizer que o entusiástico apelo ao voto no PSD por Cavaco Silva tenha sido foi ouvido, pelo contrário.

Assim sendo, poder-se-á questionar se há uma ingratidão político-ideológica em relação a Aníbal Cavaco Silva, que conquistou maiorias absolutas e venceu eleições presidenciais.

É um facto que Cavaco Silva foi um vencedor na política portuguesa nesta Terceira República e é inquestionável que deixou obra pública.

Todavia, nunca deixou de mostrar uma faceta de autocrata, jamais mostrou sentimentos altruístas, não foi dialogante, mostrou-se sempre esfíngico e distante na forma como se relacionou com apoiantes e adversários. Também não teve apetência para a Cultura, quiçá, por força da sua formação técnica.

Agora nada diz ou representa para as gerações que hoje têm funções na política e para o actual eleitorado. Cavaco Silva é ‘uma voz do passado’ que veio ao presente e não foi ouvido.

Mário Casa Nova Martins

sexta-feira, março 22, 2024

Guerra na Ucrânia - Clara Ferreira Alves

Guerra na Europa

«Bruxelas tinha um único trabalho, deixar a Europa de fora de uma guerra fratricida e fazer valer a diplomacia. Em vez disso, atirou a Ucrânia para uma guerra que nunca ganharia, em nome de uma NATO disfuncional e de promessas de armas e dinheiro sem fim. E querer rearmar a Alemanha para entrar em guerra com a Rússia. Um plano que agrada aos militares neutralizados, ao lobby da indústria de armas e aos pupilos do Pentágono.»

Clara Ferreira Alves

E A Revista do Expresso, Edição 2681, 15/Março/2024, pg.3

*

Lucidez da Articulista, em tempo de uma derrota militar e sobretudo política e económica anunciada. A submissão aos EUA por parte de uma parte dos Europeus é consequência da dependência militar da Europa face à até há pouco potência hegemónica mundial.

A Rússia rapidamente transformou a sua economia numa economia de guerra, tem crescimento económico e consegue fazer face em homens e material a esta guerra de longa duração, ao contrário da Europa e dos próprios EUA.

Esta realidade é ocultada por todos os meios às opiniões públicas, americana e europeia, começando na não divulgação das notícias contrárias à ‘verdade estabelecida’, proibindo o acesso a canais televisivos e rádios ‘do lado errado’, fazendo a pior das censuras, e perseguindo quem não ‘responde’ pelo ‘lado certo’ deste guerra entre os EUA e a Rússia, por razões mais geopolíticas que económicas, no mártir solo ucraniano.

Vive-se um tempo de tripolaridade mundial. Os EUA já não são a única potência, a China é cada mais uma potência mundial. E quando a guerra acabar na Europa, a Rússia sairá mais forte e voltará a ocupar o lugar de grande potência mundial.

Quanto à Europa, a liderança germânica na União Europeia reforçar-se-á. O Norte da Europa distanciar-se-á em termos económicos do Sul, gerando-se fortes assimetrias de toda a ordem. A decadência americana continuará, e a ‘rica’ Europa nunca mais vai ser a mesma.

Esta guerra no centro da Europa foi o pior que podia ter acontecido aos europeus. Conflitos regionais irão resultar da derrota europeia e americana na Ucrânia. Novas guerras de fronteiras assolarão o solo europeu, num retrocesso civilizacional.

E no final será a Europa, não os EUA, o grande perdedor!

Mário Casa Nova Martins

terça-feira, março 19, 2024

Desabafos 2023/24 - XII

É já nesta próxima quarta-feira, dia 20 de Março que se saberá o resultado final das eleições legislativas do passado 10 de Março.

O tempo dirá, ou demostrará que a vitória do vencedor será pírrica.

O vencedor em termos de mandatos terá uma vantagem mínima, o que para além de trazer instabilidade num futuro governo, pairará sempre o erro colossal que foi o presidente da República ter aceitado a demissão do anterior primeiro-ministro e provocar estas eleições legislativas antecipadas.

O fervor do mediatismo que sempre mostrou, a irresponsabilidade da maioria dos actos que pratica, a vontade a todo o preço de levar para o governo o partido no qual e do qual é militante, o presidente da República é e será o maior responsável por tudo o que o futuro trará para Portugal. E os tempos não vão ser nada fáceis.

Quando as Corporações vierem reivindicar tudo e o seu contrário, quando a resolução dos verdadeiros problemas do país não conseguirem resolução por parte do governo que irá sair deste acto eleitoral, então estará criado o cenário de maior instabilidade.

Hoje há um partido de Direita forte, há um partido de Esquerda forte, e haverá um governo formado pelo partido do centro que tem no seu seio duas correntes, uma o PPD que quer acordos com o partido da Direita, e a outra o PSD que quer acordo com o partido da Esquerda. Para bom entendedor, tudo está dito.

Mas que se diga e repita, que toda está conflitualidade social e política teve como fautor, como promotor o presidente da República, que uma vez mais mostrou ser de uma enorme irresponsabilidade.

Num tempo e momento que Portugal mais precisava de estabilidade, tudo aconteceu ao contrário. Mais uma oportunidade perdida para Portugal e para os Portugueses.

Mário Casa Nova Martins

17 de Março de 2024

Rádio Portalegre

sábado, março 09, 2024

Contra o Bloco Central

Contra o Bloco Central

O ‘voto útil’ é útil para quem o recebe, mas nunca o é para quem o dá. Mesmo assim, não há campanha eleitoral política que não surja esta falácia, esta mentira.

O ‘voto útil’ não é um voto livre, é um voto condicionado, porque é sempre um voto contra algo, não é voto construtivo, é sim um voto destrutivo. O ‘voto útil’ é um voto que é dado em oposição, em contrário, em negação, que faz com que a própria essência do voto seja adulterada.

O Centrão que tem governado Portugal nesta Terceira República, faz sempre a apologia do ‘voto útil’, seja à Direita, seja à Esquerda. E na presente campanha eleitoral tal é assumido à Esquerda pelo PS e à Direita pelo PSD.

Em períodos curtos, em coligação ’disfarçada’ com o PS e em coligações com o PSD, também teve responsabilidades governativas, mínimas, o CDS. Mas o fim histórico do CDS aconteceu, e hoje já nem ‘muleta’ é do PSD, que entretanto o ‘absorveu’.

Muito se deve ao ‘voto útil’ e a continuadas coligações com o PSD, o tal ‘abraço de urso’, o fim político do CDS, um perda enorme para o Personalismo e a Democracia Cristã em Portugal.

Foi justamente por causa do ‘voto útil’ e da ‘ganância’ de sucessivas direcções do CDS em ir em coligações com o PSD, que se deu o seu fim histórico e político. Hoje a ‘utilidade’ do CDS, após sucessivos «abraço de urso» do PSD limita-se a ser, não muleta, mas uma espécie de apêndice do PSD, que quando não lhe interessar o mesmo PSD ‘despejará’ inexoravelmente.

A apologia do ‘voto útil’ pelo Centrão, faz com que ele se perpetue na governação, e, assim, ganhando a eleição PS ou PSD, tudo fica como dantes. E para o Eleitor que pratica o ‘voto útil’ e que quer a alternância, que quer mudar o rumo da governação, o ‘voto útil’ transforma-se num voto inútil!

A alternativa ao Centrão não é votar nos partidos que o formam, mas sim nas alternativas, à Direita e à Esquerda, que existem.

A Esquerda tem essas alternativas, e a Direita tem as suas, que no caso presente são os Partidos Chega e Iniciativa Liberal.

O modelo económico da Iniciativa Liberal é o aplicado na Irlanda, na Polónia, na Hungria e noutros países que liberalizaram a economia e obtiveram resultados excelentes, ultrapassando Portugal no ranking económico da própria UE. O Chega assenta o seu modelo económico na matriz Democrata-Cristã, entre o Liberalismo e o Socialismo. E tudo é Economia!

Muito teria Portugal e os Portugueses a ganhar com uma Economia livre, que criasse riqueza suficiente para o País sair da cauda da União Europeia.

Não será com o famigerado ‘voto útil’ que não é mais do que um voto inútil, que Portugal se libertará das grilhetas deste Socialismo na Economia que o asfixia.

Mário Casa Nova Martins

sexta-feira, março 08, 2024

AA - O "Voto Inútil"

O ‘Voto Inútil’

Um certo consenso diz que a principal razão da última maioria absoluta do Partido Socialista, em 30 de Janeiro de 2022, foi que à última hora, à boca das urnas, indecisos e ‘receosos’ aliaram-se num sindicato de voto, em coligação negativa, para impedir que a ‘direita’ formasse governo, votando no PS.

Sendo verdade, então foi o ‘voto útil’ que ‘deu’ a dita maioria absoluta aos socialistas.

O ‘voto útil’ é muito útil para quem o recebe, mas torna-se inútil para quem o dá!

Nesse Janeiro de 2022, à Esquerda o ‘voto útil’ fez com que os dois partidos radicais de Esquerda, PCP e BE, vissem diminuir o número de votos e de mandatos, tal como o partido ‘hermafrodita’ PAN.

Desde a entrada em vigor da actual Constituição da República, dois partidos têm alternado na governação, PSD e PS.

Em linguagem simples, segundo a Lei de Gresham, «a má moeda tende a expulsar do mercado a boa moeda». E isto passa-se também em política. A ’boa moeda’ são os partidos que não pertencem ao ‘Centrão’, e a ‘má moeda’ é o ‘Centrão’, o PS e o PSD.

PS e PSD são as duas faces de uma mesma moeda que é o ‘Centrão’, que não cria riqueza para o país, mas sim clientelas tentaculares, geradoras de corrupção e enriquecimento próprio, enquanto os portugueses sofrem a debacle do sistema público de saúde, da escola pública, dos serviços públicos, da Justiça.

Poderá haver no próximo 10 de Março ‘voto útil’ à Esquerda e à Direita, seja no PS, seja no PSD agora ‘travestido’ de AD.

«Há vida para além do ‘Centrão’!» Basta os Portugueses quererem, votando à Direita e à Esquerda nos partidos fora do ‘Centrão’, por uma vez não exercendo o tão famigerado ‘voto útil’.

«Que se lixe o ‘Centrão’!» Há alternativa, à Direita e à Esquerda, a este terrível ‘Centrão’ de tudo e do seu contrário.

A Esquerda tem como alternativa ao PS partidos Estalinistas e Trotskistas.

A Direita tem nos Liberais e nos Conservadores, a alternativa ao voto no PSD/AD. Com o regresso do PSD a governar Portugal, pouco ou nada será diferente da presente governação socialista.

O Liberalismo e o Conservadorismo são alternativos ao Socialismo.

Se a Direita não efectivar o ‘voto útil’, nada ficará como dantes.

Mário Casa Nova Martins