Luís Filipe Meira
Biblioteca Viva Em Portalegre
Dinamizada por Jovens de 10 Países
Uma biblioteca é um espaço nobre onde a partilha do conhecimento pode
alcançar as formas mais variadas; da leitura ao debate, das experiências
artísticas à simples conversa, tudo pode acontecer numa biblioteca. No fundo
uma biblioteca é um espaço de cultura que, sendo municipal, tem obrigações
acrescidas, pois tem a missão de promover e apoiar qualquer ação que vise o
aumento de conhecimento e o incremento cultural da comunidade onde está
instalada. E quando falamos de Biblioteca Municipal estamos a referir-nos a
tudo o que envolve e põe a funcionar o espaço físico; direção, colaboradores,
equipamento, enfim tudo o que contribua para a dinamização do espaço público.
Foi o que aconteceu na semana passada nas instalações da Biblioteca
Municipal de Portalegre com a cedência do espaço físico para a realização de
uma Biblioteca Viva, dinamizada por jovens oriundos de 10 países, numa ação
promovida pelo programa comunitário Juventude
em Ação em conjunto com uma Associação
local.
O conceito de Biblioteca Viva
é mais ou menos recente, sendo Portalegre a 3ª cidade portuguesa, depois de
Lisboa e Porto, a receber uma iniciativa deste género, que passa pela promoção
do diálogo e combate aos estereótipos e preconceitos, encorajando ao
entendimento. O método é simples e basta ter alguém disponível para, tal como
num livro, contar uma história e ter alguém que esteja pronto para a ler/
ouvir, com a vantagem, em relação ao livro, de poder discuti-la com o
autor/narrador. Sendo que duas cadeiras, um emissor/livro e um leitor/ouvinte,
são suficientes para executar o conceito, não deixa de ser verdade que a ação
deverá, tal como em qualquer biblioteca, ter a ambição de apresentar o melhor e maior número de livros e chegar ao maior
número de pessoas.
A ação que ocorreu a semana passada em Portalegre teve a
participação de cerca de cinco dezenas de pessoas entre dinamizadores do
projeto e visitantes, provenientes de diversos países, da Grécia à Finlândia,
da Roménia ao Reino Unido passando por Espanha, Áustria, Hungria, Itália,
França e Portugal. Os temas escolhidos para os livros versaram os Direitos
Humanos, Discriminação e Exclusão Social. Foram apresentados 8 livros/histórias
cujos autores/protagonistas contaram e discutiram, a temática e os contornos
das histórias, com os leitores que os escolheram.
Oito histórias diferentes contadas na 1ª pessoa que levaram os leitores
desde o lado mais negro da vida até ao sucesso empresarial na agricultura,
passando por uma história de amor que acabou em pesadelo, uma outra vivida
através de dois continentes e vários países, pelas lutas dos trabalhadores
pelos seus mais elementares direitos, pela preservação da herança judaica ou
ainda pela fantástica história da libertação da mente de um corpo que jaz na
cama de um hospital há quase duas dezenas de anos. Oito histórias fascinantes
de transfiguração vividas de extremo a extremo e que, de
alguma maneira, demonstram a força inquebrantável do ser humano. Oito histórias
que foram exemplos vivos para os leitores, alguns deles com histórias tão ou
mais dramáticas que as dos autores com quem interagiram.
Para o sucesso desta Biblioteca Viva, para além da contribuição de
toda a equipa que dinamizou o projeto, é justo referirmos a Tégua, associação com obra feita no
difícil campo da exclusão social, que respondeu positivamente ao convite para
participar nesta Biblioteca Viva, levando dezena e meia de pessoas com
carências diversas, que souberam escutar histórias dramáticas e que em alguns
casos também tiveram a coragem de partilhar as suas. Ao contrário de outras escolas
que declinaram os convites por estar a chover ou porque não dava “muito jeito”.
Como atrás referido, o conceito de Biblioteca Viva é recente e
tivemos aqui, em Portalegre, apenas a terceira experiência nacional. Que sendo
um sucesso, poderia ter ido mais longe se a comunidade estivesse mais desperta
para este tipo de acontecimentos. Ainda assim fica a porta aberta para uma área
de grandes potencialidades inexploradas.
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