\ A VOZ PORTALEGRENSE: Luís Filipe Meira

quinta-feira, abril 03, 2014

Luís Filipe Meira

Biblioteca Viva Em Portalegre
 
Dinamizada por Jovens de 10 Países
 
Uma biblioteca é um espaço nobre onde a partilha do conhecimento pode alcançar as formas mais variadas; da leitura ao debate, das experiências artísticas à simples conversa, tudo pode acontecer numa biblioteca. No fundo uma biblioteca é um espaço de cultura que, sendo municipal, tem obrigações acrescidas, pois tem a missão de promover e apoiar qualquer ação que vise o aumento de conhecimento e o incremento cultural da comunidade onde está instalada. E quando falamos de Biblioteca Municipal estamos a referir-nos a tudo o que envolve e põe a funcionar o espaço físico; direção, colaboradores, equipamento, enfim tudo o que contribua para a dinamização do espaço público.
Foi o que aconteceu na semana passada nas instalações da Biblioteca Municipal de Portalegre com a cedência do espaço físico para a realização de uma Biblioteca Viva, dinamizada por jovens oriundos de 10 países, numa ação promovida pelo programa comunitário Juventude em Ação em conjunto com uma Associação local.
O conceito de Biblioteca Viva é mais ou menos recente, sendo Portalegre a 3ª cidade portuguesa, depois de Lisboa e Porto, a receber uma iniciativa deste género, que passa pela promoção do diálogo e combate aos estereótipos e preconceitos, encorajando ao entendimento. O método é simples e basta ter alguém disponível para, tal como num livro, contar uma história e ter alguém que esteja pronto para a ler/ ouvir, com a vantagem, em relação ao livro, de poder discuti-la com o autor/narrador. Sendo que duas cadeiras, um emissor/livro e um leitor/ouvinte, são suficientes para executar o conceito, não deixa de ser verdade que a ação deverá, tal como em qualquer biblioteca, ter a ambição de apresentar o melhor e maior número de livros e chegar ao maior número de pessoas.
A ação que ocorreu a semana passada em Portalegre teve a participação de cerca de cinco dezenas de pessoas entre dinamizadores do projeto e visitantes, provenientes de diversos países, da Grécia à Finlândia, da Roménia ao Reino Unido passando por Espanha, Áustria, Hungria, Itália, França e Portugal. Os temas escolhidos para os livros versaram os Direitos Humanos, Discriminação e Exclusão Social. Foram apresentados 8 livros/histórias cujos autores/protagonistas contaram e discutiram, a temática e os contornos das histórias, com os leitores que os escolheram.
Oito histórias diferentes contadas na 1ª pessoa que levaram os leitores desde o lado mais negro da vida até ao sucesso empresarial na agricultura, passando por uma história de amor que acabou em pesadelo, uma outra vivida através de dois continentes e vários países, pelas lutas dos trabalhadores pelos seus mais elementares direitos, pela preservação da herança judaica ou ainda pela fantástica história da libertação da mente de um corpo que jaz na cama de um hospital há quase duas dezenas de anos. Oito histórias fascinantes de transfiguração vividas de extremo a extremo e que, de alguma maneira, demonstram a força inquebrantável do ser humano. Oito histórias que foram exemplos vivos para os leitores, alguns deles com histórias tão ou mais dramáticas que as dos autores com quem interagiram.
Para o sucesso desta Biblioteca Viva, para além da contribuição de toda a equipa que dinamizou o projeto, é justo referirmos a Tégua, associação com obra feita no difícil campo da exclusão social, que respondeu positivamente ao convite para participar nesta Biblioteca Viva, levando dezena e meia de pessoas com carências diversas, que souberam escutar histórias dramáticas e que em alguns casos também tiveram a coragem de partilhar as suas. Ao contrário de outras escolas que declinaram os convites por estar a chover ou porque não dava “muito jeito”.
Como atrás referido, o conceito de Biblioteca Viva é recente e tivemos aqui, em Portalegre, apenas a terceira experiência nacional. Que sendo um sucesso, poderia ter ido mais longe se a comunidade estivesse mais desperta para este tipo de acontecimentos. Ainda assim fica a porta aberta para uma área de grandes potencialidades inexploradas.