António Martinó de Azevedo Coutinho
A recente e bem
sucedida acção cívica Abraçar Portalegre
teve diversos significados, entre os quais se salienta o de ser possível
mobilizar os cidadãos em torno de projectos colectivos.
Quem projectou a
acção teve capacidade e audácia para planear, divulgar, sensibilizar e obter
uma resposta satisfatória. Pode comentar-se que a motivação terá sido simbólica
e que tudo se terá esgotado no acto, confinado em si mesmo. Não julgo sensata
esta conclusão, porque o simbólico tem legitimidade para se constituir como
objectivo duma comunidade e porque terá ficado no espírito dos participantes a
consciência de terem cumprido a sua quota parte individual numa intervenção
pública que valeu, sobretudo, pela consistente adesão colectiva.
Também nem
interessará muito contabilizar com rigor a participação, isto é, se a prevista
intervenção de uns quantos milhares de cidadãos terá sido exagerada em relação
aos que, efectivamente, conseguiram estabelecer o desejado perímetro humano que
solidariamente abraçou uma cidade.
Abraçar Portalegre traduziu-se portanto num êxito que nem o
tradicional mau tempo, quase sempre associado às festividades lagóias, conseguiu ofuscar ou
desmobilizar. Os sinceros parabéns aos organizadores e, também, aos
participantes deve ser o lógico balanço a fazer, num voto que assinala a
necessidade de prolongar a saudável mobilização.
Aqui fica, por
isso, uma sugestão que se tem por lógica e oportuna. Nem sequer se pretende
original nem, sequer, esgota em si todas as vastas hipóteses passíveis de obter
uma próxima mobilização comunitária.
Entre as
diversas imagens disponibilizadas nos meios informáticos, que tão úteis se
revelaram na preparação e organização do evento, uma delas revela uma pequena
parcela do imenso grupo frente a um monte de lixo depositado na via pública.
Triste sinal dos tempos que vivemos, a fácil deposição de trastes domésticos e
de toda a espécie de detritos em qualquer sítio da sua cidade tornou-se para
muita gente um lugar comum. O resultado dessa falta de civismo é a todos os
títulos deplorável, traduzindo-se no “exemplar” espectáculo que a outra imagem
revela, em complemento da inicial.
Não podem os
serviços autáquicos e outros, dedicados à recolha dos resíduos domésticos,
resolver a contento todos os excessos cometidos um pouco por toda a cidade,
normalmente junto aos ecopontos, mas não só...
Organizar uma
operação do tipo Limpar Portalegre seria,
seguramente, tarefa bem mais complexa do que a que se acabou de viver, pois
implicaria a participação de estruturas e até de equipamentos adequados,
exigiria cuidados sobretudo relacionados com segurança e com sanidade, assim
como implicaria uma necessária coordenação com diversas entidades e serviços.
Porém, nada que decididas vontades não possam ultrapassar.
Colectivamente,
o exemplo a colher traduzir-se-ia numa consciencialização comunitária da
necessidade de rever velhos hábitos e de evitar, para o futuro, antigas e
indesejáveis práticas. As posturas municipais, como se sabe, não bastam para
corrigir comportamentos ou para alterar mentalidades.
Ficou provado
que é ainda possível fomentar um certo espírito de coesão nos habitantes de
Portalegre, assim contrariando o natural pessimismo instalado. Quase todas as
declarações publicamente colhidas convergiram na assumida convicção de que,
afinal, a cidade está viva e até reage quando é “provocada”, sendo capaz de
mostrar aos outros um orgulho lagóia
que, apesar de tudo, não está perdido...
A sugestão de Limpar Portalegre, neste contexto, é
apenas um exemplo.
Um exemplo
demasiado óbvio, infelizmente, como se mostrou na gravura junta...
António Martinó de Azevedo Coutinho
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home