\ A VOZ PORTALEGRENSE: António Martinó de Azevedo Coutinho

segunda-feira, maio 28, 2012

António Martinó de Azevedo Coutinho

A recente e bem sucedida acção cívica Abraçar Portalegre teve diversos significados, entre os quais se salienta o de ser possível mobilizar os cidadãos em torno de projectos colectivos.
Quem projectou a acção teve capacidade e audácia para planear, divulgar, sensibilizar e obter uma resposta satisfatória. Pode comentar-se que a motivação terá sido simbólica e que tudo se terá esgotado no acto, confinado em si mesmo. Não julgo sensata esta conclusão, porque o simbólico tem legitimidade para se constituir como objectivo duma comunidade e porque terá ficado no espírito dos participantes a consciência de terem cumprido a sua quota parte individual numa intervenção pública que valeu, sobretudo, pela consistente adesão colectiva.
Também nem interessará muito contabilizar com rigor a participação, isto é, se a prevista intervenção de uns quantos milhares de cidadãos terá sido exagerada em relação aos que, efectivamente, conseguiram estabelecer o desejado perímetro humano que solidariamente abraçou uma cidade.
Abraçar Portalegre traduziu-se portanto num êxito que nem o tradicional mau tempo, quase sempre associado às festividades lagóias, conseguiu ofuscar ou desmobilizar. Os sinceros parabéns aos organizadores e, também, aos participantes deve ser o lógico balanço a fazer, num voto que assinala a necessidade de prolongar a saudável mobilização.
Aqui fica, por isso, uma sugestão que se tem por lógica e oportuna. Nem sequer se pretende original nem, sequer, esgota em si todas as vastas hipóteses passíveis de obter uma próxima mobilização comunitária.
Entre as diversas imagens disponibilizadas nos meios informáticos, que tão úteis se revelaram na preparação e organização do evento, uma delas revela uma pequena parcela do imenso grupo frente a um monte de lixo depositado na via pública. Triste sinal dos tempos que vivemos, a fácil deposição de trastes domésticos e de toda a espécie de detritos em qualquer sítio da sua cidade tornou-se para muita gente um lugar comum. O resultado dessa falta de civismo é a todos os títulos deplorável, traduzindo-se no “exemplar” espectáculo que a outra imagem revela, em complemento da inicial.
Não podem os serviços autáquicos e outros, dedicados à recolha dos resíduos domésticos, resolver a contento todos os excessos cometidos um pouco por toda a cidade, normalmente junto aos ecopontos, mas não só...
Organizar uma operação do tipo Limpar Portalegre seria, seguramente, tarefa bem mais complexa do que a que se acabou de viver, pois implicaria a participação de estruturas e até de equipamentos adequados, exigiria cuidados sobretudo relacionados com segurança e com sanidade, assim como implicaria uma necessária coordenação com diversas entidades e serviços. Porém, nada que decididas vontades não possam ultrapassar.
Colectivamente, o exemplo a colher traduzir-se-ia numa consciencialização comunitária da necessidade de rever velhos hábitos e de evitar, para o futuro, antigas e indesejáveis práticas. As posturas municipais, como se sabe, não bastam para corrigir comportamentos ou para alterar mentalidades.
Ficou provado que é ainda possível fomentar um certo espírito de coesão nos habitantes de Portalegre, assim contrariando o natural pessimismo instalado. Quase todas as declarações publicamente colhidas convergiram na assumida convicção de que, afinal, a cidade está viva e até reage quando é “provocada”, sendo capaz de mostrar aos outros um orgulho lagóia que, apesar de tudo, não está perdido...
A sugestão de Limpar Portalegre, neste contexto, é apenas um exemplo.
Um exemplo demasiado óbvio, infelizmente, como se mostrou na gravura junta...
António Martinó de Azevedo Coutinho