Os anos sessenta em Portalegre
_ AOS NOSSOS PAIS QUE TUDO FIZERAM PARA QUE ASSIM FOSSE
Passámos a década de sessenta do século passado, primeiro no
CDSA (Colégio Diocesano de Santo António) e depois no LNP (Liceu Nacional de
Portalegre). Foi uma década feliz!, quiçá, das décadas mais felizes desta
existência que está quase na metade da sexta.
Muitas memórias desse tempo estão ‘guardadas’, bem
‘guardadas’, e, de quando em vez, afloram.
Portalegre vivia um tempo de forte desenvolvimento económico
e social naqueles anos sessenta. As casas agrícolas modernizavam-se e produziam
como nunca, as fábricas funcionavam por turnos, dada a procura do mercado, o
comércio estava vivo e pujante, os serviços eram fortes. E começa a surgir uma
classe média com poder económico, modificando o tecido social.
Os dois clubes, GDP (Grupo Desportivo Portalegrense) e SCE
(Sport Clube Estrela), dominam o futebol distrital, o Cine-Teatro Crisfal
trazia cinema e teatro de qualidade, a cultura tinha papel de relevo, as
tertúlias nos cafés eram animadas, lia-se a «Rabeca» e/ou «O Distrito»,
jogava-se xadrez, bilhar.
Até a Igreja, que tinha padres cultos e um bispo que
pontificava, era respeitada.
Num tempo em que as corporações tinham objectivos que
visavam o desenvolvimento, Portalegre era uma das principais cidades do
interior do país.
Em que se ocupava os tempos livres? Muita ‘oferta’ havia.
Desde os torneios e campeonatos patrocinados pela Mocidade Portuguesa, andebol,
vólei, natação, pingue-pongue, futebol juvenil no GDP e SCE, leitura com os
livros comprados no Silvino, no Tavares, no José Maria Alves, na Nun’Álvares, os
da Biblioteca Calouste Gulbenkian, leitura de revistas adquiridas no Tapadinhas
e no Júlio Margalho, ouvia-se música, discos vinil e cassetes que se compravam
no Tavares, no Cardoso da Philips, no Custódio Silva da Electro-Central, actividades
como o orfeão do LNP, o escutismo.
A Sociedade Euterpe, a Sociedade Robinson, a Assembleia, o
Clube. As três feiras anuais, dos “Porcos”, última quarta-feira de Janeiro, das
“Cerejas”, 5, 6, 7 de Junho, das “Cebolas”, 13, 14, 15 de Setembro. As
procissões dos Passos, do Corpo de Deus, as festas do Senhor dos Aflitos, da
Senhora da Penha, de São Cristóvão, de Sant’Ana, do Bonfim. A Festa dos
Aventais. Os Santos Populares em Junho. As touradas, as garraiadas do Senhor do
Bonfim.
No verão as esplanadas do Café Central, do Café Luso, do
Café Facha, do café do cedro no jardim. A banda a tocar no coreto. O
Cine-Parque!
Os petiscos no Capote, Romualdo, João dos Bigodes, Carrilho/David,
Pinga, João Vintém, António Facha, Guapo/Tropicália, Plátano, Castro. E no Marchão,
claro!
E tantas outras coisas! Namorava-se, namoriscava-se, ou
vice-versa.
É neste contexto que começa a moda dos “bailes de garagem”.
Havia conjuntos musicais, além da Banda Euterpe e da Banda da Legião. E os
«Atlas», um conjunto musical formado por estudantes do LNP.
Mas os ‘particulares’ “bailes de garagem” são o ‘must’.
Quando o José Regala cria na sua garagem da Avenida
Alexandre Herculano, que será sempre a Rua de Santo André!, uma discoteca, uma
boîte, como então dizíamos, desde logo se tornou referência de um certo
imaginário.
Passados anos, o Zé trouxe a memória desse tempo através de
um singelo cartão/convite. Singelo na forma, mas grande, enorme na saudade de
um tempo feliz em Portalegre!
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