\ A VOZ PORTALEGRENSE: Os anos sessenta em Portalegre

sexta-feira, janeiro 22, 2021

Os anos sessenta em Portalegre

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MEMÓRIAS DE UM TEMPO FELIZ

_ AOS NOSSOS PAIS QUE TUDO FIZERAM PARA QUE ASSIM FOSSE

Passámos a década de sessenta do século passado, primeiro no CDSA (Colégio Diocesano de Santo António) e depois no LNP (Liceu Nacional de Portalegre). Foi uma década feliz!, quiçá, das décadas mais felizes desta existência que está quase na metade da sexta.

Muitas memórias desse tempo estão ‘guardadas’, bem ‘guardadas’, e, de quando em vez, afloram.

Portalegre vivia um tempo de forte desenvolvimento económico e social naqueles anos sessenta. As casas agrícolas modernizavam-se e produziam como nunca, as fábricas funcionavam por turnos, dada a procura do mercado, o comércio estava vivo e pujante, os serviços eram fortes. E começa a surgir uma classe média com poder económico, modificando o tecido social.

Os dois clubes, GDP (Grupo Desportivo Portalegrense) e SCE (Sport Clube Estrela), dominam o futebol distrital, o Cine-Teatro Crisfal trazia cinema e teatro de qualidade, a cultura tinha papel de relevo, as tertúlias nos cafés eram animadas, lia-se a «Rabeca» e/ou «O Distrito», jogava-se xadrez, bilhar.

Até a Igreja, que tinha padres cultos e um bispo que pontificava, era respeitada.

Num tempo em que as corporações tinham objectivos que visavam o desenvolvimento, Portalegre era uma das principais cidades do interior do país.

Em que se ocupava os tempos livres? Muita ‘oferta’ havia. Desde os torneios e campeonatos patrocinados pela Mocidade Portuguesa, andebol, vólei, natação, pingue-pongue, futebol juvenil no GDP e SCE, leitura com os livros comprados no Silvino, no Tavares, no José Maria Alves, na Nun’Álvares, os da Biblioteca Calouste Gulbenkian, leitura de revistas adquiridas no Tapadinhas e no Júlio Margalho, ouvia-se música, discos vinil e cassetes que se compravam no Tavares, no Cardoso da Philips, no Custódio Silva da Electro-Central, actividades como o orfeão do LNP, o escutismo.

A Sociedade Euterpe, a Sociedade Robinson, a Assembleia, o Clube. As três feiras anuais, dos “Porcos”, última quarta-feira de Janeiro, das “Cerejas”, 5, 6, 7 de Junho, das “Cebolas”, 13, 14, 15 de Setembro. As procissões dos Passos, do Corpo de Deus, as festas do Senhor dos Aflitos, da Senhora da Penha, de São Cristóvão, de Sant’Ana, do Bonfim. A Festa dos Aventais. Os Santos Populares em Junho. As touradas, as garraiadas do Senhor do Bonfim.

No verão as esplanadas do Café Central, do Café Luso, do Café Facha, do café do cedro no jardim. A banda a tocar no coreto. O Cine-Parque!

Os petiscos no Capote, Romualdo, João dos Bigodes, Carrilho/David, Pinga, João Vintém, António Facha, Guapo/Tropicália, Plátano, Castro. E no Marchão, claro!

E tantas outras coisas! Namorava-se, namoriscava-se, ou vice-versa.

É neste contexto que começa a moda dos “bailes de garagem”. Havia conjuntos musicais, além da Banda Euterpe e da Banda da Legião. E os «Atlas», um conjunto musical formado por estudantes do LNP.

Mas os ‘particulares’ “bailes de garagem” são o ‘must’.

Quando o José Regala cria na sua garagem da Avenida Alexandre Herculano, que será sempre a Rua de Santo André!, uma discoteca, uma boîte, como então dizíamos, desde logo se tornou referência de um certo imaginário.

Passados anos, o Zé trouxe a memória desse tempo através de um singelo cartão/convite. Singelo na forma, mas grande, enorme na saudade de um tempo feliz em Portalegre!

Mário Casa Nova Martins