António Martinó de Azevedo Coutinho
VI – Toda a moeda tem duas faces...
Quando me apetece, costumo presenciar aqueles “interessantes” e bem intencionados debates de segundas-feiras ao serão, organizados pela jornalista Fátima Campos Ferreira na RTP1. Prós e Contras – é a sua designação “toponímica” e costumam arregimentar tudo quanto há de melhor no domínio em questão (desde que não seja ministro ou director-geral), autoridades na matéria q.b. e outros especialistas correlativos. Introduz-se o caso através dum genérico muito apelativo e sucede-se uma mais ou menos inflamada discussão, durante intermináveis horas, onde quase todos falam, pouco ou nada dizendo, pois quando surge algum testemunho mais interessante logo é sufocado por blá-blás de inqualificável validade... Este é o panorama geral, onde rareiam as excepções. No final, quando conseguimos atingi-lo, tudo aquilo sabe a pouco, ficando-se cansado e mais vazio do que no início, preenchida por tola ou oca demagogia a nossa natural, curiosa e legítima expectativa...
Com Almaraz poderia acontecer exactamente o mesmo. Aliás, temas desta “família”, com o nuclear em debate central, até já aconteceram, segundo o figurino ou modelo acima descrito. As paixões prós e as emoções contras pairam, e lutam encarniçadas, em torno da energia nuclear, o que se entende sob a mais absoluta lógica, dados os interesses em causa, quase sempre de sinal oposto.
Almaraz é uma vizinhança que a fronteira não afasta nem anula. Os mil e quinhentos habitantes da aldeia envolvente convivem quotidianamente com a central nuclear e, vivendo dela, directa ou indirectamente, consideram-na uma certa forma de bênção. Os que estão um pouco mais distantes, sem o mesmo tipo de dependência, atribuem-lhe sinais de potencial ameaça... Nas suas linhas de pensamento ambos os grupos têm razão. Os locais, que pescam abundante peixe na albufeira de Arrocampo, fazem-no em termos desportivos e devolvem sempre às águas as suas presas; os forasteiros, ou os romenos residentes, encantados com as facilidades pesqueiras, acham as carpas ou as trutas deliciosas... Terão ambas as comunidades “piscatórias” razão?
Almaraz é uma vizinhança que a fronteira não afasta nem anula. Os mil e quinhentos habitantes da aldeia envolvente convivem quotidianamente com a central nuclear e, vivendo dela, directa ou indirectamente, consideram-na uma certa forma de bênção. Os que estão um pouco mais distantes, sem o mesmo tipo de dependência, atribuem-lhe sinais de potencial ameaça... Nas suas linhas de pensamento ambos os grupos têm razão. Os locais, que pescam abundante peixe na albufeira de Arrocampo, fazem-no em termos desportivos e devolvem sempre às águas as suas presas; os forasteiros, ou os romenos residentes, encantados com as facilidades pesqueiras, acham as carpas ou as trutas deliciosas... Terão ambas as comunidades “piscatórias” razão?
Mil questões deste tipo poderiam ser colocadas e, provavelmente, nas suas respostas quase sempre vingariam os interesses económicos sobre os ecológicos.
Em 1988, terá acontecido uma fuga, ou derrame, na central nuclear. Nunca tal acidente foi confirmado oficialmente. Há quem testemunhe que, a partir de então, existem nítidos sinais de anomalias de diversa ordem. Em termos visuais, uma das cúpulas dos reactores está aparentemente danificada e uma das piscinas verte água. Alguns habitantes, em testemunhos sufocados e dolorosos, queixam-se amargamente de abortos inesperados e de tipo raros de cancro que afectaram crianças, nascidas sem mãos ou sem pés, com dedos a menos ou a mais e outras malformações. Certos desabafos, publicados a medo, denunciam tentativas de corrupção sofridas, quer pela ameaça quer por ofertas materiais em troca do silêncio. Os canais independentes de TV, que por lá aparecem, costumam ser hábil e sistematicamente desviados ou anulados, nunca chegando a colher testemunhos directos, o que faz alastrar os mais desencontrados boatos, onde as meias verdades se confundem com as meias mentiras...
Um alerta de grupos ecológicos portugueses denunciara, por escrito público, o facto de logo em 29 de Novembro de 1983, portanto nos inícios da sua laboração, ter acontecido um grave acidente nuclear em Almaraz. Tal facto (também) nunca foi assumido pelos responsáveis.
Quanto a este presumido desastre de Outubro (?) de 1988, foi igualmente garantido por ecologistas nacionais que uma nova fuga do refrigerante do circuito primário para o secundário produzira emissões de gases radioactivos, embora em percentagem muito inferior aos limites máximos autorizados.
Parece terem então ecoado sinais sonoros pela região mas, a partir desse episódio, terão sido desligados tais alarmes. Isto é, como a avestruz perante o perigo, a solução resume-se a partir de então ao enterrar da cabeça na areia. Não ver e não ouvir as ameaças resolve o problema...
António Martinó de Azevedo Coutinho
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