António Martinó de Azevedo Coutinho
Como é evidente -e sempre foi assim- o mais fácil em qualquer situação é lançar as culpas sobre os outros. De preferência, na íntegra. O Ministério da Educação tem culpas, mas dispõe, sobretudo, de costas largas. E nós? O triângulo pai-aluno-professor, decisivo e fundamental no processo ensino-aprendizagem, seja do Português, da Matemática, da Música ou das Artes Decorativas, esse tal triângulo que papel desempenha?
Uma das vantagens, interactivas, daquilo que é colocado on line é a possibilidade de abertura de um diálogo, pelo comentário livre, universal e anónimo.
Um destes comentários, desencadeado pelas tais entrevistas de Maria do Carmo Vieira, é bastante curioso a este respeito e aqui o transcrevo, tal como o recolhi:
“Esta é a minha opinião após a leitura das entrevistas de Maria do Carmo Vieira e o Ensino do Português.
O problema tem várias facetas que implicam tanto os pais, como os professores e os alunos:
Vivemos numa sociedade hedonista em que valores como o esforço, a perseverança, a dedicação e o trabalho aplicado são substituídos pelo imediato, pelo que dá prazer e não se aposta no resultado a longo prazo, porque demora muito e não compensa. Além disso a grau de exigência é muito baixo, diria mesmo abaixo de zero.
1. Ora, este caldo é propício ao ambiente em que:
o os pais não se esforçam por educar a criança (a criança é educada na escola, porque em casa dá muito trabalho; não deve haver trabalhos de casa porque não têm tempo para se chatear com os filhos; a televisão e o computador são as melhores ‘baby-sitters’; não saem com os filhos a locais de interesse porque dá muito trabalho e estão cansados ao fim-de-semana );
o os filhos não se esforçam (desde que não tire negativa tudo numa boa; o professor até é porreiro e dá-nos o teste para fazer antes; a bitola em muitas escolas é baixa; escrever é ‘secante’; a Língua Portuguesa começa a ter piores notas que a Matemática porque dá trabalho escrever; o professor não nos manda fazer composições);
o os professores muitas vezes não ajudam (a culpa é dos programas; porque hei-de esforçar-me mais se não me pagam mais?; porque hei-de pesquisar outros métodos, se eu aprendi assim e cheguei onde cheguei?; corrigir composições é uma seca; se não der o programa todo, o que hei-de fazer?; alguém a controlar e avaliar o meu trabalho? mas com que direito?)
2. No fundo concordo com a professora Maria do Carmo Vieira, mas não com os meios preconizados, pois eles não justificam os fins. Concordo, sim, porque andamos a formar alunos que não têm as competências que lhes deviam ser exigidas. E isso porque nós não lhas exigimos. E esse trabalho começa por metermos a mão na nossa própria consciência. Eu não posso mudar os resultados em termos nacionais, mas se os mudar na minha escola, onde tenho uma responsabilidade directa, e se todos o fizermos em cada uma das escolas onde trabalhamos, então rapidamente os resultados em termos nacionais melhorarão sem darmos por isso.
3. Na minha opinião cada um dos elementos deste triângulo deveria meter a mão na consciência e analisar se de facto faz todo o esforço que lhe seria possível e exigível para que o resultado (a formação dos alunos) seja o melhor. Lançar levianamente as culpas todas nos programas, nos técnicos pedagógicos do ministério ou nos docentes ou nos alunos, não resolve só por si o problema. E também se deve ter em conta que os alunos, o contexto social e as ferramentas de que eles dispõem são muito diferentes agora do que há 20, 30 ou 40 anos…
Destes participantes no processo (pais, professores e alunos) quem achar que não tem culpas no cartório que atire a primeira pedra…”
O facto de o comentário ser anónimo não lhe retira, neste caso, o inegável interesse de que se reveste, sobretudo porque veicula uma opinião corrente, generalizada, resultante de uma análise expedita daquilo que a experiência vivida no quotidiano vem colectivamente produzindo sobre a Escola Portuguesa.
Há mais...
António Martinó de Azevedo Coutinho
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