James Finn Garner III
A história de “O Gato das Botas” é deliciosa. Ao pobre e a princesa que se apaixonam e casam é sempre um ‘conto de fadas’.
O filho do moleiro herdou do pai um moinho e muitas dívidas. Com a venda do moinho pagou as dividas e restou-lhe um velho gato.
Este compadecido da má-sorte do dono promete ajudá-lo, precisando para tal apenas de umas botas, que o jovem lhe comprou.
Para tal caça um coelho que leva à presença do rei dizendo-se ser escudeiro do marquês de Carabás e ser aquele uma oferta do seu amo.
O rei quis conhecer o marquês, mas este nem tinha roupas decentes na casa.
Assim, o gato mandou o amo mergulhar no rio e depois disse ao rei que tinham roubado as roupas ao marquês, resolvendo assim o primeiro dos problemas.
Vendo as boas maneiras do marquês, o rei pensou no casamento com a filha. E o gato teve que tentar resolver o problema de encontrar um palácio.
O gato dirige-se ao castelo do gigante que além de enorme e feroz era mago, podendo transformar-se no animal que quisesse.
Engodado, o gigante transforma-se em leão e noutros animais até se transformar em rato, que de imediato o gato comeu.
Desta habilidosa forma, o jovem passa a ser dono do palácio do gigante, podendo assim casar com a princesa. Tudo graças à esperteza do seu dedicado gato!
E o marquês e a princesa viveram felizes para sempre.
Na reescrita história por James Finn Garner, o jovem herda do pai apenas um gato.
Pobre ficou com tal herança, mas o gato prometeu transformá-lo numa pessoa importante e poderosa.
O jovem ambicionava entrar na política e o gato vai torná-lo senador, e quiçá mais tarde chegar mesmo a presidente da república! Par tal o jovem apenas teria que seguir as ordens do gato a quem compraria roupa de marca e umas botas de cowboy. E nunca poderia falar senão o que o gato lhe escrevesse.
Seguindo as normas da política o gato atinge o primeiro objectivo, que era a eleição para senador.
«No frenesim do desenrolar da campanha, ninguém notou ou comentou a falta de credenciais do Bichano das Botas. Aliás, seduzidos pelos seus modos agradáveis e aparentemente cândidos, as pessoas nem sequer alguma vez notaram que ele era de ascendência felina. O que só demonstrava a justeza da observação daquele comentador que dizia: «Na terra dos opticamente desfavorecidos, o indivíduo monocularmente dotado é o primeiro na fila para a manjedoura.»» (p.70)
Mas o jovem tece a infelicidade de, contra a ideia do gato, falar de moto próprio. E no discurso de vitória diz: «Faço questão de agradecer a alguém sem o qual esta vitória não teria sido possível: o meu director de campanha, meu confidente e, digo-o com o maior orgulho, o meu gato – Bichano das Botas!».
A assistência emudece e a partir de então cai em desgraça, politicamente falando. É o fim do seu sonho político.
Sem dúvida que a versão original do Gato das Botas é a nossa eleita!
Mário Casa Nova Martins
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