\ A VOZ PORTALEGRENSE: António Martinó de Azevedo Coutinho

quinta-feira, maio 03, 2012

António Martinó de Azevedo Coutinho

Bom fim para um livro

Quem conheceu o saudoso Padre Patrão sabe que a Igreja do Senhor do Bonfim foi a menina dos seus olhos. Quem teve a ventura de o ouvir descrever, com a serena paixão com que o fazia, as maravilhas que esse templo portalegrense encerra, sabe que tão profundo conhecimento apenas era igualado pela sua disponibilidade em colocá-lo, sempre, ao serviço dos outros.
Porque precipitadamente nos deixou quando não devia fazê-lo, arriscou-se a levar consigo essa permanente partilha. Felizmente, depois de um percurso algo incerto, caiu em boas mãos o original da obra onde ele colocara a súmula do seu saber sobre o Senhor do Bonfim.
O Instituto Politécnico de Portalegre, a sua família, a Escola Secundária Mouzinho da Silveira e a Diocese de Portalegre-Castelo Branco associaram-se nesta atribuição de um bom fim à obra que hoje mesmo será lançada.
Hoje, em merecida festa no seu dia de aniversário, podemos ter o Padre Patrão novamente connosco, se é que ele alguma vez ele partiu ou partirá das nossas memórias, dos nossos corações gratos pela sua presença sempre tão fraterna.
O livro, embora tecnicamente denominado póstumo, vale, isso sim, como um testemunho carregado de futuro, porque poderemos juntá-lo às outras obras que constituem o vivo e perene legado de um homem invulgar, na desconcertante simplicidade com que sabia acompanhar-nos. Assim, esta companhia prolonga-se...
É tão vasta e rica a lembrança do homem, do sacerdote, do professor, enfim, do amigo, que não se pode abarcar nesta meia dúzia de linhas, banais, a dimensão dessa invulgaridade.
A iniciativa de hoje é tão justa como oportuna. Porém, creio que ela encerra um desafio, o de recolher, organizar e editar a vasta obra do Padre Patrão, ainda não reunida em volume, porque dispersa pelo espaço e pelo tempo, incluindo-se tanto a literária como a artística. As suas lições, como a que hoje é colocada à disposição de todos nós, devem ser aproveitadas pelas gerações actuais e futuras.
Quando em 2009 tive a felicidade de me associar à justa homenagem pública prestada ao Padre Patrão, na passagem dos 80 anos de vida, pensei que o mais adequado lema para a sua súmula biográfica seria “Uma vida ao serviço dos outros”.
Essa generosa partilha continua hoje. Saibamos prolongá-la, como ele merece.
António Martinó de Azevedo Coutinho