António Martinó de Azevedo Coutinho
JOSÉ RÉGIO VOA PELOS CÉUS DA EUROPA
Pode parecer um
estribilho, mais ou menos místico, mais ou menos simbólico, evocando um ressoar
da aura do poeta pelos universos cultos do Velho Mundo. Nada disso. O título é
rigoroso, exacto, e algo distante da poesia e do simbolismo: José Régio voa, de
facto, pelos céus da Europa. Também dos nossos, caseiros, porque, para o bem e
para o mal, somos Europa... Até me atrevo a prognosticar que talvez haja uma
grande probabilidade de ele voar, de vez em quando, sobre o próprio céu desta
Portalegre onde viveu, sonhou, sofreu e criou a maior parte da sua obra.
Acontece que a nossa cidade fica numa rigorosa vertical de algumas rotas aéreas
de e para a Europa central, situando-se na serra um rádio-farol inserido na
rede de orientação e de apoio aos voos comerciais.
É que José Régio
também é um avião, mais concretamente um Airbus
A320, dos que recentemente reforçaram a frota da transportadora aérea
nacional, TAP.
Aqui há dias
soube esta notícia pelo meu neto Manuel, quando voou para Londres.
Interrogou-me depois, em estilo de provocação, sobre o nome do avião onde
viajara. E, perante a minha natural ignorância, forneceu-me a resposta: José
Régio! Naturalmente, ele conhece há muito o meu particular apreço pela memória
do Homem e da Obra, não duvidando, portanto, de que tal revelação me seria
grata.
Em boa verdade,
todos sabemos que o nome de “baptismo” de naves ou aeronaves costuma servir de
homenagem a vultos significativos da História ou da Cultura nacionais. É assim
em todas as latitudes. O que talvez nem todos conhecêssemos -eu não o sabia!-
era o facto de também ter chegado a vez do nosso Régio ser distinguido como
patrono de um recente e moderno avião. E afinal isso já aconteceu há três anos,
pois aquela aeronave de médio curso, com capacidade para 180 passageiros, foi
recebida em Fevereiro de 2009...
Aqui fica
apresentado, com o número de matrícula CS-TNQ
3769. Diz a ficha técnica que a sua engenharia construtiva possibilita um
acréscimo de eficiência energética e ambiental de cerca de 8%. Acrescenta a TAP que este aparelho permitirá uma
redução de emissões anuais de 2200 toneladas de dióxido de carbono e uma
poupança de combustível na ordem das 700 toneladas.
Podemos ficar
orgulhosos: José Régio ficará aqui associado à utilização de práticas e de
tecnologias eco-suficientes que conciliam o crescimento com a protecção do
Ambiente. Que nos lembre, nunca no passado, em vida ou depois dela, foi o autor
da Toada de Portalegre lembrado como
militante das causas ambientalistas. Aconteceu agora.
O “pacote” de
aviões desta “família” incluiu outras nomenclaturas como Luísa Todi, Mouzinho
de Albuquerque, Almada Negreiros, Aquilino Ribeiro, Florbela Espanca, Teófilo
Braga, Vitorino Nemésio, Natália Correia, Gil Vicente, Alexandre O’Neill, Luís
de Freitas Branco, D. Afonso Henriques, Rafael Bordalo Pinheiro, Columbano
Bordalo Pinheiro, Grão Vasco e Eugénio de Andrade. Como se pode avaliar pela
extensa relação, Régio fica em muito boa e diversificada companhia... Para já,
este apreciável conjunto de novíssimas aeronaves serve algumas linhas
existentes e opera nas mais recentes ligações da TAP com Moscovo, Varsóvia e Helsínquia, por exemplo.
O meu conhecimento
deste facto não se resumiu à súbita e agradável revelação. Acabei de receber,
dessas mesmas mãos familiares, a mais recente edição da revista de bordo da
nossa companhia aérea, a UP. Quem
esteja habituado a voar conhece as publicações que qualquer operadora coloca à
disposição dos passageiros, fornecendo-lhe as mais diversas informações sobre a
empresa, recursos turísticos, culturais, publicidade inerente e outros textos e
imagens, sempre em língua “nativa” e na inglesa, com uma superior qualidade
gráfica.
A UP relativa a Abril de 2012 inclui duas
páginas (156 e 157) dedicadas a José Régio, na sua secção A Nossa Frota.
Num artigo que
está a correr o Mundo, pelo menos a substancial parcela deste onde a TAP chega, o nosso maior vulto cultural
vai dispor duma considerável e digna divulgação. O texto alusivo é curto e até
conta com algumas incorrecções de pequena monta: Régio recebeu o Prémio Diário de Notícias em 1961 e não
em 1966; vendeu o espólio da sua casa de Portalegre em 1964 e não em 1965; não
foi aqui professor durante quase quarenta anos, mas 33 e incompletos; deixou
muito mais colaboração no jornal O
Primeiro de Janeiro do que em O
Comércio do Porto e aquele, ao contrário deste, nem sequer é citado... Enfim, deficiências da Wilkipédia que não anulam o interesse nem a validade desta oportuna
divulgação.
Régio voa agora pelos
céus da Europa e os ecos desta sua novíssima “aventura” ressoam por todo o
Mundo... Esta é uma curiosa realidade onde se partilham a homenagem e a
modernidade, numa dimensão quase insólita mas justa.
José Régio, de
facto, continua vivo.
António Martinó de Azevedo Coutinho
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home