Fernando Correia Pina
Marchinha da Rua Direita
Nesta rua, expositor
do vigor desta cidade,faça frio faça calor
desfila a humanidade:
uns para cima, cansados,
outros a descer, ligeiros,
uns mais que outros apressados
nos percursos costumeiros;
às vezes, comprometidos,
passam uns com bandeirinhas,
por partidos repartidos,
dando beijos às velhinhas;
donas de casa, turistas,
mães com filhos a reboque,
estudantes finalistas
do mestrado em superbock,
funcionários, pensionistas,
alguns cromos da cidade,
senhoras que dão nas vistas
-teenagers de meia idade-
que a cruzam como sala
padecendo os sobressaltos
da calçada que lhe entala
as pontas dos saltos altos.
Todos passam como um rio,
procissão de todo o ano
entre o largo do Rossio
e o Café Alentejano...
De todos o olhar prende-se
à sombria profusão
de letreiros que dizem vende-se,
porta sim e porta não.
E com mais ou menos pressa
perguntam aos seus botões:
depois de tanta promessa,
gastos que foram milhões,
como é que uma rua nobre
que foi rica e celebrada
está cada vez pobre,
vazia, triste e fechada?
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