Salazar em Portalegre - I
Retrato de António de Oliveira Salazar
de Eduardo Malta 1933, Museu do Chiadao, Lisboa
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Salazar em Portalegre
António de Oliveira Salazar entra para o IV Governo da Ditadura Militar em 27 de Abril de 1928, aceitando sob determinadas condições a pasta das Finanças. Em 1930 irá acumular com as Finanças a pasta das Colónias.
Em 5 de Julho de 1932 toma posse o VIII Governo da Ditadura Militar, presidido por António de Oliveira Salazar.
Por plebiscito, a Constituição Política da República Portuguesa é aprovada a 11 de Abril daquele ano, institucionalizando assim o Estado Novo.
A Guerra Civil de Espanha irá começar a 17 de Julho de 1936.
Quando Salazar visita Portalegre a 1 de Outubro de 1934, estava à frente do Ministério há pouco mais de dois anos.
Entre Janeiro e Outubro de 1934, factos importantes se passaram em Portugal.
Logo a 18 de Janeiro há uma tentativa de derrubar o Regime. Intentona organizada pelas estruturas sindicais e políticas de matriz anarquista e comunista, alcançou uma dimensão relativamente reduzida. Os principais focos de contestação localizaram-se na Marinha Grande, Barreiro, Seixal e Silves.
Depois, a 28 de Janeiro é fundada a Acção Escolar Vanguarda, primeira organização de juventude criada pelo Estado Novo.
Já em Fevereiro há uma aproximação de elementos do Nacional-Sindicalismo de Rolão Preto ao Regime, como a sua integração na recém criada União Nacional, que vai ter a 26 de Maio na Sociedade de Geografia, em Lisboa, o seu primeiro Congresso, que será de aclamação à figura de Salazar.
Na última semana de Abril, Salazar visita a cidade do Porto, acompanhado de alguns membros do Governo.
Em Maio é inaugurado pelo ministro Duarte Pacheco o monumento ao Marquês de Pombal, no alto da Avenida da Liberdade.
Em Junho é inaugurada na cidade do Porto a I Exposição Colonial Portuguesa, sendo comissário geral da exposição o capitão Henrique Galvão.
A 30 de Junho apresentou-se o Orçamento de Estado para o ano económico de 1934-1935, com um saldo positivo de 1.503.997$39.
No mesmo dia 30 de Junho sai o Decreto-Lei n.º 24 124 que mandava extinguir a Imprensa da Universidade de Coimbra, com instruções sobre o destino das obras em vias de conclusão, assim como a maquinaria e demais apetrechos.
No mês de Julho, os principais dirigentes do Nacional-Sindicalismo, Rolão Preto e António de Monsaraz, são detidos e expulsos do país, terminando assim a primeira e única experiência fascista em Portugal.
No dia 28 de Julho, com a presença do Presidente da República, foi lançado ao Tejo o navio «Dão».
Em Agosto é criado o Museu Naval Português, a instalar provisoriamente na Escola Naval.
Em 21 de Agosto, por intermédio do Decreto-Lei n.º 24 362, o Governo do Estado Novo criou o Conselho Corporativo, órgão superior da organização corporativa nacional, e definiu, ainda, o método de selecção de procuradores e as regras de funcionamento da Câmara Corporativa.
É dentro deste contexto político interno que António de Oliveira Salazar faz a sua visita a Portalegre. O Regime caminha a passos largos para a sua estabilização, para uma normalidade que Salazar sempre bem procurou na sua governação.
No plano externo já há sinais em 1934 de um aproximar dos tambores da guerra na Europa, principalmente na vizinha Espanha. É a continuação da Guerra Civil Europeia, começada em 1914, que está em marcha
A Espanha em 1934 vive a experiência da sua Segunda República, no meio de muitos excessos de toda a ordem. Esta mesma Espanha acolheu muitos derrotados da Primeira República Portuguesa, e é cada vez mais um foco de propaganda contra o Estado Novo.
Por seu lado, a Alemanha quer reocupar o lugar a que julga ter direito na comunidade das nações, depois do vexame do Tratado de Versalhes, e a Itália está em demanda do seu sonho imperial. Na União Soviética, o Goulag, que anos depois Alexandre Soljenitsine irá descrever, está em pleno funcionamento e desenvolvimento.
Portugal continua a honrar a velha Aliança Inglesa, num período em que a cobiça pelas suas colónias não é prioridade para a Pérfida Albion, como também não é nem para a Alemanha, a Rússia dos Sovietes ou os Estados Unidas da América.
Sabe-se que António de Oliveira Salazar visitou Portalegre em 1 de Outubro de 1934, há precisamente setenta e seis anos, porque o Presidente do Conselho apresentou cumprimentos no Governo Civil. Não foi uma visita anunciada, mas o facto de se ter deslocado ao Governo Civil dá-lhe foros de oficial.
Depois desta data, não há nenhum registo que prove que Salazar tenha estado em Portalegre. Se o esteve, foi, então, em visita estritamente privada, e de tal forma que nem mesmo informalmente de tal se teve conhecimento.
Na época publicavam-se dois jornais em Portalegre, «O Distrito de Portalegre» e «A Voz Portalegrense». «A Rabeca» tinha por mote próprio suspendido a sua publicação.
Os dois semanários portalegrenses trazem curta notícia sobre a visita, principalmente «A Voz Portalegrense». Se a notícia em «O Distrito de Portalegre» é mais desenvolvida, por certo dever-se-á à informação prestada pelo secretário-geral do Governo Civil Ernesto Subtil.
Em «A Voz Portalegrense» fica-se a saber o roteiro de Salazar e questiona-se a impressão com que o estadista terá ficado da visita, com referência em concreto ao mau estado da estrada da volta à Serra.
Em «O Distrito de Portalegre» fala-se da impressão de Salazar acerca da estrada da Serra, mas vai mais longe ao falar da situação do Museu. O jornal não deixa de fazer duras críticas ao estado em que se encontra o Museu, não perdendo também a oportunidade de denunciar a ausência do governador civil em Portalegre, para protocolarmente acompanhar Salazar na visita.
Refira-se que Salazar não procurou contacto com o presidente da câmara ou qualquer outra entidade, fosse ela civil, militar ou religiosa. Principalmente, dadas as relações entre Salazar e a igreja católica, não deixa de ser interessante constatar que Salazar não se interessou em visitar o bispo da diocese, à época D. Domingos Maria Frutuoso.
Sem dúvida que a notícia em «O Distrito de Portalegre» terá deixado incomodado o governador civil, porque no número seguinte, o jornal trás nova notícia sobre a visita de Salazar, referindo que o governador civil acompanhou desde Elvas até Vila Viçosa o Presidente do Conselho, e apelidando Telo da Gama de ‘ilustre e prestigioso’, e chamando ‘inteligente e activo’ ao Delegado do Instituto Nacional do Trabalho no distrito, Afonso Sampaio, que também acompanhava o governador civil e Salazar.
Como se infere das notícias inseridas nos jornais de Portalegre, curta, curtíssima foi a estada de António de Oliveira Salazar na cidade de Portalegre. Se dessa visita algo de positivo resultou em termos políticos, económicos, sociais ou culturais para a cidade e o seu concelho, nada se sabe ou se pode concluir.
Mário Casa Nova Martins
Consulta:_ História Comparada – Portugal, Europa e o Mundo, Direcção de António Simões Rodrigues, Volume II, Círculo de Leitores, Novembro de 1996
_ Serrão, Joaquim Veríssimo – História de Portugal, Volume XIII, Verbo, Setembro de 1997
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