Mário Silva Freire
CRÓNICAS DE EDUCAÇÃO – XVI
Ritmos escolares e não escolares
Teve lugar na Dinamarca, no passado mês de Junho, a “Conferência nacional sobre ritmos escolares”. A Dinamarca é um país em que o sistema escolar está em plena actividade desde 11 de Agosto.
Na Europa, a Dinamarca, a Alemanha, a Holanda e o Liechtenstein são os países onde as férias de Verão são mais curtas: cerca de seis semanas. Em França, esse número é de nove e em Portugal, neste ano, foi de doze semanas. Estes números referem-se ao 1º ciclo do básico.
Poderão tirar-se ilações destes dados? Eles são demasiado incompletos mas uma conclusão, no entanto, é possível retirar: de entre os cinco países referidos, Portugal é aquele onde as férias escolares são maiores.
Penso que não é benéfico para os alunos um prolongamento exagerado das férias escolares, pelo menos quando elas não têm um significado. Claro que num tempo de férias tem cabimento levantar mais tarde e deitar mais tarde, navegar na internet (com vigilância à distância por um adulto responsável), ver televisão e passear com amigos. Mas reduzir as férias a estas actividades é demasiado empobrecedor para quem está numa fase de desenvolvimento físico, intelectual, emocional e moral.
Ora, o encurtamento das férias não passa necessariamente pelo aumento do tempo de aulas. O que me parece é que, quer o Estado, quer a sociedade civil, deveriam organizar actividades adequadas às diferentes idades, de modo que todas as crianças e jovens pudessem aproveitar devidamente o tempo fora da época escolar, segundo condições a estabelecer. Penso, até, que esse aproveitamento do tempo deveria ter um carácter, se não obrigatório, pelo menos o de poder figurar numa caderneta, de modo a conferir vantagens, a definir, ao seu possuidor. E tantas poderiam ser essas actividades, nos mais diversos domínios do saber, das actividades físicas e artísticas, da solidariedade, da descoberta da Natureza…
Saber aproveitar o tempo deveria ser um lema transversal a todo e qualquer cidadão, ao longo da sua existência. Isso começa-se a aprender na família. Mas a escola, qualquer que seja o seu nível, e a comunidade deveriam ter nessa tarefa papel de relevo. Ora, fazer férias com significado, isto é, aproveitando o tempo, que mais não seja aquele em que está a desfrutar-se do belo e da Natureza, poderia ser um bom ensaio para uma vida que se pretende que seja útil a si aos outros.
Mário Freire
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